História Preciso de ti - Notícia catastrófica!

Karma e Nagisa se conheciam desde o fundamental, conversavam entre si, mas não eram muito próximos. E o abismo de suas relações se tornou maior quando Nagisa recebeu a notícia de que iria ser transferido para Classe-E, considerada o pior lugar naquela escola.

Nunca passaria pela cabeça de Nagisa, ou de qualquer pessoa normal, o que se passava naquela sala de aula. E mesmo com toda aquela bagunça, o que realmente preocupava o azulado era o que aconteceria quando chegasse em casa.

Como poderia contar a sua mãe? Estava receoso, sempre soube o nível de perfeccionismo que aquela mulher tinha. Era exigente demais, já conseguia ouvir os sermões exagerados dela. Sua cabeça havia começado a doer, e um sentimento não muito agradável se espalhava por seu estômago, tinha vontade de não ir para casa, queria poder não precisar conta-la, mas sabia que caso fizesse isso, seria com certeza pior.

Já estava tarde, e as ruas escuras contribuíam com aquele sentimento desconfortável de Nagisa. Remoia todas as loucuras de sua mãe, e sinceramente não estava nem um pouco a vontade de lidar com mais delas. Se sentia incapaz de impor sua vontade, queria poder enfrenta-la, mas se sentia fraco. Era como se ela tentasse transforma-lo naquilo que não era, e por mais que não gostasse, não poderia fazer nada, afinal, é de sua mãe que estamos a falar.

Nagisa's POV

Eu havia demorado demais para sair da escola, resultando em ter que caminhar até minha casa em uma quase completa escuridão. A cada passo que dava, mais minha cabeça latejava ao pensar na bronca que iria levar. Amanhã seria meu ultimo dia como uma aluno comum, logo depois terei que estudar na Classe-E, o que me deixava ainda mais apreensivo.

Depois de alguns minutos caminhando, finalmente cheguei na porta de minha casa. Comecei a sua frio, encarei a maçaneta por breves segundos, então juntei coragem suficiente apenas para levar minhas mãos trêmulas a ela.

Abri a porta com um certo receio, e com passos leves entrei no cômodo escuro assim como as ruas. Fui até a parede em busca de um interruptor para acender a luz, e assim que o fiz, em questão de segundos, ouvi a voz de minha mãe me chamar.

-Nagisa! Venha aqui agora!-Um arrepio passou por todo meu corpo, pelo tom de sua voz pude notar que ela já era ciente de minha transferência.

Fui andando até ela com um certo medo, e quanto mais próximo, mais a minha vontade de sair correndo dali aumentava.

Então entro no escritório de minha mãe, e a vejo sentada em umas das poltronas. Ela me encarava em silêncio, seu olhar sanguinário me amedrontava o suficiente para que eu não me manifestasse. E então depois de alguns segundos, ela levanta, e sua compostura calma muda para uma pose ameaçodara, e como eu imaginei, comecei a ouvir seus gritos.

-Nagisa, me explique isto agora. Por que você vai para Classe-E?-Ela me perguntou, e eu me mantive em silêncio.-ME EXPLIQUE! JÁ NÃO BASTA EU TER TE CRIADO, SABE QUANTO CUSTA AQUELA ESCOLA? SABE QUANTAS VEZES EU TIVE QUE FAZER AS REFEIÇÕES NESTA CASA, MESMO CANSADA? É LÓGICO QUE NÃO, VOCÊ É SÓ UMA CRIANÇA!-Ela começa a andar de um lado para o outro.- E TUDO QUE EU ESPERAVA EM TROCA ERA UM BOM DESEMPENHO SEU, E NEM ISSO VOCÊ FAZ PELA SUA MÃE!-Ela cospe todas essas palavras em minha cara, me fazendo sentir um completo inútil, um estorvo.

-Desculpe mãe.-Falei murmurando de cabeça baixa, não tinha coragem de me defender, eu era um covarde.

Ouvi um suspiro, e logo depois ela segura em um de meus braços.

-Nagisa me acompanhe.-Ela disse mais calma, e infelizmente, eu já sabia para onde iriamos.

-Sim...-E por mais que eu não quisesse, não havia nada que eu pudesse fazer.

Ela iria fazer o mesmo dircusos de sempre,  que se eu fosse uma garota, tudo seria mais fácil, de como ela poderia me contar sobre a moda, de como ela poderia me ensinar a ser uma mulher. E como sempre, essas palavras iriam fazer um estrago enorme em meu psicológico.

Ela me levou até o quarto, e me colocou de frente a um espelho enorme que havia lá. E então se pôs atrás de mim, e começou a passar as mãos em meus cabelos amarrados.

-Olha como você é bonito.-Não demorou para que ela soltasse meus cabelos, e então começou a arruma-los como se eu fosse uma menina.-Se você fosse uma garota, eu ira te ensinar tudo de moda, e seu cabelo só iria andar lindo!-Ela disse com um sorriso intimidador nos lábios.-Você não seria linda?

-Aposto que sim.-Disse entre dentes, pois se eu não concordasse, seria obrigado a vestir-me de menina, apenas para provas que ela está certa.

Logo ela percebeu meu desconforto, fechou brevemente os olhos e colocou suas mãos em meu rosto, uma a cada lado.

-Vou deixar você em paz, querido.-Ela disse calma, e sinceramente sua mudança se humor constante me assustava.-Mas eu quero que você melhore, que entre no ranking dos 50 melhores logo.-Brincou com o dedo na ponta de meu nariz.-Ou você irá sofrer as consequências.-E conclui sua frase com um tom ameaçador, e então saiu de meu campo de visão em passos leves até a cozinha.

Naquele momento eu quis chorar, lágrimas começaram a se formar em meus olhos, e então mais uma vez me senti fraco e incapaz. E então cansado, fui para meu quarto, e me joguei na cama perfeitamente forrada.

Comecei a remoer em minha cabeça tudo aquilo que ela havia me dito, e dessa vez, não me importei em deixar as lágrimas molharem meu travesseiro. Tudo que ela queria era me tornar uma menina, me tornar o que eu não sou, me tornar o que ela queria ser. Não posso impor minhas vontades, para ela sou uma criança imatura, e tudo que me resta é lamentar.
Mais uma vez aquele misto de sentimentos horríveis, aquela dor de cabeça, e principalmente aquela sensação de ser rejeitado. Meu coração doia, e tudo aquilo indicava mais uma noite mal dormida junto com meus pensamentos e um vazio no peito.