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História Prelúdio das Cinzas - 14


Escrita por: rubiconvenus

Capítulo 15 - 14


Fanfic / Fanfiction Prelúdio das Cinzas - 14

Capítulo 14: Inversão

 

Acertei a quinta flecha no centro do alvo.

-- Muito bem, Eydwen, você está cada dia melhor e surpreendentemente, acertou todas as tentativas hoje. - Trovan, o treinador, sorriu satisfeito e anotou em um papel minha pontuação.

O Imperador aplaudiu, sentado em uma cadeira de seu jardim, segurando sua bengala e bebericando uma limonada. Forcei um sorriso, eu não me sentia feliz. Coloquei a mão na testa, pois estava com uma enorme dor de cabeça.

-- Já que a mira está boa, vamos aumentar a velocidade. - Trovan disse segurando a prancheta e sorrindo. -- Vá buscar suas flechas.

Larguei o arco no aparador e caminhei pelo gramado até o alvo redondo que havia sido colocado no centro do gramado e puxei as cinco flechas.

Enquanto caminhava retornando para a base da pista, olhei para Lorde Kaiser, sentado, com as feições leves, curtindo a brisa e apesar de como eu gostava de vê-lo fechar os olhos para receber o vento na face, eu estava um pouco aborrecido com ele. Por tudo.

Ele tinha me contado que eu teria dor de cabeça durante a transformação e que eu poderia manifestar alguns poderes, como telecinese, dominação mental ou simplesmente, sentir um pensamento ou emoção muito forte, ao encostar em alguém. E eu tinha encostado em Odette ontem, sem querer, o que me fez sentir uma enorme tristeza e chorar por horas. Nem dormi!

Além disso, Lorde Kaiser me explicou que para um vampiro se tornar humano deve haver aprovação do Conselho dos Nove e ela só acontece quando são apresentados bons motivos para um vampiro existir, todos eles a ver com a hereditariedade. Significa que, eu não poderia ser transformado em vampiro se não for para ter filhos com um deles ou herdar a coroa.

Como vampiros procriam entre si e preferem os vampiros que nascem vampiros aos impuros transformados e eu sou um escravo… Bem, vocês entenderam, assim como eu entendi: assim que o Conselho souber que eu estou em processo de transformação, eu provavelmente serei morto.

Digamos que não é o melhor presente do mundo. Além disso, eu deveria beber sangue com certa regularidade para não ficar cansado e acabar perdendo meu corpo para a transformação. Como eu só poderia beber do Imperador, as visitas de Benjamin nos aposentos de Lorde Kaiser tinham se tornado mais frequentes e ele estava se gabando cada vez mais disso.

Hoje cedo quando todos os funcionários se reuniram, ele ficou enumerando todos os presentes que tinha recebido ao longo da semana, enquanto Yasser e Natsumi o paparicavam. Ter sido chamado duas vezes seguida para beber sangue causava um alvoroço e tanto e escutei dizerem que meus dias estavam contados.

Argh. Eu queria acabar com eles. De verdade! Queria destruir seus sorrisos soberbos e os olhares cruzados que enviavam como projéteis de metal e pólvora na minha direção… Mas eu não podia abrir a boca sobre o que tinha acontecido, sobre o que o Imperador tinha me dito.

-- Pronto, Eydwen? - Trovan perguntou quando me aproximei da borda e peguei o arco do aparador. Ele tinha um cronômetro na mão. -- Quero que atire as flechas o mais rápido que conseguir, tente mirar no centro e vamos ver quantas você acerta.

Encaixei a flecha de forma distraída no arco, ergui, puxando a corda, atirei. Uma, duas, três, quatro, cinco vezes. Todas no centro.

-- Uau, impressionante. Acho que você pode atirar mais depressa, mas com essa acurácia, será como uma metralhadora. - Trovan ficou boquiaberto. -- Andou tomando alguma poção mágica?

-- Claro que não! - O Imperador gargalhou atrás de mim. Benjamin saçaricou do lado dele servindo canapés e os dois trocaram sorrisos. Sério? -- Foi sorte de principiante.

-- Está um pouco entediante com os alvos parados. - Coloquei a mão em pinça entre os olhos, que dooooor!

-- Vá pegar as flechas, vamos tentar acertar nos alvos em movimentos. - Trovan falou acenando para um escravo trazer o disparador de alvos, um pequeno canhão retangular no chão, com discos de espuma coloridos.

Fui até o alvo novamente, peguei as cinco flechas e voltei. Lorde Kaiser estava escutando Benjamin enquanto ele cochichava com as mãos juntas. Tudo bem, acho que ele poderia contar um segredo sem que isso fosse motivo para eu me aborrecer, mas o que o Imperador não podia ver, por sua posição, eram os olhares de vitória que Benjamin me enviava. Lorde Kaiser deu uma risada, eles se olharam e Benjamin pegou um canapé, dando de comer ao Imperador.

Tá, agora eu podia me aborrecer. Arranquei o alvo do aparador e fiquei esperando Trovan posicionar o atirador.

-- Você caçava antes, não é? - Trovan perguntou ajoelhando-se e configurando o disparador. -- Qual foi o maior animal que já caçou?

-- Uma vez dei sorte de ver um porco do mato… Mas normalmente eram lebres e pássaros. - Balancei a cabeça.

-- Alguma vez acertou um voando? - Trovan quis saber.

-- Várias vezes, mas acertar parado é mais fácil. - Confessei. Olhei mais uma vez o Imperador e Benjamin, eles pareciam tão íntimos. -- Trovan… Você sente algum Rhyw entre Benjamin e Lorde Kaiser?

-- O quê? - Ele me olhou abrindo bem os olhos e então riu, ficou em pé e bateu de leve na minha cabeça. -- Não é assim que funciona, o Rhyw só se manifesta após o gozo. Concentre-se na questão aqui. - E apontou uma trajetória no céu. -- O tiro vai sair alto assim. Programei cinco tiros, mas se você acertar dois, já fará melhor que muitos dos meus arqueiros. Mire no centro, para facilitar o tiro.

-- Tá bem! - Procurei me concentrar para acertar e o desafio me animou um pouco. Fiz o possível para não olhar mais para Lorde Kaiser e Benjamin, mas escutei suas risadinhas. Argh! Que raiva! -- Pode começar. - Encaixei a flecha e ergui o arco.

Seguiram-se os tiros. Cinco espumas voaram, verde, vermelha, azul, amarela e laranja. Derrubei todas com um tiro certeiro no centro cada uma. Ah, não. Senti falta das palmas e olhei para trás. Lorde Kaiser estava recebendo um canapé de Benjamin, que após depositar o canapé na boca do Imperador, lambeu o dedo devagar..

Que morte!

Girei abruptamente, andei até ficar frente a frente com o Imperador atirei o arco aos pés dele. Benjamin tomou um susto e abriu os olhos, olhando na minha direção e o Imperador fez a mesma coisa, com uma bolota na bochecha, mastigando o canapé.

-- Está entediante para você, meu senhor? - Cruzei os braços.

-- Oh, por favor, Eydwen, os canapés é que estão ótimos! Melhor do que qualquer coisa desse mundo, incluindo você. Não é, majestade? - Benjamin cruzou um braço e o outro, fez um movimento como a Carmem Miranda dançando.

-- Cala a sua boca ou eu vou enfiar aquelas cinco flechas no seu rabo, seu puto maldito! - Gritei descontrolado.

-- Uhhhh, que medo! - Benjamin bocejou.

-- Eydwen! - O Imperador ficou em pé, colocando-se entre nós, parecia espantado com o meu vocabulário. -- Qual é o seu problema?

-- Meu problema? - Ventei, rindo, debochando, tudo. -- Nem posso falar do meu problema, não é? - Rangi os dentes. O Imperador mandou um olhar de que não era para eu abrir a boca, mas eu falei mesmo assim. -- Arco e flecha era uma das poucas coisas que eu ainda gostava de fazer e eu nem consigo descrever o quanto eu odeio isso agora!

Virei as costas e saí. Benjamin riu espantado, debochando e tentando fazer pouco caso, Trovan gritou:

-- Eydwen!

-- Deixe. - Lorde Kaiser pediu.

-- Majestade, esse pirralho está passando dos limites com o senhor, francamente. Em seu lugar eu teria chicoteado-o até as costas estourarem. - Benjamin sugeriu.

-- Bem, eu sou o Imperador e eu que decido. - Lorde Kaiser pegou a bengala da mesa e veio atrás de mim.

Apressei os passos para ele não me alcançar, afinal estava de bengala. Atravessei a porta do jardim com toda velocidade e entrei na sala de estar, que estava vazia. Segui apressado, mas quando passei pela porta, antes de chegar no corredor, choquei-me contra o corpo de Lorde Kaiser. Caí para trás atônito com o repentino aparecimento vampírico dele.

-- Vamos, não pode fugir se corro mais depressa que você, ainda que de bengala. - O Imperador apenas sorriu e apoiou-se na bengala.

-- Tem razão, mas qual o ponto? Volte para seus canapés. - Fiquei em pé e bati a roupa, o mesmo macacão de sempre, embora o alfaiate tivesse ordens para me fazer roupas novas, eu não tinha recebido nenhuma.

-- O que está havendo? Por que está agindo assim?

-- Perdeu a capacidade de ler pensamentos? - Retruquei.

-- Tudo isso é ciúmes? - Lorde Kaiser divertiu-se, sorrindo.

-- Você não se importa, realmente. Só quer uma massagem aí nesse seu ego maior que um dragão de Ingwor! - Cruzei os braços.

-- Não fale assim comigo. - Ele ficou irado e fechou o sorriso, dando uma bronca.

-- Ou o quê? Vai mandar me chicotear as costas? - Desafiei no mesmo tom que ele. Abri os braços e bati as mãos nas coxas. -- Ótimo, estou realmente ansioso por isso, já estou morto mesmo, não é como se fosse piorar. Você viu o que aconteceu ali? Não, né, estava distraído demais com seus canapés e os olhos azuis de Benjamin, suponho? Acertei todos os alvos!

-- Oh, sim, claro. - Lorde Kaiser apoiou a bengala no cotovelo e bateu palmas. -- Meus parabéns!

-- Eu não estava nem tentando. - Rangi os dentes. Ele não entendeu. -- Sai da minha frente! - Eu o empurrei para trás, que cambaleou e abriu espaço e passei. Foi quando ele segurou firme no meu braço, me girando e me empurrando contra a parede do corredor, derrubando um quadro de meio bilhão de dólares de Salvador Dali, que obviamente não valia nada porque dólares não existiam mais. -- Me larga!

Ele segurou meus dois pulsos, para cima e beijou minha boca enquanto me apertava contra a parede, seu corpo me cobrindo, esquentando com seu calor e embora eu estivesse um pouco suado e cansado, ele não se importou.

Nos beijamos por um tempo, até que um dos escravos passou pela porta, ao nosso lado e congelou. Lorde Kaiser descolou a boca de mim e o escravo abaixou a cabeça:

-- Desculpe. - E voltou para o jardim.

-- Era Fabian. - Eu disse. -- Ele vai contar tudo o que ele viu para Benjamin.

-- E eu devia me importar por quê?

-- Por… - E o empurrei de novo. -- Por tantos motivos que eu nem saberia por onde começar a enumerar. Argh! Por que eu ainda converso com você?

-- Eydwen. - O Imperador segurou mais uma vez nos meus braços, dessa vez cruzando-os para me imobilizar e caiu mais uma vez por cima de mim, empurrando a parede. Tentei me soltar. -- Vamos, desista, sou muito mais forte que você e prefiro não ter que lutar. Se acalme e tente fazer algum sentido. - Ele sorriu, divertindo-se com seu passarinho engaiolado, que sou eu. -- Se eu não presto atenção em você, você grita. Se eu te dou toda atenção e inclusive, deixo Benjamin saber disso, você grita. Está me deixando…

-- Confuso? - Completei. Ele ficou sério. -- Ah, que bom. Bem vindo ao meu mundo!

-- O que aconteceu com aquele garoto de temperamento calmo e amável que você costumava ser? - Ele tentou amenizar, brincando.

-- Você matou!

Lorde Kaiser me soltou, ergueu a mão para trás para me dar um tapa e eu fechei os olhos, prendendo a respiração e esperando. O tapa não veio, em vez disso, ele se afastou e tirou a bengala do chão. Ouvi apenas os passos e o barulho, abri os olhos e ele pegou o quadro, me fazendo afastar da parede para que ele pudesse pendurar.

-- Certo, você está passando por um momento que eu provavelmente não compreendo. Eu nasci vampiro, afinal das contas. - Lorde Kaiser disse. -- Não se preocupe com Fabian, se ele for esperto vai entender que a fidelidade dele será melhor aproveitada se for por você.

Eu não disse nada, apenas abracei meus próprios braços. Diante do meu silêncio, Lorde Kaiser pendurou o quadro e acertou-o na parede, depois, virou-se para mim:

-- E se arco e flecha não é um desafio suficiente agora que está manifestando telecinese, por que não encontramos outra coisa que seja emocionante e que te dê menos dor de cabeça?

-- Tipo o quê? - Mordi os lábios, apreensivo. Eu não sabia o que mais eu poderia fazer e pode parecer um pouco dramático, mas eu me via sem saída.

-- Gosta de livros? - Perguntou, erguendo a sobrancelha. Fiz que sim com a cabeça. -- Eu já comentei que tenho a biblioteca mais fabulosa desse castelo? - Lorde Kaiser apoiou a bengala no chão e veio em minha direção. Ele segurou na minha nuca, sorrindo. -- Venha comigo, Eydwen, deixo você escolher qualquer livro para ler de lá e se estiver em uma língua que você não puder entender, eu vou ler para você. No meio tempo, tente não se preocupar com nada. Saiba que tomarei todas as medidas possíveis para que o Conselho dos Nove considere o meu pedido de transformá-lo em vampiro.

-- Para quê? Minha ideia romântica de viver a eternidade com você nunca vai acontecer…

-- Ah, não te contaram? Não existe romance no apocalipse. - Ele me puxou para mais perto e me abraçou. -- Mas se existisse, seria assim, exatamente como é entre eu e você.

 

(Continua)

 



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