História Posso dizer que te AMO? - Quarto Dia

Minha cabeça explodia a cada novo bom dia que recebia durante o café da manhã e mal podia olhar para a claridade do dia que irradiava do lado de fora e iluminava todo o salão. Alice e Celo estavam sentados à minha frente, ambos olhando para mim e mal piscavam. A cada nova suspirada minha, Alice fazia uma careta e Celo pegava em minha mão. Infelizmente os dois me viram chegar chorando muito na noite anterior e tive que contar toda a cena para ambos. Celo ainda não sabia do meu amor por Gabriel e manteve-se surpreso durante toda a história. Agradeci mentalmente por ter trazido meus óculos de sol com grau para disfarçar os olhos vermelhos e inchados que haviam amanhecidos naquele dia. Dia do qual eu só queria que acabasse.

Cheguei em minha sala e pude perceber alguns rostos novos por ali. Havia me esquecido completamente que no quarto dia as salas iriam se misturar para uma maior interação entre os convidados. Para minha surpresa, Gabriel também estava ali, sentado no meio da quarta fileira junto com Coelho. Assim que me viu ajustou-se em sua cadeira e me olhou curioso assim como metade da sala. Será que estava meio obvio que eu havia chorado a noite anterior toda?

As aulas no primeiro período foram muito produtivas por sinal, aprendemos muito sobre abordagem com o nosso público e como funciona a criatividade dentro da cabeça das pessoas. Infelizmente me pegava lembrando da cena vista na noite anterior e institivamente meus olhos começavam a lacrimejar. Era uma sensação incontrolável do qual eu nunca havia passado antes. Uma mistura de raiva, com tristeza me inundava por dentro naquele dia. Não tinha cabeça para aula alguma e minha vontade naquele momento era apenas ir embora e esquecer este garoto bobo pelo qual me apaixonei desde o primeiro clique. O garoto do qual me chamou a atenção por vários motivos. O garoto que me fazia rir nos momentos mais difíceis do qual passava em casa com toda a pressão do qual meus pais me faziam passar em busca de uma carreira de sucesso no mundo empresarial. O garoto o qual eu amava demais. Talvez minhas esperanças tenham se queimado e virado cinzas com a fogueira, porém o amor ainda permanecia. Um amor totalmente inexplicável.

Durante o almoço, Celo e Alice me acompanharam o tempo inteiro, sempre falando aleatoriedades que por muitas vezes arrancavam sorrisos de meu rosto. Gabriel passou muito perto de mim por muitas vezes, porém eu evitava olhar para seus olhos. Sentia vergonha por algo que não havia feito, porém sentido por ele. Dava a impressão que ele queria perguntar o que havia de errado comigo aquele dia pois eu o via mais do que o normal.

Durante o segundo período das aulas troquei meus óculos pois meus olhos já não estavam mais vermelhos e coloquei os de grau comumente usados. Finalmente consegui distrair meus pensamentos sobre a noite passada e me concentro na aula que transcorria de uma maneira tranquila falando sobre um tema que sempre tive interesse que era medição de audiência. Por vezes me peguei observando Gabriel de longe. Seu sorriso e suas caras estranhas que só ele sabia fazer. Ainda me perguntava o que atraia tanto neste garoto.

Assim que as aulas acabaram subi para meu quarto e permaneci por ali durante um bom tempo deitada em minha cama, porém sem conseguir dormir. Minha cabeça voltara a doer e os pensamentos atordoantes estavam me consumindo por dentro. Recusei os inúmeros convites de Alice para jantar com ela, não conseguiria descer para aquele salão e me deparar com o rosto do garoto que eu amava tanto.

Então ali permaneci, em meu quarto escuro levemente iluminado pela Lua que entrava entre o vão da janela aberta. Já não tinha capacidade de segurar as lágrimas que desciam em meu rosto e caiam violentamente sobre a fronha que cobria parte de meu corpo. Estava tudo dentro de mim em pedaços.

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Acordei com Alice me chacoalhando na cama pedindo para que levantasse logo. Pelo pouco que pude entender algo estava acontecendo do lado de fora do quarto e ela queria que eu visse. Assim que ela falou o nome de Gabriel e Celo acordei com um sobressalto e assustada. O que havia acontecido com eles?

Fui em direção a porta e pude ver todas as portas do corredores abertas com alguns rostos do lado de fora curiosos. Duas pessoas estavam discutindo em voz alta e acordaram o andar inteiro. Em meio a minha visão turva pelo fato de ter acabado de acordar e estar sem óculos, pude reconhecer duas vozes extremamente familiares. Era Marcelo e Gabriel e os dois estavam discutindo no meio do corredor. Alguns rapazes saíram de seus quartos para conter os dois que se aproximavam cada vez mais

- Você não tem vergonha nessa cara Polado?

- Fique quieto Marcelo você não sabe de nada!

- Sua hipocrisia me irrita Polado! Você é um imbecil

Rapidamente Marcelo acertou um soco no canto direito do rosto de Gabriel que caíra no chão. O estampido foi alto e forte o suficiente para sentir o chão tremendo sobre meus pés. Como instinto, Gabriel puxou a perna de Celo que se desequilibrou e caiu sobre ele iniciando várias sequencias de socos violentos e ofensas. Meus olhos estavam arregalados e minha boca entreaberta, completamente pasma pela cena que estava presenciando no momento. Minha vontade era entrar no meio de tudo aquilo e dar um basta, porém mal conseguia me manter em pé de nervoso. De joelhos na porta de meu quarto eu observava tudo aquilo acontecendo e não conseguia fazer mais nada para impedir.  Os rapazes que ali estavam puxaram ambos para longe um do outro para que nada mais grave acontecesse. Luba arrastou Marcelo em direção ao elevador e Coelho entrou com Gabriel para o quarto. Assim que Celo passou pela porta de meu quarto, me fitou por alguns segundos e baixou a cabeça. O canto esquerdo de sua boca estava sangrando.

Rapidamente eu e Alice vestimos nossos roupões e descemos para a enfermaria acompanhar Marcelo. E será que estava tudo bem com Gabriel?

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Alice havia saído da enfermaria para buscar um copo de chá quente com algumas bolachas para dar para Marcelo que estava se sentindo fraco. Ele estava sentado na maca e eu ao seu lado enxugando o sangue acumulado no canto de sua boca. Em momento algum ele conseguia olhar para meu rosto e eu não iria exigir que ele contasse nada por mais que eu esteja confusa e curiosa para saber o que causou toda aquela confusão.

- Desculpe Bunny... Por fazer você passar por toda esta situação...

- Não precisa se desculpar Celo.

- Preciso sim... você não merece passar por isso... você é uma pessoa tão especial pra mim...

- Celo para...

- Ana eu amo você!

Suas palavras me surpreenderam e instintivamente arregalei meus olhos. O que diabos ele havia acabado de dizer?

- Eu gosto de você a muito tempo já, porém... nunca tive coragem de dizer. Sou um covarde.

- Claro que não Celo!

- Eu nunca te vi chorar Ana. Você sempre foi uma garota tão positiva, companheira e feliz, não suportei ver você chorando por causa do Polado hoje. – Ele olhou para mim e segurou a mão em que eu secava seu corte – Você realmente ama o Gabriel?

- Sim eu amo – naquele momento meus olhos se encheram de lágrimas. Mal pude esconder a emoção que se transformara aquele lugar e me lembrar do amor que sentia por Gabriel fazia meu coração doer.

- Quero que você lute por ele Ana.

- Celo...

- Quero que você vá atrás da sua felicidade independente do que aconteça! Conte para ele isso que você acabou de contar pra mim.

- Celo eu não tenho a sua coragem...

- Você tem a coragem que você quiser. Você pode se surpreender. Eu sei que você pode Ana. Eu te amo e quero ver você feliz!

Dizendo isso Celo me puxou para mais perto de seu peito e me deu o abraço mais confortável que já recebera de um amigo. Ambos começamos a chorar e permanecemos assim durante um tempo indefinido. Sentia-me confortada e renovada por dentro, tinha certeza que tudo iria ficar bem e Celo tinha mais certeza do que eu nisto e aquilo fazia muito bem para minha alma e meu coração que se renovara após aquele abraço.

Um novo dia renascerá e Gabriel saberá o que eu sinto por ele!