História Predestinados - Shawmila - Pitbull's New Year's Revolution

MIAMI - 31/DEZ

        Movimentação intensa. Muita gente e calor.

    Era dessa maneira que meu último dia do ano “começava”. Passei a mão pelo rosto no que devia ser, talvez, a décima vez xingando minha própria pessoa por ter deixado meu lado maluco escolher aquela roupa calorosa. Ok, era normal, mas eu estava com calor.

     Meu celular vibrou sobre minha perna mostrando duas novas mensagens. Uma da minha vó me desejando um bom dia e uma segunda de minha mama avisando que já estava a caminho com Sofi, já que o show seria em Miami, nossa cidade.

     Roger levantou-se ao meu lado chamando minha atenção enquanto fechava a tela do notebook.

- Passagem de som.

- E o Shawn?

       Onde ele havia se metido? Eu não tinha contato com o garoto mais novo desde às 7 da manhã, quando fomos obrigados a nos separarmos, afinal, tínhamos compromissos a cumprir.

- Está indo também. Já está tudo pronto. Vamos?

     Meu agente abriu a porta arrumando desajeitadamente os óculos sobre a cara e fazendo uma cara de tédio enquanto me esperava – lentamente e preguiçosamente – levantar. Eu estava cansada. Não havia dormido quase nada. Graças a Deus, pensei.

     Arrastei os passos ainda tentando me conectar ao aparelho preso entre minhas mãos. Algumas pessoas passavam me cumprimentando e eu as respondia com o melhor sorriso no rosto, obviamente.

    Alcançamos o palco e por cinco segundos eu senti uma brisa fresca bater sobre meu rosto fazendo com que meus cabelos fossem jogados para trás de mim. Por apenas cinco segundos, pois logo após o vento fresco a única coisa que eu pude sentir foi o sol dar uma “moca” no topo da minha cabeça.

       Shawn estava mais na frente encostado a uma das caixas de som com o violão escorado sobre o corpo. Um óculos escuro sobre o rosto e os dedos afinando o instrumento atraindo toda sua atenção. Como eu sabia disso? Pelo simples fato dele parecer antenado à qualquer coisa que acontecia ao seu redor, e, principalmente sua boca aberta.

- Bonito. Que bonito!

      Minha voz saiu tentando assusta-lo, mas o máximo que ele fez foi virar a cabeça estendendo um meio sorriso na minha direção, e de alguma maneira – quase inexplicável – eu senti minha temperatura corporal aumentar mais alguns graus. Ele estava destruindo a minha sanidade sem nem mesmo ter encostado em mim. Minha mente gritava algo como: Para com isso Camila. Controla-se, garota.

- Olá – Ele disse rindo sem mostrar os dentes e voltou sua atenção para o instrumento.

      Meus passos alargaram-se em sua direção, mas eu hesitei um pouco observando, por fim, mais algumas pessoas no lugar da plateia. Passei por ele tocando meus dedos em seu braço e parando ao seu lado. Com a mão livre estendi pegando uma das três garrafas d’água que estava ali.

- Sabe, eu não gosto muito do frio... – disse abrindo a garrafa – Mas meu Deus, pra que esse calor todo?

     Levei a mesma até a boca sentindo o líquido frio tocar-me os lábios. O garoto mais novo levantou a cabeça observando a cena enquanto continuava a dedilhar o violão. A boca levemente aberta agora transformava-se num sorriso de lado. Concentração, Camila.

     Uma risada rouca saiu dele e eu afastei a garrafa da boca fechando-a rapidamente. Ele passou a língua entre os lábios umedecendo-os antes de falar.

- Se você que mora aqui está com calor, imagine eu.

      Realmente.

    As maçãs de seu rosto completamente vermelhas e gotículas de suor começavam a brotar sobre sua testa e têmporas, mas também né, ele estava de roupa preta – só pra variar – como ele queria não sentir calor? Meio que impossível. Além de tudo a roupa não era frouxa, era um pouco coladinha sobre seus músculos. E que músculos...

- Camila?! – Ele me chamou mais alto.

- Oi?

     E lá estava eu voando mais uma vez, que merda. Pelo menos ele não podia ler meus pensamentos, ou caso contrário ficaria tirando sarro com a minha cara. Fato. Eu podia sentir minhas bochechas esquentarem por conta de uma pequena vergonha, mas não havia problema, eu poderia simplesmente culpar o calor.

- Por que você tá me olhando desse jeito?

- Que jeito?

- Tá passando mal por conta do calor?

         Sua expressão mudou de uma feição desleixada para uma feição preocupada. Pude ver seus cenhos franzindo um pouco por baixo das lentes do ray-ban.

- Hm, não. Tô bem. Vamos passar o som?

      Ele me olhou estranho e pude jurar que ele iria perguntar mais alguma coisa, entretanto Andrew apareceu nos dando a “liberação” para começar a passagem de som.

*

         Meu cabelo e maquiagem já estavam prontos. Eu só estava esperando Shawn para podermos subir juntos. Meu celular vibrou denunciando notificações intensas que aconteciam no twitter naquele momento. Bloqueei o aparelho ao mesmo tempo em que Roger entrava na sala juntamente com Mama e Sofi.

- Kaki – Sofia entrou quase que pulando mostrando-me os dentes escancarados.

- Minha princesa. Veio me assistir?

       Ela assentiu me abraçando apertadamente. Mama se aproximou fazendo a mesma coisa enquanto conversava com Roger.

- É estranho não te ver com as meninas – Sofi deu de ombros – Mas se você está feliz, eu estou feliz!

      Os olhinhos castanhos brilharam e as bochechas rechonchudas foram estufadas mostrando-me seu sorriso incandescente. O amor e a pureza de uma criança era a coisa mais linda que eu poderia ver, e naquele momento, ver aquele sentimento saindo de uma pessoinha que eu amava mais do que a mim mesma era apenas... Gratificante.

      Apertei ainda mais a pequena sobre meus braços enquanto dava um beijo sobre sua cabeça. Minha princesinha.

- Tenho tanto orgulho de você!

- Eu sei – A verdade simplesmente saiu de sua boca. Crianças. – Onde está o Shawn?

- Hm, acho que... – Olhei para Roger que disse “palco” – Acho que está na hora da irmã se apresentar. Ele já deve estar atrás do palco.

- Tá bom Kaki. Sobe lá e arrasa. Eu te amo muito!

       Dei um abraço rápido na mais nova e me aproximei de Mama fazendo a mesma depositando-lhe um beijo na bochecha. Ela sorriu daquele jeito dela, fechando um pouco seus olhinhos e me desejando um bom show. “Divirta-se”, ela disse segurando carinhosamente minhas mãos.

       Sai do camarim já sabendo o caminho que deveria percorrer para chegar até o palco. Roger iria levar minha Mama e Sofi para algum lugar tranquilo para que elas pudessem ver o show.

       O caminho era curto e de fácil acesso, eu apenas ficava um pouco confusa com tantos corredores e tanta gente se movimentando de um lado para o outro. Corredores esses que haviam presenciado um encontro nosso com o Pitbull, logo após a passagem de som.

- Camila – Uma voz me chamou ao longe, mas não tão longe quanto eu gostaria.

“ABSTRAI E FINGE DEMÊNCIA” um alerta gritava dentro da minha cabeça. Fingi que não ouvi e a voz mais uma vez me chamou, porém estava mais alta e mais perto. Tentei ignorar e senti alguns dedos se apossarem de meu braço esquerdo fazendo-me virar para fita-lo.

- O que você quer? – Minha voz saiu ríspida e Austin me olhou um pouco... assustado.

- Eu só queria me... – Ele tentou dizer.

- Olha Austin, eu não tenho nada pra falar com você.

        Como se tivesse tomado um tapa na cara ele abriu a boca, mas não falou nada. Tirou o boné e colocou-o na mesma velocidade.

- Eu só queria pedir desculpas. É isso.

- Não é pra mim que você tem que pedir desculpas. – Eu disse sentindo o sangue borbulhar dentro das minhas veias.

- Pra ele e pra você também... Não foi minha intenção, eu só...

- Camila? O que você ainda tá fazendo aqui? Precisamos ir agora – Roger segurou-me pela mão me puxando dali. Graças a Deus... Eu já estava vendo a hora de pular em cima do meu ex-namorado querendo arrancar todos os fios de cabelo de sua cabeça.

      Roger trocou um olhar cúmplice, como se fosse meu pai e eu quis rir, mas minha raiva ainda borbulhava em mim. Isso até o momento em que cheguei à parte de trás do palco, e antes de subir as escadas pude ver Shawn arrumando o violão em si. Ele me olhou e sorriu calorosamente. Tudo vai ficar bem.

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        O grande telão indicava que faltava menos de dois minutos para o fim do ano. As pessoas estavam sorrindo, felizes, realizadas e animadas.

      Camila sorria na minha frente com os olhos brilhando tanto que eu podia jurar que em seus olhos estava na verdade refletindo-se o universo com as estrelas mais brilhantes possíveis. Ela virou-se pra mim com um sorriso de orelha à orelha e eu senti meu coração bater mais rápido. Era a maneira como eu sempre me sentia quando estava na presença da garota mais velha.

https://www.youtube.com/watch?v=2mQy5E6ugSs – PLAY AQUI (Camp Rock - Gotta Find You)

     Os segundos pareçam voar e quando dei por mim já estávamos na contagem regressiva. Um pequeno filme ia passando pela minha cabeça conforme contávamos os segundos para a virada do ano.

DEZ

      A primeira vez que eu a vi, sorridente e alegre atravessando os corredores da turnê de Mahone.

NOVE

      As trocas de olhares. Os sorrisos iluminados direcionados a mim, por mais puros que fossem. Eram sinceros.

OITO

      O início de uma amizade que eu esperaria que durasse a eternidade. E iria durar. Certeza!

SETE

      O abraço apertado quando me despedi no último show da turnê. E seu último olhar, carregando uma leve tristeza.

SEIS

      Um breve afastamento e uma reaproximação. Intensidade.  

 CINCO

      O primeiro beijo, no estacionamento. Naquela noite estávamos sendo observados pelas mesmas estrelas que brilhavam em seus olhos.

QUATRO

      Os momentos engraçados. Onde nossa amizade era um pilar fixo. Inquebrável.

TRÊS

       O dia em que tivemos nossa primeira noite, na casa da mais velha... Eu poderia me lembrar facilmente de cada detalhe. Cada movimento. Cada toque.

       Seus olhos flamejantes e quentes. Suas mãos e sua pele macia. Sua boca em contato com a minha e nossos corpos em uma sincronia inexplicável.

DOIS

       O pedido de namoro e cada um dos momentos maravilhosos que havíamos passado juntos. Com a turnê, com nossos amigos, com a nossa colaboração, com o nosso amor.

UM

       O “Eu te amo” era o mais especial. Eu a amava e simplesmente não havia como negar ou sequer esconder. Era um fato consumado, afinal, quem eu queria enganar?!

         Camila me olhou sorridente e estendeu os braços enquanto os fogos explodiam. Meu coração estava explodindo, de uma maneira boa. Abracei a menina de forma apertada, para que ela soubesse que eu não iria solta-la e como pude puxei-a para perto de mim levantando-a do chão, para que, além disso, soubesse também que, em hipótese alguma... eu jamais deixaria ela cair.

- Feliz ano novo, meu amor. Eu te amo!

      Eu disse ainda com seu corpo grudado com o meu. Ela devolvia o abraço com a mesma intensidade e pude sentir seu coração bater acelerado contra o meu peito. Coração com coração. Como se eles também estivessem se abraçando.

- Feliz ano novo, anjo. Eu te amo!

      Sua voz saiu abafada diante de tanta barulheira, mas eu podia ouvi-la.

      Suas palavras fizeram um liquido quente percorrer cada centímetro do meu corpo, me aquecendo e me arrepiando. Camila agora era parte de mim. Eu sentia que sem a garota era difícil, não impossível, mas simplesmente ao seu lado as coisas eram simples e fáceis. A palavra impossível não existia. Não quando eu estava com ela.

     Abaixei meus braços afrouxando-os e devolvendo Camila ao solo. Eu queria beijá-la, e eu faria isso... Faria com muita vontade, caso alguém não tivesse puxado a garota mais velha para um outro abraço e fizessem o mesmo comigo, nos afastando.

  Amor não é se envolver com a pessoa perfeita, aquela dos nossos sonhos. Não existem príncipes nem princesas. Encare a outra pessoa de forma sincera e real, exaltando suas qualidades, mas sabendo também de seus defeitos. O amor só é lindo, quando encontramos alguém que nos transforme no melhor que podemos ser.

Desconhecido