História Prism - Color me

Primavera, início do mês. O cheiro adocicado das flores de cerejeira que brotavam das árvores deixavam tudo muito lindo, o céu azul quase sem nuvens, as calçadas pintadas com as cores rosa das folhas que ainda caiam e a que ainda estavam presas nos galhos.

Tão bonito. Tão monótono.

Era para Longfei (ou Jason como seus amigos o chamavam) a estação mais feliz antes. Isso era, antes de sua irmã mais nova falecer há algumas semanas atrás. Eles só estavam ali faziam alguns meses, mal chagaram na Coreia do Sul e enfrentaram terríveis acontecimentos.

Jason era chinês, jovem, inteligente e com certeza teria um futuro promissor. Mudou-se com sua avó a sua irmã de oito anos. Yani era o nome da garota. Sempre sorridente e doce.

Num acidente de carro em caminho para a sua nova escola perdeu a vida. A avó de Jason perdeu o seu sorriso e qualquer alegria que restava em si. Já Jason, perdeu algo que não conseguia decifrar. Apenas sentia-se incompleto. Sem alto-estima alguma.

Fitava o entardecer na janela da cozinha enquanto se perdia em seus pensamentos.

- Fei, — sua avó apareceu, Jason voltou sua atenção a ela.

- Sim, vovó? — perguntou olhando-a sério.

- Vá se vestir, receberemos uma visita logo. ― o garoto de cabelos negros apenas concordou com a cabeça sem mais perguntas, apesar de estar curioso de quem seria a tal visita.

Rumou até o seu quarto que ficava em uma das portas do corredor. Passou em frente ao quarto de Yani. Sentiu seu coração vibrar em angústia. Nada tinha mudado ali desde que eles chegaram. A decoração simples daquele lugar o trazia vagas lembranças da pequena. Os brinquedos, a sua cama sempre arrumada com os móveis e as paredes da cor rosa claro e detalhes brancos. Até mesmo o cheiro de algodão doce ainda permanecia ali.

Jason abriu a porta e adentrou, sorriu olhando tudo e acabou por lagrimar ao lembrar de sua voz e a sua risada.

Enxugou os olhos e voltou ao caminho de seu quarto.

(...)

A campainha tocou e a sua avó levantou-se da cadeira de balanço e foi atende-la.

Uma senhora aparentemente com a mesma idade da Senhora Fu estava ali. Tinha cabelos grisalhos e lisos amarrados em um coque alto. Usava óculos de lentes redondas e rosto dócil.

Jason demorou a perceber uma figura atrás da senhora. Um garoto talvez. Possuía cabelos rosados até a altura do queixo e sua altura era mediana.

Não conseguia ver seu rosto pois sua cabeça permanecia baixa.

- Oh, minha amiga. É tão bom vê-la novamente. Eu morri de saudades. ― a senhora abraçou a senhora Fu.

- Você não mudou nada... Apenas o seu cabelo ficou branco. ― as duas gargalharam. ― Ora, mas quem é essa coisinha linda atrás de você? ― a avó de Jason perguntou e o garotinho saiu de trás da senhora.

- Este é Minki, meu único neto. Veio me acompanhar.  ― ele levantou a cabeça e Jason ficou deslumbrado com tanta beleza que aquele possuía.

- Oh, o pequeno Minki. Como você cresceu. Lembro-me de quando era um bebê de colo. ― a mais velha acariciou os cabelos do rosado, apenas desviou o olhar com timidez ― Você deve ter a quase a idade de meu neto. LongFei! Venha cá. ― ela gritou e Jason saiu por de trás da parede do corredor.

- Minki está com treze anos agora. ― Jason arregalou os olhos, o garoto ainda era um jovem, uma criança. Jason já faria dezessete anos em breve.

- Olá. ― disse cumprimentando aos dois. ― Eu sou Fu LongFei, muito prazer. - disse com um sorriso carinhoso.

- Que rapaz lindo. Igualzinho ao pai. ― o semblante do moreno entristeceu, não gostava de lembrar de seus pais. Ele praticamente não tinha família. ― Que ele esteja em paz. ― Jason disfarçou o incomodo com um sorriso fechado.

- Por que os dois não vão brincar lá fora? Eu preciso ter uma conversa com minha velha amiga. ― sua avó disse rumando para a sala, onde havia um bule de chá na mesinha e xícaras de porcelana branca com detalhes dourados.

- Sim vovó. ― olhou para Minki, o garoto esmirrado que permanecia calado no canto da sala ― Venha comigo, eu te apresento a casa. Tem um balanço no quintal. ― Minki assentiu com a cabeça e seguiu o moreno.

Os dois saíram pela porta dos fundos, dando a visão de um lindo jardim. Era bastante florido, um pequeno lago onde moravam alguns peixes dourados. Bem ao lado havia um balanço de duas cadeiras.

Os dois se sentaram ali, ficaram em silêncio por um tempo, Jason observava Minki com afeição, o menino era tão belo quanto uma flor. Delicado, admirável.

- Então... Você sempre morou aqui na Coreia? ― Jason quebrou o silêncio, Minki afirmou sua pergunta com a cabeça, permanecendo calado. ― Você mora por perto? ― respondeu da mesma forma. ― você é tímido, não é muito de falar, não é Minki?

― Me chame por Ren, por favor... ― finalmente pôde ser ouvida a sua voz. Era doce, um pouco rouca e aveludada.

― Ren? ― perguntou Jason curiosos e sorriu ― Por qual motivo?

― É segredo... - disse com uma risadinha travessa. Jason arrepiou-se. Ren e aquele seu semblante calmo, doce e alegre lembrava Yani.

- Curioso... Na china, Ren, isso significa ''homem''. E pelo o que vejo, você é apenas um garoto, não é, Ren? - Ren virou a cabeça e fitou o lago.

- Eu logo serei um homem. Estou crescendo. - Os dois voltaram ao silêncio mútuo de novo. Observam as mesma folhas que continuavam a cair.

― Você é filho único, Ren? - Jason quebrara o silêncio prontamente, chamando a atenção do menor como se estivesse esperando por aquilo.

- Sim... ― disse novamente com aquele lindo sorriso ― E você? ― Jason estremeceu com a pergunta.

― Na verdade... Eu tinha uma irmã. Mas ela faleceu há três semanas. ― disse seco com uma ponta de angústia.

- Nossa... ― sua expressão de pena e ressentimento tomou conta do seu rosto angelical. ― Eu sinto muito Jason. – Ren observou Jason com preocupação. O maior parecia querer chorar. Involuntariamente, Ren se levantou e abraçou o moreno. ―Sinto muito.

Aquele abraço, Jason finalmente conseguiu respirar normalmente. Sentia-se sufocado, aquilo o acalmou.

Retribuiu seus braços sem perceber, abraçando fortemente o garotinho.

- Como se sente? – Ren perguntou olhando para o rosto triste do maior.

- Não sei... Me sinto vazio. Como se eu não tivesse propósito nenhum para viver. – Ren voltou novamente ao seu lugar.

- Fei... Não sinta-se assim. Sua irmã ficaria triste em saber que está desse jeito. Sorria, garanto que ela está te observando em algum lugar do céu. – Jason deu um mínimo sorriso.

- Jason... Me chame por Jason. – Disse a Ren.

- Porque Jason? – perguntou da mesma forma que ele havia questionado o seu apelido. – É segredo também?

- Não... Eu apenas odeio meu nome. – bagunçou carinhosamente o cabelo rosado do menor.

E assim o tempo se passou. Passaram a tarde conversando sobre assuntos aleatórios, como séries de tevê, animes, HQ’s... Nem perceberam que estava caindo a noite, assunto não faltou entre eles.

Senhora Fu surgiu chamando-os para o lanche. Os dois correram animados até a cozinha.

As duas senhoras haviam preparado um delicioso bolo de cenoura com calda de chocolate e café. O cheiro era maravilhoso, dando ainda mais fome aos dois jovens.

Sentaram-se de frente um para o outro e esperaram ser servidos pelas avós, que tinham questão em fazer isso.

(...)

- Volte sempre, minha amiga... – a senhora disse acompanhando os dois até a porta.

 Se abraçaram, Jason também se despediu de Ren da mesma forma.

O dia de hoje não havia sido tão ruim. Era como se Jason fosse uma tela em branco, Ren, este era uma tinta que estava pintando-o aos poucos, colorindo-o com uma cor única e harmoniosa.

Queria vê-lo mais vezes.

- Ela voltará aqui, vovó? – virou-se para a senhora que correspondeu com um sorriso.

- Parece que você e Minki se deram bem... – abraçou o neto – Eles voltarão logo. – deram uma pequena pausa, sua avó suspirou e fitou seus olhos – É muito bom ter amigos que estejam ao seu lado em momentos difíceis, não é? Amizades são preciosas... É a forma de amar mais linda que existe.

 (...)

A noite caiu e Jason não conseguia pegar no sono. Sua cabeça estava em um pleno devaneio novamente. Pensando em coisas tristes, a assassinato de seus pais na China, a dor que sentia quando quase perdeu a vida naquele dia. A responsabilidade de ter que cuidar da sua irmã quando ainda era um bebê... E como ela foi embora de sua vida tão cedo.

Será que aquela dor passaria algum dia?

E em meio aos seus pensamentos acabou adormecendo com lágrimas em seus olhos.

(...)