Na quinta e sexta-feira, Harry avisou meu pai que não poderia vir me dar aulas. Não deixou o motivo muito claro, mas era algo relacionado com seu pai. Estranhei, afinal, ele teria me avisado, certo?
No sábado, na hora do almoço, eu estava conversando com meu pai à mesa, e o que ele me disse me pegou de surpresa.
- Filha, Des parece que quer falar com você hoje à noite.
- O quê? - deixei o copo onde estava assim que o peguei.
- Ele me ligou hoje de manhã, e disse que queria que você fosse jantar em sua casa hoje.
Ah, Deus.
- E o senhor vai junto? - perguntei.
Diz que sim, diz que sim, diz que sim.
- Não. Está na hora de vocês terem um momento a sós, não acha?
Não.
- Sim, papai - abaixei a cabeça - A que horas devo voltar?
- A hora que ele se despuser a trazer-te aqui, ou mandar o príncipe fazer isso.
- E por que o senhor não me deixa pegar o carro?
- Porque princesas só devem dirigir em situações de extrema importância, era isso que meu pai dizia para minha mãe.
- Sim, papai, mas isso foi há muitos anos. Nem existia celular nessa época. - porque eu simplesmente não fico quieta? "Retrucar" e "meu pai" na mesma frase não dão certo.
- Porque somos conhecidos por manter a tradição. E isso não vai mudar. Não existiam muitos aparelhos eletrônicos, mas hoje eles são essenciais, e é por isso que pretendo que você ganhe um celular quando casada e dirija quando seu marido permitir. Nada além disso.
O quê? Quando "meu marido permitir"?
- E sobre suas roupas, nunca use vestidos mais de 2 dedos acima dos joelhos. Pode descartar aqueles que são mais curtos que isso, afinal, quando se mudar, não vai usar roupas indecentes assim. - ele eixou o guardanapo sobre a mesa com delicadeza. Sua voz era determinada, do tipo mando em você, mas não era possível que todas as garotas de hoje em dia usassem isso.
- E as garotas lá de fora, papai, elas também usam isso?
- Claro que não, filha. Elas usam uns shorts feitos com um tecido chamado jeans. Curtíssimos! Há uns que não chegam ao meio das coxas.
- E isso é normal?
- Lá fora sim. Aqui não. Nenhuma princesa na história usou algo além de saias e vestidos.
- Mas por que...
- Leah Christabel Alexandra Windsor, chega de perguntas. Que falta de etiqueta.
Quando ele falava meu nome completo, eu podia começar a rezar.
- Tudo bem, desculpe-me, pai.
- Quero você pronta às 7 em ponto.
Assenti devagar e pedi licença ao sair da mesa.
É engraçado o tempo. Quando queremos que ele passe rápido, ele demora horas, mas quando preciso que ele não passe, que ele pare, ele voa. E foi exatamente assim. O dia passou do almoço para o pôr-do-sol no que pareceu instantes, e quando vi, já estava me arrumando para o tal jantar.
O motorista de Des chegou às 7 em ponto, dei um beijo de despedida no meu pai e saí. O caminho todo de uma hora foi feito em silêncio depois das apresentações. A única coisa que me acalmava era que Harry estaria lá. Eu iria vê-lo.
Um alívio percorreu meu corpo ao pensar nisso, mas uma onda de pânico tomou conta de mim assim que passamos pelos enormes portões que separavam o palácio dos Styles do resto da cidade. Havia muitas luzes acesas em diversos cômodos e o motorista parou bem de frente para a enorme porta de entrada. Um dos guardas veio abrir a porta do carro para eu sair enquanto o outro abriu um dos lados da porta do palácio.
- É um prazer conhecê-la, princesa. - um deles disse. - Te acompanho até lá dentro, se me permite.
- Claro - eu disse e ele me guiou porta adentro.
O hall de entrada era todo trabalhado em bronze, ouro e cores claras nas paredes, dando um equilíbrio. Logo à minha frente havia uma escada larga em espiral que levava para o segundo andar. Provavelmente haveria outra levando para o terceiro e para o quarto.
- Por aqui, princesa. - o guarda disse.
- Leah. Me chame de Leah - falei, já o seguindo.
Encontramos Des ajudando uma das empregadas a arrumar a mesa. Pelo menos gentil ele era.
- Ora, veja quem chegou! - ele abriu um sorriso e veio até mim. - Muito obrigado, Lucas, está dispensado - ele disse para o guarda, que assentiu e saiu. - Seu pai então deixou você vir.
- Sim - eu disse tímida.
- Ora, vamos, não seja tímida - sua voz era alegre. Reparando bem, ele não parecia ser tão velho assim. Estava em forma e seu corpo lembrava o de Harry. - Sente-se, fique à vontade.
O fiz e olhei ao redor. Até a sala de jantar era trabalhada nos detalhes.
- O que seu pai disse sobre eu chamar somente a ti? Ele quer me matar? - ele disse, ao pegar uma bandeja com salada e colocar à mesa.
Soltei um sorriso.
- Bom, não. Ele disse que deveríamos ter um tempo a sós.
- Concordo plenamente com ele, pela primeira vez na vida! - ele riu - Seu pai já foi muito cabeça dura, sabe? Mas sua mãe conseguia amenizar.
Ele falava com humor, num tom que me fazia ter vontade de rir. Eu estava à vontade apesar de tudo.
- Vamos, coma. Tive que aprender a cozinhar em um dia para montar tudo isso. - ele fez um tom abrangente com a mão.
- Foi você quem fez?
- Sim! Pedi para Christina me ajudar com as coisas. - ele apontou para a empregada que estava ali atrás, e eu a olhei e lancei um sorriso que foi rapidamente retribuído. - Mas só ajudar, porque quem fez a maior parte das coisas fui eu.
- Sim, sei - brinquei.
- Estás a duvidar de mim? Te prendo na masmorra, mocinha! - ele gargalhou e eu ri também. - Sua risada é estonteante - ele disse brando e colocou a mão sobre a minha na mesa.
- Pai, você viu meu... - ouvi a voz que mais conhecia na face da Terra. Harry entrou na sala de jantar meio apressado, mas parou quando me viu.
Ele parecia surpreso. Seu olhar se abaixou e fitou minha mão com a de Des na mesa.
Foi o que bastou para ele simplesmente se virar e sair.
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