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História Prelúdio das Cinzas - 16


Escrita por: rubiconvenus

Capítulo 17 - 16


Fanfic / Fanfiction Prelúdio das Cinzas - 16


Capítulo 16: Ilusão
    
Entre páginas velhas e amassadas, junto ao cheiro de poeira, construí meu refúgio. Nos dias que se seguiram entrei em uma rotina que consiste basicamente em passar a maior parte do tempo possível na biblioteca.
Foi na biblioteca que aprendi sobre teorias filosóficas, ciência e até matemática. O acervo de livros do Imperador era cheio de obras eruditas e muitas histórias. Eu lia relativamente rápido, um livro por dia.
Depois, quase que diariamente, eu assistia ao nascer do Sol antes de ir me deitar e pensar em todas as questões grandiosas universais sobre as quais tinha lido. Às vezes elas me tiravam o sono, mas me distraíam do medo que eu tinha de morrer. Era assim que Lorde Kaiser se sentia a respeito de sua maldição, não era? Saber que ficaria para sempre adormecido e sem defesa enquanto o mundo passaria e evoluiria sem você. Quando penso sobre isso, fico triste.
Ficar na biblioteca me afastava dos escravos e eu não precisava ter que lidar com Benjamin e sua soberba, que continuava gigante, mesmo tendo Lorde Kaiser chamado outros escravos para doar sangue. Eu odeio como Benjamin se sente especial para o Imperador e como todos acreditam nele. E como eu acredito nele, a propósito. Pedi que Lorde Kaiser o desconsiderasse, mas ele não gostou da sugestão, sendo enfático e seco sobre como o sangue de Benjamin era forte e bla bla bla, me acusando de ter ciúmes sem necessidade.
E claro que eu tinha ciúmes! Meu coração chegava a doer contraído até o tamanho de uma semente de feijão, de tanto ciúme. Eu não tinha direito de exigir nada do Imperador, então tentava engolir o que sentia e ficar quieto. Se Lorde Kaiser se importasse com meus sentimentos, ele teria feito alguma coisa, mas não fez.
No andar de cima da biblioteca tinha poltronas e uma janela com um sofá de cimento cheio de almofadas, que tinha uma bancada. Eu gostava de sentar ali, abrir a janela e ver o dia. O céu azul com nuvens brancas e douradas, do qual eu sabia que sentiria falta, caso tivesse a sorte de ser transformado em vez de morto.
O que me doía de verdade e consumia minha alma em desespero era não poder falar a respeito disso para Sorella e ela pensar que eu fosse durar para sempre e cuidar dela… como vou explicar para minha irmã sobre a minha morte? Ter que dizer a ela que em breve ela teria que se cuidar sozinha, ainda tão nova, me assombrava.
Ouvi a porta da biblioteca abrir e um grito de dor, logo as janelas a minha frente se fecharam.
-- Eydwen? - O Imperador gritou irado lá de baixo. -- Quer me matar? - E em segundos ele estava à minha frente, com a roupa soltando fumaça como se tivesse pegado fogo.


Ele estava com o cenho franzido em raiva, o queixo baixo, os olhos cor de sangue erguido para mim e em sua bochecha a pele borbulhou como se ele fosse um boneco de cera por alguns segundos. Depois esfriou. Ele estava impecavelmente vestido com um terno cinza, colete preto como a gravata e bordados de ouro na lapela, eu o achei tão bonito.
-- Ops. Desculpe. - Pedi. Tinha uma pilha de livros de capa dura e bordas douradas no assento aos meus pés, minhas botas estavam no chão, viradas e eu estava com uma das novas roupas que o Imperador mandou fazer para mim. -- Quanto à sua suposição, é óbvio que não.
A propósito, todos ganharam roupas, três conjuntos completos, eu ganhei um a mais porque ele rasgou o meu macacão e eu gostava tanto dele, que Lorde Kaiser mandou fazer um igual, porém, para que ele não tornasse a rasgar, eu procurava vestir as outras roupas, que eram todas fáceis de tirar, com zíper a mais e soltas no corpo, aliás!
-- Mantenha as janelas fechadas quando for de dia. - Ele teve que me passar a bronca, antes de tirar os livros e sentar rente aos meus pés, eu estava com as pernas cobertas por uma pele branca e felpuda, sintética. -- O que está lendo, meu bem?
-- Contos de fadas. Um monte deles! - Sorri como se tivesse voltado a ser criança. -- Achei uma prateleira cheia deles aqui em cima! Quero levar alguns para Fernanda, ler para as crianças.
-- Oh não, você não pode. - O Imperador apoiou o cotovelo numa almofada e colocou a mão no queixo.
-- Por quê?
-- Os livros que você está lendo é um original dos contos que foram usados pelos irmãos Grimm para suas histórias, além de nenhum deles ter um final feliz como as versões modificadas, está em alemão. Arcaico. - Lorde Kaiser explicou.
-- Ahn? - Olhei para o livro aberto no meu colo e então percebi que era mesmo. -- É algum tipo de poder se manifestando em mim? Seria o quê? O sétimo?
Lorde Kaiser ergueu a sobrancelha e exalou ar pelo nariz.
-- Não sei nada sobre isso, não conheço um vampiro de Vorsery com esses poderes, mas estou impressionado. Você disse “sétimo”?
-- Uhum. - Fechei o livro e coloquei na bancada em cima da pilha, junto à uma xícara de chá vazia, com apenas as ervas. -- Telecinese foi um dos primeiros, mas eu estava sentindo alguns outros que você disse.
-- Quais?
-- Tocar nas pessoas e sentir emoções ou pensamento. Saber o que elas sonham ao dormir, ou tocar um copo e saber quem o tocou antes… - Fui enumerando e me lembrando das situações vividas durante aquela semana. -- Uma memória segurando um objeto ao mesmo tempo ou… Outro dia tinha esse prato que eu estava limpando, azul com ondas e eu pensei que seria mais bonito se ele tivesse um barco nele e imaginei a pintura. Sabe o que aconteceu? - Ele balançou a cabeça incapaz de imaginar. -- Todos podiam ver! A pintura surgiu de repente! Eu tentei raspar e a pintura não saiu. Odette pensou que alguém tinha mandado pintar. Fiquei nervoso, com dor de cabeça, os pensamentos confusos, apertei demais o prato e acabei quebrando com as mãos, fez um poc muito alto. O senhor chegou na sala e mandou eu colar… não recorda? O barco sumiu. - Dei de ombros.
-- Eu lembro do prato, mas não sabia dessa história. Neste caso, ler qualquer idioma, seria o oitavo. - Lorde Kaiser contou e ficou em pé. -- Mas estou curioso, você pode ler mesmo qualquer coisa ou apenas linguagem criada pelos homens? - Estendeu a mão e um livro soltou-se da prateleira do outro lado do salão, grande de capa cinza e ele me estendeu. -- Tente este aqui. - Abriu na primeira página.
Li o título.
-- “O princípio da bruxaria, feitiços e poções, volume um”. - Ergui os olhos para ele que repartiu os lábios. -- Por quê? E isso aí é mesmo um livro de feitiços?
-- Ah, sim é um livro de Registro da Casa de Renwora. É encantado, de forma que apenas o dono original poderia ler. - Lorde Kaiser riu, zombando de mim, e o livro retornou para o seu lugar.
-- Então o quê? - Perguntei juntando os cabelos nas mãos, sem entender. -- Tenho o poder de decifrar códigos e não exatamente de ler qualquer coisa?
-- Vamos considerar que sim. Por hora. - Lorde Kaiser voltou a se sentar do meu lado. -- Estou preocupado com você, Eydwen, tem se trancado na biblioteca constantemente.
-- Oh, não trancado, estava com a janela aberta. - Dei de ombros.
-- Insolente. - Lorde Kaiser revirou os olhos, fingindo irritação com minha resposta.
Eu tinha ficado tão próximo dele que me sentia no direito de falar dessa forma. Ele era paciente comigo e como prometeu, não levantou mais a mão para me bater… Quer dizer teve aquela vez no corredor, mas ele não bateu, é o que importa.
-- Eu gosto de ficar aqui, é pacífico e silencioso, minha cabeça dói menos e consigo me distrair, eu vivo as horas aproveitando-a, desejando por mais delas. Está bom para mim, mas se te incomoda…
-- Adoro vir aqui e te encontrar, depois, tirar sua roupa, beber do seu sangue e te dar do meu, Eydwen é verdade. - Ele disse, mas com aquele tom de que preparava para dizer exatamente o oposto. -- Mas você está distante… Por que não vem comigo? Vou encontrar Lady Astrid e Lorde Henri, acho que podemos nos beneficiar de um apoio mútuo perante Conselho e quero garantir que terei seus votos, além de serem muito amigos de minha irmã Lannah e pessoas que aprecio a companhia.
-- Oh, bem, certo. Sou seu escravo e tenho funções a seguir. - Afastei o cobertor das pernas e peguei minhas botas para calçar.
-- Você não estará indo como meu escravo, mas como meu discípulo. - Ele sentenciou.
***


Prendi a respiração e lutei contra a vontade de dar um passo para trás enquanto a língua bifurcada e Lady Astrid percorreu todo o meu rosto, analisando. Ela parecia ainda mais cansada do que a última vez, mas inspirou fundo e sorriu:
-- Sem dúvidas, majestade, posso garantir que é um discípulo poderoso que tem aí em suas mãos… E outras partes do seu corpo, se me permite dizer. - Ela piscou os olhos brilhantes e segurou na corrente com a poção fedorenta.
Eu me afastei adiantando-me ao movimento de abrir o frasco e dar um gole com uma careta que ela fez.
-- Ai que horror, meu irmão! - Lannah reclamou sentada na mesa com um banquete de doces e salgados servido, puxando um camafeu do suporte de dois andares. Ela estava usando um vestido tubinho rabo de peixe com uma saia comprida transparente, um bolero dourado. -- Todos nós sabemos que os vampiros da Casa de Vorsery são extremamente insaciáveis, mas se ficar esbanjando Rhyw como está, será impossível dos nobres não perceberem!
-- O que está falando, Lady Lannah? - Henri provocou com um sorriso, sentado na mesa perto dela, servindo-se de café. Não tinha escravos na sala conosco, segundo Lorde Kaiser, aquela era uma conversa particular e secreta. -- Astrid estava me dizendo que Lorde Mikah esbanja Rhyw. Então certamente, você não pode reclamar de Lorde Kaiser.
-- O quê? - Lady Lannah jogou o camafeu para o canto da boca, ficando com uma bola na bochecha. Ela franziu a testa em incompreensão. -- Mikah não me toca tem dias!
-- Ops! - Lady Astrid sentou-se ao lado do marido, cruzando elegantemente as pernas.
-- Oh, não. Ele está me traindo? - Lady Lannah concluiu, com os olhos dourados bem abertos.
-- Minha querida, que seu marido tem dificuldades de se manter fiel não é nenhuma novidade, deixe-o livre. - Lorde Kaiser segurou na minha nuca e me guiou até a mesa. Ele se sentou em uma cadeira e ficou esperando que eu sentasse ao seu lado. -- Agora se você não consegue fazer o interesse dele focar em você, eu me pergunto se perdeu o jeito.
-- Não perdi o jeito, mas ele tem chegado tão tarde porque fica trabalh… - Ela parou, constatando a verde. -- Que maldito! Não desconfiei nada porque não vi nenhuma marca de batom em seu colarinho, mas quem diria, ele manda a amante tirar.
-- Ou a amante não usa, mesmo. - Lorde Henri disse, senti que era uma insinuação. -- Sente-se, Eydwen, por favor. - Apontou a cadeira para mim, eu estava com as mãos segurando a madeira, sem coragem de sentar. -- Estamos todos bem informados de sua situação e mesmo que não estivéssemos, seria impossível esconder de pessoas como eu e Astrid.
-- Oh, meu amor, assim você o deixará sem graça. - Astrid segurou no ombro de Henri e sorriu, rente a sua orelha, mordendo a boca. -- Diga-me, meu amigo, isso quer dizer que suas buscas incansáveis chegaram a um fim?
-- As buscas continua. - Lorde Kaiser girou a taça de vinho, sério, contemplativo. -- É uma questão um pouco mais complicada do que essa, Astrid.
Puxei a cadeira e me sentei. Lady Lannah pegou meu prato e encheu de doces em um canto, pegando um de cada e do outro, colocou um sanduíche triangular.
-- Prove todos, Eydwen. Quero saber quais são os seus favoritos! - Ela sorriu.
-- Obrigado, alteza.
-- Quando eu era mais nova, eu diria que melhor que amar é ter um orgasmo, mas Henri mudou esse conceito na minha vida, melhor que ter um orgasmo é ter um orgasmo com quem se ama. - Lady Astrid disse, me fazendo corar.
Lorde Kaiser e Lady Lannah riram, mas para dizer a verdade, se eu tinha ciúmes de Benjamin, eu tinha mais ainda dessa criatura de dois sexos.
-- Eu sou totalmente contra essa busca. - Lady Lannah manifestou-se. -- Encontrar essa pessoa significa que a maldição se manifestará em plena forma, isso me desespera. Aliás, pelo menos por enquanto, você poderia fingir que Edywen é tudo na sua vida? Com certeza a possibilidade de um amor correspondido inspirará alguns membros do Conselho e silenciará outros.
Eu estava mordendo um camafeu delicioso, mas o açúcar ficou amargo na hora. Como assim fingir?!
-- Acho que a tentativa é válida. - Lady Astrid disse. -- Acredito que a Cada se Nesveluth ficará totalmente contra, eles apoiarão Lady Raestra sem dúvida. Talvez você deva tornar as coisas mais claras, Lorde Kaiser, como sugerir em um jantar familiar seu desejo de conceder um título de nobreza à Eydwen, que seja maior que o de Lady Raestra e anular qualquer intenção de casamento.
-- Tenho adiado todo e qualquer assunto relativo a esse casamento, é uma ideia que me agrada bastante e que me dá mais tempo, mas eu não tenho esse tempo, Lady Astrid e interromper as buscas pode ser fatal para todos nós. Não é uma questão de encontrar aquele que me colocará dormindo, mas sim, a encarnação de nossa única salvação contra os anjos. - Lorde Kaiser disse, dando um gole em seu vinho. Sua mão alcançou a minha por cima da mesa, não sei se para eu me acalmar com tudo o que tinha ouvido, já percebendo que eu estava prestes a ter uma crise de ciúmes com todo mundo falando desse suposto enorme amor da vida do Imperador e lembrando-me de que não era eu, ou se ele teve uma genuína preocupação comigo. -- Além disso, sinto-me verdadeiramente responsável por Eydwen e quero garantir que ele fique seguro, mesmo quando eu não estiver mais por aqui.
A mesa chacoalhou e todos ergueram as mãos. Lorde Kaiser olhou para mim e suspirei, colocando a mão na testa, sentindo dor.
-- Desculpe.
-- Awm, tão fofo. - Lady Lannah puxou minha bochecha. -- Fique sabendo Eydwen que meus desejos são para que meu irmão tome consciência do quanto seria melhor desenvolver amor por você e não por quem não o valoriza.
    
-- Não seja infantil, Lannah. - Lorde Kaiser se aborreceu. -- Não acha que se fosse assim tão simples eu já não teria feito? Eydwen não é o primeiro com quem tentei.
-- Chega. - Empurrei a cadeira e levantei. Todos me encararam, pois era uma ofensa um escravo sair assim, mas eu ainda nem tinha começado. Peguei o copo de suco que tinham me servido e derrubei nos cabelos do Imperador, um uníssono de “ohs” se seguiu. Lorde Kaiser apenas me enviou um olhar de pura indignação. -- Você é um maldito egoísta, cretino, indômito e pedante!
Lady Lannah segurou a boca com a mão. Lady Astrid ficou com os olhos cor-de-mel bem abertos e Henri deixou o queixo cair.
-- Diga de novo se tiver coragem! - Lorde Kaiser ficou em pé também.
-- Oh, eu digo e direi quantas vezes você precisar ouvir, seu maldito esnobe! É detestável a forma presunçosa que você fala do assunto, apenas atirando palavras como bombas sem se importar com os sentimentos dos outros. Não é a toa que tal maldição caiu sobre você, é incapaz de valorizar ou ter empatia pelas pessoas que te amam! Quer ficar procurando o maldito que nunca vai te amar? Vá em frente, mas não fique discursando como se fosse altruísta ou coisa parecida, de fato você apenas faz por si mesmo, por ego, talvez uma infantil curiosidade e arrogância, achando que ele virá a te amar, eu não o culpo se ele não amar, olha o tipo de porco orgulhoso que você é!
-- Perdeu a cabeça? Que petulância! Quer que eu mande chicoteá-lo em praça pública para aprender como deve falar com seu Imperador? - Irritado, Lorde Kaiser bateu a mão na mesa.
-- Ah sim, como se isso fosse doer mais que suas palavras! - Ventei rindo, cruzando os braços. -- Boa, continua tentando. - Virei, ignorando-o. -- Lady Lannah, Lady Astrid e Lorde Henri, perdoe-me e obrigado por tudo.
Sai da sala batendo os pés.
-- Oh, meu irmão, encontrou mesmo um discípulo a sua altura. - Lady Lannah riu e bateu palmas. Eu já estava atravessando a porta, para sair, segurando na maçaneta. -- Estou do lado de Eydwen e sem dúvidas, ele se tornou meu preferido.
-- Ele é apenas um escravo, Lannah.
Argh! Abri a porta e sai com pressa daquele salão. Os guardas me encararam e eu escondi minhas lágrimas, abaixando a cabeça e jogando o cabelo para frente. Eu não estava triste, eu estava com raiva.
Porém, havia uma conclusão naquilo tudo. O amor não era nada bonito ou complementar ao sexo. O amor era uma maldita ilusão.


(Continua)


Notas Finais


Uhhhhh estou gostando desse Eydwen mais impositivo e vocês?


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