História Pretty Woman - É mais especial do que eu queria que fosse

Mergulho os pés na água morna da bacia a minha frente, sentindo a moça de jaleco cutucar minhas cutículas. Relaxo assim que sinto o calor da água em contato com minha pele e encosto a coluna na cadeira almofadada. Colo pagou o salão para que eu estivesse incrivelmente linda para o aniversário de um de seus melhores amigos e padrinho no dia de amanhã.

Estou com tanta coisa na cabeça que quase esqueço que não posso chegar sem um presente lá. Então, depois do salão, pedi para que Justin fosse comigo procurar algo para Ryan. Ashley ainda está estranha e encucada sobre o que eu disse a ela sobre o Justin estar apaixonado. Tenho medo que ela toque no assunto e ele pense que sou uma fofoqueira de marca maior. Sei que fiz errado em contar a ela sobre isso, mas eu não poderia deixar ela pensando que ele tem algo com a outra loira sabendo que não é por ela que está apaixonado.

Tento pensar em uma garota ideal para ele, mas tudo o que se passa em minha cabeça é que, talvez, todas as garotas sejam ideais para ele. Se tivesse que escolher entre uma garota loira e uma morena, tenho plena certeza que escolheria ficar com as duas, e não apenas com uma, e isso faz eu ter medo de que Ashley crie alguma expectativa sobre Justin, e acabe se magoando.

— Vamos ao shopping? — olha-me pelo espelho.

— Não posso hoje.

— Por que? — volta a olhar em meus olhos e bufa. — Desde que ficou noiva nós nunca mais saímos juntas para fazer coisas de garotas, como ir ao shopping, assistir romances. Só saímos para ver coisas sobre vestido de noiva.

— Estamos juntas aqui, num salão, coisa que meninas fazem. Não está bom? — falo calmamente vendo-a revirar os olhos.

— Só estamos aqui porque amanhã é o aniversário do Ryan — não sei aonde quer chegar. — Como eu dizia, só saímos juntas depois que ficou noiva para fazer alguma coisa para alguma festa. Quando não é algum jantar chato da família do Cole, é alguma coisa dos amigos deles.

— Os jantares da família dele são para nos conhecermos melhor, Ash, você melhor do que ninguém sabe disso.

— Se eles querem te conhecer melhor que marquem um almoço entre vocês, o que as madrinhas e padrinhos tem a ver com isso? — não respondo sua pergunta, o que dá a ela espaço para continuar. — Sem contar que eles já conhecem Ryan e Justin a vários anos.

— Você não tem a obrigação de ir a estes jantares. — sou um pouco rude.

— Eu sei que não, mas você me obriga de qualquer jeito. — Ashley definitivamente cospe isso na minha cara. — Sempre me liga dizendo que vai se sentir mal lá sem alguém te conheça a bastante tempo.

— Nunca foi minha intenção obriga-la a fazer nada — ouço sua risada sarcástica. — Falo sério Ash, era só dizer que não queria ir.

— E eu dizia Selena — pausa, respirando fundo. — Mas como toda boa melhor amiga, eu ia lá para te apoiar e não te deixar desamparada, apesar de você nunca ficar perto de mim.

— Por que mesmo estamos discutindo isso?

— Porque eu quero passar um tempo com a minha melhor amiga — seu tom de voz sai um pouco alto e ela parece chateada com alguma coisa. — Sinto falta da maneira como éramos grudadas, agora você só quer saber sobre o Cole. Só sai com o Cole. Parece que seu mundo gira em torno dele.

— Ashley eu vou me casar, esperava que eu fizesse o que? — não obtenho resposta e sei que isso só vai se estender um pouco mais, porém quero resolver a situação. — Que eu aceitasse me casar e só visse ele no dia do casamento?

— Esperava que você não fosse como as outras pessoas que só porque estão se casando abandonam as amigas, e só voltam a lembrar da existência delas quando as coisas estão ruins ou quando precisam de alguém para ir a jantares chatos e cansativos. — meu coração fica apertado ao ouvi-la dizer aquilo. Eu nunca imaginei que ela se sentisse dessa maneira, como se eu a tivesse abandonado.

— Eu não me tornei uma pessoa que esquece as amigas — protesto e ela volta a dar risada.

— Imagina.

— Nós estamos aqui hoje. E não estamos juntas por causa de um jantar. — tento, de alguma maneira, melhorar o clima.

— Estamos aqui hoje porque temos o aniversário de um dos melhores amigos do seu noivo — ela é sarcástica ao dizer isso. — Olhe só, mais uma coisa sobre o Cole e nenhuma sobre nós. Dois a zero pra ele.

— Se está com ciúmes, é só dizer. Não tem a necessidade de ficar me atacando dessa forma.

— Não estou com ciúmes, merda — vira a cadeira e agora me olha direto nos olhos. — Você escutou alguma coisa do que eu disse? — permaneço em silêncio pois não sei o que ela quer dizer. — Tudo o que nós fazemos agora é para agradar o Cole, será que me entende? Todas as vezes que saímos juntas desde que você ficou noiva, foi para fazer alguma coisa sobre o Cole, nunca sobre nós duas. Se nós vamos a uma floricultura; é para comprar flores para o apartamento do Cole. Se vamos no salão; ou é para ir a um jantar da família dele, ou para ir a alguma coisa que envolva os amigos dele. Estou cansada de fazer minha vida girar em torno dele, isso não tem nada a ver comigo. Os jantares, as festas e toda essa baboseira. Isso tem a ver com você.

Suas palavras realmente me atingem em cheio, e elas machucam. Não sei se essa foi a intenção dela, ou se foi sem querer, mas a única coisa que consigo sentir agora é o peso das coisas que ela disse. E estou tão estagnada porque sei que parte do que ela disse é verdade, sei que ela está chateada e entendo isso, mas não acho justo ela jogar em cima de mim todas essas coisas.

— Isso não é justo — ela concorda. — Se você está chateada com algo, eu entendo, mas fazer com que parece ser culpa minha, não é legal. Não é justo falar isso pra mim, como se não fosse me chatear ou magoar.

— E é justo eu ter que minha vida girar em torno de alguém que mal sabe meu sobrenome só para te agradar — seu sorriso é amarelo e sei que se tentar resolver isso, só irei piorar. — Tudo bem Selena — diz se levantando e pegando a bolsa em cima da bancada. — Não vou mais te chatear com os meus problemas, não é justo né.

Não digo uma palavra sequer para tentar faze-la ficar quando ela encaminha seu corpo esbelto até a porta de vidro do salão onde estamos. Apenas sigo seus movimentos com a cabeça e quando some das minhas vistas, volto a concentrar-me no que a pedicure está fazendo.

Volto a pensar no que Ashley falou e mesmo sabendo bem no fundo que é verdade o que disse, ainda assim tento não me sentir culpada por tudo. Afinal, ela sabia que seria assim quando a chamei para ser madrinha. Ashley sempre fora a pessoa que eu contava para tudo, e foi exatamente por isso que a chamei.

Sempre me senti segura em questão de Ashley porque sabia que se eu precisasse, ela certamente estaria lá para me ajudar, em qualquer situação. E se me lembro, eu disse isso a ela diversas vezes enquanto conversávamos sobre casamento. Eu sempre disse que ela seria a primeira pessoa que eu iria chamar para ser minha madrinha porque sabia que ela nunca iria me deixar na mão, e saber que isso a incomoda, faz eu pensar que talvez eu tenha a colocado em uma posição que exija muito de alguém.

— Moça — é a primeira vez que a mulher fala. — Não fique brava, ou se sinta culpada. Sua amiga só está frustrada por não poder passar um tempo com a melhor amiga.

— Eu realmente não entendo.

— Sei que não, mas tente ver o lado dela. A melhor amiga está se casando, e faz um tempo que vocês não saem juntas para um programa de garotas, pelo o que ela disse. Está sentindo a sua falta. É como se ela a estivesse perdendo.

— Ashley sempre vai ser a pessoa mais importante pra mim depois dos meus pais. Nada nunca vai mudar isso — da risada da minha fala, mas eu não fico com raiva.

— Sem querer ser rude, mas alguma coisa já mudou isso, ou melhor, alguém. — me dou conta que ela tem razão. — Por isso ela está desse jeito, porque está sentindo como se alguém a estivesse empurrando da sua vida, entende?

— Como se alguém estivesse roubando o espaço dela. — assente, sorrindo abertamente. — Já passou por isso com alguma amiga? — ela volta a dar risada, dessa vez concordando.

— Eu fui a que perdeu espaço de pessoa mais importante depois dos pais — sinto que arregalei levemente os olhos. Quero que ela conte o resto da história então fico olhando-a. — Minha melhor amiga ficou noiva em uma viajem que fez com o namorado para fora, e quando voltou, a única coisa sobre a qual ela falava era o casamento. Fez amizade com as namoradas dos amigos do noivo, chamou elas para serem damas e madrinhas, apesar de eu ter sido a primeira, eu sabia que não era mais assim pra ela, mas ainda continuava tentando. Só que um dia eu cansei de ser tida sempre como segunda opção, sabe? Ela só tinha tempo para sair com as novas amigas, e quando elas não podiam, ela lembrava de mim. Nós brigamos e ela me baniu do casamento e da vida dela.

— Vocês voltaram a se falar? — tenho medo da resposta, mas mesmo assim quero saber.

— Nós nos falamos as vezes, sim. Mas não é mais como antes, compreende? — gesticulo que sim. — Ela ainda diz que eu sou a melhor amiga dela, mas eu sei que faz isso para tentar fazer eu me sentir melhor. Sinto falta da nossa amizade, mas nossas vidas são completamente distintas agora. Saímos algumas vezes, mas é como se fossemos estranhas, ela não sabe mais nada sobre mim e eu não sei mais nada sobre ela.

— Não quero que isso aconteça comigo. Ashley sempre esteve lá para me apoiar, até mesmo quando eu aceitei me casar. Ela foi a única que disse para eu seguir meu coração.

— Aconselho que faça as pazes com ela, então. Chame-a para ir ao shopping, para almoçar ou apenas para fazer uma caminhada pela cidade.

— Vou fazer isso. Obrigada pela conversa.

Coloco os chinelos e vou até o caixa, dando o cartão de crédito para a mulher que está ali. Ela sorri abertamente quando me olha e eu devolvo o sorriso para ela. Assim que saio, pego o telefone na bolsa e procuro o número de Justin na agenda. Aperto para chamar e na primeira tentativa, ele não atende. Espero algum tempo enquanto estou andando e tento a segunda, toca algumas vezes e quando penso que ele não vai atender novamente, a voz de alguém aparece como um sussurro no outro lado da linha.

— Alo — não sei se é o volume ou a pessoa que está falando baixo. — Tem alguém aí? — consigo identificar uma voz feminina, parece ter acabado de acordar.

— Posso falar com o Justin, por gentileza. — peço. Não obtenho resposta de imediato.

— Quem deseja?

— É a Selena. — ouço-a repetir o que acabei de falar e o telefone volta a ficar em silencio.

— Oi Selena.

— Justin, oi, desculpe se te acordei, é que você disse que iria comigo comprar o presente de Ryan — ouço o som de algo parecido com um tapa.

— Puta merda! Tinha me esquecido. Pode me esperar no seu apartamento, daqui a uns quarenta minutos eu vou lá te chamar.

— Não precisa ir se estiver ocupado, não quero incomoda-lo.

— O que? Não. Eu falei que iria, não falei? — espera pela minha resposta.

— Sim... Mas não precisa ir se...

— Então eu vou. Pode me esperar?

— Claro! — exclamo. — Não precisa se apressar Justin.

— Só preciso tomar um banho e trocar de roupa — fala pausadamente, como se ainda estivesse sonolento. Ouço risadas do outro lado. — E ir para casa, claro. Tudo bem, já estou indo.

— Ok!

A chamada é finalizada por ele. Sinto-me estupida demais agora, é claro que ele não se lembraria e é claro que não passaria a noite em casa, já que estava com Karlie. A garota que atendeu o telefone era ela, isso estava tão obvio que sequer passou pela minha cabeça. Ando até em casa, mas antes disso paro em um café ali por perto e compro dois bolinhos para eu comer quando chegar, já que estou morrendo de fome.

Assim que entro no apartamento espio pelo olho mágico para ver se não tem sinal de vida no apartamento da frente, o que faz eu me sentir uma louca porque eu não deveria estar preocupada com isso. Se ele disse que viria, é claro que vai estar aqui, mas de qualquer modo fico preocupada pois não sei o que comprar para Ryan caso tenha que ir sozinha. Sequer sei o tamanho de camiseta que ele veste, eu o estilo de roupas que ele gosta. Ou qualquer coisa sobre ele que me dê uma ideia do que comprar.

Depois de quarenta minutos a campainha toca e quando olho pelo olho magico, Justin está parado em frente à minha porta com o cabelo todo molhado. Ouvi-o chegando em casa, ele realmente bate à porta muito forte, mas preferi não ir lá pentelhar. Abro a porta sorrindo e quando levanta seu olhar, também sorri.

— Desculpe faze-la esperar. — começa. — E desculpe ter esquecido.

— Você não precisa se explicar, eu que peço desculpa por tê-lo infernizado. Não sabia que estava com ela.

— Quem? — parece confuso.

— Karlie. Não sabia que estava com Karlie, se soubesse teria ido sozinha, o que provavelmente seria um desastre de proporções épicas, mas iria tentar.

— Eu disse que iria com você, geralmente cumpro o que digo — repete o que disse ao telefone. — E não estávamos fazendo nada muito importante. — olho de canto para ele.

Pego a bolsa e fecho a porta depois que saímos. Ele está ao meu lado enquanto descemos as escadas do prédio. Não falamos nada durante esse percurso, e isso me incomoda um pouco. Não quero passar todo o tempo com ele como dessa maneira, é chato e torturante. Procuro em minha mente sobre algum assunto para falar, mas não encontro nada.

— Esqueci de me desculpar com Karlie pela noite passada — digo por fim, vendo-o virar o rosto para me olhar. — Não foi a intenção dele deixa-la sem jeito.

— Você não tem que se desculpar, quem disse merda foi ele, não você. — retruca.

— Eu sei, mas do mesmo jeito, sei que ela ficou um pouco chateada.

— Como eu disse, isso não é culpa sua — sua expressão ainda está suave. — Ou de qualquer outra pessoa, Cole fala muito sem pensar as vezes, não foi a primeira vez e não será a última.

Anuo. E voltamos à estaca zero na conversa. Nunca parei para pensar sobre o que Justin gosta de falar, para ser sincera isso nunca me pareceu necessário, o que de certa forma me encurrala já que estou tão preocupada em agradar a Ryan com um presente de seu gosto que esqueci de pesquisar algo para conversar com seu melhor amigo enquanto vamos à procura do presente.

Ele está vestido como um adolescente, apesar de eu saber que já passou dessa fase. E lembro-me de Cole ter dito que ele tem uma banda com alguns meninos que eu não conheci. Damos passos não tão rápidos enquanto ainda tento descobrir sobre o que conversar. Definitivamente não quero passar esse tempo todo sem falar sobre nada.

— Você está apaixonado pela Karlie? — só me dou conta da merda que fiz quando ele para de repente e me encara. — Não acredito que fiz isso. — coloco as mãos no rosto na tentativa de não olha-lo nos olhos.

— De onde tirou que estou apaixonado pela Karlie — isso não sai bem como uma pergunta, e fico receosa em responder.

— Eu não sei. Estou envergonhada, isso não é da minha conta — penso alto fazendo-o rir. — Só passou pela minha cabeça.

— Pode dizer a verdade agora.

— Não sei se consigo. Mas iria me sentir horrível se não dissesse.

— Selena, eu estou bem aqui ouvindo tudo o que está falando. — brinca com a situação.

— Ashley acha que você está apaixonado pela Karlie então eu disse a ela que não estava, mas ela me perguntou como eu sabia e eu disse que você me contou que estava apaixonado por uma garota, mas ela queria que eu provasse e eu estou falando igual a uma louca — sua risada é tão alta que tenho vontade de rir também. — Pare de rir de mim.

— Por que Ashley se importaria de eu estar apaixonado por Karlie? — a pergunta não é nem um pouco parecida com o que eu esperava. — Selena?

— Eu acho que ela possa estar gostando de você. — sua cara não é boa quando digo isso. — Você está com ela, não é? Não deveria ter dito nada a Ashley, ou a você.

— Não, eu não estou com a Karlie, nós somos amigos — começa, mas sei que ele vai dizer alguma coisa mais. — E não é por ela que estou apaixonado, nem de longe.

— Isso não era da minha conta, eu estou me sentindo uma intrusa — volto a pensar alto enquanto caminhamos e ele dá risada.

— Não se sinta. Só queria ter certeza para falar para sua amiga loira que estou disponível.

— Está querendo que eu diga algo a Ashley? — da de ombros.

— Não sei, quem sabe. A fofoqueira é você. — sinto o humor na sua fala.

— Não faça eu me sentir mal por repassar essa informação a ela.

Estamos andando lado a lado olhando a vitrine de algumas lojas, já passamos em várias, porém Justin não gostou de nada do que eu achei que ficaria bem em Ryan, o que me deixa triste por não saber nada sobre os melhores amigos do meu noivo. Enquanto estamos saindo de outra loja, uma coisa vem a minha mente sobre o que Justin disse. Me pergunto por quem ele está apaixonado, mas não me sinto à vontade para perguntar isso diretamente a ele. Então tento imaginar como ela é.

— Justin — chamo sua atenção.

— Diga.

— Como é a garota por quem está apaixonado? — ele sorri involuntariamente olhando para frente.

— Ela é incrivelmente doce e carinhosa. — vejo a maneira sonhadora como ele diz isso e penso no quão sortuda essa garota deve ser.

— Ela deve ser muito especial pra você ter se apaixonado por ela. — sorri, e então responde.

— É mais especial do que eu queria que fosse.

“Todo mundo se move na batida do seu coração. Dançando através do infinito, pelas estrelas.
Não há volta, porque aqui chegamos. O futuro soa como nós”. — Future Sounds Like Us.