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História Prelúdio das Cinzas - Monstros


Escrita por: rubiconvenus

Notas do Autor


Oi ;) Postagem de madrugada, finge que tá valendo como capítulo do fim de semana! KKKKK Foi bem corrido e alguns problemas pessoais me impediram de postar antes, não revisei e espero não ter muitos erros.
(Coloquei o Kaiser na mídia da capa porque sim!)

Capítulo 5 - Monstros


Fanfic / Fanfiction Prelúdio das Cinzas - Monstros

Capítulo 04: Monstros

 

Eu estava dentro de um uniforme de escravos feito sob medida e da cor da noite. Tomei uma grande respiração antes de atravessar a porta, deixando dos aposentos onde fiquei por algumas horas.

Um grupo de silenciosos funcionários pintou minhas unhas de uma cor que lembrava a prata, apertaram minhas bochechas para que eu parecesse mais saudável e lavaram meus cabelos com produtos cheirosos que o deixaram parecendo um painel caramelo feito da mais pura seda, deixando-os os mais lisos possíveis. Olhando-me no espelho, eu nem conseguia me reconhecer, além de ter envelhecido um pouco desde a última vez que eu me olhei em um espelho na vida.

Meus cabelos estavam mais claros do que eu me lembrava, mas ainda eram castanhos e meus olhos, ah, esses não mudaram nada. Eu estava com os cabelos soltos e jogados por cima dos ombros, de uma maneira quase feminina e as roupas pareciam um vestido: a bota de couro ficava por cima da calça justa nas minhas pernas e ela havia sido costurada para servir perfeitamente meus pés, sentia que estava pisando em plumas macias. A camisa era longa e reta, como um vestido até os joelhos e mangas compridas, havia um colete de couro servindo como um sobretudo, cobrindo todo o meu pescoço transpassado na frente do corpo, presos por botões laterais, que criavam um efeito quase acinturado na silhueta. Tinham furado minha orelha para colocar brincos, deram-me aneis de aço tão duros que eu poderia caçar esquilos no jardim com eles, fazendo uma boa armadilha, claro. Pensei no esquilo com a barriga roncando, desejando a sensação da carne desfiando-se em minha língua e dos ossos quebrando aos meus dentes. Tinha fome, mas teria que alimentar um rei.

-- Vá, menino, é por ali. - Odette me puxou da frente do espelho, guiando-me pelos ombros até a porta. -- Siga aquele corredor até a grande porta dourada, já esqueceu? - Deu um quase empurrão em minhas costas.

-- Como está minha irmã? - Perguntei ainda parado.

-- Dorme tranquila em uma cama. Ficou tão feliz por ter um colchão, pobrezinha. Vocês devem ter passado por muito antes de chegar até aqui, não se preocupe, nosso Imperador é majestoso e benevolente, bem, quando ele é quer, pelo menos. - Odette tentou sorrir, mas havia uma expressão de seriedade nublando seus olhos. -- Quando ele te liberar, volte correndo para esse quarto! Já terei mandado um criado arrumar e será seu até que ele decida o contrário.

-- Hm… - Acenei com a cabeça concordando. Não que eu tivesse outra escolha, o que o Imperador mandava era a mais forte lei e nenhum homem ou mulher ousaria desobedecer. Porém, me incomodava que havia alguns objetos pessoais, como se o quarto fosse de outra pessoa. -- Mas… E quem ficava nele?

-- Não se preocupe. Benjamin foi transferido para outro alojamento, na parte detrás do castelo. Vá, vá. - Odette bateu palmas como quem espanta uma galinha. -- Não deixe Vossa Majestade esperando, você não quer vê-lo impaciente.

-- Desculpe.

Dei passos devagar. O silêncio cortado apenas pelo dobrar do couro das minhas botas era estarrecedor, era possível ouvir o meu próprio coração batendo acelerado enquanto atravessava o corredor. Os candeeiros tremeluziam uma chama intermitente e as paredes vibravam como se fossem veias.

Sentia todos os meus músculos tremendo, como se eu estivesse com muito frio, mas era medo. Pavor. Agora que eu pensava bem no assunto, encarando a nova condição que eu me submeti, era mesmo problemático. Ter o meu sangue sugado por um vampiro que poderia beber tanto de mim que minha vida se esgotaria.

Ergui a mão para puxar o batedor da porta dupla e toda dourada quando a fechadura destrancou pela parte de dentro. Recolhi o braço e a porta abriu-se, apenas uma fresta convidando-me a entrar. Atravessei-a com cuidado, mas não havia ninguém do lado de fora, o que aumentou o meu pavor. Tudo naquele castelo era enormemente mágico e diferente, causando um arrepio na espinha, um palpitar mais acelerado do coração e a sensação incrível de que eu era uma criança diante de um raro espetáculo… Embora encarar o desconhecido não fosse sempre muito motivante.

O recinto estava completamente escuro, como se não tivesse ninguém lá dentro. Caminhei até o centro da ante-sala, onde havia um grande tapete felpudo rodeado por almofadas vermelhas e douradas, por cima dos sofás cinzentos. Mordi a boca, tomei fôlego e chamei:

-- C-Com sua licença, Majestade?

A porta fechou-se abruptamente como um gongo. Fiquei entregue ao breu, vulnerável em seu centro. Não consegui me mexer, com medo de tropeçar e quebrar alguma coisa, com medo do que estava me rodeando.

Havia essa eletricidade no ar. Um zumbido no fundo a minha audição que confundia-se com a minha respiração entrecortada. Um par de pontos brilhantes surgiu bem diante de mim. Vermelhos e incandescentes como chamas. Segurei o ar em meus pulmões e as velas nos candelabros acenderam-se uma a uma, iluminando o rosto do Imperador.

-- Desculpe, assustei você? - Perguntou-me calmo, diante de mim, apenas de camisa, calça e bota, suas vestes mais confortáveis.

-- Vossa Majestade Real. - Curvei-me, escorregando os braços pelo corpo e ficando na posição correta.

-- Olhe sempre em meus olhos, meu rapaz. - O Imperador ordenou e eu rapidamente ergui o corpo e os olhos em sua direção, imediatamente hipnotizado por seu olhar. -- Não vamos tornar as coisas tão formais, por que não me chama de apenas de Kaiser, Eydwen?

-- Prefiro que não. - Balancei o mínimo possível a cabeça, negando. -- Seria ofensivo, majestade. - Expliquei, mas ele pareceu bravo, franzindo o cenho, as sobrancelhas pesadas e pretas em seu rosto pálido. -- Você é o meu senhor, não posso tratá-lo como trato a um amigo.

-- Hm, compreendo. - O Imperador amenizou as expressões. - Então chame-me de “meu senhor” e “meu lorde” até que eu tenha conquistado sua confiança. - Um sorriso surgiu em seus lábios dando um relance das extremidades pontiagudas de seus dentes. Engoli em seco, encarando aquelas agulhas. -- Está nervoso?

-- Um pouco, desculpe. - Coloquei a mão sobre parte do rosto, cobrindo um dos olhos. -- Eu não deveria, quer dizer, o senhor não é assim tão aterrorizante, quero dizer. Desculpe, não que o senhor não seja imponente...

-- Shhh. - O Imperador colocou o dedo sobre meus lábios, ainda com aquele sorriso pontudo. -- Está tudo bem, venha. - Ele deu um leve toque no meu ombro indicando a direção.

Aproximamo-nos do sofá e o Imperador sentou-se. Eu não sabia o que fazer e apenas fiquei em pé diante dele. Com as mãos, ele desabotoou o colete, descendo-o por meus ombros. A peça de couro caiu no chão e o meu pescoço ficou totalmente exposto. O Imperador fixou os olhos na minha jugular.

-- Aqui, no meu colo. - Lorde Kaiser colocou as mãos na minha cintura e me puxou. Por inércia, deixei que ele me posicionasse onde quisesse, sentando em sua perna direita. Ele colocou o ouvido no meu corpo, por cima da camisa, conferindo meus batimentos cardíacos. Inspirei todo o perfume de seus cabelos, como flor de laranjeira, era um cheiro tão relaxante que eu podia fechar os olhos e me imaginar no campo. -- Que inusitado, pensei que tinha perdido a audição. Não está com medo de mim, criança?

-- Eu devia?

-- Seria sensato… - Ele afastou o ouvido do meu coração e ergueu a cabeça, me encarando firme. -- Mas não há necessidade, não tenho intenção de ferir você, embora, eu vá ferir quando te morder.

Mordi a boca, contemplando como seria. Ele viraria um animal feroz, arrancaria minha jugular, eu morreria.

-- Vou morrer, não vou? - Perguntei.

-- Shhh, não chore. - Ele segurou em meu rosto e com o polegar limpou a lágrima teimosa que queria rolar por minha bochecha. Senti ele forçar o braço para amolecer o meu pescoço, a mão envolvendo minha nuca, segurando meus cabelos, puxando em um toque ao mesmo tempo forte e sensual. -- Você vai sentir um pouco de dor, mas depois, eu prometo, não vai sentir mais nada. Feche os olhos.

Eu nem me lembrava como era rezar, mas eu pensei que seria bem útil agora. Que se eu rezasse, Deus teria piedade da minha alma. Fechei os olhos e pensei em minha irmã. Era por ela que eu estava ali e seria uma pena que eu nem poderia comer aqueles esquilos.

Foi uma pinçada forte no meu pescoço. Doeu, arrancou meu fôlego, mas eu não gritei. Na casa que eu estava antes, apanhar calado era uma das coisas que um escravo tinha que aprender a fazer. Aquela mordida era dolorida, mas não era insuportável e eu lidei bem com a dor. Abri os olhos e encarei o castiçal vermelho do teto, ouvindo o Imperador dar goladas fortes no meu sangue, causando uma leveza imediata na mente. Foi engraçado, eu me senti bêbado, alegre, com prazer. Talvez pouco antes de morrer todas as coisas boas viessem para os justos, como um último presente de Deus.

A eletricidade percorria o meu corpo, adormecendo-o. O Imperador deitou-me no sofá, sem desgrudar os dentes de minha carne, bebendo tão devagar e em goles tão grandes que eu podia ouvir o barulho de sua garganta engolindo. Ele estava completamente por cima de mim agora, mas de um jeito agradável, com o corpo quente e cheiroso, minhas mãos estavam em seus ombros, mas não para afastá-lo. A sensação era boa, tão boa, que acho que foi a melhor coisa que senti na minha vida.

-- Hmmm. - O Imperador fez, chupando meu sangue, lambendo meu pescoço. -- Você tem gosto adocicado, como uma lembrança de infância. - Seus lábios estavam completamente vermelhos do meu sangue, os dentes manchados no qual ele passou a língua. -- Maravilhoso.

Sorri. Acho que foi a primeira vez que eu escutei um elogio de alguém. O Imperador mordeu o outro lado do meu pescoço, mais uma vez a pinçada foi forte e a dor aos poucos sumiu, dando lugar a um prazer carnal, um formigamento diferente no corpo. Eu entendi que as mordidas dos vampiros são ao mesmo tempo doloridas como uma ferida, prazerosas como um orgasmo e não me importei que Lorde Kaiser me mordesse mais vezes, eu queria até que ele me mordesse mais forte.

Sentia o meu corpo lânguido e anestesiado quando ele ergueu-se de cima de mim, segurando as mãos na almofada do sofá. Pisquei devagar, quase adormecendo e ele beijou meu pescoço, um lado e depois o outro, fazendo a dor cessar. Afastei um cacho rebelde de sua testa, ergui minimamente o corpo do sofá como eu podia e beijei seus lábios vivos, ensaguentados, entorpecido de desejo.

Lorde Kaiser pareceu surpreso, não esperando por aquilo, mas ele fez bico e me recebeu meu beijo em seus lábios, uma, duas, três vezes, enquanto eu o buscava com a língua.

-- Eydwen? - Perguntou enquanto atirei-lhe mais um beijo. -- O que está fazendo?

-- Hm? - Parei.

Meu coração acelerou com o susto. Eu caí em mim.

-- Ops.

-- Ops? - Lorde Kaiser ergueu uma sobrancelha.

-- N-não quis ofender, eu… Quer dizer, eu...

-- Hm. - Lorde Kaiser afastou-se de mim. Eu me sentei enquanto ele arrumava sua camisa e puxava as mangas.

-- Perdão, meu lorde.

-- Estava com tanto medo de morrer que resolveu me beijar para que eu parasse de beber o seu sangue? - Lorde Kaiser ficou em pé, afastando-se no sofá. Coloquei a mão no pescoço conferindo as mordidas, mas era como se ele nem tivesse me mordido, não estava sangrando, nem nada. -- Responda-me, criatura! - Ele gritou, inesperadamente, virando-se com brutalidade para mim. Sua mão envolveu o meu pescoço e suas unhas cravaram em minha pele. Seus olhos pegaram fogo, tremeluzindo ainda mais fortes do que antes, como dois cometas incandescentes. -- Responda!

-- E-Eu n-não se-sei. - Gaguejei, sem ar.

Lorde Kaiser ainda ficou um tempo me segurando. Rosnando como um lobo, os dentes a mostra. Meu corpo estava curvado para trás e o meu coração acelerou. Se eu não estava com medo de morrer antes, eu estava certamente agora. Mais lágrimas escorreram de mim, contornando meu rosto, minhas bochechas, mas contive um suspiro de pavor.

Havia algo de diferente em seu rosto agora, uma monstruosidade esquisita que não estava lá e que não fazia parte daquele homem de boa presença e beleza incomparável. Era algo que tinha surgido com o sangue, que o deixava com um aspecto velho, com ranhuras roxas dançando por seu rosto como veias, mas não eram veias, era brilhante, como um feitiço. Ele tinha rugas, como um velho, com muita pele a mais e cinzenta, parecia haver algo de errado com ele. Uma doença.

-- Eu sou um monstro para você? - Ele rosnou novamente, um bafo quente pelo meu rosto e seu nariz tocou minha bochecha, enquanto sua mão ainda apertava minha garganta, arrancando meu ar, com mais força.

-- Não. - Respondi com a voz afônica. -- Pode parecer um monstro, mas... Não é um monstro.

Não sei se eu queria convencê-lo ou me convencer do que eu tinha dito. Ele solto o bafo em meu rosto e fechei os olhos com força. Escutei um gemido, como um chorinho. A mão ao redor do meu pescoço laceou e Lorde Kaiser segurou no meu rosto, com uma delicadeza incrivelmente estranha. Ele beijou a minha têmpora, minha bocehca e por fim, meus lábios. Abri os olhos e o Imperador me empurrou para fora do sofá:

-- Vá embora, criatura, vá embora.

-- O quê, mas…

-- Vá agora! - Ele rugiu como um leão, fazendo todas as paredes estremecerem e os candeeiros se apagarem.

Eu levantei, peguei o colete do chão e corri para fora daquela sala. A porta bateu-se como um trovão atrás de mim e encostei as costas nela. Meu pescoço ardia e passei os dedos nas duas feridas redondas, causadas pelas unhas do Imperador. Meu coração palpitava freneticamente dentro do meu corpo, minha respiração estava cansada e eu mal tinha forças para ficar em pé.

A porta chacoalhou, como se um cão raivoso estivesse prestes a sair. Tomei um susto, ergui-me, fugindo aterrorizado dali. Corri o caminho que fiz, entrei no quarto e me joguei sobre a cama. Eu não tinha pertences pessoais, mas realmente tinham esvaziado os pertences da pessoa que estava lá antes de mim. Percebi que mordidas não matam os humanos. Não imediatamente, pelo menos.

Cansado, adormeci.


 

(Continua)

 


Notas Finais


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