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História Portal - O Outro Mundo - Karen Naker Pt. II


Escrita por: MarcCardoso42

Capítulo 4 - Karen Naker Pt. II


  

Foi uma decisão democrática. Todos expuseram suas opiniões sobre e finalmente chegamos a um acordo. Iríamos com ele, afinal era nossa melhor chance. Melhor do que explorarmos o lugar sozinhos e sem nenhuma esperança. Começamos a andar em direção a cidade.

— Então, Dimitri — disse Stuart —, como pode nos ajudar?

— É melhor falarmos sobre isso em minha casa, lá é mais seguro — respondeu o garoto.

— Eu não entendi.

— Vocês vão acabar entendendo, uma hora ou outra.

— Não seja evasivo, me responda e prove que não é uma perda de tempo.

— Acreditem em mim, poupem-se dessa informação até precisarem saber dela.

— O que tem na mochila? — perguntou Kane.

— Ahn? É... Nada demais — respondeu Dimitri, nervoso. Não demos mais que dez passos antes de Kane rapidamente puxar sua mochila e derrubá-lo.

— Ei! — protestou o garoto. Todos nós iríamos ajudá-lo antes de sua mochila revelar facões e objetos pontiagudos.

— O que é isso? — perguntou Will, incrédulo.

— Por favor, gente, vocês precisam entender... — cortejou. Ele estara caído no chão com sua mochila aberta ao seu lado.

— Entender o quê? — eu disse, interrompendo-o.

— Eu não sou bem vindo em todos os lugares daqui — ajeitou-se enquanto se levantava, batendo nas roupas para tirar a poeira.

— O que você quer dizer? — perguntou Amy.   Ele suspirou e colocou novamente a mochila nas costas.

— Nesse mundo existem monstros, tá? — explicou ele — E eu não os acho tão amigáveis. Eles causam medo. E tenho motivos pra ser odiado.

— O que você fez, Dimitri? — perguntou Stuart. O garoto abaixou a cabeça e cerrou os dentes.

— Eu tenho uma irmã chamada Millie... Ela tem treze anos. — seus lábios inferiores tremeram — Nossos pais morreram quando ela tinha onze. Foram assassinados por uma dessas criaturas por simplesmente olharem torto para eles. — seus olhos mareavam.

— Não precisa continuar se não quiser — avisou Chloe, mas Dimitri a ignorou.

— Eu tinha dezoito anos então pude cuidar dela. Mas um dia nós estávamos andando na rua e um deles nos parou dizendo “Ei, vocês não são os filhos daqueles bastardos?”. Caçoaram da gente. Um deles tentou alisar o rosto de Millie quando eu interferi com um tapa. “Sai daqui seu gorducho” ele disse, me empurrando e agarrando minha irmã que se debatia para se soltar, soquei a criatura no rosto e consegui libertá-la de seus braços. Então fugimos.

Quando cheguei em casa, sabia que aquilo não podia continuar daquele jeito. Após escurecer, controlei um drone até seus becos mais movimentados e plantei bombas que construí. Ao amanhecer, as explodi, matando boa parte das criaturas. Contudo, para o meu azar, alguns de seus tipos possuem um olfato aguçado. Reconheceram meu cheiro que o drone espalhou pelo lugar. Por sorte, os cheiros que rodeiam os becos são fortes o suficiente para disfarçar o meu, assim eles não descobrem onde moro. Agora só os resta aguardarem o dia em que passarei pelos seus becos novamente, em busca de uma doce vingança. Mas eu não estou nada ansioso para isso. — Dimitri retomou a postura.

— Como sabe que estão atrás de você? — indagou Stuart.

— Meu drone conseguiu captar o áudio de suas conversas a longo alcance. — disse o garoto. Todos nós ficamos quietos. — Por que os outros não falam? — questionou.

— Estão com medo — disse Stuart. Dimitri assentiu.

A cidade onde estávamos era tão parecida com as do meu mundo que era cada vez mais difícil engolir o fato de não ser a Terra. Todos eram normais, faziam coisas normais. Era basicamente apenas um país diferente. Até darmos de cara com as criaturas que Dimitri tanto temia. Elas eram meio homens e meio porcos, seus corpos eram peludos, visíveis embaixo das roupas rasgadas. Seus narizes eram na verdade focinhos de porco e suas orelhas eram pontudas. Seus cabelos pareciam dreads.

— Eles não deveriam estar aqui — comentou Dimitri.

— O que fazemos? — perguntei.

— Corram!

Dimitri começou a correr e nós o seguimos, com os homens-porco logo atrás. Parecia surreal, mas eu estava mesmo sendo seguida por aquelas bizarras criaturas. Olhei para o lado e vi Amy, que voltou sua atenção para trás e tropeçou.

Ela caiu bem ao meu lado, agachei para ajudá-la, mas era tarde, fui atingida por um golpe de um dos homens-porco e fui jogada a pelo menos cinco metros. A criatura pegara Amy que se debatia.

— Amy! — gritei ainda caída, chamando a atenção de todos, que pararam. Dimitri rapidamente abrira sua mochila e jogara algum objeto cortante no monstro, que apenas fora ferido no braço. Logo entregou Amy para a outra criatura e correu em direção a Dimitri, que puxou uma faca da mochila e cravou-a no abdômen do homem-porco antes que ele pudesse fazer qualquer coisa.

A outra criatura rapidamente largara Amy e avançara no nosso grupo, que nada pode fazer do jeito que estavam confusos. Levantei-me e corri para ajudar Amy a se levantar.

— Você está bem? — perguntei.

— Vou ficar — respondeu ela com a voz seca. Ela cambaleava e aparentava sentir dor nas costelas. Gritos me fizeram voltar a atenção para o grupo. Três pessoas já estavam inconscientes no chão enquanto outras eram estapeadas com uma enorme força, sendo jogadas. Dimitri estara sendo enforcado pelo homem-porco que ferira, o qual ignorava a faca cravada em sua barriga e o sangue escorrendo da ferida.

— Fique aqui — eu disse. Amy assentiu com a cabeça.

Peguei o objeto que Dimitri havia jogado e o lancei em direção a criatura que atacava o grupo, chamando sua atenção. Corri então para a outra e a chutei nas costas, ela soltou o garoto e tentou me socar, por sorte, seus golpes eram lentos e pude esquivar-me e investir um golpe em seu rosto. O outro homem-porco aproximou-se de mim na tentativa de me golpear. Abaixei-me, fazendo-o passar direto, arranquei a faca do abdômen da primeira criatura fazendo-a grunhir de dor e cortei a garganta da que tentara me atacar. Ela começou a sufocar, segurava seu pescoço que espirrava sangue quando caiu no chão, agonizando.

— Karen! — gritou Amy. Porém não dera tempo de me virar, fui atingida nas costas pelos punhos do primeiro homem-porco e caí no chão, virando-me rapidamente. Olhei para o lado e vi a faca que eu deixara cair na minha queda, tentei alcançá-la, mas a criatura pisou em meu antebraço. Chutou-me no rosto duas vezes até me segurar pela gola da camisa e me erguer. Ela começou a gritar preparada para algum golpe, mas fora bruscamente interrompida por algo que a fizera me soltar e cair no chão. Era Dimitri, que cravou um de seus facões em suas costas.

— Isso foi horrível — bufei, exausta.

— Foram apenas dois — disse Dimitri igualmente exausto. — Isso não foi nada comparado a o que é enfrentá-los em bando.

— Você está bem? — perguntou Amy, ela pôs a mão em meu rosto, que estara ferido.

— Estou — abracei-a e beijei sua testa.

Olhei ao redor, vi aquelas pessoas caídas no chão, algumas desacordadas e outras feridas.

— O que vamos fazer? — perguntei.

— Precisamos chegar a minha casa, podemos cuidar de todos lá. — respondeu Dimitri.

— Certo — assenti. —, mas como vamos levar os feridos demais para andar e os desacordados?

Dimitri puxou um dispositivo quadrado da mochila com um pequeno objeto de metal no centro e uma tela no lado oposto. Ele encaixou o objeto na tranca de uma van próxima e configurou-o pela tela. O carro destravou.

— Assim — respondeu ele, abrindo a porta.

— E os corpos?

— Deixe-os aí

Balancei a cabeça.

 Colocamos os feridos sentados e os desacordados deitados no chão, algumas pessoas estavam sangrando bastante e por isso precisávamos chegar rápido, uma das pessoas nesse estado era Stuart, que havia um corte profundo ao longo de todo seu braço o qual tentava estancar usando sua camisa. Chloe estava inconsciente com alguns arranhões no rosto, mas não sabíamos mais do que isso. Sentei-me no banco da frente, ao lado de Dimitri que estava dirigindo e Amy sentou-se no banco atrás de nós.

— Onde aprendeu a matar? — perguntou Dimitri.

— Eu não aprendi — respondi.

— Então como fez aquilo com aqueles caras?

— Eu não sei, oras. Foi instinto.

— Entendo. Como foi?

— Eu não sei dizer. Eu só queria que nós sobrevivêssemos.

Dimitri expressou compreensão. Encostei-me no banco e tentei relaxar o corpo, pus minha mão sobre meu rosto e tentei não pensar naquilo, mas era impossível.

Sempre dizem que, ao ir para a guerra, os homens mudam. Seus olhares ficam mais profundos, suas expressões quase apagadas. Os humanos não conseguem matar outros humanos tão facilmente desde que evoluíram para conviver em sociedade. Nem mesmo autodefesa deixa-os livres de pequenos traumas. Tais traumas aconteceriam quando matamos outras criaturas? Eu nada havia sentido após matar aquele homem-porco, nenhuma mágoa. Isso fazia de mim um monstro ou simplesmente humana? Simplesmente alguém que precisava se proteger. Talvez a história de Dimitri tenha mexido comigo, eu sabia quem eles eram e do que eram capazes de fazer. Se no futuro eu sentisse algo, tinha certeza de que não seria ressentimento.

— Chegamos — disse Dimitri, parando o veículo.

— Ótimo — destravei o cinto de segurança e abri a porta. Saí do carro e Amy abriu a porta dos passageiros.

— Esperem um pouco, pegarei as macas — disse o garoto, e entrou na casa.

— Ai! — gemeu Amy ao tentar apoiar seu pé no chão. A segurei rapidamente.

— O que houve? — perguntei.

— Acho que torci o tornozelo, dói bem mais com o sangue frio — respondeu ela cerrando os dentes.

— Vamos cuidar de você, de todo mundo — tranquilizei.

O portão da casa de Dimitri se abriu e de lá saíram ele e uma garota que provavelmente era sua irmã. Ela tinha a pele bem clara e o cabelo era preto brilhante, eram curtos na altura do pescoço e o penteado acrescentava uma franja.

— Vamos! — apressou Dimitri. Tirei primeiro as pessoas acordadas e as coloquei nas macas, logo depois as desacordadas. Levamos todas para o seu porão, onde parecia um verdadeiro hospital, todo tipo de instrumento médico estava a nossa disposição, as paredes eram brancas, o local tinha refrigeração e havia cheiro de borracha no ar.

— Eu sei, não parece certo roubar os instrumentos médicos dos pais mortos — murmurou Dimitri.

— É um pouco perturbador, na verdade — eu disse.

— Eu imaginei que seria útil algum dia — ergueu os braços. — Estava certo, afinal.

Colocamos os feridos e desacordados nas camas hospitalares e cuidamos deles como necessitavam (de acordo com as instruções de Dimitri que dizia saber dessas coisas devido aos pais). Stuart levou pontos no corte do braço, Chloe estava desacordada, mas com nenhum ferimento sério, Will e Kane estavam acordados e bem, o pequeno Tyler quebrara um braço.

— Amy torceu o tornozelo — comentei. —, você poderia...

— Claro — disse ele, lendo minha mente. Sorri, agradecida. Dimitri rapidamente cuidou de Amy e fez uma atadura. Então me chamou para fora. Dei uma olhada em todos e o segui.

— Preciso conversar com você sobre meus planos para tirar vocês daqui — disse ele. — Mas antes preciso me livrar desse carro, os outros podem seguir o cheiro.

Assenti. Ele foi andando em direção ao carro.

— Ei! — chamei, fazendo-o parar e olhar para mim. — Obrigada.

— Não há de quê — disse ele, sorrindo.

Juntamos os que estavam bem e nos reunimos na sala. Onde haviam antiguidades e móveis de madeira. O cheiro lembrava casa de vó, o que ajudou na hora de nos acomodarmos. Dimitri pegou seu notebook e o ligou.

— Antes de qualquer coisa, se ainda não tiverem entendido o que está acontecendo, vocês estão em outro mundo. Diferente do que viviam antes — disse Dimitri com seriedade. — Então tentem apenas aceitar isso. Preciso saber de tudo o que sabem, e seus nomes.

Dissemos nossos nomes, Karen, Kane, Will, Amy e outros que eu antes não lembrava o nome, como Josh, Alex, Jade, Gerard, Chris, Zack e Robert. Então contei a história a ele.

— Como você nos encontrou mesmo? — perguntou Amy.

— Começou há um tempo, algo em torno de quatro meses. Comecei a ver livros sobre misticismo e a ler coisas sobre na internet.

— Vocês têm internet? — disse Jade.

— Sim, vocês também pelo visto — respondeu ele. — Continuando, quanto mais eu descobria sobre misticismo, mais eu entendia o quão era real. E quando descobri sobre os outros mundos, fiquei obcecado com os sinais que apresentavam uma convergência, os quais aconteceram exatamente como eram previstos. Era também prevista a chegada de vocês naquele local, e a previsão estava certa.

— Então destino existe afinal de contas? — perguntei.

— Ao que tudo indica... — respondeu ele. — Você está bem? — perguntou ao reparar na minha expressão assustada.

— Estou. É que... Sabe, é um pouco estranho pensar que nossa vida já está programada — eu disse, pra baixo.

 — Entendo como é — ele tinha um tom compreensivo.

— Como saímos daqui? — Kane mudou de assunto.

— Bom — Dimitri respirou fundo. — Basicamente terão que conseguir os Artefatos.

— O que são?

— Podem ser qualquer coisa. O fato é que são facilmente diferenciáveis, pelo fato de serem do mundo convergente em questão. Ou seja, possuem cores.

— O quê? — disse Alex.

— Vocês não sabem? — perguntou Dimitri, atônito. Todos demonstravam expressões confusas.

— Eu sei — disse. Então todos voltaram seus olhares a mim. Olhei para Dimitri, que pediu a explicação pelo olhar. — Basicamente, tudo aqui é cinza, exceto nós, que viemos da Terra.

Todos olharam ao redor e a si mesmos, eles de fato não haviam percebido antes e eu achava isso estranho.

— Nós, habitantes deste mundo, não vemos a diferença, porque não somos capazes de enxergar as cores que vocês refletem. — completou Dimitri. — O ponto é — aguardou que as atenções se voltassem a ele novamente — que precisamos achar esses Artefatos e então citarmos umas palavras do livro de misticismo. Onde invocaremos um novo portal para o mundo de origem dos objetos.

— E onde estão esses Artefatos? — perguntou Chris.

— Espalhados pelo mundo, mas nesta cidade existem seis.

— E precisamos pegar todos?

— Precisamos de um portal forte o suficiente para levar todos vocês, e considerando que esse homem que apareceu pra vocês é o nosso deus, ele saberá que o portal foi aberto e tentará nos impedir. Precisaremos ser rápido.

— Então montaremos um grupo para pegá-los — eu disse. — Onde está o primeiro artefato?

— Vá com calma — Dimitri sorriu no canto da boca. — Vocês precisam pegar primeiro o livro.

— Não parece difícil — comentou Will.

— Depende do ponto de vista — rebateu Dimitri. — Ele está numa biblioteca abandonada ao lado de um beco onde se encontram as criaturas que acabamos de matar. Elas saberão pelo cheiro que eram vocês no corpo de seus companheiros. E atacarão.

— Vocês disse para deixarmos os copos lá — murmurei, nervosa.

— Não faria diferença. Eles saberiam do mesmo jeito.

Respirei fundo. Absorvi toda a informação e assumi minha situação, eu estava de fato em outro mundo, lutando para sair dele.

— Passem a noite aqui — disse Dimitri, amigavelmente. — Amanhã a tarde precisaremos formar o grupo.

— Por que está nos ajudando? — perguntei. Ele respirou fundo.

— Por que estão se deixando ser ajudados?

— Porque precisamos.

— Exato.

Todos ficamos em silêncio, tentando assimilar tudo, com exceção de Dimitri que fora até a cozinha pegar algo para comer.

Todos se acomodaram nos quartos e na sala após a janta que Dimitri serviu. Apenas quando fui dar boa noite a ele que reparei em sua irmã, Millie, mais detalhadamente. Ela parecia tímida, o suficiente para ficar no quarto todo o tempo em que estávamos na sala. Seu olhar era profundo e fofo ao mesmo tempo, o que era incomum, mas naquela altura, o que era comum, afinal?

Toda a questão do destino me deixava maluca, cada passo que eu dava era como se eu contribuísse para a programação da minha vida, então quando mudava repentinamente minha próxima ação para tapear o destino, eu pensava que mudar minha ação para tapear o destino ainda era o destino. Era perturbador. Mas tentei esquecer aquilo.

— Então, quais são seus planos para amanhã? — perguntou Amy. Estávamos deitadas em um colchão forrado na sala, abraçadas.

— Juntar os mais saudáveis e pegar o livro — eu disse, com um sorriso sem graça no canto da boca.

— Eu não poderei ir — disse ela, desanimada olhando para o tornozelo. — Ao menos você não precisará se arriscar, então agradeço por isso, de certo modo.

— Você ta falando sério? — disse ela, incrédula. — Eu também me importo com você, Karen, é egoísmo pensar assim.

— Tudo bem. Desculpe.

Eu não queria começar uma discussão com Amy naquela situação, ainda mais a respeito de algo tão fútil. Eu precisava fazer isso, para o bem de nós duas. Mas entendia seu lado, ela também queria ajudar e não conseguíamos ficar despreocupadas uma com a outra. Conversamos sobre coisas normais para variar e então dormimos.

Acordei mais cedo que todos. O grande relógio antigo marcava oito e quarenta e sete da manhã. Virei meu olhar para Amy e admirei seu rosto sereno, como se tudo estivesse bem, e isso era reconfortante.

Quando finalmente achei que era a hora certa, levantei. A casa de Dimitri era bem grande, pude avistar Alex e Chris dormindo no canto da sala e Josh, Kane e Jade espalhados. O resto dividia o quarto dos pais de Dimitri.

Reparei em toda a sala e então decidi ver como estavam os feridos no porão. Ao entrar pude ver Chloe, acordada. Fui em sua direção olhando para todos os outros, que estavam bem.

— Como você está? — perguntei com a voz serena e sentei-me no canto da cama.

— Estou bem — sua voz estava seca. — Ao menos viva — ela sorriu. Abri a geladeira e lhe dei uma garrafa d’água.

— Beba.

Ela sentou-se e bebeu ao menos quatro goles.

— Obrigada. — disse ela.

— Achei que estivesse aqui — a voz de Dimitri percorreu a sala. — Bom dia.

— Bom dia — respondi.

— Como está indo a pequena... — ele tentava lembrar seu nome.

— Chloe — respondeu a menina.

— Sim, Chloe — disse ele num tom serenamente animado. — Você está melhor?

— Estou.

— Ótimo!

— Chloe, você se lembra do que aconteceu? Alguma daquelas criaturas te acertou? — perguntei, preocupada.

— Eu só me lembro de alguém ter sido jogado em cima de mim, e então apaguei.

Balancei a cabeça. Dimitri fora conferir a situação dos outros.

— Eu nos tirarei daqui — prometi. Ela sorriu e me abraçou.

— Ontem era você quem precisava de apoio emocional — debochou. Eu ri.

Aquele não era o momento certo para explicar a Chloe sobre cada detalhe do que estava acontecendo, então resolvi apenas deixá-la se recuperando, e manter em segredo o que faríamos.

 

Chegara a hora. Após o almoço, armamos o time e o plano. O time era: Eu, Kane, Alex, Josh e Gerard. O resto ficaria na casa para ajudar com os feridos se necessário e proteger a casa de possíveis invasores. O plano era simples: iríamos para a biblioteca, a seis quadras dali e entraríamos em silêncio para procurar o livro. Se déssemos sorte, não seria necessário confronto com os homens-porco.

Dimitri me entregou uma mochila com armas brancas, facas, facões e objetos pontiagudos o suficiente para ferir; garrafas d’água e kit de primeiros socorros.

— Se demorarem mais de cinco horas, enviarei o outro grupo para procurá-los. — avisou, me entregando um relógio de pulso. Assenti colocando o relógio. Entreguei uma arma pra cada um e coloquei a mochila nas costas. — Talvez alguns de vocês ainda não tenham entendido de que talvez tenham de matar. E muitos podem não aguentar. Então cuidem um do outro.

Abrirmos a porta e fomos para a rua. Dimitri rapidamente fechou a porta.

— Tem certeza de que estão prontos? — perguntei, antes de abrir o portão.

— Precisamos estar — disse Kane. Abri o portão e avistei as pessoas andando normalmente pela rua.

— Escondam as facas, não precisamos assustar as pessoas — avisei.

O clima estava agradável e fresco, eram cinco horas da tarde quando iniciamos a primeira missão. Por todo o percurso eu analisei os lugares. As pessoas eram humanas e faziam coisas normais. As crianças brincavam nos parquinhos, os adultos pareciam trabalhar. O que me levara a uma dúvida. Todos aqueles foram sequestrados iguais a nós? Humanos retirados de seu mundo e trazidos para cá, torturados com a ideia do que estava acontecendo e desolados, vagando pelo mundo não podendo fazer nada senão esperarem até suas transformações em outras vidas. Era bizarro, era cruel. Mas era a coisa da qual eu tentava pensar menos, não conseguia nem imaginar em tal coisa acontecendo comigo e com Amy.

Andamos três quadras quando avistei uma placa escrita Av. Woodboy.

— Eles são criativos pra nomes — murmurou Alex, que também avistara.

— Gente... — disse Gerard. — Se eu morrer...

— Cala a boca! — o interrompi. Ele me olhou com um olhar assustado. — Você não vai morrer — completei.

— Acha mesmo que vou sobreviver a tudo isso? Olhe só para mim.

Fitei-o, era um garoto alto, magro demais para a altura e desajeitado no andar. Vestia uma calça jeans azul larga, um tênis preto sem muitos detalhes e uma camisa social. Também não sabia nada sobre moda.

— Você não vai morrer — insisti.

Permanecemos em silêncio o resto do caminho. Então nos vimos na frente da biblioteca, porém não conseguíamos enxergar o beco. Ficamos alguns segundos congelados, olhando para o nosso objetivo.

— Então... — Alex quebrou o silêncio. — entramos?

— Sim, claro — eu disse, saindo do transe.

— Lembrem-se pessoal, silêncio — avisou ela.

Fomos até a porta e a abrimos vagarosamente.

— Alguém fica na porta, vigiando — sussurrei. Josh se dispôs e ficou no lado de fora.

— Meu deus isso é enorme — disse Alex. O lugar não parecia estar abandonado ha muito tempo, os livros estavam arrumados e nenhuma prateleira de metal demonstrava ferrugem, a sujeira, no entanto, era um fato, com teias de aranha e poeira para todos os lados.

— Como faremos para achar esse livro? — perguntou Kane, dirigindo seu olhar a mim.

— Vamos procurar na seção sobre...

— Achei — disse Gerard um pouco distante.

— Como assim? — perguntei.

— A seção sobre misticismo — explicou. Só então me dei conta de uma coisa, Dimitri não dissera o nome do livro para nós.

— Teremos de pegar todos que pudermos.

Gerard assentiu e retirou três da prateleira. Entreguei a mochila a ele para que pudesse guardá-los. Nosso trabalho parecia feito, até que ouvimos um rápido gemido na porta, a silhueta de Josh já não estava mais presente. Não tivemos sequer tempo de pensar sobre. A porta foi estilhaçada na nossa frente.

— Se abaixem! — gritei. Quatro homens-porco entraram correndo violentamente, fazendo tudo tremer.  Isso só pode ser brincadeira, pensei.

Alex rapidamente levantou-se e cravou sua faca no peito da criatura que viera em sua direção, fazendo-a segurar seu braço e arremessa-la para o outro lado da biblioteca. Ela se chocou com a parede violentamente, caindo no chão.

Kane avançou em direção ao mesmo homem-porco e investiu em seu focinho, o mesmo cambaleou para trás, grunhindo. O garoto então retirou a faca de Alex cravada no peito da criatura e a usou para rasgar a garganta da mesma. Duas delas então cercaram os lados de Kane, que só pode esperar os múltiplos golpes furiosos que levaria.

— Gerard! — gritei. O garoto estava encolhido na frente da prateleira, com medo demais para lutar. — Me dá uma arma — pedi, ele retirou um facão e o jogou em minha direção. O objeto quase me cortara, por sorte pude esquivar-me. Não dera tempo de um esporro no garoto. Segurei o punhal do facão e cravei a lâmina no crânio de uma das criaturas que cercava Kane, a qual caiu de joelhos e espatifou-se no chão, morta.

O primeiro homem-porco não sabia em quem investir, estava a ponto de avançar e mim quando Kane me empurrara e fora acertado por um golpe da quarta criatura. O garoto fora jogado contra uma das prateleiras e caiu no chão, porém levantou-se rapidamente.

Levantei-me e empunhei novamente o facão, esquivei-me de dois golpes de uma das criaturas e cortei seu joelho direito; ela mancou e investiu em mim com o cotovelo, abaixei, desviando, e cravei a lâmina em sua barriga, dessa vez rasgando-a. O homem-porco grunhia agudamente. Socou minhas costas com toda a força, me fazendo cair do chão de bruços. Tentara me pisar, mas rolei para o lado, levantei, retirei o facão de sua barriga e girei, pronta para dar o golpe final em sua nuca, quando Alex apareceu, enfiando brutalmente sua faca em sua cabeça. A criatura caíra no chão, morta.

Olhei para Kane, que conseguira matar sozinho o outro homem-porco. Olhei então para o chão, onde o sangue formava poças. Todos respirávamos com dificuldade, ofegantes.

— Eu não acredito que fizemos isso — murmurou Alex.

— Nenhum de nós acredita — eu disse.

Andei em direção a Gerard para pegar mochila, o garoto levantou.

— Desculpe — sibilou ele, num tom de arrependimento.

— Tudo bem — o acalmei — Sei que é difícil.

Estávamos prestes a sair quando ouvimos alguns sussurros de palavras que não conseguia compreender, então uma nova criatura entrou na biblioteca. Congelamos.

Ela parecia dizer algumas palavras do hebraico ou grego, eu não fazia ideia, na verdade. Vestia um manto preto em todo o corpo, que cobria inclusive a cabeça, deixando apenas os olhos profundos de fora. Gesticulava com as mãos enquanto falava.

— O que essa coisa está dizendo? — sussurrou Alex.

— Eu não faço a mínima ideia — respondi.

A criatura então demonstrou o seu poder. Gesticulou sua mão em direção a uma das prateleiras, que explodiu, levando todos nós ao chão.

Meu ouvido nada conseguia captar além do zumbido, minha visão estava turva, olhei para o resto do grupo que estava na mesma situação.

— Vamos! — gritei. Mas ninguém conseguira ouvir, nem mesmo eu. — Vamos! — repeti, porém nada. Até que finalmente meu ouvido voltara ao normal. — VAMOS!

Gerard jogou a mochila para mim, a agarrei e coloquei nas costas. Ajudei Alex a se levantar.

— Vamos dar a volta — sugeriu ela. Todos olhávamos para a criatura, prontos para fugir.

— Não — disse Gerard.

— O que está dizendo? — perguntei, atônita.

— Não serei o único inútil — ele passou correndo por nós.

— Não! — gritei, tendo em mente o que ele pretendia.

O garoto avançou em direção a criatura, que estava prestes a explodir mais alguma coisa. Jogou-se em cima dela.

— É nossa chance! — gritou Kane, então correu para a saída.

— Vamos — disse Alex, me puxando. Na saída pudemos ver o corpo de Josh, dilacerado no chão. Corremos uns cem metros, então ouvimos uma explosão. Diminuímos a velocidade por uns três segundos, e continuamos, tendo em mente que dois dos nossos morreram.

Já estava de noite, faltavam três quadras para chegarmos a casa de Dimitri, quando fomos cercados por mais três homens-porco. Todo o meu ódio por eles me dera força para enfrentá-los novamente, então rapidamente empunhei meu facão e dilacerei o rosto de um deles. Kane e Alex cuidaram dos outros dois para mim. Ouvi passos atrás de nós.

— Ei! — gritou um garoto.


Notas Finais


Próximo Capítulo: Os Artefatos
Em breve.


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