História Pretérito imperfeito e estações - Estações dentro de mim;

Eu venho definhando há muito tempo, Seongwoo. Não pense que meu fim se inicia aqui, ele começou no momento em que os nós atados em minha garganta impediram-me de dizer-te para ficar.

Se hoje encontro-me submerso na turva água que escapa de minh'alma, despenca dos olhos mortos que carrego na face e inunda minha finita existência carnal com amargura, é porquê deixei que você se tornasse parte do meu pretérito imperfeito.

Lembro-me que as feridas em meu íntimo ainda perduravam a amargar meus sentimentos. Não existia cura nem consolo para resgatar-me dos efeitos colaterais de uma vida de desesperança e agonia, até você aparecer e passar a transmutar toda dor em felicidade.

Havia muitas falhas entre nós, eu entendo que você não pôde suportá-las sobre seus ombros por mim. Eu precisei que você aguentasse um pouco mais, até que eu voltasse a emergir do buraco frio e escuro onde fui jogado pelas circunstâncias do sistema, mas você quebrou, em mil pedacinhos, cintilantes e intocáveis.

       "— Como eu poderei te amar se você está em constante fuga?"

E então você escapou como poeira por entre meus dedos; poeira lunar que gravita no vácuo da indiferença daquele que não pôde suprir as necessidades de um coração caloroso como seu.

    O belo e exorbitante jardim de setembro que florecia em meu âmago veio a tornar-se um monótono inverno, de ramos secos e retorcidos, que emaranhavam-se e perfuravam meus pulmões, impedindo-me de reunir o fôlego necessário para discar seu número e ficar mudo, apenas a ouvir sua voz ecoar no outro lado da linha.

          Era inverno dentro de mim, mesmo que perdurasse a florecer superficialmente, meu bem.

No entanto, mesmo hoje, eu permaneço sentado rente aos degraus da varanda dos fundos, com o gancho do teleone em uma das mãos, e a caneta, com suas iniciais gravadas no entalhe, na outra, a fitar a cerejeira florida no quintal, perguntando-me se você voltará nessa primavera.