1. Spirit Fanfics >
  2. Presságio >
  3. Pressentimento

História Presságio - Pressentimento


Escrita por: sum-ah

Capítulo 1 - Pressentimento


Fanfic / Fanfiction Presságio - Pressentimento

Eu, Jung Hoseok, definitivamente odiava aquele lugar. Tinha tanta gente, era tão barulhento e sufocante, tudo o que eu queria era estar em casa lendo. Ainda era a primeira semana de aula e eu já queria férias eternas. Porque as pessoas eram obrigadas a frequentar um lugar tão horrível como aquele? Os alunos não iam lá para estudar, eles iam para ficar jogando bolinha de papel uns nos outros, falar mal do "amigo " quando ele estava ausente e xingar os professores quando esses queriam dar aula. Já disse que eu odeio esse lugar? Por que não é permitido estudar em casa? Eu teria mais progresso do que ficando preso ali. As outras crianças me assustavam.

Uma das coisas que mais me travavam em falar com alguém: elas não agiam como crianças. Tirando as briguinhas sem sentido e o fato delas amarem ficar tacando coisas e gritarem por qualquer coisa, elas agiam como se fossem bem mais velhas... Ou eu era o estranho por ser o único que não entendia que o aquele gesto com as mãos significava? Ou não gostar da aula de educação física, ir direto pra casa quando acabava a aula, não sentir vontade nenhuma de beijar alguém ou realmente me interessar pelo que a professora falava. Ficar pensando daquilo ia me causar dor de cabeça de novo. Era assim todo ano.

Uma hora ou outra as pessoas descobriam que eu lia muito rápido (pior ainda, que gostava de ler), que frequentava a sala de recursos por causa da superdotação e não entendia nenhuma piadinha de cunho sexual sem precisar pensar muito. E aí começavam as "brincadeiras". Eu era o retardado, lerdo, cdf, quatro - olhos, esquisito, viadinho, antissocial. Eu já estava acostumado. Não que não me incomodasse mais, mas eu aprendi que se eu fingisse não ligar, eles diminuíam com o tempo. Tenho 12 anos e já estou acostumado com a crueldade do mundo. É por isso que eu não falo com ninguém e não deixo ninguém se aproximar.

Pra eles rirem de mim? E acontecer igual ano passado quando descobriram meus cortes e minha mãe teve que me trocar de escola? Só de lembrar me dá calafrios e vontade de chorar. Os meninos da minha sala me levavam para o banheiro no intervalo, pegavam meu pulso e apertavam até eu começar a espernear. Diziam que era para o meu bem, que estavam me ensinado a virar homem e da próxima vez que eu quisesse chamar atenção ia colocasse uma melancia na cabeça e não ficar igual uma menininha retardada me cortando e achando isso o máximo. Foi assim por três meses até uma professora perceber que a manga do meu moletom estava suja de sangue, descobrir tudo e chamar minha mãe. Ela não chegou a me bater mas ficou muito brava pelo meu "drama" e me lembrou que não tinha tempo pra brincar dessas coisas comigo, afinal ela tinha que cuidar das minhas irmãs mais novas, trabalhar e ainda cuidar da casa.

Meu pai? Mora em outro estado, manda dinheiro todo mês e me liga no meu aniversário se minha mãe não esquecer de mandar uma mensagem o avisando da data. Se brincar não lembra quantos anos eu tenho. Eu entendia o estresse da minha mãe, ela fazia de tudo para nos dar uma boa educação. Não entendia o porquê de ninguém fazer o mínimo esforço para me entender. Não era drama meu, nem uma forma de chamar atenção. Eu não queria que ninguém soubesse, queria apenas tirar aquela dor de mim, então a dor de fora, a física, ajudava a superar a que destroçava tudo aqui dentro e me fazia sentir vontade de gritar.

Eu me sentia um lixo, um desperdício de espaço e não via sentido nenhum nesse jogo chamado "vida". Qual era o ponto? Nascer, crescer, ir pra escola, faculdade, casar, ter filhos, trabalhar até a morte e fazerem uma camiseta com uma foto horrível sua pra usarem no enterro. Eu não aguentava isso. Esse ciclo, era sufocante imaginar essas coisas acontecendo comigo e eu só seguindo o fluxo. Dava vontade de sacudir os adultos pelos ombros e perguntar gritando como eles aguentavam aquela merda.

Era tanta coisa que passava pela minha cabeça ao mesmo tempo, que as vezes eu não conseguia respirar. Ficava arfando e pensando em todas as coisas horríveis que minha mente conseguia criar. Que eu ia morrer sozinho e sem amigos, porque ninguém em sã consciência iria querer ser meu amigo ou não ia ter vergonha de ser visto comigo. Eu odiava meu nariz afeminado, meus óculos fundo com as lentes grossas, minhas pernas finas demais, o fato de eu não conseguir falar nada em público sem gaguejar ou embolar tudo e minha falta de coordenação motora, eram as coisas mais gritantes em mim, que geravam os piores apelidos. Eu só queria um descanso de mim mesmo, das pessoas, ir para outro país onde ninguém iria saber quem sou e nunca mais voltar. Mas a quem eu queria enganar? A pessoa que  mais odeio e sinto nojo sempre vai estar preso nesse lugar que chamo de corpo.   

Percebi que estava chorando e possivelmente começando uma crise de novo, então tentei voltar para o presente e ouvi na metade a explicação da professora dizendo que iria fazer um mapeamento na sala porque já estava impossível lidar com a classe e ainda não havia uma semana que as aulas começaram.

Ela foi chamando o nome de cada um e indicando o lugar. Eu sentei entre um menino branquinho e de cabelo quase branco de tão loiro que eu nunca havia reparado, mas que provavelmente se acha superior a todo mundo e um menino de moicano que eu já tinha visto colocar chiclete embaixo da carteira.

Suspirei alto e o menino da frente se assustou e deixou cair o objeto que estava no colo dele no chão. Me abaixei automaticamente para pegar e vi que era a continuação da saga que eu estava lendo. Ele também tinha se dobrado para pegar o livro e nossas mãos se tocaram. Foi aí eu olhei pros olhos dele -castanhos, escuros e pequeninos, mas naquele momento arregalados- e vi nossa vida toda passar ali.

Eu o vi me emprestando o livro que lia; nós dois fazendo os próximos trabalhos juntos; nos aproximando por causa dos gostos em comum; a primeira vez que contamos nossos problemas familiares um pro outro quando ele dormiu na minha casa; ele desenhando uma borboleta com o apelido dentro no meu pulso; nós dois tentando disfarçar o choro no cinema por causa do último filme da série que ele me ensinou a amar; ele me encorajando a procurar um psicólogo; nossa primeira briga; eu arranjando uma namorada e deixando ele de lado; a gente rindo com nossas futuras amizades que iríamos fazer; eu segurando sua mão na primeira crise que ele deu na minha frente; ele indo para outra escola e me deixando só; nós dois contando um para o outro nossa orientação sexual e depois morrendo de rir do medo que sentimos de sermos rejeitados já que ela era a mesma; nosso baile do último ano do ensino médio; nossa primeira viagem juntos; eu lhe apresentando meu primeiro namorado e pouco tempo depois chorando no seu colo por ele ter sido um babaca; eu levando ele para conhecer a biblioteca que eu estava trabalhando; nossa primeira tatuagem juntos; ele me beijando casualmente em algum dia frio em que ficamos debaixo das cobertas como se fosse a coisa mais normal do mundo e dizendo que eu deveria me mudar para sua casa já que passava mais tempo lá do que na minha própria; a vez que ele morreu de ciúmes de um ex namorado meu e sumiu por 3 dias para voltar como se nada tivesse acontecido; nós comprando nosso Samoieda e ele fingindo que não estava morrendo por causa da alergia para não ter que vender o pequeno; eu me arrumando para a festa de lançamento do terceiro livro dele; inúmeras fugas de rotina só para roubar beijos e abraços; nossas famílias almoçando juntas num domingo e reclamando de nunca termos adotado e lhes dado netos e nós dois bem velhos tomando café e lembrando das coisas que fazíamos quando éramos jovens.

Isso tudo passou pelos meus olhos em um segundo. Ele ia ser meu salvador. O sol amarelo que ia iluminar minha vida e não me deixar cair. Ele ia me ensinar a me amar, porque ia fazer isso primeiro. Nós íamos ser o alicerce um do outro. No fim, tudo ia valer a pena porque estaríamos juntos. Eu não sei se ele viu o mesmo ou era coisa da minha cabeça, sei que ele estendeu a mão para mim e disse sorrindo bem baixinho:

"Meu nome é Min Yoongi e o seu?"


Notas Finais


Clara, não sei onde começa e termina Yoonseok e onde começa eu e você, obrigada por sempre acreditar nas minhas histórias mais do que eu mesma, amo você ♡


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...