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História Prelúdio das Cinzas - 21


Escrita por: rubiconvenus

Notas do Autor


:O E agora?

Capítulo 22 - 21


Capítulo 21: A ira

 

Era uma chacina. Os anjos brilhavam no céu e caíam das nuvens como gotas de chuva, intensamente numerosos. Eles pisavam no chão ou contornavam o pátio com vôos rasantes. Nenhuma daquelas pessoas mereciam ser salvas.

Uma garota correu para o meio do pátio e gritou de braços abertos por entre a chuva:

-- Me levem! Me levem!

Um anjo voou para perto dela e eu a vi sorrir contente, pensando que seria salva. O anjo desembaiou sua espada luminosa e enfiou na barriga dela, de ponta a ponta. A garota virou um monte de pó e suas roupas caíram no chão.

Anjos são como humanos, mas seus cabelos são claros como as nuvens do céu, sua pele é luminosa e suas asas, enormes, também. Uma vez, eu estava no chão quando me ensinaram sobre as asas dos anjos: quanto mais pares de asas mais forte é a casta a que eles pertencem e mais estupidamente poderosos eles são. Existem poucos os que possuem três asas e nós conhecemos seus nomes… foram amplamente divulgados antes do apocalipse, pelos versículos bíblicos.

A arquibancada tremeu e foi ao chão, as pessoas gritaram e muitos correram, procurando abrigo para se esconder. Uma fila de Ingwor se formou isolando os membros do Conselho e o Imperador, empurrando-os para dentro do castelo. Eu o vi procurar por alguma coisa, mas não era por mim, claro. Uma de suas irmãs o abraçou e o puxou para dentro do castelo. Os dragões fizeram uma barricada, impedindo que os anjos entrassem no castelo. Nas torres, os arqueiros atiraram e vi alguns soldados serem arremessados das janelas. Os anjos subiram pela parede como aranhas, mas os arqueiros o acertavam e os Darustes, transformados em tijolos, surgiam com seus braços gigantes e o esmagavam como a um inseto. Em sua forma plena de dragões, Ingwor é como um escudo imbatível e também como um canhão, expelindo fogo, raios e gelo. As janelas do castelo rapidamente foram fechadas e protegidas pela mágica dos seres sobrenaturais e eu entendi que ele era como uma fortaleza.

Eu, Sorella e Fernanda, descemos pela lateral da arquibancada antes dela entrar em colapso. Enquanto nos afastávamos, os corpos caíam como pedras em nossa frente.

Desviei Sorella de um vulto e quando olhei para o chão, era Natsumi, seu corpo explodiu com o impacto na calçada, fazendo ela inchar e se assemelhar a uma bolha de carne no chão, sem forma. Sorella berrou, Fernanda berrou, as duas entre lágrimas. Não sei como me mantive são naquele momento, mas eu conseguia reconhecer as pessoas e seus rostos apavorados, embora não conseguisse fazer nada por eles.

Diante de meus olhos, um dragão capturou um anjo voando ao seu redor como se ele fosse uma mosca e arrancou sua cabeça com os dentes, separando seu corpo em dois, atirando-o contra outro anjo.

As pessoas corriam por entre as patas dos dragões, buscando abrigo, mas uma mulher e sua filha foram pisoteadas no meio da batalha. Os Darustes ergueram suas armas e tornaram-se gigantes, ajudando-os. Pareciam lutar contra um enxame de abelhas e vi um Daruste ser empurrado para o chão, em sua forma de pedra, tornando-se ruínas quando caiu partindo-se ao chão.

O cheiro de sangue não era o cheiro da batalha, mas daqueles que se feriam tentando fugir. Quando um anjo encravava suas espadas, as pessoas sumiam como pó e o único cheiro era o de enxofre, quando suas almas podres se desfaziam.

-- Vamos por ali! - Fernanda gritou, puxando Sorella.

Nossa tentativa foi a de entrar no Castelo, mas teríamos que atravessar o pátio. Soldados cercavam o local os soldados íncubos e súcubos usavam suas asas para bloquear os raios de luzes dos anjos e proteger as pessoas. Eu vi um deles segurar com as mãos nuas um anjo e transformá-lo em uma múmia com seus poderes de morte, até as asas murcharam e perderam as penas luminosas.

Meu corpo foi empurrado de lado a outro por outras pessoas tentando escapar. No meio da confusão de pessoas, perdi Sorella e Fernanda entre um grupo de Nesveluth. Eu estava seguindo-as quando as Nesveluth passaram e ficaram na frente, empurrando-as mais para dentro do castelo. Eu fiquei para trás, tropeçando em um lobo que se embrenhou entre nossas pernas e caí, caindo como um tronco velho no meio da rua. Atrás de mim caíram outras pessoas.

-- Tommy! - Sorella gritou meu nome com toda a força em sua garganta, o desespero foi tanto que ela me chamou pelo nome que me conhecia a vida toda.

Eu tentei, mas não conseguiu voltar. As pernas das meninas de Nesveluth me impediram de levantar, uma delas pisou no meu ombro.

-- Aaaaah!

Protegi minha cabeça com os braços, enquanto elas passaram por mim. Eu cheguei a me sentar, mas fiquei paralisado sentindo todo o desespero dos outros. Sentindo a morte atingir as pessoas quando as espadas arrancavam a vida de dentro delas e espalhavam como pó no ar.

Dos anjos, eu não senti nada, apenas indiferença enquanto eles cravavam suas espadas em todos os seres, humanos, ninfas, sereias, qualquer um dos demônios, qualquer um. Era até cruel a calma com que eles dançavam com suas espadas espalhando o fim. Também vi uma menininha de cabelos dourados ser erguida por um anjo, arrancada do braço de sua mãe, que virou pó enquanto a menina era erguida para as nuvens cinzentas de chuvas.

Os soldados lutavam como podiam contra os anjos. Um dragão inteiro desapareceu furado ao coração pela espada de um anjo de dois pares de asas e quem estava embaixo dele, ficou sem proteção. Foram todos atacados e perfurados, não importava a espécie, a idade.

Eu me levantei e corri para o outro lado, onde as batalhas estavam desorganizadas. Pulei antes que o pé gigante de um Daruste caísse sobre mim e tentei me esconder ao lado de duas outras meninas menores, que se encolhiam aterrorizadas debaixo de uma barraca da quermesse. O que eu poderia fazer? Usar os poderes que tinha recebido de Vorsery, se eu nem tinha autorização para usar? Se eu usasse, eu poderia até escapar vivo da batalha, mas certamente seria morto no dia seguinte pelo Conselho.

Eu estava desarmado, mas não podia deixar as meninas sozinhas e sem proteção ali. Fui até elas, mas antes que eu fizesse alguma coisa, fomos cercados por lobisomens e respirei fundo, quase aliviado por vê-los degolar alguns anjos. Ajudei uma das garotas a ficar de pé. A outra foi arrastada pelo pé por um dos Anjos.

-- Nãaaao! Lara! - A menina que eu segurava berrou e tentou correr atrás da outra, mas era tarde, ela já tinha virado pó na ponta da espada de seu atacador.

Puxei a garota que não era maior que Sorella e empurrei para um dos lobisomens. Ele rapidamente a guiou para a beirada, onde todos estavam correndo para dentro do castelo e me chamou, para seguir.

Eu segui, mas fui interrompido por um Anjo que voou rasante e segurou na cabeça de dois lobisomensperto de mim, atirando-os ao chão. Eles caíram como sacos de carne ao seu lado e ele ficou com o joelho no chão, bem na minha frente, as duas asas luminosas erguidas. Suas mãos brilharam intensamente e os lobisomens sumiram, virando pó, as roupas murcharam. O anjo olhou para mim, veio direto em minha direção.

Eu tinha um treinamento que aprendi com Trovan e me achava capaz de lutar contra o anjo, talvez escapar, mas não consegui me mexer, eu senti como que ancorado ao chão, minhas pernas ficaram mais pesadas que o normal. O anjo desembainhou sua espada e correu na minha direção. Eu nem consegui piscar… Ele passou por mim, como se nem me visse e encravou sua espada nas costas de um lobisomem que estava lutando contra outro anjo atrás de mim.

Exalei ar. Foi como ficar surdo por um momento e me tornar apenas um espectador do que estava acontecendo no pátio. Os soldados gritavam, anjos ou demônios, mas eu só conseguia escutar o barulho da chuva caindo lentamente no chão, com calma.

Eu girei, rodando o meu corpo e observando aquele caos, com a mente totalmente anestesiada. Os anjos me ignoraram. Não um, mas vários. Ainda que eu estivesse desprotegido, eles passavam por mim como se eu não fosse nada, ignorando a minha presença. Não me levantaram até o céu e não me encravaram suas espadas.

Então, alguém puxou o meu braço e eu encarei um soldado vampiro, com o uniforme da Guarda Real.

-- Garota, você está bem? - Ele perguntou, olhando firme nos meus olhos.

Um Anjo encravou a espada e senti o pulso dele me apertar mais forte, antes de virar pó e se desfazer na minha frente. O anjo olhou para mim, desviou de mim, mas não me atacou, embrenhando-se na batalha. Eu fiquei paralisado e olhei para cima, para o Serafim que comandava os anjos da batalha, vi quando uma súcubos o derrubou no chão e os lobos o cercaram, desmembrando cada uma de suas asas, sua espada brilhante rodopiou no chão e parou diante de minhas botas, em uma poça de lama.

Uma corneta soou no céu. Os anjos se retiraram com as nuvens. Os trovões ficaram distante e o pátio, que estava em chamas, foi encontrando um pouco de paz, ainda que totalmente destruído.

Quando as nuvens saíram, os primeiros raios de sol surgiram e os vampiros gritaram, correndo para dentro do castelo, alguns pegando fogo e outros, tomando proteção com os outros seres. O pátio ficou apenas com os outros seres e alguns humanos feridos que começaram a se amontuar para serem atendidos pelos médicos populares.

Olhei para a espada aos meus pés e a tirei do chão. Não era pesada, mas era sem dúvida a arma mais incrível que já vi, havia um toque divino por seu metal da bainha, e sua lâmina era transparente como se fosse de cristal. Na lâmina, estava gravado: “A ira de Deus”, que só fui capaz de ler por causa dos meus poderes de Vorsery. Tocada pelo raio de sol do dia que surgiu de repente, tornou-se fogo e desapareceu, sem queimar minha pele.

Aos poucos o medo e o desespero das pessoas tornou-se calma e alívio, o que me deu um choque de energia e sanidade. Eu senti uma espécie de tontura e caí sentado no chão, sentindo dor na perna, para só então perceber que um pedaço de vidro tinha se fincado na minha coxa, nem sei quando me feri.

 

***

 

Eu estava sentado ao lado do que eram as cinzas de uma cabana do festival. Ao meu lado estavam algumas pessoas que também tinham se ferido e resmungavam de dor. Senti os braços pequenos de Sorella me abraçarem por trás.

-- Graças a Deus eu te encontrei! - Ela gritou no meu ouvido. E sorri e ela beijou a minha bochecha.

-- Fernanda? - Perguntei.

-- Está com Odette, elas estão bem. - Sorella arregalou o único olho a mostra e ficou em pé do meu lado. -- Oh, nossa, você se machucou!

-- Não foi nada… Eu já estou bem. - Eu a acalmei. Tentei me levantar, mas gemi de dor. -- Ou não. - Voltei a me sentar.

-- Tente não subestimar um ferimento de batalha. - A voz de um homem soou atrás de mim e me virei um pouco, para olhar.

Era um soldado de Ingwor, de braços incrivelmente fortes, cabelo loiro na altura do ombro, ondulado, grudados com suor no rosto e olhos azuis como o céu de manhã, contornados por uma sobrancelha fina e clara. Ele estava com o uniforme igual ao que estavam os recém-chegados, uma roupa marrom como os dos índios e tinha uma pintura no rosto, já desfalcada, imagino que era uma garra, passando por seus lábios, onde uma barba dourada se fazia quase imperceptível.

Ele me ajudou a ficar em pé e me apoiei nos ombros de Sorella. Já tinham feito um curativo na minha perna e eu estava ansioso para ser liberado e ir para casa.

-- Esse é Kinsley! O soldado que me salvou. - Sorella juntou as mãos na frente do corpo apresentando-nos. -- E esse é meu irmão, To… Nemesis.

-- Sorella estava desesperada e resolvi acompanhá-la. - O soldado disse, com um sorriso cordial, colocando as duas mãos na cintura, relaxado.

-- Oh. - Eu fiz surpreso. -- Obrigado por não deixá-la vir sozinha. Está um caos...

-- Você tinha que ver, Nemesis! Kinsley é um mestre lanceiro, a forma com que ele atacou os anjos que estavam entrando no castelo e descendo as escadas… Oh e não vamos esquecer o sopro de fogo! Aquilo foi incríiiivel! - Sorella falou maravilhada.

-- Os anjos conseguiram entrar? - Perguntei preocupado.

-- Não, mas foi quase. Eles tomaram a torre do leste, onde estávamos, mas conseguimos contê-los nas escadas. - Kinsley falou como se batalhar fosse algo divertido. Ele colocou a mão na cabeça de Sorella, como quem adula. -- Sua irmã foi muito corajosa, protegendo as crianças mais novas, bradando uma tocha de fogo e tudo o mais.

-- Oh. - Fiquei pálido, olhei para Sorella que sorria abertamente. -- Bradando uma tocha para os anjos?

-- Agora que penso a respeito, percebo o quão idiota eu fui... - Sorella olhou para cima e colocou o dedo no queixo, batendo. -- Como se fogo pudesse espantá-los!

-- Foi bem convincente quando cheguei lá! Ela ficou bradando aquela tocha para mim! - Kinsley riu divertindo-se.

-- Desculpe! Eu estava nervosa, demorei para perceber que você não tinha asas! - Sorella o acompanhou, rindo.

-- Bem, então só tenho a agradecer ao senhor, que cuidou de minha irmã enquanto eu me perdi. - Estendi a mão para ele. Kinsley piscou os olhos de forma amável e segurou na minha mão.

-- Oh, eu sei como podemos agradecê-lo! Com comida! Eu ouvi que dragões gostam muito de comer e sei fazer um belo cozido! - Sorella sugeriu.

-- Um dragão nunca recusa comida. - Kinsley animou-se.

-- Então vamos agora mesmo! - Sorella disse batendo as mãos, feliz.

-- A batalha se faz muito recente, ainda não descobrimos todos os corpos e certamente meu esquadrão será escalado para os funerais. - Kinsley gentilmente recusou. Funerais. Havia o plural naquela frase nos lembrando da tragédia que tinha acontecido.

-- Depois do funeral, então. - Sorella disse piscando várias vezes, com indiferença. -- Ficaremos muito felizes em receber você, não é Nemesis?

-- Ahn, claro. Se tiver tudo bem para o senhor.

-- Eu não sou senhor de nada, pode me chamar apenas de Kinsley. - O soldado sorriu mais uma vez. -- E como já disse, um dragão nunca recusa comida, esse é um assunto bem sério para nós. - Ele piscou um olho. -- Bem, vou deixá-los, tenho que voltar ao serviço. Cuide bem de seu irmão, Sorella.

-- Pode deixar, capitão! - Sorella bateu continência e com o movimento brusco, quase gemi de dor.

Kinsley acenou com a cabeça e se afastou de nós, ele se aproximou de outro guarda, perguntando se tinha alguém precisando de ajuda, recebeu as instruções e tomou a direção apontada.

-- Nossa, ele é um gato! - Sorella comentou quando ele saiu e virou-se para mim. -- Por que você tem que ficar aqui com os outros? Vamos lá para perto do castelo que os médicos do Imperador estão cuidando dos nobres. - Ela tentou me puxar, mas a dor foi tanta que caí sentado.

-- Ai, Sorella, eu acho que vou ficar aqui mesmo. - Deitei nos escombros e cobri os olhos com o braço. -- Se não quiser esperar pode ir para casa...

-- Eu não gosto desse nome, mas quando o capitão Kinsley fala, até que não é ruim, né? Ele tem aquele sotaque bonitinho… - Ela devaneou e depois, colocou as mãos na cintura. -- Certo, fique aí, seu molenga! Eu vou passar na cozinha e ver o que consigo para cozinhar, sobrou um monte de milho e legumes do festival, até que foi bom a festa ter sido interrompida.

Eu não poderia discordar mais, mas fiquei calado. Não queria cortar uma das poucas amizades que Sorella tinha feito e achava que seria bom que ela tivesse Kinsley para cuidar dela.

 

(Continua)

 


Notas Finais


Ahhhh que bom que terminaram a salvo, não é?
Pera que vem mais =)


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