O calor era uma das poucas coisas que tiravam Park Jimin do sério, mas o raio de sol em sua face lhe parecia tão convidativo aquela manhã, era como se Jeon acabasse com aquele desconforto, como se só estar ali, deitado em seu peito, fosse o suficiente para que se sentisse agradecido por ter conhecido o garoto. Tinha seus olhos abertos e sem perceber, já encarava o rosto pouco iluminado do mais velho, que dormia em sono profundo.
Olhou em seu celular e viu que eram nove horas da manhã, bem, depois de ter que passar por várias notificações alertando chamadas perdidas de diversos números que já imaginava de quem eram. Se sentou e selou os lábios aos de Jungkook, acordando-o.
— A gente tem que pensar em como sair daqui sendo que você tá pelado com esse negócio balançando.
— Não ouse chamar meu Inácio de negócio.
— Eu não vou aguentar conviver com outro ser humano que dá nome pro pau, ainda mais nome lixo. – Se levantou e o outro fez o mesmo, deixando o moletom que cobria seu membro cair em seus pés e Jimin corar por completo, apertando os olhinhos.
— Ah, desculpe. – Jungkook sorriu de lado, pegando novamente o pano e se cobrindo.
— Onde eu vou te arranjar roupas? – Passou a mão nos cabelos e suspirou alto, encarando o chão.
— Por que não pede para um de seus amigos trazer?
— Até porque seria normal eu pedir para eles trazerem roupas para uma caverna escura depois de eu ter desaparecido no meio da noite. – Então o mais velho o olhou com a sobrancelha arqueada e recebeu o olhar confuso do ruivo de volta, parecia esperar uma resposta. – É sarcasmo, Jeon.
— Ah, sim, sim.
Park não conseguiu evitar o sorriso pela inocência ou talvez lerdeza do homem em sua frente, até mesmo se aproximou para lhe dar um selinho rápido, mas sua atenção foi chamada pelo familiar toque de celular.
— Alô? – Perguntou, aflito.
— GENTE, ELE ATENDEU. – Reconheceu a voz do seu primo do outro lado e logo em seguida, alguns passos apressados que aumentavam cada vez mais seu volume. – Me diz onde você tá, pra nois ir te buscar e te arrastar de volta pra cá pelo pênis.
— Sua delicadeza é a sua maior qualidade.
— Fala logo, caralho.
— Quem é esse? – Jungkook disse e recebeu um olhar ameaçador do menor.
— Eu ouvi uma VOZ DE MACHO DO OUTRO LADO. – Yoongi gritou mais para os seis garotos e os dois adultos que também estavam na sala com ele ouvindo tudo no viva-voz, do que para Jimin.
— Não acredito que esse mini projeto de filho da puta saiu de casa de madrugada pra ir na boate gay. – Senhora Min esbravejou, suspirando alto.
— Mãe, notou que acabou de chamar a sua irmã de puta?
— Cala a boca, mini filho da puta dois.
— Agora você se chamou-
— TÁ VENDO ESSE CHINELO, MIN YOONGI? ELE VAI VOAR NA TUA TESTA SE VOCÊ NÃO FICAR QUIETO.
— CARALHO JIMIN, FALA LOGO ONDE TU TÁ. – Jae gritou, batendo a mão na mesa.
— Mas eu não fui pra boate gay, eu não sou desses. – Hesitou um pouco e olhou para Jungkook, tampando com a mão a barrinha de som do celular. – Nós devemos contar para os meus amigos?
— Não sei, sim?
— NOIS TÁ OUVINDO ESSES MURMURINHO, FALA PRA FORA. – Foi a vez de Namjoon se alterar.
— Eu tô na casa do meu namorado. – A afirmação do ruivo fez com que todos ficassem em total silêncio, podia até mesmo escutar os miados do gato dos Min no outro lado da linha. Jeon suspirou ao ouvir tais palavras. "Namorado", ele gostava de ser chamado deste jeito por Jimin.
— Nós somos namorados, agora? – Recebeu um tapa leve no abdômen.
— Por que todo esse silêncio? É tão surreal assim eu estar namorando? Eu esperava isso dos meus amigos, mas dos meus tios... Qual é, Yangmi, você sempre me perguntou sobre os namoradinhos.
— Sim, Jimin, porque eu tinha que fazer meu papel de tiazona, mas nunca acreditei que você fosse realmente ter um "namoradinho".
— O silêncio foi porque nós estávamos esperando aparecer a produção do Silvio Santos dizendo que tudo isso foi uma pegadinha. – Disse Inseong, com os olhos arregalados e a boca entreaberta, assim como todos ali.
— Venha para a casa e traga esse garoto, queremos conhecê-lo. – Dongsun forçou a voz para parecer mais autoritário, antes de desligar a chamada.
Jimin levou as mãos ao pescoço e encarou o teto e seus relevos, sentindo os braços fortes de seu novo "namorado" os rodeando.
— Como que a gente vai sair daqui com você desse jeito.
— Você pode me dar essas roupas que está usando, é moletom, acho que dá em mim.
— Ah, lindo, e eu que tenho que andar pelado pela rua!
— Qual o problema? – O moreno disse e recebeu um olhar ameaçador do mais baixo. Deu um pequeno salto quando uma ideia surgiu em sua mente. – Lembra que você deixou aquele vestido aqui antes de sair? – Foi até uma enorme rocha e viu o mesmo ali atrás, jogado no chão. – VOCÊ PODE VESTÍ-LO.
— Tá dizendo que quem vai ter que andar na rua usando isso, sou eu?
— Tire logo suas roupas.
— Nem paga um sorvetinho antes, puta que pariu. – Retirou as roupas e ficou apenas de cueca, sem timidez, já havia sido visto nu por Jungkook, não havia nada de novo ali.
Logo o outro estava vestido com suas roupas e Park com aquela fantasia apertada e amarrotada, que parecia ter diminuído desde a última vez em que a vestira. Podia sentir o olhar perverso daquele homem em suas coxas fartas, apenas sorriu com isso e o puxou para a entrada.
— Se me dissessem há uma semana atrás que eu estaria prestes a pagar o maior micão da minha vida andando de princesa pela rua com um cara usando minhas roupas, sendo que era tritão há um dia atrás, eu perguntaria se a pessoa tinha tomado as droguinha do Yoongi. – Viu o olhar assustado do mais velho e logo apressou-se em responder. – Remédios para não dormir, longa história. – Suspirou fundo e saiu dali, Jeon piscou várias vezes pela luminosidade tão intensa que não via há muito tempo.
— Eu tinha me esquecido do quão gostoso é o sol.
— Tá dizendo agora que é cedinho, quando vier aquele raio de quarenta graus na tua fuça, vai preferir chuva. – Ia calçar os sapatos que havia deixado ali, porém Jungkook fez isso antes dele. – Os sapatos são meus.
— Sim, mas se eu ficar sem, vou machucar meus pés.
— Se você usar, então eu que vou machucar os pés. – Reclamou com as mãos na cintura, antes de ser pego no colo pelo mais velho.
— Feliz, agora? – Jimin bufou e escondeu cada vez mais o rosto entre as mãos na medida que as pessoas os encaravam de modo estranho.
— Deixa que eu vou de bicicleta, tenho que levar isso de volta para casa de qualquer modo.
— Com esse vestido? Não acho uma boa ideia.
— Eu não importo das pessoas virem até minha próstata enquanto eu estiver andando, nada é mais ridículo do que esse vestido.
— Viado, shippei. – Uma senhora exclamou ao passar por eles, fazendo com que o menor risse.
Foram longos e demorados minutos de comentários desnecessários direcionados ao ruivo, o que irritava Jeon, que não sabia como reagir nesses momentos, até que chegaram finalmente naquele jardim verde e tão bem cuidado da casa da família Min. Park desceu da bicicleta e segurou fortemente a mão de Jungkook, antes de abrir a porta e todos ficarem em total silêncio, observando-os, antes de começarem a gargalhar.
— MANO, QUAL O NOME DESSA BOATE QUE TU FOI PORQUE EU TAMBÉM QUERO. – Namjoon gritou tentando ficar de pés, porém caiu de tanto rir.
— Acho que tu errou o caminho, a Disney é em outro continente. – Inseong gritou, tentando se segurar na cadeira para não cair de rir, mas falhou, ficando igual Nam.
— Meu sobrinho é a Drag Queen mais linda que eu já vi. – Yangmi começou a dar pulinhos até os dois que até agora estavam parados na porta quietos. – Caralho, que pedação de mal caminho, hein, Park.
— Será que eu vou ter que te lembrar que tu é casada com esse galã aqui, vulgo eu? – Senhor Min disse, puxando a esposa pela cintura.
— Parece que uma festa de aniversário da Barbie vomitou em você. – Jin se pronunciou pela primeira vez ali, enquanto tentava fazer o namorado parar de rir por já estar ficando roxo de falta de ar.
— O Namjoon tá quase da cor do meu pau, acho que ele tá morrendo. – Jae comentou, também gargalhando.
— Qual demônio tu invocou pra conseguir um namorado e ainda mais um lindão desse? – Disse Hoseok, mordendo o lábio inferior.
— Deixa de ser piranha, tu é comprometido. – Tae bateu de leve em seu braço, rindo. – Se bem que nosso relacionamento à três podia se tornar um relacionamento à quatro. – Piscou de modo nada discreto.
— E aí, Yoongi, não vai fazer alguma piadinha escrota, também? – Perguntou para o primo, que tinha os olhos semi-cerrados e a boca entreaberta.
— Então, aquele namorado louco que tu ia pra casa dele e comprava vestido de princesa pra satisfazer fetiche, existe? – Jimin assentiu, ignorando os olhares assustados de seus tios. – Ele ainda tem menos de setenta anos e não é cego? – Desta vez Jeon bufou e se afastou do "namorado", indo até Yoongi e o levantando pela camisa que usava, fazendo com que o mesmo engolisse em seco e todos ali paralisassem.
— JEON, SOLTA ESSE VIADO QUE ELE É MEU PRIMO. ESSE GAROTO É TÃO FRACO QUE SE VOCÊ DER UM PETELECO NA TESTA DELE, ELE ENTRA EM COMA. – O mais velho entre todos ali presentes desistiu e sorriu de lado, soltando o garoto.
— Eu acho que vi minha vida passar pelos olhos. – Yoongi disse em uma voz esganiçada e correu para os braços dos pais, que estavam se segurando para não rir. – Desculpe insultar seu namorado, senhor lorde pica das galáxias que eu respeito. – Fez reverência, enquanto seu coração voltava a bater normalmente.
— Pera, Jeon não é o nome daquele viado meio peixe da lenda que o Yoongi contou sábado passado? Que coincidência! Qual seu nome inteiro? – Namjoon perguntou, bebendo água para tentar acabar com o soluço que adquirira rindo.
— Agora que todos já conhecem ele, vamos subir que eu preciso trocar de roupa! – Agarrou a mão de Jungkook e já subia o primeiro degrau, quando a senhora Yangmi agarrou seu outro braço e fez com que ele parasse.
— E desde quando você precisa dele pra trocar de roupa? – Perguntou, com a sobrancelha erguida.
— Cês tão indo é acasalar que nois sabe. – Nam gritou.
— Um ótimo motivo para esse Jeon ficar aqui conosco e falar mais sobre ele, certo? – Foi a vez do pai de Yoongi dizer, passando o braço pelos ombros do moreno, que lançou um olhar assustado para o namorado.
Jimin não sabia o que fazer, não sabia o que iriam perguntar para Jungkook ou quais seriam suas respostas e antes que pudesse pensar em uma desculpa decente, foi empurrado por Jaeyoon para cima e jogado no próprio quarto.
— Caralho, me conta, vocês brincaram do famoso esconde-esconde na caverninha? – Sorriu do mesmo modo "tiozão" que o primo usava e o empurrou até a cama, para que se sentasse. – Pare de fazer essa carinha de sonsa e me diz se vocês transaram logo. O palhaço dele é grande? Ele beija bem?
— Que isso viado, por que ta tão interessado no meu namorado? Nem todos os bombeiros de Seoul apagam esse teu fogo no cu, viu. – Puxou o vestido para baixo quando já estava em pé e abriu o armário, procurando por algo para vestir.
— Olha, eu sou passivo, mas tenho que dizer. Que raba.
— Até você agora? – Passou a mão pelos cabelos e vestiu uma blusa azul sem mangas, caçando alguma bermuda ali.
— Sem brincadeira, se tu cair de bunda no chão, o planeta treme. Se tu cair de bunda no chão, divide a Ásia no meio. Se tu se jogar de bunda na piscina, a água toda sobe. Se tu-
— Já entendi. – Terminou de abotoar a bermuda apertada, aliás, qualquer roupa ficava apertada naquelas coxas.
— Quer descer agora?
— Não, bora ficar parado encarando o meu chão.
— Bora, pô.
— Ninguém entende minhas ironia. – Abriu a porta e foi até as escadas, descendo-as.
— Jungkook foi o nome que o Jimin gritou quando tava invocando alguma coisa na cozinha, porque aquilo que ele tava fazendo, não era cozinhar. – Seu tio disse, agora sentado no sofá, como todos os outros.
— Quantos anos você tem? – Sua esposa parecia analisar todos os detalhes em Jeon.
— Ahn... Vinte, eu acho. – Pigarreou, arrumando a gola da blusa. Park fez questão de descer e ir até seu lado antes que questionassem aquilo.
— O papo está ótimo, mas eu e o Jungkook precisamos sair para fazer algumas compras. – Já ia em direção à rua, quando ouviu Yoongi murmurar.
— O engraçado é que esse garoto parece muito com uma foto que eu vi quando pesquisei aquela lenda que eu contei para vocês sábado no google, uma foto que parece que alguém flagrou, mas estava muito escura e ele ainda tem o nome de Jeon.
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