História Prisoner. - Kamikaze.

Sakura estava debruçada sobre os pergaminhos sobre a utilização de uma planta encontrada no país da Nevoa que tinha encontrado na pequena biblioteca que tinha no esconderijo.

Quando Sakura chegou, não tinha muita coisa ali que poderia interessá-la, mas conforme o tempo passou, os membros, em consideração a ela, traziam um pergaminho ou outro para ela quando viajavam e agora Sakura já tinha uma quantidade considerável.

Vários dias tinham se passado desde a sessão de cura exaustiva de Itachi e ela já estava de volta ao normal, ou pelo menos era isso que parecia. 

A mancha preta não voltou a aparecer em Itachi, mas hoje eles iriam repetir a sessão que dessa vez não seria tão agressiva e sim uma forma de prevenção para que a situação não chegasse de novo a níveis extremos, ela só estava esperando a reunião da Akatsuki terminar.

Ela nunca participava das reuniões e nunca teve vontade de participar.

Tinha formado em sua cabeça que quanto menos ela soubesse sobre os planos deles, melhor. Não sabia como lidar se soubesse de algo e não pudesse usar para ajudar seus amigos, já bastava a culpa que pesava em seu coração toda vez que olhava para Itachi e conseguia ver Sasuke nos traços do rosto dele.

Sabia que estava sendo covarde por escolher a ignorância, mas ela conhecia seus limites, não poderia contribuir para a Akatsuki prender e roubar a bijuu dos amigos.

Assumir o risco de ser odiada para sempre Sasuke era uma coisa, agora ser odiada por ele e Naruto... Ela não iria saber lidar com aquilo.

Sua leitura dos pergaminhos foi interrompida quando ela ouviu um estrondo e um enorme pico de chakra se manifestou na sala de reunião da Akatsuki.

Ela se pôs de pé no mesmo instante assumindo a postura de ataque, em alerta só relaxando ao sentir o chakra se afastar do esconderijo. Achando que não teria problema se aproximar, ela deixou a sala e foi até o corredor que daria para a sala.

Alguns membros passaram por ela deixando a sala. Pain e Konan deixaram a sala lado a lado indo para o quarto do líder, Zetsu saiu logo depois fazendo Sakura se encolher quando ele passou.

As duas personalidades dele faziam um arrepio descer pela espinha dela.

Hidan saiu também, agitado o que a preocupou já que ele geralmente era o mais indiferente as reuniões deles pois as achavam realmente entediantes.

Ele pareceu um pouco sem reação ao encontrá-la, o contato visual durou um instante antes de desviar o olhar para o chão.

Sakura uniu as sobrancelhas e olhou para a porta esperando os outros saírem, estava com um péssimo pressentimento.

Itachi saiu da sala e no mesmo instante Sakura teve certeza que seu pressentimento estava certo, algo ruim tinha acontecido.

Sua expressão estava em branco, mas ela podia sentir o chakra dele como áurea sombria ao seu redor.

 Ela se aproximou dele, esperando alguma resposta, mas Itachi passou por ela sem nem mesmo dirigir um olhar na direção em sua direção. Kisame saiu em seguida e quando passou por ela, abaixou a cabeça.

— Kisame?— ela perguntou desesperada por informações antes que Kisame a deixasse para trás também.

O ninja desertor parou ao ouvir o chamado dela.

— Deidara usou sua técnica secreta explosiva. — disse sem virar para encará-la.

Ela franziu o cenho, notando agora que não sentia o chakra nem Deidara, nem de Tobi.

— acabou se machucando, é isso? Eu posso...

— Era uma técnica kamikaze. – ele a interrompeu. – Deidara transformou seu corpo em uma bomba.

Sakura engoliu seco, sem acreditar no primeiro instante que Deidara pudesse ter feito algo do tipo para ganhar uma luta.

Era extremo demais.

A Akatsuki queria as bijuus, não fazia sentido Deidara provocar uma explosão suicida que poderia matar o hospedeiro das bijuu junto. Ele não faria isso, claro, a menos que seu adversário fosse realmente muito poderoso que tivesse batido de frente com ele.

— Com quem Deidara estava duelando?

Sakura o olhou apreensiva sentiu seu coração apertar ainda mais ao ver Kisame hesitar.

— Sasuke Uchiha. – ele respondeu sereno e, para os padrões do membro da Akatsuki, o mais delicado que pode.

Não adiantou, no momento que o nome do antigo companheiro de time saiu dos lábios de Kisame, a rosada congelou.

Era como se tivessem drenado todo seu sangue e, por muito pouco, suas pernas não cederam e ela caiu no chão. Como um soco no estomago, ouvir aquilo a fez perder o fôlego e curvar o tronco.

Sasuke... Não.

Ela apertou os olhos, os fechando com força. Não iria chorar. Ele não morreu.

Não podia.

Sakura foi até Kisame, parando na sua frente, o obrigando a olhá-la.

— Está dizendo que Deidara se suicidou e matou Sasuke junto?

Kisame olhou para o chão, escolhendo não responder a perguntar.

Sakura trincou os dentes, seu temperamento já começava a aparecer. Engoliu a vontade de rosnar para o ninja de pele azulada.

— Vocês sempre saem em dupla, quem estava com Deidara? – cobrou.

— Tobi, mas também não tivemos noticias dele.

Ela balançou a cabeça, seu olhar passava de um ponto a outro tentando não surtar e ao mesmo tempo juntar as peças.

— Corpos? Acharam algum?

— Não, mas isso também não prova nada. – disse rápido o suficiente para que ela não se animasse. – A técnica secreta de Deidara dizimou um período de 2 km, não sobrou uma pedra.

— Mesmo assim, nenhum corpo. – ela insistiu.

Kisame balançando a cabeça negativamente, será que ela não prestou atenção no que ele disse?

— Sakura...

Ela balançou a cabeça negativamente freneticamente, se recusando a ouvir mais uma negativa, mais uma incerteza, mais uma facada em seu coração.

Não.

Sasuke estava vivo.

— Onde foi a batalha? Eu mesmo vou lá.

Kisame suspirou balançando a cabeça negativamente, não adiantava contradizê-la, Sakura estava em negação. Só acreditaria quando visse com os próprios olhos e por isso, ele disse aonde era o local.

No instante seguinte, Sakura não estava mais parada na frente dele. Correu para o quarto que utilizava no esconderijo, foi até o pequeno móvel onde guardava suas roupas, revirando as gavetas atrás das coisas que precisava.

Grunhiu de raiva, ela arrancou a gaveta do móvel e a jogou no chão finalmente achando o que queria e enfiando nos pequenos bolsos do seu cinto.

— Sakura? Sakura, que merda...?! – Hidan apareceu na porta do quarto, nervoso com todo o barulho que a rosada estava causando.

Ela não o olhou, continuou remexendo suas coisas resmungando coisas indefinidas para ele.

— Sakura! – a chamou de novo quando viu que a kunoichi não tinha lhe dado atenção.

Ainda sem atenção por parte dela, ele se aproximou com passos cuidadosos. Ele percebeu o olhar perdido de Sakura, desfocados, suas mãos tremiam freneticamente enquanto ela procurava alguma coisa.

Hidan desconfiava que Sakura estava em estado de choque e até mesmo ela não sabia o que procurava.

— Ele... Morto... – ela agitou a cabeça, negando algo que passava por sua cabeça.

Hidan se abaixou ao lado dela, agora verdadeiramente preocupado com o estado mental dela.

Sakura parecia completamente fora de si.

— Rosinha, você precisa entender. – tentou pronunciar as palavras da forma mais delicada possível. – Mesmo que ele não esteja morto, Sasori iria caçá-lo sem descansar pra vingar Deidara.

Ele levantou a mão, a aproximando da garota, para tentar reconfortá-la, mas quando estava perto de tocá-la Sakura soltou um rosnado alto.

Hidan arregalou os olhos  e deu um passo para trás, se afastando dela, ao ver os olhos de Sakura brilhando verde neon, estreitos como um animal pronto para atacar.

— Ele está vivo. – disse com voz arrastada, como um grunhido vindo do fundo de sua garganta. – E se Sasori ou qualquer um de vocês, sem ser o Itachi, encostar em um fio sequer dele... – as mãos da kunoichi começaram a brilhar, de seus dedos seu chakra se emoldurou como unhas.

Hidan a olhou de cima a baixo, horrorizado com a transformação dela.

— Hidan.

O nukenin olhou para trás, encontrado Itachi parado na porta.

O usuário do Sharingan não olhava para seu companheiro de Akatsuki, mas sim para a kunoichi de Konoha que agora tinha voltado ao seu estado de zumbi remexendo nas coisas jogadas no chão.

Sabendo que não poderia fazer mais nada pela garota, Hidan se retirou do quarto.

Itachi se aproximou da garota parando em sua frente. Sakura ainda mexia em suas coisas, completamente alheia a presença do Uchiha.  Ele flexionou os joelhos e envolveu o rosto da garota com ambas as mãos, a forçando a olhá-lo.

Sakura arregalou os olhos o encarando. Reconhecendo os traços de Itachi, tão parecidos com os do irmão, ela relaxou os músculos.

Ele afastou uma das mãos do rosto dela e a ofereceu para a garota. Sakura entendeu e depositou sua mão sobre a dele. Itachi a guiou até a cama , onde os dois sentaram e ele a abraçou de lado.

— Ele não pode estar morto, não pode. – ela sussurrou desesperada.

Itachi suspirou a apertou contra si, encostando a bochecha contra o topo da cabeça dela. Não disse nada, não conseguiria falar nada. Sakura se agarrou as vestes dele, enterrando seu rosto na camisa escura e ali mesmo desabou.

Sakura chorou até seus pulmões e gargantas doerem e quando suas lágrimas secaram, ela continuou soluçando, se agarrando desesperada a Itachi.

Ele esperou pacientemente, em silêncio até Sakura se acalmar.

Depois de um tempo, os soluços pararam e respiração dela se acalmou, mas os dois não se afastaram.

Outra pessoa pensaria que a garota teria caído no sono, mas Itachi sabia que ela estava bem acordada, quase podia ouvir as engrenagens da cabeça dela maquinando.

Sakura se afastou dele, seus braços caíram como pesos mortos dos lados do seu corpo.

— Eu vou atrás dele. – ela disse de repente.

Itachi suspirou fechando seus olhos.

— Sakura...

A rosada o olhou incrédula.

— Ele não morreu, Itachi. – ela disse de forma sofrida. – Você devia concordar comigo, você devia me apoiar.

Ele desviou o olhar para o chão.

— Acha que me agrada ouvir que meu irmão morreu?

Sakura se pôs de pé.

— Me recuso a acreditar que ele morreu. – ela o olhou nos olhos. – Me recuso a acreditar que nós abandonamos nossa vila, nossos amigos, nossa família. – Itachi fechou os olhos claramente sentido pelas palavras dela. – Abandonamos tudo e agora ele... – a frase morreu nos lábios dela, Sakura engoliu seco desviando o olhar por um instante para o chão. – Eu simplesmente não posso. – concluiu com a voz fraca e falhada.

 Itachi respirou fundo e encolheu os ombros.

 — Sabe que não poderei com você. - ela assentiu. – E também sabe que se for e for descoberta, os outros vão considerar isso como traição. – disse se referindo aos outros membros da Akatsuki.

Ela assentiu mais uma vez, com confiança.

 Os membros Akatsuki podiam não ter muita ligação entre eles, mas tinham o bastante para colocarem o nome de Sasuke em sua lista negra.

 — Tentarei te ganhar algum tempo, mas não garanto mais do que alguns dias.

 — Diga que teve que me manter em um genjutso porque eu estava com descontrole emocional, Hidan irá confirmar.

 Itachi estreitou os olhos um pouco, com a leve impressão que Sakura estava, pelo menos um pouco, lúcida quando Hidan veio ajudá-la e ficou assustado.

 Sakura decidiu partir no meio da madrugada quando sabia que Hidan saia para fazer suas orações e também pelo fato de que não poderia simplesmente deixar Itachi assim do nada.

 Ela tinha certeza que Sasuke estava vivo, mas sabia que Itachi ainda não estava confiando naquilo e sofria com o pensamento do irmão morto.

 Fez sua última sessão de tratamento com ele, não sabia quanto tempo passaria fora e queria deixá-lo o melhor que conseguiria e ficou o resto do dia enfurnada no quarto do Uchiha mais velho.

 Como o irmão, Itachi não era de demonstrar com palavras o que estava sentindo, por mais que ele, nessa questão, superava e muito Sasuke. Sua forma de demonstrar era por ações e pequeno gestos.

 Ela sabia que ele gostava de ouvi-la falando sobre suas memórias com Sasuke de quando eram do time 7 porque via como seu olhar ficava vago e um pequeno sorriso orgulhoso no canto dos lábios dele. Sabia que ele gostava dos dangos que ela fazia, gostava de ficar sentado na sombra de uma árvore no final da tarde quando o sol não estava tão quente e a brisa estava fresca.

E pelo pouco que o conhecia, sabia que Itachi precisava sua presença ali pelo menos por algumas horas então ela ficou por perto, o acolheu em seus braços, ofereceu ombro e seu colo se apoiar e então no meio da madrugada, ela deixou o esconderijo da Akatsuki.

Um manto negro a protegia do frio e escondia os fios rosados, ela saiu na surdina, deixando o Uchiha mais velho para trás.

Ele acordou quando o sol estava começando a nascer, ao ver o lado em que ela estava dormindo vazio soube que Sakura foi embora sem se despedir.

E então, enquanto observava o céu clarear, ele fez uma pequena oração pela garota.

Pois ele sabia que se tinham pessoas que se importavam tanto com Sasuke como ele se importava, essas pessoas eram seus antigos companheiros do time 7.