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História Prelúdio do Fim - Capitulo Único


Escrita por: starwarlock

Notas do Autor


Escrevi essa fiction na esperança de causar certa empatia das pessoas com relação a transtornos psiquiátricos, espero que quem leia goste e entenda que doenças psiquiátricas são tão ruins quanto qualquer doença física e é importante apoiarmos e demonstrarmos sempre o que sentimos pelas pessoas que gostamos.

Capítulo 1 - Capitulo Único


Eu sou alguém, ou algo parecido com um “alguém”, mas isso não é importante, não vou falar de mim, vou falar de alguém a quem tenho dedicado muitos pensamentos ultimamente. Conheci ele nos comentários de uma postagem de uma página do Facebook 3 meses atrás, era uma letra de música, não me lembro qual, seu comentário dizia “quando letras de música como essa passam a perder significado, significa que até mesmo os significados dos nossos pensamentos também começam a se perder...”. Não sei o que deu em mim, mas eu mandei uma solicitação na mesma hora que li o comentário dele.

Não demorou muito para ele aceitar e assim que apareceu a notificação chegou uma mensagem:

–Solicitação de amizade... Coisa vazia, 90% das pessoas que me adicionam nunca falam comigo, qual o sentido de uma rede social em que as pessoas não se socializam?

–Você diz coisas profundas né?

– Só digo o que penso

            Foi aí que começou, ao longo do tempo em que conversamos, descobri que ele tomava uma série de remédios para transtornos psiquiátricos, foi diagnosticado com depressão, ansiedade, transtorno bipolar, ataques de pânico e surtos psicóticos, disse quem nem conseguia mais lembrar de como era sua vida antes dos remédios e que também não acreditava que era tão doente como os médicos diziam, ele achava que só pensava diferente das outras pessoas, que via e compreendia o mundo de uma forma fora dos padrões comum de pensamentos que o resto das pessoas tinha. – E de fato ele era diferente.

            Talvez não tenha ficado claro, mas eu não descobri isso desde o começo, ele só me contou tudo isso umas três semanas atrás, disse que não era nem uma questão de confiança – embora também não confiasse muito nas pessoas – mas sim que ele não achava importante dizer que era um completo doente-transtornado-irritante-de-nível-clínico – como ele disse.

            Ele nasceu no Brasil e foi morar no Canada no final do ano passado, mas ainda fazia visitas para sua família – que morava na cidade AO LADO da minha – sempre que podia. Ele era três anos mais velho que eu e trabalhava numa cafeteria numa cidade que eu, e provavelmente todo o resto do mundo, nunca havia ouvido falar. Sua família protestou insistentemente para que ele não fosse embora do Brasil devido sua condição psiquiátrica tão instável, mas ele foi mesmo assim.

            Um dia depois que ele me contou sobre sua condição nós fizemos nossa primeira chamada por vídeo – já haviam tidos outras chamadas, mas nunca com vídeo – e meus deuses, como era lindo, não essa beleza comum que tem por aí do cabelo liso, loiro, olhos claros e musculoso, era lindo da sua forma. Cabelos compridos, escuros e enroladinhos nas pontas, pelo menos deveria ser, estavam totalmente descabelados, olhos castanhos e bem escuros, faziam-me duvidar se tinha alguma pupila no fundo daqueles olhos que me engoliam, olheiras em excesso e lábios secos, ele estava usando roupas extremamente largas que mostravam toda sua clavícula, manteve uma expressão completamente desligada e sombria o tempo todo, com exceção de um momento, quando eu disse:

– Nossa, você é demais! – E ele abriu um sorriso, foi o sorriso mais lindo que eu já vi, mesmo tendo durado pouco, parecia que se negava a se sentir bem com algo.
            Sua voz era um pouco rouca, como que desgastada por falar o dia todo com os clientes da cafeteria e isso me fazia delirar.... Eu nunca disse para ele, mas eu não tinha qualquer outro amigo, evitava sempre que podia a existência de outras pessoas, minhas experiências com seres humanos não eram muito boas, tanto que em casa eu tenho dois gatos, Rick e Sansão.

Sua voz e seu olhar faziam com que qualquer toque perdesse todo aquele encanto que todo mundo dizia, não era o mais lindo, charmoso ou inteligente, mas era tudo que eu tinha e mesmo nunca tendo podido sentir sua pele - e eu nem sentia falta disso - só o seu sorriso já fazia valer a pena não desistir, mesmo só tendo visto uma vez, só queria ter conseguido o dizer isso.

Foi anteontem que recebi a notícia, eu estava preocupado, fazia 2 dias que ele não entrava e a gente não conversava, não sabia se eu tinha feito algo errado ou se ele estava tendo algum surto, tentei ligar inúmeras vezes, mas todas minhas ligações caiam na caixa postal e então... entrei no Facebook e era logo a primeira postagem – da mãe dele – um texto enorme que dizia o quanto ele tinha sido um bom garoto e o mundo iria sentir sua falta... Suicídio...

Era como se uma bomba tivesse explodido na minha garganta e em vez de me espalhar em pedacinhos ensanguentados pelas paredes do meu quarto, a explosão tivesse corrido pelas minhas veias e queimado todos meus órgãos.

Eu não conseguia acreditar

Eu não PODIA acreditar

Eu não QUERIA acreditar

Ele morreu... meus deuses, ele morreu!

Como, como ele pode ir assim?

Ele não merecia

Eu devia ter dito o que sentia, talvez ele se sentisse amado e não fizesse isso

Talvez seja minha culpa por não ter dito

Não posso me culpar ele não iria deixar que eu me culpasse

Eu devia ter dito...

            Em questão de segundos eu pensei em tantas coisas que mal podia processar o que pensava, depois de quase 30 minutos andando pelo meu quarto eu fui para cozinha, ainda pensando em milhões de coisas ao mesmo tempo, peguei uma caneca cheia de café e – depois de beber ela inteira de uma vez – parei de pensar, parei totalmente de pensar, me agachei devagarinho arrastando minhas costas pelo balcão da cozinha até estar sentado com os braços em volta dos joelhos com os olhos arregalados, tudo que consegui sentir foram as lágrimas quentes – como o café que tinha acabado de beber – escorrendo pelas maçãs do meu rosto, lagrimas pequenas mas que se tornavam um oceano pra mim

E eu não sei nadar.

Fiquei naquela posição por horas até que minha mãe chegasse e me visse daquele jeito, eu contei para ela tudo que havia acontecido.

            O enterro vai ser amanhã, minha mãe fez questão de comprar minha passagem, pensar que a primeira vez que eu iria vê-lo pessoalmente ia ser assim... O avião saia uma hora atrás.... Não fui, fiquei aqui, na banheira, cheia de água...

            Agora finalmente vou me encontrar com ele e sentir o toque físico do que já havia me tocado três dias atrás...


Notas Finais


Foi isso, espero que tenham gostado...


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