Estico todo o meu corpo na cama, sentindo meu pé tocar de leva em algo, virando a cabeça lentamente para o lado, vejo a garota loira coberta pelo lençol branco. Encosto minha mão de leve sobre a testa, levando-a em direção ao meu cabelo bagunçado.
Levanto-me, pegando o calção bege que está jogado no chão e pondo-o em seguida. Olho no relógio e são 10:45am, vou até a cozinha, abrindo a geladeira e pegando uma garrafa de cerveja. Procuro pelo abridor em uma das gavetas, e assim que o acho, tiro rapidamente a tampa metálica que tem ali, dando um gole na bebida amarga.
— Justin? — a voz fina da menina apossa todo o ambiente onde me encontro. — Bom dia.
Viro-me para olha-la; está vestida com a camisa que eu usara na noite passada, posso ver boa parte de suas pernas magricelas e brancas. Seus cabelos loiros estão bagunçados, mas isso não a torna menos bonita.
— Bom dia. — respondo baixo. Agora, consigo recordar-me de como viemos parar aqui, no entanto, não me recordo de seu nome.
— Que tal sairmos para comer fora? — seus olhos estão tão abertos em minha direção que sinto um pouco de medo de respondê-la.
— Não sei se posso, tenho que ir a um lugar hoje. — não estou olhando para ela, porém sei que ela está me encarando.
— Você não precisa arrumar uma desculpa tão esfarrapada para me dispensar. — eleva um pouco seu tom de voz, e então, eu viro meu corpo para olha-la.
— Não estou arrumando desculpa. Eu tenho realmente um compromisso mais tarde. Acho que é para provar smoking ou algo do tipo.
— Espera ai... Você por acaso não está noivo né? — quase cuspo o liquido que tem em minha boca quando ouço essa frase.
— Não. É para o casamento de um amigo.
Sorri sem jeito. Mas antes que possa dizer algo sobre isso, ouço três batidas seguidas na porta. Caminho até lá sabendo que não é o Ryan, pois ele nunca bate. Assim que eu giro a maçaneta e olho para o lado de fora, meu coração quase sai pela garganta.
Ela está ali parada em minha frente.
Vestida em um vestido rosa claro e com os cabelos soltos pelos seus ombros, ela tem um sorriso sem jeito nos lábios. Esse sorriso eu ainda não tinha visto.
— Bom dia Justin. — sua voz é baixa, porém eu consigo ouvi-la com tanta clareza. — Perdão em chegar assim tão de repente, é que eu preciso de ajuda. — nesse momento, sinto como se só existíssemos nós dois ali.
— Oi. — é a outra garota que diz isso.
— Ah, não sabia que você estava com uma garota. Eu ligo para o Cole, desculpe.
— Não, não tem problema. — atropelo as palavras. — Já volto. — digo olhando para a loira.
Empurro com cuidado o corpo de Selena para longe da porta e fecho-a atrás de nós. Caminhamos lado a lado até o seu apartamento, o 6C, e assim que ela fecha a porta, diz da maneira mais dócil possível.
— Você não se sente culpado em iludir essas garotas?
— O que quer dizer?
— Você sabe. — pausa, abrindo as cortinas brancas. — Elas sempre esperam pela sua ligação no dia seguinte, mas nunca a recebem.
— Isso faz alguma diferença?
— Faz toda a diferença Justin. Você está iludindo as garotas. Aposto que não sabe o nome daquela linda garota que está no seu apartamento.
— Sou péssimo com nomes.
— Não engane a si mesmo Justin. — está séria agora. Não consigo perceber nenhuma expressão em seu rosto claro. — De qualquer maneira, não te chamei aqui pra isso. Você poderia dar uma olhada no meu chuveiro? A água está gelada.
Vou até o banheiro, ouvindo seus passos atrás de mim. Olho para o chuveiro e o ligo, sentindo a temperatura da água com a parte exterior da minha mão. Procuro pelo botão de temperaturas, mudando-o de verão para inverno.
— Prontinho.
— Qual era o problema?
— Só estava na temperatura de verão.
— Obrigada Justin. — aceno com a cabeça, voltando para o meu apartamento.
Quando entro novamente em casa, espero encontrar a garota sentada no sofá, porém ela não está mais ali. Tem um bilhete ao lado do telefone, e nele tem um número e um nome escritos. Karlie é o nome dela.
Duas horas e meia depois.
— Justin, qual é o seu problema? — Ryan pergunta tampo um tapa de leve em minha cabeça.
— O que foi? — acaricio o local onde levei o tapa.
— Estou a horas falando com você e nada. Por que está tão longe assim?
— Fui até o apartamento de Selena hoje.
— O que? — sua fala sai exaltada, fazendo com que Cole nos olhe rapidamente. — Você diz isso com essa naturalidade toda?
— Quer que eu diga como? — indago. — Pausadamente? Chorando? Rindo? Tremendo? Só fui ajuda-la a por na água quente.
— Tenho vontade de meter um soco na sua cara.
— Não é o fim do mundo. Como já disse, ela precisava de ajuda para por a água quente e eu a ajudei. — repito o que acabei de dizer.
— Justin, Justin, você está dando muito na cara. Uma hora ou outra alguém vai perceber.
— Ryan eu já lhe disse. — faço uma curta pausa, passando a língua nos lábios rapidamente. — Até lá eu já terei conquistado a garota.
Anui, não proferindo qualquer outra palavra sobre isso. No entanto, Cole aparece com um terno branco, olhando-nos como se pedisse piedade. Seguro o riso o máximo que consigo, porém nunca fui bom nisso.
— Você está horrível. — comento.
— Estou mesmo. — concorda. — Será que se eu levar um smoking preto igual ao de vocês irão brigar comigo?
— A pessoa que tem de estar de branco na cerimonia é a noiva. Você é a noiva? — mexe sua cabeça em um gesto negativo. — Então sua pergunta está respondida.
— Ryan? — volta-se para o loiro que o encara sem expressão alguma.
— Não tenho uma opinião formada sobre isso, mas esse terno é horrível mesmo.
— Está decidido. — levanta uma das mãos e então o vendedor vem em nossa direção. — Levaremos os três smokings pretos.
O vendedor que aparenta ter quase seus quarenta anos sorri, concordando de leve com a cabeça. Pega os três cabides e os leva para dentro novamente, nos deixando sozinhos ali. Porém isso não dura muito tempo, já que alguns minutos depois, a sineta da loja toca e a garota de olhos estrelados aparece sorrindo, com duas sacolas pretas em mãos.
— Oi querida. — Cole a cumprimenta, dando um selinho deveras demorado em seus lábios.
Reviro os olhos, e o homem ao meu lado me da um soco de leve no braço. Olho-o, revirando os olhos novamente e fazendo uma feição de nojo.
— Oi garotos. — sorrimos.
Agora, posso ver melhor o seu rosto, já que ela esta com os cabelos presos em duas tranças, uma de cada lado de seus ombros. Suas bochechas parecem maiores e mais rosadas; seus cílios estão banhados por uma mascara preta e seus lábios estão cor-de-rosa. Usa um short azul marinho, uma regata branca e uma blusa fina por cima. Não posso deixar de gravar cada detalhe da garota em minha mente.
O vendedor volta com nossas roupas. Caminhamos atrás dele até o caixa, e cada um, paga o aluguel de sua roupa de gala. Assim que Ryan pega sua nota, nós caminhamos um ao lado do outro em direção a porta, com o casal apaixonado atrás de nós. Quando estamos prestes a virar para o lado aposto do deles, ouço a garota chamar-me com a voz mais doce que eu já ouvira.
— Ei, Justin, obrigada novamente por ter me ajudado hoje mais cedo. — viro meu rosto para olha-la, sorrio.
— Sem problemas. Quando precisar, é só chamar.
Sorrindo de volta, ela pisca calmamente três vezes seguida antes de entrelaçar seus dedos os de Cole e começar a caminhar ao lado dele. Olho para Ryan e simulo uma ânsia de vomito, ouvindo-o dar uma gargalhada pouco alta ao meu lado.
— Você é impossível Bieber. — concordo, rindo. — Que tal jogarmos vídeo game hoje?
— Não posso, tenho um compromisso.
— Não diga que vai ficar em casa planejando um jeito de conquistar a Selena? — quando termina de dizer, começa a rir exageradamente alto, e então eu o soco.
— Eu não tinha pensado nisso, mas você acabou de me dar uma ideia. — rio da cara que ele faz. — Vou sair com uma garota.
— Que garota?
— Karlie.
— A garota da noite passada? — gesticulo que sim. — O que aconteceu com você pra estar saindo com uma garota repetida?
— Eu gostei dela. Ela me chamou pra almoçar, mas eu tinha essa porcaria de prova.
— Onde pretende leva-la?
— Ryan, eu não sei. A qualquer lugar. Isso importa?
— Não sei, talvez importe.
— Vou leva-la para comer algo. Até mais. — despeço-me, virando a esquina e seguindo para casa.
Assim que chego em casa coloco o smoking em cima do sofá, indo rapidamente para o banheiro tomar banho. Não levo muito tempo nisso, e quando saio, ouço a campainha tocar duas vezes seguidas.
— Oi de novo. — fala baixo enquanto dou espaço para que ela entre
Karlie parece estar mais bonita agora. Usa uma calça pouco larga nas pernas e rasgadas, uma curta blusa e tem uma camisa xadrez presa na cintura. Suas bochechas estão rosadas e seus lábios banhados por um batom cor da pele.
— Só vou por uma roupa. — assente, sentando-se no sofá.
Visto uma bermuda e uma camiseta, colocando um tênis e passando um pouco de gel no cabelo. Assim que volto para a sala, vejo a garota mexer no seu telefone cinza.
— Pronto.
Nós saímos do apartamento em silencio, um ao lado do outro, a poucos centímetros de encostarmos os braços. Karlie tem um sorriso singelo no rosto, e em minha cabeça se passa a imagem de outra garota.
— Obrigada por me chamar.
— Não foi nenhum incomodo.
— Você sempre leva as garotas com quem dorme para sair? — pergunta.
— Não. — pauso. — Você foi uma exceção. — olho-a e seu rosto está iluminado por um sorrio. Consigo ver seus dentes brancos e brilhantes.
— Está falando sério?
— Estou.
A loura chega um pouco mais perto e então sinto os pelos finos de seus braços roçarem nos meus. Sua mão pequena desliza de encontro a minha e quando ela enlaça seus dedos nos meus, eu não nego. Seguro sua mão com força, ouvindo-a suspirar em meu lado.
— É aqui que vamos parar. — aviso quando avisto o meu restaurando favorito.
Nos sentamos em uma mesa no canto, perto da grande janela. Estamos um de frente para o outro. Encaro seu rosto liso, e permito-me compara-la com Selena. Encara-me séria, como se tentasse descobrir no que estou pensando.
E então, do nada, ela solta a pergunta:
— Você gosta daquela garota morena não é? — demoro alguns minutos para digerir o que acabara de ouvir.
— Como?
— Você gosta daquela garota morena de hoje mais cedo, não gosta? — ela parece não estar incomodada com a resposta que eu possa dar para a pergunta, mas eu estou. — Eu não vou ir correndo lá contar para ela, pode ser sincero comigo.
— Não sei se gostar é o termo correto a ser usado.
— Qual é o termo certo a ser usado então?
— Perdidamente apaixonado. — ela ri.
— Diga a ela.
— Eu não posso, mas se pudesse, já teria dito.
— E por que não?
— Ela está noiva do meu melhor amigo. — sua boca se abre duas vezes, mas nenhum som é emitido.
— Não sei o que falar.
— Você já gostou tanto de alguém a ponto de abrir mão de tudo por essa pessoa? Até mesmo abrir mão dela?
— Ah, já sim. Eu tive um namorado no colégio, nós ficamos juntos por todo o ensino médio. E então, ele entrou para uma universidade no outro lado do país, justamente a que ele queria entrar. — faz uma pausa, tomando um gole da agua que o garçom acabara de entregar. — Ele não queria ir para a universidade porque eu não poderia ir junto.
— E o que você fez?
— Terminei com ele um dia antes do voo dele para lá.
— Cruel.
— Talvez sim, mas pense comigo: seria certo ele abrir mão do sonho dele por minha causa? Eu acho que não.
— Não sei se teria coragem de fazer isso.
— Você já está fazendo Justin. — fico em silencio, esperando ela terminar. — Você está abrindo mão da garota que você gosta para fazer alguém feliz.
— Karlie, Selena sequer sabe que eu gosto dela. E como poderia, ela só tem olhos para o Cole.
— Selena não precisa saber. Você sabe Justin, e com isso, está abrindo mão dela.
— Eu ainda vou conquista-la.
— Se você não dissesse isso eu iria embora agora mesmo.
[...]
Desligo o motor do carro assim que paro em frente à casa branca. Karlie desse, mas antes de entrar, da à volta e vem até a janela do lado do motorista.
— Justin. — sua voz é baixa e calma; quando eu viro meu rosto, sinto suas mãos pousarem em minhas bochechas, e delicadamente, ela encosta seus lábios nos meus.
— Karlie. — repito o que ela fez a pouco, sentindo-a sorrir.
— Lute pela garota. — fala um pouco alto por conta da distancia.
Volto a ligar o motor e arranco, dirigindo calmamente até chegar em casa. Assim que paro em frente à porta do meu apartamento, giro meu corpo e olho para a porta vermelha em frente a minha.
— Vou lutar sim.
“E foi nesse dia que eu prometi, que nunca cantaria sobre amor se ele não existisse.
Bem, você é a única exceção”.
— The Only Exception.
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