História Prazer, Aburame! - Minha amiga cerejeira.

É tão estranho quando você subitamente recebe a chave do clã. Digo, é muita responsabilidade. Eu não sou uma pessoa capaz de lidar com muita pressão, muita atenção e reconhecimento. Mas estou deveras ansioso. Droga! Estar ansioso não é algo bom. Quem eu estou querendo enganar? Já consigo imaginar o tanto de pressão que a vila e o clã colocarão em minhas costas. Mas, olhando por outro lado, isso pode ser o sinal de que as coisas podem melhorar... Isso! Definitivamente as coisas vão melhorar. Já consigo imaginar uma grande reviravolta do destino.

Nessa tarde, Shino caminhava pensativo pelas ruas de Konoha. Não conseguia disfarçar seu olhar cabisbaixo e triste, mesmo tentando não ser pessimista com toda a situação.
O garoto, com seus 18 anos, enxergava o futuro como algo incerto para si.
Caminhou olhando para todos os lados, barracas de comida, doces, famílias se divertindo, e um apartamento recém-comprado, saindo dele um casal visivelmente feliz e realizado.

—Shino! —Exclamou Naruto enquanto não tirava um sorriso bobo do rosto. —Fiquei sabendo que você recebeu a proposta de assumir o clã Aburame! Isso é tão demais!

Naruto, assim como de costume se mostrava bastante animado e feliz com o sucesso de seu amigo.  

—Eu sempre soube que você seria capaz um dia, Shino. Quem diria que nós dois um dia chegaríamos até aqui? –Hinata sorriu de um modo encantador e realizado.

—Pra falar a verdade, fiquei bastante surpreso, e obrigado. Mas, me respondam uma coisa, vocês já estão morando juntos?

Naruto e Hinata trocaram um olhar e sorriram. Shino, ainda um pouco confuso observou Hinata se aproximando e segurando sua mão, posicionando ela sobre sua barriga, ainda pequena.

—Eu te apresento alguém que está chegando para morar com a gente.

Um pouco sem graça, o garoto dos insetos sorriu e respondeu:

—Eu tenho certeza que ele ou ela será muito feliz ao lado de vocês.

Shino observava com um sorriso bem tímido a alegria de seus amigos com a formação de uma família e a recém-chegada de uma criança que com toda certeza traria felicidade à vila. Despediu-se formalmente e seguiu o seu caminho.

Sendo pouco mais de meio dia, Shino parou em frente ao hospital da vila. Pediu informação no balcão, mas não recebeu atenção enquanto a recepcionista estava ao telefone. Andou pelos corredores, subiu as escadas e seguiu até uma porta que dava acesso ao terraço, onde estavam alguns ninjas médicos. Caminhou até Sakura que estava sozinha numa mesa.

—Sakura...

—Shino, como você demorou! Sente-se comigo. —Exclamou a garota, um pouco cansada. —Você trouxe o meu almoço? Só espero que não tenha moscas nele. —Disse em tom de piada.

—Você nunca cansa dessa piada, né? Aqui está! —O garoto entregou o obentô que logo foi atacado por Sakura, visivelmente faminta.

—Você está mesmo com fome. Trabalhou muito hoje?

—Tive de fazer quatro cirurgias sem descanso só pela manhã. Estou exausta, mas meu turno hoje acaba somente no fim da tarde. Está extremamente complicado... —Dizia a garota enquanto comia sua comida, agora com certo desânimo que se dissipou rapidamente ao se levantar e dar um abraço apertado em Shino—Hei! Fiquei sabendo que você recebeu a chave do clã, eu estou tão feliz por você!

Recentemente, Shino e Sakura desenvolveram um vínculo de amizade bem forte, por estarem em situações parecidas. Ambos sozinhos. Embora ela namore Sasuke, este passava meses em missão, o que tornava extremamente difícil admitir que tivesse alguém ao seu lado.

—E quando você para de trabalhar?

—Não sei, nem quero pensar nisso agora.

—Já contou para o Sasuke?

Ela parou de mastigar e encarou seu amigo por alguns segundos.

—Eu não quero atrapalhá-lo, ele está numa missão importante e... —A garota se interrompeu, pegou um lenço em seu bolso do uniforme de médico, e secou umas poucas lágrimas que caíram.

—Ele não se chatearia, ao contrário, um bebê é motivo para se alegrar. Por falar nisso, a quem mais você contou? Além de mim, claro.

—Só você e a Karin sabem. Mas... —Se interrompeu novamente enquanto encarava sua barriga ainda não visível. —Estou de apenas 5 semanas afinal.

Mesmo estando numa situação pior, mais degradante, e não quisesse transparecer, Shino se preocupava com a situação da amiga. Poucas pessoas enxergavam o herdeiro Uchiha como um amante da garota, isso porque, mesmo juntos, era difícil enxergar algum nível de entrega por parte dele.

—Você está feliz, Sakura? —Shino a perguntou enquanto tirava os óculos para que tivesse um contato direto com os olhos.

Com os olhos fixos no dele, ela pensou. Gerando um curto período de silêncio.

—Eu sei que pode soar egoísta, —Sakura afastou de si o obentô. — mas por mais que isso seja tudo o que eu sonhei, parece que todos os anos em que eu treinei, me esforcei, tentei salvá-lo... Tudo isso parece ter sido em vão. Digo, é claro que estou feliz por conseguir trazê-lo de volta para a vila, mas... Eu me apaixonei pela ideia de futuro ao lado dele e a realidade não é tão prática quanto parece.

Shino não sabia o que dizer pra confortá-la. Então apenas segurou a mão dela por cima da mesa.

—Me desculpe, Shino. Sua vida é tão complicada e eu fazendo um estardalhaço por algo tão fútil. —Ela riu constrangida.

—Não se preocupe. Meus problemas não tornam o seu menos doloroso, o mesmo vale para o contrário.

—Por falar nisso! Você decidiu deixar de ser professor da academia ninja! Por quê? Eu adoraria que meu bebê um dia tivesse aula com você. Ah, que desanimador. —A garota voltou a comer.

—Para falar a verdade, —O garoto ficou cabisbaixo. —quando aceitei a proposta de ser professor, eu estava mais uma vez fugindo. Meu pai um tempo atrás foi noticiado que eu fui contatado pelo Hokage para a ANBU, então...

—Kakashi te escolheu?! —Sakura engasgou com a comida e se mostrou surpresa.

—Ele foi um tanto sincero comigo, sabe? Pelo fato de eu ser do clã aburame, ter boas habilidades furtivas e de infiltração, mas o que me incomodou um pouco foi outra coisa.

A garota novamente desviou a atenção para Shino.

—O que te incomodou?

—Ele disse que, pelo fato de eu ter poucos amigos, eu seria um bom ninja da ANBU, por eu não ser muito notável pelos ninjas da vila.

—Aquele Kakashi... —Sakura se mostrou furiosa.

—Não se preocupe, ele apenas falou a verdade. —Mostrou um sorriso forçado. —Inclusive, meu pai me deixou um ultimato, em que eu deveria escolher entre me juntar a ANBU ou assumir o clã. Num surto de desespero, implorei para que Kakashi me deixasse lecionar. Ele na verdade foi um grande salvador pra mim, mas não durou por muito tempo. Logo meu pai me forçou novamente e eu acabei cedendo.

Sakura novamente saiu de seu assento, sentou-se ao seu lado e abraçou-o, tentando confortá-lo.

—Eu sinto muito, não sabia que tudo isso foi contra sua vontade. Desde a academia até assumir o clã.

—Eu vou melhorar. Continua sendo ruim, mas seria pior adentrar a ANBU. Se ao menos Torune estivesse vivo... Tenho certeza que ele não hesitaria em ser líder.

—Já sei! Vamos nos divertir hoje à noite! Vamos para uma festa e vamos deixar toda essa história triste de lado. Vamos beber, fofocar, e vou te ajudar a flertar com alguém. —Riu.  

O garoto se mostrou surpreso e um pouco confuso, mas respondeu com um sorriso. Era sortudo em ter alguém que se preocupa com ele.  Retornou para sua casa e esperou que o sol fosse embora para que a noite trouxesse algo bom.