História Prenda-se a mim - Você é bem vindo

“I was scared of dentists and the dark, I was scared of pretty girls and starting conversations”

O Domingo começou com uma manhã preguiçosa para todos na casa dos Min, mas logo SeokJin os intimou a descerem para tomarem café da manhã, que ele cuidadosamente havia ajudado In Hae a preparar.

— Taehyung, seus pais ligaram a pouco, disseram que estão vindo e que logo chegam. – In Hae comentou quando Taehyung – que fora o último a chegar – juntou-se a todos na mesa para tomar café.

Yoongi sorriu minimamente enquanto tomava um gole de café. Haviam optado por um café da manhã tipicamente americano naquela manhã justamente por conta de Ally. In Hae queria agradar a garota de todas as formas possíveis e não poupava esforços para isso.

— E ela pediu para que você fosse até o marcado Seomun comprar algumas coisas. Deixei tudo anotado num post it que está pregado na geladeira. – A dona da casa falou e o Kim concordou, sorrindo gentilmente e em seguida direcionando seus olhos para Yoongi, que tomava seu café calmamente.

— Vamos comigo, Yoongi Hyung? – Tudo o que o Min fez fora concordar minimamente com a cabeça, sem se importar muito com aquilo e Taehyung agradeceu internamente.

Olhou para o outro lado da mesa e encontrou Jimin, que conversava animadamente com Miso sobre algo. Em momentos como aquele, ele parecia cada vez mais inalcançável. Eram muito próximos, mas Taehyung enxergava uma distância que muito provavelmente ele nunca seria capaz de vencer, como se uma barreira atrapalhasse que continuasse seu percurso até Park Jimin, e isso era cansativo e desanimador.

Sempre foram melhores amigos desde que se mudara de Daegu e o conheceram em Seul, e isso era algo bom, mas agora, esse era justamente o problema. Eram melhores amigos e isso nunca mudaria.

Entretanto, melhores amigos não sentiam um pelo outro o que Taehyung vinha sentindo por Jimin desde que ‘descobrira’ ser gay. Não apenas no sentido carnal da coisa, mas levando as coisas para um lado mais puro, queria ter Jimin consigo como um companheiro, assim como Yoongi queria Ally. A diferença, no entanto, é que Ally era muito mais acessível que o Park.

Terminaram o café da manhã e Taehyung e Yoongi foram os primeiros a se levantarem da mesa, para Taehyung ir para a cozinha pegar o post it da geladeira ao passo que Yoongi ia tirar o carro da garagem.

A viagem foi um tanto quanto tranquila, Yoongi com seu silencio típico e Taehyung aproveitando aquele momento com seu hyung. O Min sabia que o Kim queria falar algo consigo, visto que fora chamado pelo outro sem hesitações, por isso não discordou do pedido, mas também o deixaria confortável para dizer o que queria quando melhor entendesse de fazê-lo.

— O que você acha de comprarmos picolé, Tae? – Yoongi indagou assim que desceram da caminhonete e começaram a caminhar pelas ruas do Seomun. Fazia um bom tempo desde que não iam ali, mas o grande movimento continuava o mesmo.

Kim Taehyung era como uma criança crescida e Yoongi nunca se cansaria de dizer tal coisa. Gostava de cuidar dele em silêncio, observá-lo para saber se estava tudo bem e mimá-lo quando pudesse, mesmo que não o fizesse com muita frequência.

— Hyung... o que você faria se fosse apaixonado por alguém inalcançável? – Taehyung perguntou após comprarem os picolés e voltarem a caminhar. Não estava preocupado que alguém os ouvisse. As pessoas eram ocupadas demais com suas próprias coisas e passos rápidos que jamais notariam os dois.

— Eu acho que você se esqueceu que eu sou apaixonado por Ally... eu nunca sei o que fazer, na verdade, porque quando penso que avancei um passo, ela regride dois ou três para trás. – O mais velho comentou dando de ombros, como se já estivesse conformado com aquele fato e Taehyung perguntou-se mentalmente se um dia estaria tão conformado como Yoongi.

— Me sinto assim com Jimin. – Taehyung comentou como quem não quer nada, num tom propositalmente casual, mesmo que aquilo o estivesse corroendo por dentro.

As pessoas costumavam dizer que a paixão era bonita e que quem se apaixonava tinha sorte, mas as coisas não eram bem daquela forma. Só era bonito quando era recíproco e a outra pessoa não tinha dúvidas sobre nada em relação ao parceiro.

Estar apaixonado doía. Taehyung sentia seu peito arder em chamas todas as vezes em que Jimin o contava sobre algum de seus casos de apenas uma noite, ou o incitava a procurar alguém para passar a noite. Não era recíproco, e muito talvez, o máximo que Taehyung fosse conseguir do seu melhor amigo era uma transa de uma noite só. Nada mais.

Mas Kim Taehyung não queria ser uma foda de uma noite só. Ele queria levar as coisas alguns patamares acima, sem medo de que tudo fosse terminar quando o sol chegasse.

— Eu não sabia que você gostava dele, apesar de dar para desconfiar. – Yoongi disse desviando a atenção de seu picolé para olhar Taehyung. É como se pudesse sentir que aquela máscara de ‘não me importo se Jimin é arredio comigo’ não passasse apenas disso. Uma simples máscara que cairia a qualquer momento.

— Bom, eu não queria contar para ninguém, mas eu estou tão perdido, hyung. O que eu faço?

— Não faço a mínima ideia. Sério Taehyung, ainda não sei porque você me pede esse tipo de conselhos. Minha vida amorosa é uma bagunça por completo. – Taehyung riu e concordou com a cabeça.

— Você é a pessoa que eu mais confio para essas coisas. – Caminhavam vagarosamente, parando nos comércios onde comprariam as coisas que a mãe de Taehyung havia pedido. Aos poucos, iam finalizando a caminhada, e consequentemente, as compras.

— Mas sabe Tae, você não deveria desistir antes de tentar. Pode ser que tudo dê errado, mas também pode ser que tudo dê certo. Você não vai conseguir seguir em frente quanto não souber.

As palavras de Yoongi ecoaram na mente de Taehyung até quando chegaram na casa dos min, e só se dissiparam – momentaneamente – ao passo que ele enxergou seus pais conversando animadamente com JiYeon e Jimin. Jimin seria um bom genro, caso um dia engatassem em um relacionamento.

— Mãe! Pai! – Taehyung exclamou, correndo até seus genitores, os abraçando apertado. De fato, os únicos apertos que as pessoas deveriam passar na vida eram os apertos dos abraços. Naquele momento, todas as suas dúvidas acerca de sua vida foram deixadas de lado para que pudesse receber um cafuné e um carinho de seus pais.

Ouviu aquelas típicas perguntas sobre como estava, se estava gostando do trabalho, se estava sabendo se virar sozinho, o porquê de estar tão magro e outras tantas perguntas que seus pais sempre faziam, mas mostrava que estavam genuinamente preocupados consigo.

Yoongi os cumprimentou logo após, também sendo bombardeado de perguntas. A família Kim era um tanto quanto simpática consigo e ele apreciava isso por demais.

Era bom quando tinham tempo para passarem um bom momento em família, ao passo que logo todos estariam ocupados demais com suas vidas reais para se darem conta de que coisas como aquelas não aconteciam muito na vida de ninguém ali.

Jungkook estava sentado no sofá da sala observando a tudo e todos a sua volta. Queria ser entrosado como sua irmã e se socializar fácil, mas estava sendo difícil. Nunca fora um garoto de muitos amigos ou palavras, mesmo que no aniversário de JiYeon tivesse conversando um tanto com os outros, não era de seu feitio, e agora, estando na verdadeira casa dos Min, se sentia mais do que um intruso.

— Você também está se sentindo um pouco deslocado? – Uma voz feminina soou ao seu lado e ele se virou, encontrando Ally sentada ao seu lado no sofá, um tanto quando próxima.

— Sim... é como se eu estivesse invadindo a privacidade deles. – Ao fundo, o Jeon não conseguia entender como Miso e Hoseok pareciam estar tão à vontade em uma casa que sequer era deles.

— Mas eles são muito simpáticos, você não acha? – Ally perguntou, dessa vez olhando diretamente para Yoongi, que ajudava a levar as compras que Kim Cho Hee, mãe de Taehyung, havia pedido.

— Eu sei, mas ainda é estranho. Eles não fazem eu me sentir mal, nem nada, mas é a primeira vez que estranhos me acolhem tão bem. – Ele disse baixo, tão baixo que sequer pensou que a estrangeira o tivesse ouvido.

— Assustador... – Ela murmurou e sorriu em seguida, deixando de observar Yoongi para olhar o mais novo ao seu lado.

Logo ela se resolveria com Yoongi, e deixaria para fazer isso quando já estivessem em Seul. Queria mesmo era aproveitar aquele tempo de calmaria que estava tendo, já que tinha um bocado de trabalhos marcados para quando voltasse para a capital.

— Hey, JiYeon e SeokJin estão jogando Just Dance lá em cima, vamos lá? – Ela perguntou tentando soar o mais amigável possível, com medo de que um tom em falso Jungkook se mostrasse bastante arredio, devido sua timidez exacerbada.

— Não sei... eles não vão se importar, não? – Ally sabia que os olhos das pessoas não mentiam, e Jungkook naquele momento aparentava ser uma criança extremamente envergonhada por ter feito algo errado.

Adorável.

— Claro que não! Além do mais, os outros devem aparecer por lá mais tarde. Jimin, Miso e Hoseok disseram que logo chegam lá. – A garota se levantou, tendo seu movimento imitado por um Jungkook completamente hesitante.

Não queria chegar lá em cima e atrapalhar algum momento do casal, afinal de contas, a casa era muito deles.

Entraram no quarto, onde SeokJin tentava desastradamente dançar com perfeição a coreografia que havia sido ensinada. Ele podia ser bom em muitas coisas, como cozinhar, ouvir as pessoas, dar conselhos, escrever e cuidar de JiYeon, mas dançar definitivamente não era um de seus – muitos – pontos fortes.

Jungkook riu ao observá-lo mexer os pés de um lado para o outro de uma forma muito diferente do que a que o jogo indicava.

SeokJin parou de dançar e olhou para ele, fazendo uma cara indignada, que na visão de JiYeon era até que bastante fofa, mesmo que o Kim não fosse mais o que pudesse dizer como uma pessoa das mais novas.

— Ora senhor Jeon Jungkook, se você é tão bom ao ponto de rir de mim, venha aqui e faça melhor. – No fundo ele queria rir, ainda mais após a o semblante desolado de Jungkook, como se estivesse realmente acreditando que estava levando um esporro do mais velho.

— Ele só está brincando com você, Kook. – JiYeon deu um tapa forte no braço do namorado, fazendo todos os presentes no local rirem. — Vá lá! Miso me disse que você dança as vezes, não é?

O mais novo acenou timidamente em concordância. Tinha vergonha de mostrar aquilo aos outros, além de que Ally era uma dançarina profissional que cada vez mais estava se tornando popular em seu país, assim como era popular em outros país para fora dali.

— Por que você não mostra para gente? – Ally perguntou empolgada. Sempre gostava de ver os outros dançando. — Um dia nós poderíamos dançar juntos, até.

— Qual música? – Perguntou meio hesitante. Estava com vergonha, claro, mas não negaria aquele pedido. Ele não treinava atoa, e, se no dia da festa de JiYeon havia conseguido ser extrovertido com todos, por que não agora? Estava perdendo oportunidade de fazer bons amigos se mostrando introvertido daquela forma e isso era tudo o que não queria.

— Pode ser a que você quiser. Não somos exigentes. – SeokJin e Jungkook acenou com a cabeça, tirando seu celular do bolso e escolhendo uma música que ele costumava ensaiar quando estava sozinho.

Deixou com que a melodia preenchesse seu quarto, enquanto movimentava seu corpo de acordo com o sentimento que a música lhe passava, se entregando de corpo e alma àquele momento, literalmente.

Ao fim, ouviu palmas de todos, e Ally sorria abertamente.

— Meu Deus, estou diante de uma celebridade. Você pode, por favor, me dar um autógrafo? – A garota fez graças, mas acabou deixando o garoto com as bochechas vermelhas.

—Vocês ainda estão jogando? – Hoseok chegou ao local acompanhado de Jimin e Miso, o que fez Jungkook sorrir por ter sua irmã ali.

— Estamos sim! Na verdade, acabamos de propor ao Jungkook um desafio de ser o melhor daqui no Just Dance. – JiYeon disse e riu.

— Opa! Eu quero! Duvido que ele me vença. – Jimin disse animado, completamente pronto para jogar.

E em meio àquela brincadeira, Jungkook percebeu que mesmo involuntariamente, havia feito bons amigos e fora muito bem recebido por eles. E sempre seria bem recebido.