História Precious bae. - Pernico. - Quinto. (We gonna dance in the moonlight?)

“Acorde-me por dentro (eu não consigo acordar), acorde-me por dentro (salve-me). Chame meu nome e salve-me da escuridão, obrigue meu sangue a fluir antes que eu me desfaça. Salve-me do nada que eu me tornei.” – Bring me to Life, Evanescence.

Depois que eles saíram do parque, Percy o deixara em sua casa quase meia noite e ele ficou trancado no quarto até que sua mãe chegasse, até faltara o colégio. Sorte que seu olho já não estava tão roxo, apenas um pouco vermelho e inchado. Ele decidira que não iria ignorar Percy, mas ele se deixara parecer muito frágil naquele dia, e isso era o que ele menos queria. De qualquer maneira, ele estava apenas tentando evitar que Percy visse seus ombros cheios de hematomas pelos empurrões constantes contra os armários, ou suas coxas igualmente marcadas por chutes, ou o quanto seu emocional estava fodido. Ou que não perguntasse para onde ele ia toda sexta-feira e sumia até segunda-feira de manhã.

Porque nem ele gosta de lembrar que vai para pubs todo final de semana.

Porque nem ele gosta de lembrar que tem ficar bêbado ou chapado com qualquer droga sintética para esquecer tudo o que acontece ao seu redor.

Porque nem ele gosta de lembrar que tem que ficar bêbado ou chapado para sentir-se menos vazio.

Naquele dia que ele e Percy passaram o dia no parque e Nico confessou tudo o que vem acontecendo desde seus quatorze anos, Percy simplesmente escutara e ficara ao seu lado. E quando ficou muito tarde, Percy o levara para casa e o entregou uma das florzinhas cor-de-rosa da árvore em que eles estavam sentados embaixo. Estava meio amassada por ele ter colocado no bolso do casaco, mas ainda era bonita. E se aquela flor estava colada com uma fita no fundo do armário de Nico no colégio, ninguém precisava saber.

Finalmente chegara o dia de se apresentar para o colégio todo. Nicholas? Nervoso? Imagina. Era pouco tempo de aula, mas ele havia passado tempo demais treinando para tocar Lay me Down e a voz de Octavian o mandando parar ainda estava em sua mente. Imbecil desocupado. Desde o dia em que ele machucara seu rosto, Nico o ignora. Ignora quando ele pede algo quando estão na mesa, ignora quando ele passa alguma mensagem de Maria, ignora quando o manda fazer alguma coisa. Ele queria gostar de Octavian, mas suas atitudes o impediam disso.

Enfim.

A manhã fora extremamente irritante e Nico não conseguia estar mais nervoso. As apresentações seriam no último tempo e os babacas do time de futebol pareciam estar fazendo sua manhã um inferno de propósito. Sem contar que ele estava tremendo e com uma dor de cabeça palpável. No recreio, ele não tocara em sua comida, com medo de colocar tudo pra fora por ansiedade. Assim que ele e Percy se separaram de Luke, os gêmeos, Jay, Leo e as meninas, Nico sentiu um bolo se formar na garganta.

Vamos, Nicholas, não é nada demais, Nico pensou.

Percy andava ao seu lado e suas mãos se roçavam levemente.

- Estamos atrasados, acha que a idosa vai reclamar? – Percy falou e Nico soltou uma gargalhada gostosa, alta e doce.

- Não a chame de idosa, ela é tão legal. – Percy revirou os olhos.

- Tanto faz. Gostei da sua saia. Que música vai tocar? – Percy disse enquanto seus passos ecoavam no corredor vazio.

- Obrigado, eu também gosto do seu moletom rosa. – Eles sorriram e Percy deu de ombros. - Lay me Down do Sam Smith, e você?

- I wanna be yours. – Nico soltou uma risada anasalada.

- Apaixonadinho, yeh? – Percy corou.

- Talvez eu esteja. – Nico apertou a bochecha do outro com uma mão, os dedos esguios e curtinhos, ainda rindo. Percy segurou seu pulso sorrindo. – Não me toque pequeno Nicholas, não te dei essa intimidade.

- Vai se fazer de difícil? – Nico arqueou a sobrancelha bem desenhada e cruzou os braços. – E não me chame de pequeno. - Percy soltou uma risada anasalada ao que eles entraram no auditório vazio.

- Não estou me fazendo de difícil, idiota. – Você é quem está.

- Estou vendo. – Eles caminharam entre as poltronas vazias, aquele lugar imenso vazio e silencioso parecia querer engolir os dois. Percy não disse mais nada e eles só subiram a escadinha que dava para a coxia, a professora e os outros alunos ali atrás já se preparando.

- Ah!, os dois atrasados, vamos, venham se aquecer para cantar! Só não mandei a diretora liberar as outras turmas porque vocês não tinham aparecido. – Ela os pegou pelo braço e os enfiou no camarim com os outros, depois se afastou ainda falando alto e gesticulando.

- Louca. – Percy resmungou e Nico deu uma risada, passando entre as cortinas que davam para o palco, puxando Percy pelo pulso para se sentar na banqueta do piano, ao seu lado. Ele esticou os braços e começou a dedilhar as teclas com facilidade, a melodia de I wanna be Yours soando alta pelo auditório.

-Muito bom. – Percy elogiou. – Mas eu vou tocar no violão, e pare de estragar minha apresentação tocando melhor que eu.

- Obrigado e me desculpe. – Nico sorriu e se afastou das teclas. A coxa dele tocava a de Percy levemente e isso deixava corado. Ele começou a dedilhar novamente, dessa vez tocando Summertime Sadness. Ele escutou o barulho do salto da professora contra o carpete fino, mas continuou a tocar. Ela enfiou a cabeça entre as cortinas vermelho sangue, os olhos arregalados e Nico tirou a mão do instrumento como se estivesse o queimando.

- Menino Nicholas, você só me surpreende. Acha que pode tocar até todos entrarem no auditório? Já trouxe uma turma comigo. – Nico sorriu grande.

- Claro. – Percy ia se levantar, mas Nico colocou a mão sobre sua coxa. O menor o encarou, os olhos escuros brilhando como um céu estrelado. – Fique aqui, por favor.

- Okay. –Nico voltou a dedilhar o piano. Os dedos curtinhos movendo-se ágeis pelas teclas. Percy estava quase hipnotizado pela facilidade do menor, mesmo que ele tenha dedos curtinhos. Nico vacilou em uma nota e Percy colocou a mão grande por cima da mão do menor, segurando com delicadeza. A melodia de Dancing in the Moonlight soou por cima do burburinho detrás das cortinas, que logo diminuiu. Nico soltou uma risada incrédula e Percy deu um sorriso convencido. Nico resmungou o começo da música em um tom baixo, Percy quase não ouvira.

- O quão clichê isso é? – Nico disse baixinho e ciente do microfone ligado à frente deles, e ainda concentrado nas teclas e a mão de Percy em cima da sua.

- Numa escala de zero a dez? Onze. – Percy disse rindo no mesmo tom. Eles estavam tão entretidos na música que mal perceberam a cortina ser aberta. Os dois presos naquela bolha de sentimentos costumeira.

Now we go steady to the pictures

(Agora vamos fixamente para as fotos)

I always get chocolate stains on my pants

(Eu sempre fico com manchas de chocolate na calça)

And my father's going crazy

(E meu pai está ficando louco)

Say's I'm living in a trance

(Dizendo que estou vivendo em transe)

Nico cantou mais alto e se assustou com a luz do holofote diretamente em seu rosto, sua voz vacilou e sumiu, Percy parou de tocar. A professora estava na primeira fila e estava gesticulando feito louca movendo os lábios em “toquem, toquem!” rapidamente e sem barulhos. Nico encarou Percy ao seu lado.

- Nossa chance. – Ele sorriu e voltou a tocar, incentivando o menor. Nico começou a resmungar o começo da música novamente, até que chegou à parte em que eles tinham parado.

But I'm dancing in the moonlight

(Mas eu estou dançando ao luar)

It's caught me in the spotlight

(Isso me prendeu no centro das atenções)

It's alright

(Está tudo bem)

Dancing in the moonlight

(Dançando ao luar)

On this long hot summer night

(Nessa longa noite de verão)

Percy sorriu para Nico e se inclinou em direção ao microfone, olhando para o menor enquanto cantava e tocava. Eles mal perceberam quando o resto da turma entrou no palco com violões, triângulos e mais alguns pequenos instrumentos, mas Nico estava ocupado demais com os olhos verdes do Percy o encarando para diferenciar os instrumentos uns dos outros.

Well it's three o'clock in the morning

(Bem, agora são três da manhã)

And I'm on the streets again

(E eu estou nas ruas novamente)

Disobeyed another warning

(Desobedeci mais um aviso)

I should have been in home  by ten

(Eu deveria ter ido para casa no dez)

Nico sorriu para Percy e ele se sentiu amado. Sentiu-se completo como vinha procurando se sentir a algum tempo. Mas aquilo lhe assustou.

I won't get out until Sunday

(Não quero sair até sábado)

I'll have to say I stayed with friends

(Eu vou ter que dizer que estava com meus amigos)

But it's a habit worth forming

(Mas é um hábito que vale a pena formar)

If the means justify the ends

(Se os meio justificam os fins)

Percy cantou com Nico a última parte e os instrumentos pararam ao que Percy parou também, todos batendo palmas ao ritmo da música.

But I'm dancing in the moonlight

(Mas eu estou dançando ao luar)

It's caught me in the spotlight

(Isso me prendeu no centro das atenções)

It's alright

(Está tudo bem)

Dancing in the moonlight

(Dançando ao luar)

On this long hot summer night

(Nessa longa noite de verão)

Percy sorriu largo para Nico enquanto o auditório explodia em palmas e assovios. Nico abraçou Percy fortemente.

- Conseguimos. – Percy riu ao que Nico sussurrou contra seu ouvido.

- Conseguimos. – Ele afirmou e eles se afastaram. As orbes claras de Percy grudadas na boca rosada e delineada do menor. Num momento de coragem repentina, colocou uma mão sobre a cintura fina do menor e a outra apertava sua coxa, e selou seus lábios. De início fora um selinho, mas Nico passou os braços por seu pescoço e aprofundou o beijo. A língua do maior passou por seu lábio inferior e Nico abriu os lábios, recebendo a língua de Percy que explorava sua boca com delicadeza. Nico estava meio perdido pelo gosto doce da boca de Percy, que chupava seus lábios suavemente. O beijo continuou afetuoso até que Percy o quebrou, sorriu e voltou a beijar o menor, mordendo seu lábio inferior levemente. Seu coração descompassado parecia querer pular do peito.

Nico sabia que era errado, sabia que um dos dois ia sair machucado, mas naquele momento ele não se importou. E, de tarde, depois que Percy o deixou em casa e lhe entregou uma rosa vermelha junto de um sorriso ladino e tímido, ele sabia que tinha se metido em algo que talvez não conseguisse sair.

Ele só não queria que Percy decepcionasse por sua causa.