P.O.V. Paulo
Quando abri aquela porta, me arrependi profundamente de ter dito tudo aquilo à Alícia. Entrei correndo no meu quarto quando percebi que ela estava com um tesoura na mão, prestes a cortar seu cabelo.
Corri até ela e imediatamente puxei a tesoura de sua mão e a encarei. Percebi que ela não me olhava com desprezo, como eu esperava, e sim com uma carinha que dizia: "Por favor, me ajude!"
A Ally, notando que não iria conter suas lágrimas, subiu correndo à minha cama, a qual era uma beliche. Sem nem pedir permissão eu subi os degraus que davam à cama e sentei ao seu lado.
- Alícia, o que estava fazendo? - perguntei preocupado
- Nada além do que deveria ter feito desde que entrei nesse mundo... - ela falava evitando o contato visual
- O que seria?
- Sair dele... - ela falou e eu não acreditei no que ela disse
- Por que ousaria em fazer isso? - perguntei indignado
- Porque eu não mereço viver, Guerra... E-Eu não mereço ser feliz! - ela falou cabisbaixa e eu senti um nó na garganta
- Quem te disse isso?
- Guerra, você não vê?! Depois de tudo o que aconteceu você acha que eu ainda devo ficar aqui? Durante toda a minha vida recebi sinais de que eu fui e sou um erro... Tudo corria bem no mundo, até eu nascer e arruinar a vida de todos! Além do mais, eu não aguento mais um minuto nesse sufoco, nessa prisão de sentimentos que turbinam minha mente e me fazem desistir cada vez mais. Eu preferia nunca ter nascido à causar todos esses danos! Se eu não existisse nada haveria acontecido aos meus pais, eu nunca iria ter que lutar contra meus sentimentos, os quais eu jurei nunca sentir... - ela falou e uma lágrima caiu de seus olhos
- Gusman, primeiramente eu quero que você me escute e não me interrompa! - falei seriamente e ela assentiu - Olha, eu nunca achei que falaria isso à alguém ou, muito menos uma garota, não qualquer garota, A Garota! Enfim, posso ser um covarde em te pedir desculpas somente agora e você pode não acreditar no que eu estou dizendo, mas nunca é tarde demais! Nunca é tarde demais para ser feliz! Nunca é tarde demais para amar! Nunca é tarde demais para ser amado! Nunca é tarde demais para... Viver! E... Eu sou uma prova disso. Sabe por quê? - perguntei e ela me encarou se atentando à cada palavra que dizia - Porque antes tudo era muito escuro e sombrio, e assim foi, o que me fez acreditar que eu nunca acharia uma luz nessa imensa escuridão, mas eu estava errado. Às vezes, a luz está logo ali, mas não nos permitimos achá-la... Não queremos achá-la, por mais que inconscientemente! Temos medo do que estará adiante, temos medo da felicidade, temos medo de nos iludirmos e criamos um bloqueio que nos impede de senti-la, porém, acredite, se você não a encontrou, um dia ela te encontra, e meu dia chegou como que de repente, me assustando e logo me proporcionando experiências que em hipótese nenhuma imaginaria passar. Não posso negar que no começo foi muito difícil, doeu, mas meu esforço valeu à pena... Porque, ele me mostrou que não há caminho para felicidade, pois a felicidade é o caminho! E... Essa felicidade à qual me refiro não é algo hipotético e muito menos faz parte da minha vida... - eu falei e a Alícia me olhou confusa - A minha felicidade É minha vida... A minha felicidade é você! - eu falei e a Alícia ficou boquiaberta
- Guerra, m-mas como posso viver se estou sozinha? - ela falava derramando algumas lágrimas
- Gusman, você nunca estará sozinha, você nunca está... P-Porque e-eu te amo! - falei chorando - Por favor, não me deixe aqui! Se você se for, eu deixarei de viver para apenas... Sobreviver! Você pode até dizer que eu ainda tenho pai, mãe, irmã e um família, mas... Nada disso importa se a pessoa que eu mais amo não está aqui! Lícia, eu faço tudo por você, mas por favor... - eu ajoelhei aos seus pés - Fique comigo! Eu fui um idiota em falar que você estava com frescura, que era gorda e quem jamais nenhum garoto te amaria! Mas, olha só! A ironia do destino se fez presente quando eu me apaixonei por você! Não! Eu não quero que você mude seu estilo, seu corpo e muito menos, eu não quero que VOCÊ mude, porque... Se eu te amo, é porque você é única! Eu não te quero uma patricinha, uma caipira, não te quero meiga, não te quero romântica... Eu quero a Alícia Gusman, aquela que sempre me xinga, me chama de inúmeros nomes, diz que me odeia, mas que esconde uma menina tímida e que quer carinho! A Alícia Gusman por que eu me apaixonei, apesar de ser carinhosa e uma ótima amiga a quem merece, não perde o costume de insultar, dizer te odeio, para recomeçar. Lícia, pode ter certeza, o céu deve estar sorrindo agora, e seus pais não iriam querer que a filha sofresse. Agora, seu pai deve estar me fuzilando por estar dando s-seu bem mais precioso à mim, mas pude ficar tranquilo - falei olhando ao teto - Nunca deixarei a Alícia, porque agora ela está protegida em meus braços! - disse e a Ally deu um riso abafado e começou a chorar novamente, mas, não um choro de tristeza, um choro de alegria
Eu apenas a abracei bem forte. Ela precisava de um...
- Está tudo bem? - perguntei limpando seu rosto
- S-Sim! - ela falou não muito confiante
- Tem certeza? - falei desconfiado e ela olhou para baixo
- Sabe o que é? Eu não suporto ficar brigada com você! Desculpa! Me desculpa por tudo! - ela falou
- Não! Eu que devo desculpas! Se alguém aqui fez errado, esse alguém foi eu... - falei acariciando seu rosto
- Então, v-você não está bravo comigo? - ela perguntou envergonhada
- Por mais que eu tentasse, eu não iria conseguir! E-Eu te amo! - falei me aproximando
- E-EU também te amo! - ela falou e ficamos trocando olhares
- L-L-Lícia, a-acho que eu vou te beijar! - falei timidamente, sim você leu certo. A Ally apenas arregalou os olhos
Quando percebi, já estávamos nos agarrando, como se necessitássemos daquilo para viver. Nossas línguas brigavam por espaço. Hora ou outra dávamos mordidas e trocávamos carinhos. A peguei no colo e ela enrolou suas pernas prendendo meu quadril. O clima já começava a esquentar, quando escutamos o Mário entrar. Droga
- Então, vocês não vêm... - ele iria continuar, mas se surpreendeu com a cena de mim e a Alícia todos descabelados e juntos - Opa! Parece que atrapalhei o momento. Só não esquece de usar cami... - ele foi interrompido por um travesseiro que joguei na cara dele, porque percebi que a Alícia estava com muita vergonha
- Já vamos almoçar! Agora, fora do meu quarto! - falei e o fuzilei
Eu e a Alícia nos olhamos e ela corou.
- Hey, não liga para o Mário! - falei e dei um selinho e quando virei ela deu um sorriso maior que o do Coringa. Ufa, não fiz algo errado! Percebendo que a Lícia estava tímida, puxei assunto - Amor, vamos almoçar?! Eu prometo que ficarei ao seu lado e te ajudarei.
- T-tudo bem... "Peraí!" Você me chamou de amor?! - ela perguntou sorrindo e eu corei
- E-Eu?! N-Não! - disfarcei
- Eu juro que eu ouvi...
- Não! Ouviu errado! - falei quase morrendo de vergonha
- Se você diz.... Vamos, amor! - ela me falou e eu sorri com aquela última palavra, o que ela me respondeu com uma piscadinha e eu me derreti. Ah, Alícia você me enlouquece!
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