Assim que termina a ligação Atena pega a bolsa e se prepara para sair, mas Romero a segura pelo braço e pergunta:
-O que que aconteceu com o nosso filho?
-Não te interessa!
Ela fala se desvencilhando dele e correndo para fora da sala, conversando com Lena, Mário se surpreende ao vê-la apressada e pergunta:
-Atena, o que que aconteceu?
-Problemas com o Romerinho, to indo lá na escola dele!
-Quer que eu vá com você?
-Não, fica aqui e termina de analisar aqueles documentos pra mim!
-Tá. Me dá notícias!
Ela apenas assente e desce as escadas quase correndo sendo seguida por Romero, logo chega ao carro e entra apressada, mas se assusta quando ele entra no lado do carona, ela então pergunta:
-O que tu pensa que tá fazendo?!
-Eu vou com você!
-Ah, mas não vai mexmo!
-Atena, você querendo ou não o Romerinho é nosso filho, eu já me encantei por ele e eu vou participar da vida dele!
-Não é você quem decide isso!
-Mas também não é você, você não tem direito de prejudicar o nosso filho por vingança!
-Olha aqui Romero...
-Atena, vamos parar de discutir, vamos logo que eu to preocupado com o meu filho e sei que você também está!
Ela não responde, apenas coloca o cinto e dá partida no carro, o caminho até a escola é feito em total silêncio e quando finalmente chegam ela pede:
-Fica do lado de fora enquanto eu falo com a coordenadora!
-Posso saber por quê?!
-Porque ela sabe que o Romerinho só tem a mim e ao velho, se você aparecer assim de repente se apresentando como pai dele eu vou ter que explicar e não to afim!
-Tá, tá! Eu só quero ver o moleque logo!
Ela mais uma vez não responde e saem do veículo, caminham em silêncio até o elevador, depois andam até a sala da coordenação, mas param ainda no corredor quando vêem Romerinho sentado em um sofá.
Atena se aproxima do menino e se ajoelha ficando de frente para ele que segue cabisbaixo, preocupada ela pergunta:
-Meu filho, o que que aconteceu?
-Não te interessa!
-Que isso Romero?!
-Eu não quero você aqui!
-Filho...
Assustada com a atitude do menino, ela tenta acariciar seus cabelos, mas ele a afasta, Atena tenta mais uma vez, mas nesse momento a coordenadora aparece na porta e os cumprimenta:
-Bom dia, Atena! Bom dia senhor!
-Bom dia!
-Você pode entrar aqui pra conversarmos?
-Claro.
-Pode ir Atena, eu cuido dele!
-É melhor ele entrar comigo!
-Não. Eu quero conversar com você a sós!
-Vai tranquila Atena!
Sem escolha Atena assente e acompanha a mulher para o interior da sala, Romero então começa a falar com o menino:
-Oi Romerinho!
-Oi.
-Lembra de mim?
-Uhum
-Posso sentar do seu lado?
-Pode.
-Você ainda fala mais de uma palavra:
-Falo.
-Tem certeza?
-Tenho!
O menino encara Romero já sentado a seu lado e ao ver seu sorriso acaba soltando um risinho tímido, Romero bagunça os cabelos dele e pergunta:
-Por que você tá aqui de castigo?
-Porque eu bati em um colega!
-Você quer me contar por que fez isso?
-Não!
-Hum. E por que brigou com a sua mãe?
-Porque a culpa é dela!
-Como assim?
-A culpa por eles me tratarem assim é dela, pelas coisas que eles dizem, é tudo culpa dela!
-Por que você tá dizendo isso?!
-Porque ela não fala do meu pai!
Ao ouvir isso Romero sente como se tivesse levado um soco no estômago, ele respira fundo e volta a olhar para o menino perguntando:
-E o que isso tem a ver com você bater no coleguinha?
-É que eles ficam falando que eu não tenho pai, todos eles tem pai menos eu!
-Romerinho...
-Eu queria ter um pai que nem todo mundo!
-Ô cara, não fica assim, eu tenho certeza que o seu pai ama muito você!
-Mas ele não me conhece, eu nem sei o nome dele!
-Mesmo assim, eu tenho certeza que ele morre de vontade de ver você, te dizer que é seu pai e tudo mais que você quiser fazer com ele!
-Será?
-Claro! Mas tem uma coisa, você agiu muito, muito feio com a sua mãe hoje! A sua mãe ama muito você e ela sempre te deu amor, carinho não deu?
-Deu...
-Então, você magoou a sua mãe e ela não merece isso!
-Mas por que ela me esconde o meu pai?!
-Ela deve ter motivos pra isso e um dia você vai entender os motivos dela, mas agora você deve um pedido de desculpas pra ela não deve?
-Devo...
-Então tá, ela vai ficar feliz quando você pedir desculpas pra ela!
-Ela me disse que você tinha ido embora!
-Não fui e nem vou!
-Sério?
-Sim! Você quer que eu fique?!
-Claro que eu quero! Eu gostei de você!
-Eu também gostei de você, muito!
-Vocêconhece a minha mãe faz tempo?
-Faz, conheci ela um bom tempo antes de você nascer!
-E o meu pai você conhece?
-Conheço!
-Sério?! E como ele é?
-Ele é um cara complicado, que já viveu muitas coisas, mas que sonha em retomar a vida!
-Como assim?
-Você é muito novo pra entender! E, por favor, não vai contar pra sua mãe que eu falei do teu pai!
-Pode deixar, sou bom de guardar segredos!
-Ah é? De receber cócegas você é bom também?
-Não!
Romero sorri e começa a fazer cócegas no menino que gargalha, logo ele para e Romerinho encosta a cabecinha no braço pedindo:
-Não vai embora nunca tá?!
-Nunca!
-Promete?
-Agora que eu conheci você, não quero ficar longe nunca!
Eles sorriem um para o outro e nesse momento Atena sai da sala, ela quase sorri ao observar a cena, mas respira fundo e ordena séria:
-Vamos pra casa Romerinho!
O menino levanta rapidamente e se joga nos braços dela pedindo:
-Me desculpa mamãe, eu não queria magoar você!
-Ô meu amor, claro que a mamãe desculpa!
Atena responde emocionada e o abraça ainda mais forte, ela olha diretamente nos olhos de Romero que sorri levemente em resposta, ao vê -los se afastar o ex-vereador pergunta:
-Atena, eu posso acompanhar vocês até em casa?
-Romero...
-Deixa mamãe, por favor!
-Tá bom, vamos logo antes que eu me arrependa!
O caminho até o prédio de Atena é rápido e silencioso, quando eles chegam no apartamento Ascanio se surpreende perguntando:
-O que que aconteceu Fran Fran?!
-Cadê a Creusa?
-Foi fazer supermercado!
-Tá. Leva o Romerinho pra tomar banho!
-Tá bom. Vamos netinho!
Percebendo o clima estranho Ascanio não estende a conversa e mal cumprimenta Romero, indo rapidamente fazer o que Atena manda.
Sozinhos Atena e Romero se encaram, ela então vai para a cozinha e começa a procurar algumas coisas, curioso ele pergunta:
-Tá fazendo o quê?
-O almoço, a Creusa com certeza vai demorar pra chegar.
-Quer ajuda?
-Não precisa!
Mesmo com a negativa dela ele decide ajudá -la, mas ao se aproximar percebe que ela está chorando, preocupado ele pergunta:
-Ei por que você tá chorando?!
-Ele te contou o que aconteceu?!
-Contou...
-Eu não sei nem o que dizer pra ele...
-Atena, vem cá!
Ele a guia até o sofá, se senta ao seu lado e segurando os seus braços fala suavemente:
-Atena, você foi e é uma mãe maravilhosa para o Romerinho, mas toda a criança precisa de um pai!
-Romero...
-Me escuta! Eu sei o quanto errei com você no passado e me penitencio por isso todos os dias, mas infelizmente não posso voltar atrás. Assim como não posso querer que o tempo volte pra acompanhar o nascimento, os primeiros passos e tudo mais que eu perdi na vida do Romerinho, mas eu to aqui agora e eu quero ser o pai que ele precisa e merece d
-Aí ele se afeiçoa por você, aprende a te amar e tu cai fora, como fez comigo?!
-Atena, acredita em mim, eu não vou embora, eu quero fazer parte da vida dele, da dele e da sua!
-Romero...
-Por favor, me dá essa chance, me deixa contar pra ele...eu prometo que você não vai se arrepender!
-E você promete que não vai tirar o meu filho de mim?!
-Atena...eu jamais vou tirar o Romerinho de você, mesmo que você se case lá com o anão de olho azul! Você cuidou do nosso filho praticamente sozinha esses anos todos e eu te admiro muito, muito por isso, nem que eu quisesse eu ia conseguir roubar o seu lugar na vida dele!
-Tá bom Romero, eu aceito que você conte a verdade pra ele e eu espero que você não traia a minha confiança novamente!
-Eu nunca mais vou trair tua confiança! Mas agora vamos lá conversar com ele!
-Vamos...
-Mas antes eu posso te pedir uma coisa?
-O que Romero?
-Posso te dar um abraço? Essa conversa me deixou com vontade de te abraçar?
-Vem cá antes que eu me arrependa!
Ela fala com um leve sorriso, ele ri e a puxa para um abraço forte e demorado, ao se afastarem ele beija a testa dela e se encaram firmemente em um silêncio cúmplice antes de seguirem para o quarto do filho.
Quando chegam ao cômodo encontram Romerinho sentado na cama assistindo a um desenho enquanto Ascanio penteia seus cabelinhos húmidos, sorrindo com a cena Atena pede suavemente:
-Ascanio deixa eu e o Romero conversarmos com ele um pouquinho?!
-É sobre o que eu to pensando?
-É sim Ascanio, fazo que a Atena tá pedindo, faz!
-Boa sorte!
Ele fala com um sorriso sincero e se retira rapidamente do quarto, Atena e Romero se encaram e logo se aproximam da cama do filho, ela então começa a falar:
-Filho, eu e o Romero temos uma coisa muito, muito importante pra falar com você, e eu quero que você preste muita atenção tá?
-Uhum...
-Você sempre me perguntou pelo seu pai, eu sei que te fiz sofrer, desconversei, nunca te disse o nome dele, não te mostrei nenhuma foto, mas eu nunca quis te machucar com isso meu amor!
-Então por que nunca mostrou?
-Porque eu achava que você nunca ia poder conhecer o seu pai e pensava que agindo assim você sofreria menos com a ausência dele, mas eu estava enganada e só percebi isso agora!
-Então você vai me mostrar uma foto do meu papai?!
A empolgação com que o menino pergunta isso, faz ambos sorrirem, Atena então acena para que Romero entre na conversa e ele fala com um tom de voz extremamente suave:
-Não Romerinho, a sua mãe não vai te mostrar nenhuma foto, por que agora eu to aqui!
-Você?!
-É! Eu tava longe, num lugar onde não podia sair, sem notícias de ninguém...eu nem imaginava que você existisse, mas agora eu to aqui e nunca mais vou sair de perto de você meu pequeno!
-Você é o meu pai?!
-Sou Romerinho, eu sou o seu pai, eu sou o seu pai!
Romero pronuncia cada palavra com emoção e algumas lágrimas já rolam por seu rosto enquanto observa atentamente a reação do menino, que olha para Atena e pergunta:
-É verdade mamãe? Ele é meu pai?!
-É sim meu amor, o Romero é teu pai!
O menino olha firmemente para Romero e sorri, seu sorriso é sincero e seus olhinhos brilham, Romero acaricia seu rosto e pergunta:
-Você tá feliz?!
-To. Eu gosto de você!
-Gosta?!
-Gosto!
-E eu posso te dar um abraço?!
-Pode!
O Romerinho fala com firmeza e abre os bracinhos para ele, Romero sorri com a atitude e o abraça com todo o carinho do mundo, o abraço é longo e com ele as lágrimas descem sem controle pelo rosto do ex-vereador, de repente o menino se afasta e pergunta colocando as mãozinhas no rosto do pai:
-Esse choro é de felicidade?!
Romero sorri abertamente com a pergunta e responde:
-É filho, esse choro é de felicidade, da maior felicidade que eu já senti em toda a minha vida!
Após dizer isso ele abraça o filho novamente e o puxa para seu colo, permanecendo ali por um longo tempo.
Escorada na porta do quarto, Atena sorri e chora admirando a cena e tendo a certeza de que fez a escolha certa revelando a verdade para o filho.
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