Capítulo 18: Propriedade do Imperador
-- O que acha de Frederik? - Lorde Kaiser estava segurando um livro preto, sentado no sofá, com a camisa branca de botões abertos e com as pernas ocupando todos os três assentos, cruzadas, sem sapatos.
-- Ugh!
-- Wagner?
-- Horrível.
-- Milan é um ótimo nome para você, a propósito. Significa luz. - Ele interou, com a voz em um timbre mais insistente.
-- Ah sim, porque ando por aí brilhando no escuro. Obrigado, mas não. - Joguei o meu corpo sentado na poltrona, para calçar as botas. Eu estava com essas roupas novas que o Imperador mandou fazer, uma túnica e uma calça preta.
-- Eu desisto. - Lorde Kaiser fechou o livro e soltou por cima da mesa de centro, impaciente. Ele nem me olhou, aborrecido por eu não ter escolhido um dos nomes sugeridos.
-- Pare de me dar nomes que remetem aos seus ex-amantes e quem sabe eu aceite um. - Estreitei os olhos.
-- Acho justo.
-- Você teve muitos amantes? - Perguntei amarrando o primeiro pé, puxando os cordões pretos.
-- Oh, sim… - Teve esse sorrisinho malicioso em seu rosto, como quem pensa em boas lembranças, meu sangue ferveu.
-- Quantos? - Rangi os dentes.
-- Acredite em mim, você não quer saber. Terá crises de ciúmes se eu disser.
-- Se você não disser, eu ficarei imaginando quantos foram e minha imaginação é bem fértil. - Ergui uma sobrancelha exigindo, colocando um pé no chão e alcançando a segunda bota. -- Então, apenas diga.
-- Dez.. doze.
-- Caramba! Tudo isso? - Meu queixo quase foi ao chão.
-- Você perguntou.
-- É, mas não pensei que eram tantos… Que saco. - Enfiei o pé na bota e puxei os cordões imaginando estar enforcando um dos doze amantes. -- Qual deles você gostou mais?
-- Meu querido, o que basta para você é considerar que todos eles não carregam mais o título de amante. Esse título pertence a você agora.
-- Por enquanto.
-- Tente não sofrer por antecipação pensando que um dia ficará no meu passado e viva o presente.
-- Aff. - Dei o laço final com muita raiva e fiquei em pé, estiquei o dedo indicador para cima, passando a bronca. -- Não diga mais nada, você piora a situação a cada palavra!
-- Hm. - Lorde Kaiser resmungou.
Ficamos em silêncio, enquanto ele começou a fechar sua roupa e se vestir. Dei uma volta pela biblioteca e como se ela fosse uma livraria, fui escolhendo livros de diversas prateleiras e assuntos variados, pensando que, em algum deles eu encontraria um nome que me servisse.
Lorde Kaiser não falou mais comigo, como pedi e foi até a porta, abriu, falando para o soldado chamar a cozinheira que ele estava com fome. Estiquei os olhos para a porta só para conferir quem eram os vampiros por lá e vi um deles percorrer os olhos amarelos pela sala até me encontrar e constatar que eu estava de roupas, claro, eu já tinha me vestido!
Ocupei-me com o livro e Lorde Kaiser sentou-se no sofá esperando a cozinheira. Eu estava lendo quando um carrinho cheio de bolinhos salgados e doces arrojados chegaram, com uma garrafa de espumante e outra de suco de melão. Os escravos colocaram tudo em cima da mesa de centro, perto de onde eu estava com a cabeça no tapete e as pernas na poltrona segurando um livro de teorias astrofísicas e deitei o livro no peito, aberto, enquanto observava Lorde Kaiser pegar um morango de cima de um pedaço de merengue e colocar na boca, daquele jeito sexy de sempre.
-- Você sabia que o sol é um sistema solar binário? - Perguntei. Os escravos estavam saindo da sala e Lorde Kaiser olhou para mim, nada interessado, mastigando. -- E que o sol e todos os planetas giram em torno desse outro sol em uma trajetória que leva bilhões de anos?
-- É mesmo? - Lorde Kaiser jogou as costas no encosto do sofá e sorriu esticando a boca, sem mostrar os dentes.
As portas se fecharam e o silêncio voltou a reinar no recinto.
-- Por isso o planeta está esquentando, não existe efeito estufa. Existe outro sol, uma anã marrom! Foi a estrela responsável pela extinção KT, ou Cretáceo-Paleogeno... Os dinossauros. - Falei com todo meu recém-adquirido conhecimento.
-- Aham. - Ele concordou, mas naquele tom sem concordar. -- E o que tem de relevante na sua fantasia?
-- Nemesis.
-- Hm? - Lorde Kaiser franziu a testa sem saber.
-- É o nome desse segundo sol.
-- Sabe que essa teoria foi provada falsa há vários milênios atrás, não sabe? - Ele perguntou voltando a se curvar e tirou a taça de espumante de cima da mesa, dando um gole.
-- Foi?
-- Uhum. - Engoliu e soltou a taça. -- Com as observações do telescópio Hubble entre 2015 e 2018, o que ensinavam para você em sua escola? - O Imperador sorriu, achando graça por eu acreditar em um livro defasado.
-- Eu meio que não era muito bom em estudar, sabe? Trocava algumas letras parecidas e revertia palavras e sílabas. Demorei mais que o normal para ser alfabetizado. - Confessei.
-- Bem, não se preocupe, meu querido. O planeta não vai explodir, essa teoria foi derrubada há milênios e pense bem, já estamos em pleno apocalipse e ele não envolve um segundo sol.
-- Tem razão. Ah, que pena! - Larguei o livro para o lado e puxei outro da pilha, para ler. -- Mas Nemesis é um bom nome. Posso ser Nemesis?
-- Os planetas e estrelas são nomeados para homenagear os deuses. Nemesis é a deusa do destino, mais precisamente, da vingança divina, do inevitável… - Ele me explicou erguendo as sobrancelhas. -- Você não acha que para ter um nome desses teria que fazer juz ao nome que escolheu? Vem aqui. - Lorde Kaiser ergueu a mão, me chamando.
-- Hm. Talvez… - Soltei o livro na pilha e desci as pernas da poltrona. Engatinhei até o sofá. -- Mas os pais não pensam nisso quando dão nome aos seus filhos. - Ergui-me por entre suas pernas, provocando-o e Lorde Kaiser piscou demoradamente e mordeu a boca, como que segurando o desejo. -- Acho que vou me nomear de “amor”. Gosto quando você diz “meu amor”.
-- Por acaso considera que eu permita que outros te chamem de “meu amor” pelo castelo?
-- Agora ficou possessivo?
-- Pensei que disse que pertence a mim.
-- Eles poderiam me chamar de “amor do Imperador”. - Brinquei, deslizando as mãos por suas coxas. Eu me aproximei de Lorde Kaiser e nossas bocas ficaram bem próximas.
-- Não. - Recusou seco.
-- Continuarei procurando. - Fiquei em pé e escorreguei, sentando ao seu lado.
-- Por que precisa escolher um nome? - Lorde Kaiser perguntou pegando um morango do merengue, que veio vermelho e cheio de chantilly. -- Entendo que não queira mais usar o nome que dei a você, mas pode simplesmente… - Ele passou o chantilly nos meus lábios, deliciando-se com essa visão. Mordi o morango brutalmente. -- Usar o nome que sua mãe te deu. Qual o seu nome, a propósito?
-- Não pode adivinhar? - Provoquei com a boca cheia, mastigando. Ele me lançou um tiro com o olhar. -- Ahhh, sim, eu notei isso conforme meus poderes se manifestaram. Para ler pensamentos eu tenho que pensar no assunto, ou então você não saberá.
-- Sempre que uma pessoa pensa que não quer pensar no assunto… - Lorde Kaiser deslizou os dedos nos meus lábios, limpando o chantilly. -- Ela acaba pensando, Tomasz. - Ele sorriu vitorioso e me deu o dedo para lamber, aproveitando que entreabri a boca na surpresa. -- Ou talvez “Tommy’, que era como sua mãe e irmãos te chamavam. Sabe, poderia ter se apresentado a mim, é o que manda a educação.
-- Educação, huh? - Escorreguei minha boca colocando todo o seu indicador na língua e depois puxei, sugando. -- Eu acho que faltei nessa aula.
-- Estou bem advertido de sua falta de habilidades de se comportar devidamente, acredite. - O Imperador zombou. Fiz bico e Lorde Kaiser deu um selinho fresco por cima dos meus lábios, me desarmando. -- Tommy.... É um nome agradável, significa “gêmeo”. Você por acaso tinha um irmão gêmeo?
-- Minha mãe era fã de um ator...
-- Eu vou ficar com esse.
-- Não gosto desse nome. Não representa quem eu sou e não diz nada sobre mim! Além de ser um nome tão comum… Eu prefiro escolher outro.
-- São só nomes. - Lorde Kaiser afanou a mão, espantando a ideia.
-- Não é verdade. - Reclamei abaixando o olhar e encarando minhas mãos. -- Eydwen não era só um nome. Ele representa algo para você. Foi por isso que me deu esse nome! Eu queria ter um nome que representasse algo para você também…
-- Você tem. - Lorde Kaiser tocou em meu queixo, fazendo com que eu levantasse a cabeça. -- Qualquer nome que você tiver irá representar você. E você é alguém único e especial para mim.
-- Único, sim, porque o lugar de cada pessoa é único no universo, porém… Não especial o suficiente. - A tristeza me invadiu. Toda vez que eu pensava nisso eu ficava triste e bravo comigo mesmo por me sentir triste. -- Ou teria cancelado aquela busca.
-- Não diga isso. - Lorde Kaiser me repreendeu sério. -- É ofensivo quando você desdenha dos sentimentos de outra pessoa por você.
-- Disse o homem que faz isso o tempo todo. - Ergui uma sobrancelha.
Ele pensou em suas palavra s e soltou o meu queixo.
-- Muito bem. É mais um ponto no qual você provou ter razão. - Suspirou, soltando as costas no encosto do sofá. -- Coma, você deve ter fome.
-- Você ficou bravo agora? - Perguntei aborrecido e me servi de suco de melão e um pão salgado de grãos integrais.
-- Desdenhei dos sentimentos de muitos, é verdade… E sei que feri seus sentimentos e continuo ferindo quando não envio um pedido para cancelar essa busca, mas acredite, tem mais coisas envolvidas nessa caçada, não é apenas sobre os seus ou os meus sentimentos. Há a responsabilidade de ser o Imperador e portanto, tenho que fazer o que é melhor para todo o meu povo como um todo. - Lorde Kaiser explicou, enquanto mordi o pão e dei um gole no suco. -- Não espero que um garotinho entenda essa questão.
-- Eu entendo. Vá adiante, encontre essa Criança Prometida que é tão especial para todos, incluindo o senhor. - Dei de ombros simulando indiferença.
-- Eu estava...
-- Não precisa dizer mais nada. - Soltei o pão e o suco em cima da mesa novamente, sobre o aparador e o prato de porcelana pintado a mão. -- Eu já entendi qual é o meu lugar. Apenas torço para que das duas uma: ou eu morra antes dessa Criança Prometida chegar, para não ter que ver o senhor se derrendo por alguém que não sou eu, ou eu te supere e me apaixone por outra pessoa.
-- Bem, quando você coloca assim, não me dá opção. Vamos deixar uma questão bem clara entre nós dois. - Lorde Kaiser suspirou e se aproximou de mim, mordiscando minha bochecha. Ai, lá estava aquele plural na frase novamente, o que queria dizer? Existia mesmo um “nós”? Eu podia confiar nisso? -- Seus sentimentos são de minha propriedade e não tenho intenção alguma de deixar que alguém os tome de mim.
-- O quê? - Estranhei, virando o rosto. -- O que isso quer dizer?
-- Exatamente o que você ouviu. - Lorde Kaiser sussurra no meu ouvido, arrepiando todos os pelos do meu corpo. -- Você é meu.
Ele virou o meu rosto e me beijou, cravando os dentes em meus lábios, tomando posse e ao mesmo tempo, arrebatando o meu corpo com um choque de prazer.
(Continua)
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