1. Spirit Fanfics >
  2. Primavera de Rulim >
  3. Um aluno gringo é separado dos outros.

História Primavera de Rulim - Um aluno gringo é separado dos outros.


Escrita por: yuriPsouza

Notas do Autor


Apresento o capítulo que dá inicio real à história!!!
Conheçam David. E já podem shippar :)
Boa leitura!!!

Capítulo 7 - Um aluno gringo é separado dos outros.


Fanfic / Fanfiction Primavera de Rulim - Um aluno gringo é separado dos outros.

De novo eu fui para a escola de ônibus. Desta vez não por que meu pai iria mais tarde à igreja, mas sim porque eu não quero ir à igreja então estava evitando ele até domingo de manhã, já que se nos víssemos ele perguntaria se eu iria, esse era um dos poucos assuntos que tínhamos ultimamente, mas já não me agradava como antes.

Meu pai nunca me obrigou ir à igreja nos domingos, mas desde pequeno ele me levava, e depois de grande começou a ficar chato dizer não toda semana, ainda mais quando falavam “é só uma vez na semana” e coisas assim, falavam que não podia dizer não a Deus, que eu precisava ir na casa de Deus se quisesse que Deus viesse na minha… Era tanta repetição de argumentos que não me convenciam que eu só me distanciava.

Mesmo assim as vezes não queria ir, tinha perdido muito do sentido que via antes e agora era mais uma obrigação que um prazer, e isso não era sobre o que a igreja é sobre. Ao menos nunca tive essa vontade de estar lá, não como imagino que outras pessoas tenham.

Quando eu era pequeno meu pai trabalhava como contador. Conheci Elise no Entente quando a Crise economia aumentava e meu pai corria risco de ser demitido, nessa época minha mãe começou a ir na igreja do bairro. Quando meu pai foi demitido o Padre Silviano ofereceu um trabalho de diácono para ele devido a amizade com minha mãe, só então descobri que antes de se casar meu pai já tinha trabalhado como diácono na juventude e se afastado da igreja devido o trabalho de contador que pagava mais e como ele estava começando família era importante ter uma renda maior, sendo assim a reaproximação com a igreja foi rápida e fácil, ainda mais devido à necessidade de pagar as contas após perder o emprego. E assim fui parar no ensino público.

Acho que coisa semelhante aconteceu com o pai de Elise para ela acabar no PMT também, mas sem a igreja, a família dela não é religiosa, nem ela.

Mesmo assim as coisas não eram tão transparentes quanto meu pai as pintava. Em casa ele e minha mãe estavam praticamente separados, eu me cortava, tentava me matar, tudo isso deveríamos falar com o padre no confessionário, mas eu não falava sobre isso e sabia que minha mãe e meu pai também não. Provavelmente não éramos assim tão católicos como o padre acreditava sermos, ou como meu pai acreditava… Eram mentiras, mentiras que contávamos para nos mesmos até que acreditássemos nelas, mas eu parava de acreditar em cada uma, dia após dia, e por isso não queria mais ir lá, afinal, não podia continuar mentindo para mim mesmo e para Deus. Mas como falar isso para o meu pai sem ferir os sentimentos dele?

 

Quando cheguei na escola para o último dia da semana, estava atrasado, mas ainda em tempo de pegar o primeiro período. Quando cheguei no portão todos estavam no pátio ainda, e mais gente do que antes, pessoas estranhas com outras roupas, gente que nunca tinha visto… os gringos.

Procurei por Pedro, Dido e Gui, e lá estavam os três, junto de Karla e Bruna.

—… Ele é tão bonito. — Ouvi o final da frase de Bruna.

— Já estão brincando de predadoras com o grupo de gringos? — Perguntei me enfiando entre Gui, Dido e Karla. Pedro estava do outro lado junto de Bruna.

Lancei um olhar para o grupo de gringos, eram quase vinte ao que parecia, e tinha adultos entre eles, todos conversavam uns com os outros, em inglês. E a maioria dos outros alunos, locais, olhava para eles com interesse, mas eu sabia, só um ou outro falava inglês, eu, Pedro, Guilherme, Bianca… nós falávamos inglês, os outros só olhavam em curiosidade mesmo.

— Cadê os professores? — Perguntei.

— Reunião pra… ajeitar eles nas salas. — Guilherme me respondeu. Gui sempre sabia onde os professores estavam, ele tinha até o número de alguns professores.

— São rápidos pra caramba, e eficientes. — Dido riu encostado na parede, em tom sarcástico. Afinal, tudo isso já devia ter sido ajeitado na véspera.

Karla e Bruna falavam uma na orelha da outra.

— Eles estavam falando sobre o prédio ser velho, de arquitetura diferente. — Pedro disse.

— Claro, lá é tudo feito com paredes de papelão. — Dido riu, ele tinha essa antipatia pelos EUA.

— Moços, a gente vai indo. — Karla disse.

Bruna agarrou Pedro e deu um beijo na bochecha dele, então ela e Karla foram para o grupinho de Bianca.

Continuamos ali por mais um tempo, já que as salas estavam fechadas, como Guilherme informou.

Enquanto esperávamos ouvi a conversa e descobri que uma das meninas, uma das mais bonitas, se chama Mariah e o menino abraçado com ela é Miles.

Mariah é baixa, de cabelos longos e lisos e a pele de uma morena, ou negra, ou parda… Depende do que cada um hoje em dia considera como correto dizer.

Ainda havia uns cinco outros que pareciam estar com os vinte anos para cima e uma menina obesa que tinha os olhos mais azuis que o próprio céu. Alguns eram negros, outros brancos… Alguns de cabelos pretos, outros loiros… no geral o grupo era bem diverso.

Quando o tio da chave (acredito piamente que deveria chamá-lo de porteiro da escola) apareceu, todos os alunos começaram a andar. O inspetor Matarazzo também surgiu, apontou para que todos fossem para as salas, então foi falar com os gringos.

Pude ouvir o casal de adultos (provavelmente marido e mulher) agradecendo o Inspetor pela atenção conforme os alunos novos saiam andando para dentro do prédio, alguns se separaram do grupo maior e foram para suas salas respectivas no primeiro andar.

O lado bom é que uma aula tinha passado e não precisamos fazer nada. O ruim é que mesmo assim eu acordei cedo, quando podia ter acordado meia hora mais tarde, se não cinquenta minutos por completo.

Fomos então para as salas, mas Dido foi para o banheiro e Gui foi junto para encher a garrafinha d'água dele. Sendo assim ficou só eu e Pedro. Elise não viria hoje por alegar estar gripada, também não conversou comigo pelo Skype ontem à noite, ignorou mensagens no facebook… talvez esteja de cama mesmo, talvez eu até devesse fazer uma visita, mas ela pareceu tão rude no outro dia…

Subimos as escadas atrás do Inspetor Matarazzo e do grupo de gringos após paramos no começo da mesma para observar para onde eles iriam, que foi para o lado inverso ao da nossa sala.

— Vamos esperar? — Pedro perguntou naquele tom animado e curioso de quem queria esperar.

— Devíamos ir para nossa sala. — Eu disse, mas queria analisar melhor os alunos novos também, só quis soar responsável.

No entanto, não eram apenas nós dois, muitos outros alunos da escola estavam ali também, observando de longe, curiosos. Foi então que o Inspetor olhou para trás e viu eu e Pedro parados no último degrau da escada.

— A, senhor Pedro. Que bom te ver aqui, gostaria de me ser útil?

Lembrei de uma novela e do meme “Quero lhe usar”, e com isso soltei um risinho baixo que tentei conter. O Inspetor Matarazzo, assim como os alunos (gringos e os demais), me olharam, senti corar as bochechas.

— Poderia acompanhar o novo estudando, — Então o Inspetor olhou para o grupo de gringos, onde só tinha 5 alunos agora. — David, por favor, isso.

O que foi intitulado David falou alguma coisa rápida e baixa para o menino que se chamava Miles, então se aproximou.

— Poderia acompanhar David até a sala de vocês, ele é o único que vai ficar na sua turma por enquanto.

Eu olhei para Pedro, então para o Inspetor e só então para David, que tinha uma expressão tão confusa quanto era de se esperar.

— Senhor… É… Sim. — Pedro disse gaguejando envergonhado.

— Ótimo, e ajudem-no a sentir-se à vontade.

— Senhor, — Chamei. — Não é melhor manter eles juntos… quer dizer, deslocar as pessoas…

— A outra sala está cheia… — Matarazzo estreitou os olhos me encarando, percebi que ele tinha esquecido (se um dia sequer soube) meu nome.

— Lucas. — Eu disse.

— Sim, Lucas, claro. A outra sala está cheia… após redistribuir os alunos quem sabe. — Então ele olhou para David. — McReid, tudo bem?

— Yeah, está bem. — O gringo disse em uma mistura bizarra de línguas com um sotaque forte.

David McReid sorriu para o Inspetor, acho que em uma forma de ser educado. Então olhou para Pedro.

— Me chamo David, prazer. — Estendeu a mão e Pedro o cumprimentou.

— Pedro. — Ele respondeu ao gringo. — Este aqui é Lucas.

— Oi. — Eu disse em resposta, meio travado, mais deslocado que o próprio David, que tinha a mão erguida para mim por um tempo.

— Lucas. — Pedro pisou na ponta do meu pé, e só então levantei a mão e cumprimentei David.

O que aconteceu? Perguntei-me olhando para o novo aluno, ele era maior que eu, tinha uma barba tão estranha quanto a que eu poderia ter caso deixasse crescer, eram mais pelos no queixo que no resto, mas de alguma forma nele caia bem, o rosto era mais fino e as sobrancelhas eram volumosas criando uma sombra nos olhos castanhos claros quase como mel, quase como se não fossem castanhos, os lábios eram finos e esticados, facilitando a tarefa de sorrir, que lhe caia muito bem.

— Bem, — O inspetor voltou a falar, senti os dedos de David se abrindo em volta da minha mão então soltei a mão dele também. — Vou deixar vocês irem para a sala. Boa aula!

Com isso voltou para os outros quatro gringos nos deixando com David. Um dos gringos restantes acenou para David em despedida.

— Então… você foi separado dos outros. — Pedro disse enquanto voltava a andar, e com isso David e eu também voltamos a andar. — Não se preocupa, logo alguém troca de sala, aí você pode trocar também, se quiser.

David olhou para o chão, as mãos nos bolsos da calça enquanto andava, ele estava do lado de Pedro e eu do outro lado. Percebi que estava desconfortável.

— Então, você está gostando daqui?

— Um pouco. — David disse. — Eu fui no Paulista na… no… Sunday.

— Domingo. — Pedro completou para ele. — Na paulista. Relaxa, é normal.

David sorriu de canto para nós como se apreciasse o ato de não ser julgado pelos lapsos na questão de gênero, em inglês tal coisa não existia como no português.

— Ainda não conheço o lugar bem. — Tudo que David dizia saia de alguma forma errado, concordância, termos, colocação, gênero, mas não era ruim, era, na verdade, até que engraçado.

— A gente tem ajuda com isso depois.

Entramos na sala.

— Quer sentar aonde? — Pedro perguntou, mas não tinha muitas escolhas.

— Deixa ele sentar no lugar da Elise hoje. — Eu disse para Pedro.

— Boa. — Fomos para nossos lugares.

— Quem é Elise?

Expliquei de forma simples para David que Elise era minha amiga, não queria aprofundar no assunto porque era Elise e eu… Era complicado demais até para nós mesmos.

As aulas começaram com história. David ficou visivelmente confuso com a matéria, percebi de imediato que matemática, biologia, física e outras, aprendíamos a mesma coisa, mas história ele aprendia a do país dele, e agora aprendia a nossa… isso deveria ser, no mínimo, confuso para ele.

Pedro e David foram quem mais conversaram, eu só observava, tão acanhado quanto ele.

Na aula seguinte era inglês, e David obviamente foi o melhor aluno da turma. A professora ficou impressionada com ele, e sorria a todo instante. Então nossas conversas começaram a mudar de idioma de forma involuntária, hora falávamos em português, então alguma palavra faltava e estávamos no inglês, o que foi muito bom. Percebi que poderia usar David para aperfeiçoar meu inglês com a desculpa de “Não quero que se sinta tão desconfortável com a mudança de país”.

Guilherme também veio falar com a gente, Dido talvez viesse, mas estava ocupado demais dormindo, como sempre, e Dido não gostava muitos dos Estados Unidos, embora invejasse as leis sobre maconha deles.

Descobrimos que David vinha de uma cidade vizinha à Simi Valley e Santa Clarita, perto de Los Angeles e ele já tinha acampado no deserto de Mojave, o mesmo do jogo Fallout New Vegas, o que me deixou muito animado.

Ele e o grupo de alunos eram transferidos de uma empresa, os pais deles que trabalhavam lá haviam sido transferidos, a cidadezinha ao lado da cidade de Simi Valley era, na verdade, uma cidade erguida para os trabalhadores da empresa, com a troca de local a cidade foi desfeita e os trabalhadores realocados, alguns foram para o Canadá, e David, sua família e outras, foram transferidos para o Brasil.

Era intervalo quando começamos a conversar mais livremente.

— É uma oportunidade grande pro meu pai, então a gente se mudamos.

— Se mudou. — Guilherme corrigiu no ato. — Ou nós nos mudamos.

— Obrigado. — David sorriu para ele, desconfortável. — Meu irmão tá aqui também, do outro lado.

— Primeiro ano. — Eu disse. Só então percebi que fazer esses acréscimos era tão chato quando as correções.

— Isso. — David então arregalou os olhos. — Vocês têm duas férias, não? — Ele pareceu animado com aquilo.

— Mas uma delas já se foi. Agora só no final do ano. — Pedro riu. — E são menores que a de vocês.

— É incrível como vocês sabem de tanta coisa sobre meu país. — Ele disse surpreso.

— Ou não. — Guilherme afirmou dando de ombros. — Quer dizer… São países de primeiro mundo. Vocês influenciam aqui, mas a gente não influencia muito lá. Por isso a gente sabe de vocês, mas vocês não sabem tanto da gente. Consumimos tudo que vocês produzem.

Queria poder discordar, mas era a pura verdade.

— Você disse que são vários aqui, e seu irmão, quem são? — Karla surgiu do nada na conversa, como ela costumava fazer.

— A, oi. — David olhou para trás assustado, mas logo sorriu de volta, ele sorria para tudo.

— Oi. David né? Sou Karla, e aquela ali é a Bruna, Bianca, e outra é a Gabriela…

— Karla. — Pedro olhou para ela como quem diz “O que está fazendo? ”.

— Que foi? — Ela respondeu com desdém. — Seu irmão é do primeiro ano?

— Sim, Miles, ele e a namorada, Mariah.

— A, ele tem namorada já. — Ela pareceu ficar triste no mesmo instante. — E você, namora? — Então cruzou os braços sobre a mesa e se debruçou por cima dos braços deixando a tristeza voltando a sorrir.

— Eu? Não, ainda não, mas quem sabe né? — David disse com um sorriso bobo enquanto Karla só faltava mandar beijos para ele. — Aí também tem o Kyle Vermont, meu amigo, mas ele está no terceiro ano, lá em baixo.

— Kyle… É o moreno que estava falando com você?

— Moreno? — David olhou para Pedro como se Pedro fosse o tradutor dele.

— The black dude.

— Oh… é sim. — David vacilou para o inglês, mas respondeu rindo em português.

David notou algumas pessoas saindo da sala então olhou para mim.

— Pode sair?

— É intervalo. — Eu respondi como se fosse algo natural, eles também tinham intervalo nos EUA, mas acho que ninguém o avisou quando seria o intervalo aqui.

— Já? São três aulas, o Inspetor disse…

— São, mas a primeira eles estavam em reunião, aí teve só duas.

— Obrigado. — Ele agradeceu mesmo sem necessidade, então olhou para os outros. — Eu vou ir ver meu irmão, se está tudo bem, e falar com Kyle também. Tem horas para voltar…

— Vinte minutos. — Karla disse, prestativa.

Quando David saiu ela olhou para Pedro enquanto Pedro encarava Karla como quem encara um demônio tentando possuir sua vítima, e talvez fosse exatamente isso que Karla estivesse tentando fazer.

— O que foi? — Ela perguntou bancando a durona.

— Quer o número do celular dele? — Eu disse.

— Você tem? — Ela perguntou animada.

— Trouxa. — Pedro virou para a frente rindo e Karla deu um tapa na cabeça dele. — Nossa, to morrendo. — Ironizou sem se importar com o tapa. — Dido, acorda cara.

Dionísio levantou a cabeça assustado com o grito e o tapa na mesa que Pedro deu.

— Babaca. — Disse limpando os olhos. — Perdi muita coisa?

— Só os gringos.

— Porra nenhuma então. — Dido tinha família na Inglaterra com a qual não falava, então não se importava muito, e nem gostava muito de estrangeiros.

Guilherme foi para a cantina em seguida e Pedro e eu começamos a conversar com Karla sobre ela querer ou querer muito ficar com David, só para irritar mesmo. E nisso Bianca e Priscila vieram até nossa mesa.

— Pedrinho. — Bianca chamou. — Uma palavrinha, lindo?

Pedro olhou para mim e Karla.

— Já venho. — Levantou-se e foi até Bianca, que estava na ponta da nossa fileira, mas se aproximou conforme Pedro andava rumo a ela.

— E a petição? — Perguntei para Karla, para mudarmos do assunto “ficar com David”, tal assunto era legal com Pedro por perto, mas eu não sabia manter aquele tipo de discussão se não com Elise.

— Quer assinar? Vamos entregar em quinze dias.

— Olha, talvez até lá o professor faça alguma merda. Aí eu prometo que assino. Pode ser?

— Você também não gosta dele né?

— Nem um pouco. — Menti. Alguma coisa no professor era interessante, ele era sim um babaca, mas irritava Bianca e Bruna e Priscila, então não era assim tão ruim, mas era uma questão de princípios, e eu tenho que manter os meus. — Mas como eu disse, ainda preciso das notas. Se ele cagar no pau eu assino.

— Ele vai. — Karla garantiu. — Acha que David assina também?

— Você quer queimar todo mundo com isso né?

— É um bom teste… se ele for um cara legal vai assinar, se ele recusar já sei que é um machistinha também.

— Eu sou um machistinha? — Perguntei para Karla enquanto Guilherme retornava da cantina, muito rápido por sinal e sem nada.

— Ainda não. Você tem suas razões por causa do rabo preso, mas olha lá em. Tudo tem limite. Não dá pra ficar em cima do muro ou se escondendo pra sempre! — Ela levantou. — Vou ir falar com a Pri.

Priscila era a BFF de Bianca, estavam sempre grudadas, e era outra que repetia tudo que Bianca fazia.

Eu olhei para elas enquanto Karla tirava Priscila da conversa com Bianca e Pedro.

Guilherme veio e sentou do meu lado, na cadeira de Elise que estava ocupada por David.

— Do que eles estão falando ali? — Me perguntou.

— Não sei, ela chamou o Pedro Lindo a sós. — Disse ironizando.

— Cara, ela é tão bonita. — Guilherme tinha uma paixonite aguda por Bianca, daquela que ele sabe que não levar a nada, mas, mesmo assim, mantém as esperanças.

— Ela é bonita, mas a Priscila é mais. — Eu disse.

— Tá brincando. — Ele me olhou estupefato. — Ela nem tem peitos…

— Você nunca nem pegou em peitos! — Eu rebati. — A Priscila é bonita sem peitos, e aquilo que você tá vendo na Bianca é bojo…

— Meu deus, que papo de virjão da porra. — Dido riu pulando para a cadeira de Pedro. — A Bianca é chata que nem uma velha, só faz cu doce. E a Priscila é pau mandado, sabe nem que tipo de cara gosta, só vai na onda. Nenhuma das duas prestam.

— Quem presta então senhor pegador!? — Guilherme tentou zoar Dido, mas não deu certo.

Dionísio claramente já tinha estado com mais meninas que eu, Pedro e Guilherme juntos.

— Ora, isso não importa. Não é quem presta ou não, é quem você tem a capacidade de conquistar que importa! — Dido disse de forma sábia, não sei se ele estava brincando ou falando sério, mas aquela fala era em si uma verdade parcial a ser considerada!

Quando a conversa de Pedro e Bianca terminou, ele voltou e empurrou Dido de volta para o lugar dele.

— O que ela queria com você? — Guilherme perguntou, curioso feito um suricato na savana.

— Nada demais. Só uma festa que ela vai dar…

— Te convidou? Você falou sobre a gente ir…

— Claro que não. Se eu conseguir ir já é muito. — Pedro tinha começado a malhar fazia quase um ano, e o motivo principal era justamente esse: Festas (embora ele falasse ser uma questão de saúde)! — Pro seu lugar, David voltou.

Guilherme revirou os olhos e saiu, voltando para a frente.

David passava pela janela que a sala tinha para o corredor, na porta da sala Igor e José conversavam.

Quando o gringo chegou na porta Igor se meteu na frente bloqueando a passagem.

— Licença, por favor. — David pediu com seu sotaque forte, e Igor rebateu fazendo uma imitação da voz de David.

— Eles não deviam fazer isso, é mancada. — Pedro disse baixinho enquanto olhávamos.

— José, manda seu cachorrinho sair da frente. — Bianca disse para José, mas Igor riu e José também.

— Você que é a cadelinha do Zé! — Igor rebateu.

— Deixa ele passar, Igor! — Eu gritei do meu lugar com uma voz mais alta e mais imponente que o pretendido.

Nisso Dionísio, Pedro, Guilherme, Karla, Bianca, Priscila, Bruna, Gabriela, João, Rebeca, Luiz, Vitória, Pâmela… todos me olharam. O que foi que eu fiz? Abaixei a cabeça no mesmo instante.

Então ouvi a voz de João lá no fundo.

— Deixa o Dólar passar, Igor. — Olhei na esperança que João tivesse subitamente tido uma onda de boa vontade, mas não foi isso. Ele apontou o dedo para mim enquanto Igor abria espaço para David (Igor podia não ser cachorrinho de José, mas era de João). — Cê é comédia mesmo né? Se eu fosse você ficava bem de boa, xis nove.

Quando David voltou Pedro olhou para trás me encarando.

— Você sabe quem era o menino que foi preso com você e Elise? — Ele perguntou, e David arregalou os olhos para mim.

— É um cara do terceiro. — Eu disse, sentia que tremia, sentia que estava pálido, mas tentava manter a pose de quem “está tudo bem”. — Por quê?

— João parece estar bravo com você cara.

— João, o do fundo? — David perguntou. — Ele é o brigão da turma?

— Igual ao dos filmes, só que nos filmes os brigões são bonitos. — Pedro riu, eu poderia ter rido também, mas estava assustado demais para isso.

— Você foi preso? — David me perguntou.

— Não… eles fizeram uma rodinha pra espancar um garoto, eu fui ajudar o que foi espancado e a polícia me levou pra explicar as coisas, só!

— Ele te chamou de xis nove. O que ser isso? — David perguntou de novo, não era esse o assunto que queria conversar. Dido tinha levantado e vinha até nós.

— É alguém que sabe de alguma coisa que não deveria saber, e fala pra quem não deveria falar, cagueta. — Pedro explicou.

— Você sabe…

— Não! — Eu interrompi David antes que ele continuasse. — Eles que tão viajando. — Percebi que ele também não entendia aquela gíria. A, gringos!

Dido então veio até minha mesa, abaixou e falou dando de ombros.

— Relaxa, Lucas. Eles estão bravos, mas não sabem porra nenhuma. Que nem você, só fica na tua, firmeza? E o David ali, é bom a gente arrumar alguém que queira trocar de sala com ele logo.

Pedro e Guilherme pareceram concordar com isso, e David também deveria querer ficar junto dos seus já amigos.

De novo queria Elise ali. Ela saberia o que falar, melhor do que Dionísio tentou ao menos.

X-9… isso ficou na minha cabeça o resto do dia, como tinha ficado nos dias anteriores. Xis nove. Do quê?



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...