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História Primavera de Rulim - Elise me paga!


Escrita por: yuriPsouza

Capítulo 12 - Elise me paga!


— VIRA, VIRA, VIRA, VIRA!!!

Virei!

 

— CARA, você tá muito bêbado! — Berraram para mim, não sei quem.

— Eu To! — Respondi de imediato enquanto o mundo balançava acompanhando as pancadas das caixas de som.

 

Sorrisos. Eu me lembro disso, sorri muito. Todo o tempo eu estava com um sorriso no rosto. Eu e todos.

Me lembro até de Elise, eu dancei com ela, acho.

 

— TEQUILA! — Alguém berrou. Me levantei e fui até a voz como se minha vida dependesse daquilo.

O que eu estou fazendo? Era algo que passava constantemente pela minha cabeça depois de beber alguma coisa. Não importa, agora já bebi mesmo! Era a resposta que dava a mim mesmo, mas sabia que não era uma resposta boa o bastante.

Queria entendo o porquê estava enchendo a cara, mas a verdade é que no fundo eu só queria beber mesmo. É como diz a frase: Beber para esquecer. Queria muito esquecer. Esquecer os últimos dias.

Esquecer aquilo tudo!

Mas não quero esquecer David.

 

Quando me dei conta estava na rua, do outro lado da calçada, olhando o asfalto coberto de vômito enquanto meu estômago dava nós e queimava e meus olhos lutavam em um esforço cruel para se manterem abertos, as pernas batalham para não cederem ao próprio peso de tão bambas que estão. Minha audição parece uma droga, não escuto mais nada lá da festa.

— Lucas, você tá ai. — David que me encontrou, contornando um carro. Acho que fiquei uns trinta minutos sentado com a cabeça entre as pernas tentando me recompor, para alguém sentir minha falta!

Fala sério, quem sentiria minha falta? Patético! É isso que sou.

— Dav. — Usei o apelido que tinha escutado Kyle chamar ele, por que? Eu tinha essa intimidade? Duvido, mas não me importo. — Beijou a Bianca?

Perguntei fazendo um carão para ele, mas senti o estômago embrulhando e tive que abaixar a cabeça de novo, felizmente não vomitei outra vez.

— É, vem.

— Pra onde, Dav? — Ele agarrou meu braço e tentou me puxar, mas eu não quis levantar (ou não conseguia?).

— Se a gente continuar nesse fedor de vômito quem vai vomitar sou eu! — Ele respondeu, parecia sóbrio... eu acho. Ao menos estava menos bêbado que eu.

— Tá, mas eu acho que a festa caiu de qualidade. Olha, não tem nem som alto mais!

— Isso porque já são quase cinco da manhã. — David respondeu me puxando pela mão e forçando-me a andar. — Consegue andar?

— Pra onde a gente... — Solucei dando os primeiros passos. — Vai!

— Isso foi uma pergunta? — Ele perguntou agarrando meu braço na altura da axila e me mantendo em pé quando comecei a ceder, mas me aproveitei e me segurei nele também, deixando que David carregasse meu peso.

— A festa é pra lá! — Apontei tentando virar, mas David era mais forte (ao menos mais forte que eu bêbado) e me virou para frente de novo. — A festa, Dav, a gente tem que ir na festa porquê...

— Lucas, a festa acabou! — Ele disse rindo enquanto andávamos.

— Você vai vender meus órgãos? — Parei de andar subitamente quando vi um carro, aparentemente, o qual nos dirigíamos para, abrir a porta conforme nos aproximávamos.

— Só os que a cirrose não tiver destruído. — Ele brincou enquanto me soltava aos poucos. — É a minha mãe, ela vai te levar pra casa, só fala onde...

— Não. David, não. — Implorei me virando para ele e me segurando nos ombros de David enquanto abaixava e levantava a cabeça tentando manter o foco no rosto dele, mas minha cabeça parecia pesa toneladas. — Eu não posso ir pra casa porque eu não quero brigar com minha mãe e eu não contei onde era a festa porque não queria que ela não deixasse eu ir porque queria ficar com você... — Soltei ele e arregalei os olhos dando um passo para trás, as mãos procuraram apoio e eu me segurei no porta-malas do carro. Tinha acabado de falar mais do que devia. — Ficar... perto de você, tipo, não ficar...

— Relaxa, você vai lá pra casa então, dorme lá, de manhã vai pra sua casa. Pode ser? — Ele ofereceu.

Que merda eu fiz? Pensei enquanto balançava a cabeça e entrava no carro a contragosto, mas sem realmente ter outra escolha viável a não ser perambular por ai.

— Estão bem? — A senhorita McReid perguntou enquanto eu deslizava no banco do Scalade para o outro lado, vi David fechando a porta em seguida e indo para o banco da frente, me deixando sozinho ali no fundo. Fiz que sim com a cabeça.

Assim que ele entrou os dois começaram a conversar. Falem em português. Português!

Ouvi David falar alguma coisa sobre não ter feito nada de errado, e a mãe dele falando que ficava feliz com isso. Não sabia se estava ouvindo certo, mas juro ter ouvido ela falar “Não vá repetir as coisas que fez em Groove”. E David repreendeu-a por isso. Em seguida eu devo ter apagado.

 

— Lucas. Lucas, levanta! Vem, vamos subir.

— Quê? — Acordei deitado no banco do Scalade na garagem da casa de David. — David, eu... cara, desculpa. — Disse levando a mão à cabeça, sentindo-a latejar.

— Tá mais sóbrio?

— Pelas dores que estou sentindo acho que sim! — Respondi enquanto descia do carro. — Eu fiz muita merda?

— Menos que eu, acho. Vem, vamos pro quarto.

Ele se virou e saiu. Olhei pelo topo do portão da garagem, dava para ver o céu roseado do amanhecer. A igreja! Primeiro senti uma amarga culpa, mas a noite tinha sido tão boa. Foda-se! Resumi meu sentimento sobre ver o Padre Silviano.

David me esperava na porta da casa.

— Eu durmo no sofá... — Disse para ele, não queria ser incomodo.

— Já inflei o colchão de ar. — Porém parecia que eles tiveram certo tempo.

— Mas a gente acabou...

— Chegamos meia hora atrás. — David me alertou, com um sorrisinho enquanto entravamos na casa. — Fala baixo, todo mundo tá dormindo... menos minha mãe. — Victoria estava ali na cozinha preparando café, senti o cheiro de presunto e queijo na chapa, deu fome no mesmo instante, mas não mais do que tinha sede.

— Dav, traz ele aqui, os dois. Tomem. — Ela tinha deixado dois engoves em cima da ilha da cozinha com dois copos de água.

— Mãe, eu não bebi. — David afirmou enquanto eu nem discuti, só peguei o engove e tomei com um dos copos. Victoria McReid olhou para o filho com aquele olhar de mãe que conhece a cria que tem. — Está bem.

David pegou o engove dele e tomou também.

— Vão dormir, eu acordo vocês daqui a pouco para o almoço.

— Eu... Senhora McReid, desculpa pelo trabalho... E, sério, eu to muito envergonhado. Desculpa. — Disse balançando a cabeça.

— Imagina, filho. Todo mundo aqui já virou a noite em festas. — Victoria sorriu para mim e apontou para o Hall. — Pro quarto. Dormindo! Já avisei sua mãe que você está aqui e está bem, ela está de acordo.

Eu começava a me virar junto de David, mas empaquei.

— Como? — Olhei para ela confuso.

— Eu... — David enfiou a mão no próprio bolso e de lá tirou meu celular. — Peguei de você durante a festa, vem.

Apalpei meus bolsos e só então notei a ausência do meu celular, que tomei da mão de David fazendo que não enquanto ele mantinha aquele sorrisinho de canto.

Fomos para a escada deixando Victoria fazendo o café da manhã. Ela não dorme não? Questionei.

David pediu silêncio com o dedo, afinal, todos dormiam, mas quando chegamos na porta do quarto dele, Mariah saiu do banheiro.

— Morning! — Ela sorriu para nós dois enquanto ia para... o quarto de Miles?

Eu não sou nenhum mestre no assunto, mas eles não são muito novos para isso?

— Bom dia. — David respondeu para ela, em português.

Quantos anos tem Miles? Me perguntei abismado em Victoria permitir isso.

Em seguida reparei que sequer me importei com o fato de Mariah ter um corpo fenomenal e estar usando um short extremamente curto e um cropped extremamente bonito para dormir. Claro, como se eles fossem dormir

Entramos no quarto, e um colchão inflável azul estava ao lado da cama de David com um lençol, uma manta e um travesseiro em cima.

— Eu vou no banheiro me limpar um pouco. — Disse para ele pegando minhas roupas, as que a mãe de David tinha dobrado e deixado na cadeira ao lado.

— Tudo bem. — David concordou enquanto soltava o colete e esticava os braços, ouvi os estalos.

O banheiro era espaçoso e todo branco, meus olhos chegavam a arder com tanto que a claridade refletia nos azulejos e pisos. Tirei as roupas de David, sentia fedor nelas, cheiro de maconha e de álcool. O que eu fiz hoje? Embora me lembrasse da maior parte dos eventos, estes estavam fora de ordem, embaralhados, talvez não tivessem sequer acontecido, não podia confiar na própria memória. É vergonhoso isso.

Enxaguei o rosto e lavei os braços até os cotovelos na pia. Aproveitei a pasta de dente e escovei os meus com o dedo (quem nunca fez isso?) E quando terminei olhei meu reflexo no espelho. Era a sombra de Lucas que eu via. Um garoto de 1,77 de altura, mas corcunda apoiando-me na pia parecia não passar de 1,68. Tinha bons 71 ou 72 quilos, isso não tinha mudado, mas meu rosto estava exausto, olhos para baixo, bochechas avermelhadas, possíveis olheiras... isso me deixava com uma aparência de alguém magro forçado a trabalhar duramente (acho que isso era o resultado de eu ter passado tanto tempo estudando e depois bebendo, me sentia exausto). O cabelo estava bagunçado e mesmo comigo tentando arrumar, a sujeira neste não permitia muita coisa além do básico. Estiquei a pele do rosto algumas vezes antes de finalmente puxar ar para os pulmões (costume de respirar fundo que sempre me ajuda muito) e retornar para o quarto.

Já estava claro lá fora, a janela do quarto, porém estava fechada.

Quando entrei encontrei David já deitado. Presumi que, cansado como eu, ele tivesse acabado dormindo, então só peguei a manta de cima do colchão, me deitei e quando fui me cobrir David virou na cama.

— Lucas, quase dormi. — Ele se pendurava na beirada da cama para olhar até mim, no chão. — Quer conversar?

— Sua mãe falou para a gente dormir, ela vaia acordar a gente daqui a pouco...

— Amanhã... hoje, é domingo. Não tem pressa, a gente pode dormir o dia todo depois.

— Falar o que, David? — Perguntei, exausto, mas tínhamos muito a falar, isso era verdade.

— Sei lá, vem aqui em cima...

— Que? — Perguntei, confuso.

— Ficar pendurado assim vai fazer meu braço ficar dormente. Sobe, é mais fácil de conversar. Quero te contar da festa.

— Não precisa contar, eu estava lá. — Afirmei, mas já deixava a manta de lado.

— Sobe! — Ele então puxou minha manta e jogou do outro lado do quarto, rindo, segurando a própria risada, contendo-se para não fazer barulho demais.

— Acho que você é quem está bêbado. — Respondi enquanto subia na cama de David, e ele se sentava apoiado na cabeceira. — Por que pegou meu celular?

— Pra você não perder ele. Cê tava bem bêbado, ai eu pensei que ia ser melhor... Não mexi, relaxa.

— Mas avisaram minha mãe.

— Minha mãe fez. — Ele garantiu. — Quando chegamos eu fui encher o colchão, ela pegou o celular e ligou, tinha umas chamadas perdidas, aparece o nome e número, mesmo sem desbloquear. Aí ela ligou pra sua mãe e explicou tudo.

— Esse é o problema.

— Como?

Explicar as coisas para minha mãe, esse é o problema! Pensei olhando para David, que tinha as pernas cruzadas, ele usava um calção largo listrado que vinha até a metade da coxa, mas encostado na cabeceira ele ia deslizando lentamente para cima e sua coxa inteira estava visível, presumi que não existia cueca embaixo do calção, e tais pensamentos só me fizeram perder o foco. O que estou pensando?

— Minha mãe queria que eu voltasse ainda ontem, eles devem estar indo pra igreja agora, e eu devia também.

— Você gosta de ir nessa igreja? — David perguntou virando a cabeça de lado, não sei onde eu tinha lido que isso indicava curiosidade, então decidi falar.

E pior: Decidi falar a verdade!

— Não. — Acho que só nesse momento que eu realizei que essa era a verdade. Eram só três letras, uma palavra, mas derrubava tanta coisa que eu tinha criado durante anos. Tanta coisa que meu pai tinha me feito crer ser certo, que eu deveria fazer... o que estou fazendo aqui? — Mas tenho que ir na casa de Deus se quero que ele venha na minha, é tipo parte do acordo, acho que você não entende...

— A cara, eu entendo! — David garantiu fazendo uma careta de contemplação como se me estudasse. — Só não curto isso.

Você parece o Dido falando assim. Me lembrei de Dionísio e sua descrença em não um, mas em todos os deuses e crenças.

— Já foi em uma igreja? Pra rezar?

— Acho que não. Minha mãe não é religiosa, ou alguém aqui em casa. A gente nem tem uma bíblia!

— Acho que o que mais temos lá em casa são bíblias. — Eu ri, David pareceu duvidar. — É sério, eu tenho duas, uma de cabeceira e uma pequenina. Minha mãe tem quatro, uma do velho testamento, outra do novo, e uma com os dois, e outra pequenina, mas meu pai tem mais de dez bíblias, duas delas são em latim, é muito legal na verdade!

— Porque seu pai tem dez bíblias se todas elas falam a mesma coisa?

— Não falam. — Disse contente por estarmos em um assunto que eu supostamente entendo. — Quer dizer, é por isso que existe tantas discussões, nossa igreja tá pensando...

— Nossa? — Ele questionou se ajeitando e o calção abaixou cobrindo mais sua coxa.

— Meu pai é diácono, ele trabalha na igreja! — Disse e David pareceu ficar surpreso.

— Que merda... desculpa, é que... sei lá, cara, isso deve ser um saco. E eles podem ter filho e esposa...

— Padres não, mas diáconos podem. — Expliquei para ele. — Mas as bíblias, é um projeto da igreja de juntar o texto das mais famosas versões, meu pai fechou esse acordo com uma gráfica, e então vamos distribuir essas bíblias novas pra todos, mais completa e bem-acabada, sem erros de tradução e sem distorções.

— E como podem saber que não existe erros de tradução? Quer dizer, tem um original, não?

— Acho que tem. — Eu disse enquanto David sorria para mim, não entendia o porquê dos risos! — Ou tinha, talvez tenha sido destruído durante guerras... não sei.

— Entendo agora porque você quer ir à igreja, mesmo sem gostar. — Ele me respondeu estendendo a mão sobre meu joelho.

Eu olhei para minha perna e David tirou a mão dela no mesmo momento, mas não pareceu se incomodar ou algo assim.

— Eu gosto... é que... é difícil explicar, David. Não sei se você ia entender, e não quero...

— Eu queria que seu pai não fosse diácono. — David disse, subitamente sua voz ficou mais sérias e a risadinha sumiu.

— Como? — Perguntei sem entender o porquê de ele dizer aquilo.

— Você vai à igreja por causa dele, Lucas, não é por você. E agora eu vou ficar me sentindo culpado por fazer isso.

— Culpado... — Enruguei a testa sem entender, ele só tinha feito perguntas sobre a fé, era normal fazerem essas perguntas. — O que você vai...

Então as mãos de David se levantaram em volta da minha cabeça.

— Dav... — Tentei impedi-lo, mas não de verdade (Eu queria realmente impedir? Acho que não).

Arregalei os olhos enquanto ele se aproximava se inclinando para frente e seus dedos seguravam minha nuca, senti cada dedo deslizando pelo meu couro cabeludo, o dedão roçando minha orelha enquanto segurava meu rosto frente ao dele, seus olhos se fechavam enquanto os lábios se abriam.

E nesse momento o senti encostar em mim, quente e úmido, aqueles finos lábios que mais cedo havia encarado estavam sobre os meus. E eu imóvel, indiferente, feito mármore, com toda certeza decepcionante.

E eu não soube o que fazer, como agir, como reagir.

Quando encontrei alguma força restante no cansaço do corpo, estiquei meus braços, as palmas da minha mão encostaram na barriga dele e por um momento cogitei abraça-lo, deslizar as mãos para cima pelo peito, abrir minha boca e recebe-lo como David parecia querer me receber, mas ele estava certo sobre sentir culpa, só errou no sujeito; eu que me sentia culpado.

Ainda parado sentia seus lábios quentes contra os meus e não entendia, eu tinha visto-o beijando Bianca na festa! Eu vi!

Acho que devido minha falta de ação prolongada além de uma possível recusa ao empurrá-lo, David preferiu me soltar, mas não recuou mais que um palmo, podia sentir sua respiração morna na minha frente, enquanto meu coração palpitava, prestes a saltar para fora do peito, tudo parecia querer se entregar a David, meus lábios, meus braços, meu coração. Eu!

— Lucas... — Os movimentos dos lábios ao pronunciar meu nome pareceram mais lentos que de costume, tão próximo, eu via a ele embaçado e mal iluminado, mas ainda assim era belo.

Comecei a tremer, o queixo batia dente contra dente como se estivesse com frio, mas meu corpo nunca esteve tão quente. Eu nunca estive tão vivo.

Eu nunca antes senti aquilo. Não foi teatro, foi verdade!

— Eu... tenho que ir! — Disse ainda imobilizado, congelado como uma estátua, mas agora David recuava.

— Calma, Lucas. Você, desculpa. — Ele aumentou o tom de voz enquanto eu me virava e descia da cama, pisei no colchão inflável em falso e cai sentado neste fazendo um baque surdo e seco. — Você não gosta disso... eu entendi.

Percebi que ele estava excitado ao se levantar, assim como eu estava, mas isso passava depressa. Não deveria ter me excitado, nunca! Me lembrei de como isso é errado.

Ele colocava um short enquanto eu calçava o tênis.

— Para de falar, por favor. — Peguei minha mochila e joguei tudo que tinha meu dentro dela. — Eu que peço desculpas, só que tenho que ir, a igreja não pode...

Abri a porta do quarto e sai sem terminar.

David, obviamente, veio atrás de mim.

Estamos fazendo uma barulheira! Me dei conta enquanto descia as escadas e ia direto para a porta de saída acelerando meu passo. Lancei um rápido olhar para a cozinha e não vi a senhorita McReid por ali.

Quando cheguei na porta e tentei abrir, está estava trancada.

Olhei para trás e David tinha sumido.

Ah, não. Mas então ele ressurgiu, vindo da cozinha com as chaves na mão e um olhar de tristeza que me partiu o coração. Por um momento eu gostaria de voltar ao quarto, ou de nunca ter saído de lá. Gostaria que David nunca tivesse tentado aquilo, que só tivéssemos dormido. Eu gostaria que tivesse tido mais tempo!

Abri espaço, de cabeça baixa, e ele abriu a porta para mim.

— Eu... Lucas, desculpa se te ofendi.

Continuei andando junto dele até o portão da saída. Quando chegamos lá ele me olhou assim que abriu o portão, mas não o puxou, mantendo este encostado no batente.

— Fala comigo. Se não é o que você gosta, tudo bem, só não... conta pro pessoal da sala, isso é. — Ele bufou buscando a palavra. — Complicado.

— Não é isso. — Eu respondi levantando a cabeça e olhando para David, senti que aqueles olhos lindos de um tom castanho claro carregavam muita dor. Subitamente comecei a entender todas as conversas que tivemos, David, Miles, a mãe deles... tudo pareceu indicar que David era tão problemático quanto poderia ser! Então foi como se uma onda de afinidade me atingisse, e eu estiquei o braço lentamente até que nossos dedos se tocassem e percebi que Elise estava certa, sempre esteve! Ele me olhava, agora sem avançar, mas eu queria, desta vez queria que ele esticasse os braços e me beijasse de novo, mas não tinha coragem de pedir ou de fazer eu mesmo. O que meu pai dirá? — Não... dá!

Senti a lágrima cortar meu rosto naquele instante, então virei a cara, puxei o portão escancarando-o, e sai dali, dando as costas à David sem olhar para trás.

Não posso fazer isso. É errado!



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