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História Portal - O Outro Mundo - O Eclipse


Escrita por: MarcCardoso42

Notas do Autor


Este é um livro que pretendo lançar fisicamente assim que terminado. Ficaria agradecido com sugestões e críticas construtivas

Capítulo 1 - O Eclipse


Interrogador: Como era esse mundo?

Max Castle: Perturbador

Interrogador: Você disse antes que esse mundo era parecido com o nosso. O nosso mundo parece perturbador?

Max Castle: Você não entende.

Interrogador: Certo... Além de você, até agora cerca de 160 jovens que antes estavam desaparecidos reapareceram alegando a mesma coisa. Eles disseram que você os salvou.

Max Castle: Todos nós nos salvamos, juntos.

Interrogador: Você estava lá com sua irmã, certo? Qual é o nome dela?

Max Castle: Lily, Lily Castle.

Interrogador: Como vocês chegaram nesse mundo? Sabem ao certo como entrar?

Max Castle: Não... mesmo que soubesse, eu não diria... Vocês... Vocês não podem entrar, ele não vai deixar...

Interrogador: Ele? Quem?

Max Castle: O homem que controla esse mundo.

Interrogador: Controlar mundos... Esse homem é Deus?

Max Castle: Eu apostaria que era o Diabo.

Interrogador: Pode contar a história completa? Desde um dia antes do incidente até o fim de tudo?

...

Era de fato um dia bom. Fazia calor, eu estava na praia com minha mãe e Lily, minha irmãzinha. Já havia mergulhado no mar mais vezes que eu podia contar, mas com certeza o número não chegava nem perto da quantidade de picolés de limão que Lily já comera.

Minha mãe estava lendo uma revista enquanto mordiscava seu picolé. Ela usava um chapéu e um óculos, mesmo com o Sol prestes a se por.
Sentei-me ao lado de minha mãe.                                                              

— O que está lendo?                                                                         

  — Nada demais, filho. Ansioso para o Eclipse de amanhã?

Mamãe falou sobre isso o mês inteiro, não apenas ela como toda minha escola, que, pouco antes de entrar de férias ensinou a fazer óculos especiais para assistir ao evento. Minha mãe gosta de coisas assim e inclusive já tínhamos sido chamados pelo meu tio para assistir o evento em sua casa. Em Hollywood Hills.                                                                                           

— Você já disse, mãe — eu disse, com um sorriso.                                 

  Ela devolveu o sorriso.                                                                    

Voltei minha atenção para o horizonte.

Nosso mundo é incrível. Como pode ser a linha do horizonte tão retilínea aos nossos olhos? Como pode o Sol, ao mergulhar na beleza do mar ser tão belo? Talvez seja tudo obra de um grande criador. Ou talvez não haja um criador.

Se fosse um questionamento comum, seria de grande facilidade perceber que achamos belo tudo o que estamos acostumados a admirar — não digo de coisas como objetos comuns no dia a dia, mas sim de coisas impossíveis de não serem vistas, como a grandiosa estrela que nos cumprimenta todos os dias — e tememos tudo aquilo que é desconhecido.

Sendo assim, o Sol e o horizonte poderiam ter formas totalmente diferentes que ainda acharíamos algo lindo, e utilizaríamos do argumento de um "grande criador" para explicar o que consideramos belo.

Olhando para o horizonte, perdido em meus pensamentos, era inevitável reparar em Lily, minha irmãzinha, correndo das ondas que quebravam.                                                                                               

— Max! - ela chamou. - Vem!

Apesar de cansado, só respirei fundo e levantei, caminhando em direção a ela, até que comecei a correr prestes a agarrá-la. Ao me aproximar, fui surpreendido por um leve toque de sua mão em meu braço.                          

— Está com você — disse ela pouco antes de começar a correr.                

— Se eu conseguir te pegar, vou jogá-la na parte funda da água — gritei, e logo comecei a correr também.

Não demorou muito para que eu a alcançasse, e logo a agarrei e fui correndo em direção ao mar, apenas para assustá-la.                              

— Pare, Max, eu tenho 8 anos, não sei nadar - ela gritou enquanto se esperneava em meus braços.                                                  

— Maxwell! — gritou minha mãe, claramente com um tom de advertência, o que me limitou a apenas cair com Lily após uma onda quebrar e me desequilibrar.

Engoli um pouco de água salgada, e por um milésimo de segundo embaixo da rasa, porém agitada maré, lembrei-me de meu maior medo. O mar aberto.                                                                                               

  Levantei-me com dificuldade enxugando os olhos e tossindo.            

— Lily!? — pensei alto. Não a encontrara no local da queda, até que me virei e fui empurrado por suas mãozinhas. Não fora uma queda violenta, fora suave, mas me dera a impressão de que não conseguiria levantar-me novamente.                                                                                               

— Uma concha! — exclamou ela indo atrás do objeto.                       

— Uma concha... — repeti, ao vento.                                                  

— Max!                                                                                            

Era minha mãe, dessa vez me chamando.                                        

Com dificuldade, levantei e fui até ela.                                                     

— O que foi aquilo? — ela perguntou, áspera.                                              

— Era uma brincadeira — tentei explicar.                                       

— Nem de brincadeira quero que você sequer pense nisso, está me ouvindo?

— Posso protegê-la, mãe — eu disse, calmo, porém frustrado.

Sua expressão suavizou-se, ela puxou-me pelo pulso para seu lado e me fez sentar. Passou a mão em meu cabelo.                                                     

— Não é uma questão de conseguir, filho. É uma questão de precisar.

Sua voz estava calma novamente, não era de se acreditar que a mesma havia me dado um esporro há segundos.

— Tudo bem — eu disse.                                                                          

— Agora vá lavar este cabelo que está cheio de areia - disse ela analisando a mão que passou em meu cabelo. — já estamos indo embora.

 

No dia seguinte acordei bem dolorido.                                     

Levantei-me da cama de cima do beliche e pulei. Lily não estava na cama de baixo.

Desci as escadas e logo vi a mesa da sala com o café da manhã. Pães, queijos e frutas estavam distribuídos. Minha mãe e Lily comiam panquecas e torradas.                                                                                                    

— Fiz panquecas — disse minha mãe de boca cheia.                                     

— Eu ajudei — comentou Lily.                                                        

  — Sério? — me fiz de incrédulo.                                                           

Ela fez que sim. Minha mãe riu.                                                           

— Pois é. Ela me ajudou bastante.                                                             

Lily indagou um sorriso no canto de sua boca.

Nós três já estávamos comendo na mesa. Lily estava se lambuzando com a calda.                                                                                              

— Hoje vamos para a casa do tio de vocês para ver o Eclipse, então comportem-se — disse minha mãe.

— Ok. — eu disse.                                                                           

Minha mãe fitou Lily, esperando a confirmação.                                    

— Tudo bem mamãe — ela sorriu.

 

Todo o resto do dia foi normal e tranquilo, Lily e eu víamos desenhos na TV e minha mãe desenhava (ela desenha muito bem).                             

Ás quatro da tarde começamos a nos arrumar, e às cinco saímos de casa. Minha mãe levava uma tigela de salgadinhos que Lily e eu comíamos durante a viagem.

Quando chegamos Lily logo correu para apertar a campainha. A porta se abriu e era a esposa de meu tio, Johanna, que logo se espantou ao nos ver.            

— Como vocês estão grandes! — disse ela, admirada.                         

— Na verdade eu sou pequena — disse Lily, arrancando um sorriso dela.                                                                                                       

— Ah, claro que não — Johanna deslizou os dedos sob a cabeça de Lily. — Você está bem grande, já é quase adulta.                                                       

— Ouviu, Max? — disse minha irmã, em um tom de “eu não disse?”.      

— Adultos não brincam de boneca — eu disse, debochado.                         

Lily me deu língua, eu ri.                                                                                   

Johanna cumprimentou minha mãe e nós entramos.                       

— Precisa de ajuda? — Perguntou minha mãe ao ver a quantidade de potes que ainda seriam levados para a cobertura.                                            

— Eu agradeceria muito — disse Johanna, meio sem graça.             

— Max, pode ir subindo na frente com Lily, subirei daqui a pouco — ela me deu a tigela de salgadinhos.                                                 Obedeci.

Subimos as escadas, e não pude deixar de notar o quanto meu tio era bem sucedido, sua casa era enorme.                                                        

Lily subia com toda a felicidade do mundo.                                                

Quando finalmente cheguei a cobertura, percebi que não era uma festa gigante. Na verdade ali apenas se encontravam meus avós, meu tio, minha tia, meu primo mais velho e alguns amigos da família que tinham uma filha da idade de Lily.

 Havia uma grande mesa retangular no meio do cômodo, onde estavam dispostos pratos com todo tipo de comida. Desde aperitivos até sobremesas.      

Perto da sacada meu tio preparava algumas carnes de hambúrgueres e salsichas na churrasqueira.

Coloquei a tigela de salgadinhos na mesa.

— Vovó, vovô! — gritou Lily correndo em direção à eles para abraçá-los, que demonstravam felicidade ao vê-la.                                              

Também os cumprimentei, talvez com o meu jeito sem graça de sempre, mas não consigo evitar. Além deles, cumprimentei também todo o resto das pessoas ali presentes, que conseguiam ter os incríveis mesmos assuntos de "nossa, como vocês cresceram" referentes à mim e Lily. Com exceção de Jeremy, meu primo, que apenas apertou minha mão.                             

Me dirigi para a sacada e me apoiei no parapeito. Fiquei admirando a vista. O céu estava quase completamente limpo.

— Olhem quem chegou! — anunciou Johanna a chegada de minha mãe, que logo abraçara meus avós de cara.                                                                          

— Nossa! Como você cresceu! — disse ela ao cumprimentar meu primo, olhando-o de cima a baixo.

 — É, eu cresci né — ele riu.                                                             

— Jane! Venha cá! — chamou meu tio, lhe dando um cachorro-quente. — Afim de um, campeão? — ele me ofereceu. Aceitei e voltei a prestar atenção na paisagem ali presente.

A verdade é que eu tenho um sério problema de existencialismo. Não entendo como ou por que surgiu a vida, tampouco qual o sentido. Mas sinto que estamos fazendo algo errado, e a maioria das vezes que penso nisso, é quando estou diante de algo que faz os seres humanos acharem que sua vida tem um significado. Como uma montanha. Como o mar. Como a Lua e o Sol.             

O grande problema dos humanos é achar que suas vidas importam. Para outras pessoas, de fato importam. Para o Universo, não é nada. O Universo cria vida toda hora, e disso eu tenho certeza. Mas os humanos se privam de conhecimento maior, ficam presos em crenças. Não que religiosidade seja algo ruim, mas só ela não vai levar ninguém a lugar algum, exceto à pensamentos baseados em “talvez” que em suas mentes são “com certeza”.

Senti uma mão em meu ombro e logo olhei para o lado.                               

— O que está fazendo? — perguntou meu primo.                                          

— Nada — eu disse colocando na boca o último pedaço do cachorro-quente.

— Toma. — ele estendeu um copo com refrigerante. — Peguei para você.

— Obrigado. — peguei o copo e bebi. — está com um gosto estranho.

— É a vodca.

Cuspi para a sacada imediatamente o gole que estava bebendo no momento de sua fala.

— Você ta maluco? Eu tenho treze anos!

— Mas não é tão ruim.

— Não importa! Se minha mãe descobrir...

— Mas ela não vai — ele me interrompeu. —, certo?

Parei por um instante, não valia a pena a confusão que isso causaria em um dia tão especial.

— Certo — eu disse devolvendo o copo.

— Bebe. — disse ele.

— Não posso.

— Mas é claro que pode! — ele parecia indignado. — Isso é uma festa, Max, ninguém vai saber, é só um pouco!

A insistência dele acabou me convencendo, eu queria ter novas experiências de vida que fossem além de ficar acordado até tarde.

Levei o copo até a boca e bebi de uma vez.

— Ei, vai com calma — disse ele, bem humorado.

— Quero mais.

Ele pareceu contente com meu pedido.

— Fico feliz que não seja o único a beber aqui.

Lá estava eu. Bebendo escondido com um primo que mal conheço.            

A Lua já estava próxima ao Sol.                                                                                 

— Vou pegar um hambúrguer, quer um? — perguntou ele dando um tapa rápido e amigável no braço.                                                                                     

 — Se você não colocar LSD escondido nele —  eu disse.                                        

    Ele riu e foi até meu tio. Joguei a bebida pela sacada.                                                   

Lily passou correndo brincando com sua nova amiga e eu olhei para trás. Então uma sombra se projetou.                                                                                 

— Começou! — alguém havia gritado.                                                             

— Tudo bem pessoal, peguem seus óculos — anunciou meu tio, que teve de conter todos querendo correr imediatamente para assistir.                                    

Minha mãe me deu meus óculos e meu primo me deu o hambúrguer (que não conferi antes de comer, o que talvez fosse um erro) e todos ficamos paralisados olhando a beleza no céu.

É a última coisa que me lembro nesse mundo



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