- Filha, por que não leva o príncipe para conhecer o palácio hoje? - meu pai perguntou. Já fazia uma semana que o príncipe havia me falado da tal metáfora da neve, para a qual eu ainda não tinha achado uma resposta. Estávamos sentados à mesa, almoçando.
- Ele virá? - perguntei - Hoje é feriado, papai.
- Ele insistiu em vir todos os dias. Não posso dizer não. Mas, por hoje ser feriado, por que não tira um tempo para mostrar a ele o palácio?
- Parece uma boa ideia. - sorri - Ele já ligou avisando que viria?
- Sim. Deve chegar daqui a uma meia-hora, se não me engano.
- Bom, tudo bem.
- Preciso sair para resolver uns assuntos na cidade. Ficará bem sozinha aqui com ele?
- Não estarei sozinha. Temos os criados e os guardas.
- Sim, tem razão. Com licença. - eu disse e me levantei da mesa para ir trocar de roupa e escovar os dentes.
Deus, eu não deveria estar feliz! Assim que as coisas para o casamento estiverem prontas, ele será realizado e eu morarei no mesmo palácio que o príncipe Styles. Sem ter suas aulas de arco-e-flecha, sem beijos roubados, sem suas mãos em volta do meu corpo. Sem nada.
Depois de pronta, com um vestido azul até um pouco acima do joelho, desci as escadas e dei de cara com o príncipe bem no centro da sala. Ele deve ter me escutado, pois se virou assim que eu cheguei.
E com aquele sorriso no rosto.
- Espero não ter assustado Vossa Alteza. - ele disse, tirando a mão de trás das costas e vindo até mim.
- Não me assusto fácil, mas fui pega de surpresa, admito.
Ele se curvou e beijou minha mão.
- Vai treinar de vestido? - ele perguntou, me analisando de cima a baixo, mas sem perder o respeito.
- Claro que não. Se eu fosse treinar. - eu disse - Hoje é feriado, não devia ter vindo.
- Esse não é o melhor jeito de mandar uma pessoa ir embora - ele disse. Parecia decepcionado.
- Oh, não! Não estou te mandando embora. Mas, para que ter todo o trabalho de vir até aqui enquanto poderia estar em sua casa com seu... pai? - engoli em seco.
- Valeu a pena. - só então percebi que nossas mãos ainda estavam juntas
- Vem. Quero te mostrar o palácio. - falei, tentando mudar de assunto e me dirigi para outro cômodo da casa. Não me virei para ver se ele me seguia, eu sabia que sim.
Mostrei a ela a enorme sala de estar, mostrei o lugar onde ficavam os aposentos, a sala de jantar, o salão de festas, a cozinha, onde estavam a maioria dos empregados, inclusive Mary, a quem dei um sorriso quando passei por perto. De lá, fomos para o quintal. Nele havia um labirinto feito de arbustos que eu sempre amei quando criança, e ainda amo. Já passei dias inteiros lá para me esconder do meu pai no jogo de esconde-esconde quando ele brincava comigo. Quando minha vida não era um peso.
Olhei para o príncipe Harry sorrindo, e imediatamente saí correndo para dentro do labirinto, que eu conhecia de cor e salteado. Fiz várias curvas e quando ia chegar ao centro dele, fui para o outro lado, ainda correndo.
Eu ouvia os passos apressados de Harry na grama, e sua risada me fazia rir também enquanto corria.
- Princesa? - ele chamou. Ele estava bem perto, talvez a um ou dois corredores de distância, mas ele não sabia disso.
- É só Leah. - gritei de volta segurando o riso. Para quê tanta intimidade?
Voltei a correr quando escutei seus passos, mas dessa vez, andei mais rápido de costas para o caso de ele chegar bem na minha frente.
Só me esqueci de uma coisa, bem atrás de mim havia uma outra entrada, e foi por ela que Harry entrou e se posicionou atrás de mim, o que fez com que eu desse de cara com ele quando me virei.
- AH! - soltei um pequeno grito - Que susto!
- Shhhh! - ele colocou a mão em minha boca - Se te ouvirem gritar, vão pensar que estou te matando aqui!
Eu ri baixo e ele retirou a mão devagar. Nossos olhares não se desgrudaram por um segundo sequer enquanto ele se aproximava.
Harry passou a mão pelo meu rosto novamente e sorriu.
- You are so beautiful to me - ele começou a cantar baixinho
Eu conhecia aquela música.
- Can't you see? Oh... - ele foi abaixando cada vez mais o tom de voz e eu fechei os olhos, apenas sentindo sua mão em meu rosto. - You're everything I hope for, and you're everything I need, yeah.
- You are so beautiful to me - abri os olhos e cantei a última frase com ele, que sorriu.
- Sabe que estamos errados, não sabe? - perguntei.
- Sei. Sei, sim. O certo é chato.
- Mas o certo é certo.
- E o errado é melhor
E, pela primeira vez, me beijou de verdade
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