História Private Hell - Newtmas fic - Last Chance

   "Me desculpe mas... quem é você?" 

 

A frase ecoa pela minha cabeça desde que Tommy a disse. Certamente alguma brincadeira dele… com certeza é isso, Tommy sempre foi muito brincalhão.

 

- Como assim, Tommy? - Questiono sem jeito.

 

- Eu não sei quem é você, até diria que é algum enfermeiro mas pela roupa acredito que não seja. - Ele responde me olhando de cima a baixo. - Ou você é?

 

- Não sou enfermeiro… mas você realmente não sabe quem eu sou? - Volto a perguntar, aquela parcela mínima de esperança de que isso seja uma brincadeira dele.

 

Tommy faz uma cara de pensativo e então responde.

 

- Está tudo meio confuso aqui sabe. - Ele cutuca a cabeça. - Realmente não sei quem é você, porém acredito que seja amigo da Teresa.

 

Engulo a seco. Isso não é uma brincadeira. Tommy não sabe quem eu sou, não sabe nada sobre a gente.

 

E isso é o suficiente para me destruir. Consigo sentir meu coração frágil e debilitado ruir em milhões de pedacinhos. Meu mundo acaba de desabar de vez.

 

- Ei, você está bem? - Tommy está com o olhar preocupado.

 

- Não… sim, sim estou bem… - Respondo apressado. - Eu… eu vou chamar a Teresa. - Dou um sorriso amarelo e me viro em direção a porta.

 

Meus olhos se enchem de lágrimas e um nó se forma em meu estômago.

 

Antes que eu possa sair do quarto Tommy me chama.

 

- Nós somos amigos também? - Permaneço de costas para ele, não me atrevo a encarar Tommy.

 

- Sim… - Respondo e então saio do quarto.

 

Do lado de fora e com as costas apoiada na porta, eu finalmente desabo. Minhas pernas perdem o que me restou de forças e eu caio de joelhos no chão.

 

Teresa que está sentada em um banco arregala os olhos assustada assim que me vê.

 

- Newt, o que aconteceu? - A morena pergunta se abaixando na minha frente.

 

- Ele não se lembra de mim Teresa… o Tommy não sabe quem eu sou. - Minha voz sai trêmula e falha.

 

- Isso não pode ser sério. - Teresa murmura incrédula.

 

- Mas é… ele se esqueceu de mim… se esqueceu da gente.... - Minha visão está embaçada devido ao choro e todo meu corpo treme.

 

Teresa me abraça e começa afagar as minhas costas tentando me tranquilizar. Estou fora de mim e não me importo se alguém vai passar e ver o estado deplorável em que me encontro.

 

Não faço ideia de como Teresa fez mas em um momento a morena consegue me levantar, seus braços envolvem a minha cintura e ela me carrega até que meu corpo é solto em uma poltrona qualquer do corredor. Percebo quando ela se afasta indo até algum lugar.

 

- Toma, bebe isso. - Teresa volta me entregando um copo com água, mesmo contra minha vontade permito que a morena leve o copo até os meus lábios, bebo o líquido que desce como fogo, queimando a minha garganta.

 

- Newt preciso que você se foque em mim ok? - Teresa segura meu rosto me fazendo encarar suas orbes azuis. - Olhe apenas para mim, agora respire fundo e solte o ar, continue fazendo isso.

 

Obedeço minha amiga e repito o processo indicado por ela. Uma, duas, três, quatro, cinco vezes. Aos poucos vou me acalmando.

 

- Está melhor? - Tessie me fita ainda com um olhar preocupado.

 

- Sim, obrigado. - Agradeço meio sem graça, novamente estou dando trabalho para minha amiga.

 

- Tudo vai ser resolver, Newt, essa perda de memória deve ser algum efeito da pancada. - Teresa tenta me tranquilizar.

 

Faço um aceno com a cabeça concordando com a morena.

 

- Teresa!

 

Me viro na direção da voz e vejo Mary vindo em nossa direção acompanhada de um médico, provavelmente o responsável por Tommy .

 

- Irei vê o Thomas e assim que terminar permito sua entrada. - O médico avisa antes de seguir seu trajeto.

 

- Demorei? Vim o mais rápido que pude assim que me avisou. - Mary se explica para a filha. - Vocês falaram com o Thomas? Ele está bem?

 

Desvio o olhar para o chão e deixo que Teresa responda, não quero correr o risco de me descontrolar e voltar a chorar.

 

- Acho que o Tom sofreu uma perda de memória, ele não se lembra do Newt. - Teresa sussurra. - Mas se lembra de mim.

 

- Oh, eu sinto muito, Newt. - Mary afaga meu ombro. - Não se preocupe ok? Tudo vai se acertar.

 

- Não, é, está tudo bem. - Respondo desanimado.

 

Minha sogra apenas dá um sorriso triste e fica em silêncio.

 

- Mary O’Brien? Já pode ir ver o Thomas, me acompanhe por favor. - Uma enfermeira se aproxima nos avisando.

 

Mary se despede de nós e segue até o quarto de Thomas.

 

- Acho melhor eu ir para casa. - Anuncio me pondo de pé.

 

- Eu vou com você! - Teresa rebate.

 

- Não precisa, não é como se eu fosse bater o carro e me matar. - Digo dando de ombros.

 

- Tudo bem. - A morena concorda a contra gosto.

 

- Me liga se tiver alguma novidade? - Pergunto.

 

- Ligo sim. - Teresa me dá um longo abraço. - Se cuida por favor.

 

Murmuro um “Vou me cuidar” e me despeço da morena. Saio do hospital sentindo que uma parte de mim ficou lá dentro e não sei afirmar se um dia irei recuperá-la.

 

(...)

 

Adentro a Mansão Sangster seguindo até meu único destino, o quarto. A casa inteira parece ter perdido o que restou de conforto e agora é apenas um lugar frio e solitário.

 

Chegando no meu quarto me sento na cama e permaneço ali, apenas pensando em tudo que aconteceu nas últimas horas. Saio dos meus devaneios somente quando escuto duas batidas na porta.

 

- Pode entrar!

 

- Atrapalho? - Mamãe pergunta.

 

- Não. - Respondo dando duas batidinhas no colchão, para que a mais velha venha se sentar.

 

- Como foi lá no Hospital? - Sua voz possui um tom de receio. - Aconteceu alguma coisa, Newt? - Ela acrescenta devido ao meu silêncio.

 

- Mais ou menos… - Minha resposta sai como um sussurro. - Tommy não se lembra de mim.

 

- Ele perdeu a memória? - Ava está visivelmente confusa e eu não a culpo, até eu ainda estou assim em relação a tudo.

 

- Acho que foi uma perda parcial de memória porque ele não se lembra de mim mas se lembra da Teresa. - Explico o ocorrido.

 

- O médico não disse nada sobre isso?

 

- Vim embora antes de saber isso mas Teresa prometeu que vai ligar assim que souber. - Respondo apoiando a cabeça no ombro dela.

 

- Sei que está sendo difícil mas tudo vai ficar bem. - Ava beija o topo da minha cabeça enquanto afaga minhas costas.

 

Novamente me sinto fraco e indefeso. Ava perdeu a filha e mesmo assim é ela quem está me dando suporte enquanto eu não consigo fazer nada. Sou grato por ter mamãe junto de mim novamente e desejo um dia ser tão forte quanto ela.

 

- Eu te amo, mãe! - Sussurro a abraçando.

 

- Também amo você, Newt.

 

Permanecemos assim por um longo tempo até que Teresa me liga e Ava se retira alegando que não iria atrapalhar a conversa.

 

- Oi Tessie, alguma notícia?

 

- Sim, o médico disse que ele teve uma perda de memória temporária e que isso é bem comum nos casos iguais ao do Thomas, e que dentro de alguns dias ele já irá se lembrar de tudo. - Teresa me explica calmamente, um pequeno alívio sobe pelo meu peito.

 

- Tommy se lembrou de Mary? - Consigo ouvir a respiração de Teresa apesar da mesma estar em silêncio.

 

- Sim. - Ela responde o que de fato eu já imaginava. - Porém o médico disse que também é normal ele se lembrar da família primeiro que dos amigos.

 

- Tudo bem, Tessie.

 

- O Tom deve receber alta amanhã.

 

- Isso é ótimo, vai ser bom ele ficar com a família. - Comento dando um riso fraco. - Se acontecer alguma coisa me avisa ok?

 

- Pode deixar, se cuida, beijos. - Teresa se despede e então finaliza a chamada.

 

Jogo meu celular em cima da mesinha de cabeceira e me deito. Minha cabeça está fervilhando enquanto processa tudo o que vem acontecendo.

 

Solto um longo suspiro e fecho os olhos, preciso de um pouco de descanso e calma. Talvez nem tudo esteja perdido. Talvez ainda exista uma solução onde as coisas irão se acertar.

 

(...)

 

Uma semana se passou desde que Tommy acordou. A semana mais difícil que enfrentei e possivelmente a primeira de muitas.

 

A semana em que eu tive que presenciar Thomas se lembrando da sua vida, da escola, do hospital e do seu trabalho, dos momentos com os seus amigos e aonde eu me encaixo nisso tudo? Em lugar nenhum. Eu ainda sou apenas um desconhecido para ele.

 

Doeu demais ver ele se lembrando de coisas bobas como da vez que ele e Minho fizeram uma competição de quem ficava mais tempo sem piscar e não se lembrar de mim. Do seu namorado ou melhor, ex, porque é isso que acho que eu me tornei. Doeu vê que ele não se lembra que salvou a minha vida naquele dia na ponte e que ele foi o responsável por me tornar quem eu sou hoje.

 

Foi uma dor diferente, quase familiar, a dor e o vazio são as únicas coisas que ainda habitam o meu corpo. Felicidade já é algo quase que desconhecido e digo isso em um sentido geral.

 

Faz dois dias que mamãe e eu se mudamos para a casa nova e diferente da primeira vez que pus meus pés lá, agora o lugar era apenas mais um qualquer, como se todo o conforto que eu senti ao estar lá tivesse desaparecido.

 

Desaparecido assim como eu, que aos poucos vou deixando de fazer presença na vida de todos. E o exemplo disso são os meus amigos.

 

Assim que Thomas teve alta do hospital, Teresa teve a brilhante ideia de todo dia sairmos por aí para ajudar Tommy a recuperar a memória aos poucos e esses encontros deram muito certos, Thomas se lembrou de boa parte das coisas.

 

Mas eu não fazia parte disso, então foi como se eu desistisse. Eu não tinha mais forças para insistir. E se afastar foi a melhor opção que eu tive. Já faz dois dias que eu não vou mais nos encontros, sempre dou uma desculpa qualquer e talvez esses dois dias aumentem para quatro, sete, dez, sinceramente eu ainda não sei.

 

Era para eu estar com eles agora mas apenas fiquei em casa, onde passei o dia com Trina. A loira me aconselhou dizendo que eu não deveria desistir mas não dei muito ouvido para ela.

 

Já faz alguns minutos que ela foi embora e eu fiquei só novamente. Decido sair do quarto e ir ver Ava, pelo menos um filho bom eu tenho que conseguir ser. Ao contrário da minha antiga e gigante casa, nessa eu não preciso procurar muito e logo a encontro na sala.

 

- Newt, quem bom que está aqui, preciso falar com você. - Ava exclama assim que me ver.

 

- Aconteceu alguma coisa? - Pergunto me sentando de frente para ela.

 

- Recebi uma ligação do meu advogado e tenho que ir até a França para tratar de um negócio que ficou em aberto, sei que está passando por um momento difícil e gostaria de saber se não quer ir comigo, talvez ajude você a esfriar a cabeça. - Ava me explica a situação com calma. - Isso se estiver tudo bem para você, posso tentar adiar para outro momento se quiser.

 

- Quanto tempo pretende ficar por lá?

 

- No máximo uma semana, caso eu eu vá, a viagem será daqui a três dias. - Ava responde.

 

- Ok, óbvio que você pode ir mas quanto a eu ir, posso dar a minha resposta depois? - Indago pensativo.

 

- Pode sim. - Mamãe sorri. - Que tal se eu fizer um delicioso bolo de chocolate e isso ser a nossa janta acompanhado de bastante sorvete?

 

- Acho uma ótima ideia. - Respondo sorrindo, mesmo que eu não esteja com fome irei dar esse presentinho a Ava.

 

- Muito bem! - Ava dá uma piscadinha antes de se levantar e seguir até a cozinha.

 

Solto uma risada sincera. Ava Sangster ou melhor, Ava Paige, é uma figura e exemplo de pessoa.

 

Me levanto disposto a ajudá-la. Antes que eu possa prosseguir sou interrompido pelo vibrar do meu celular, saco o mesmo do bolso e vejo que é uma mensagem.

 

Tommy sz

Hey Newt, blz? Espero que sim já que você não tem mais saído com a gente.

Desculpa se eu sou o motivo de você ter se afastado mas eu quero que saiba que eu realmente quero me lembrar de você, Newt. Então gostaria de saber se topa sair amanhã, só você e eu.

Espero uma resposta, abraços :)

20:30hr

 

Releio a mensagem várias e várias vezes até chegar em uma resposta.

Uma última chance. Darei uma última chance a Tommy. Me permitirei dar uma última chance a nós.