História Problem Girl - Você faz parte da minha vida

Eu estava deitada no quarto e por algum motivo não parava de pensar em Daniel. Seu sorriso não saia da minha cabeça a ponto de estar me irritando.
-Está acordada?- Ouvi um sussurro, olhei para Mel e seus olhos estavam vidrados em mim.
-Não consigo dormir.
-O que está tirando o seu sono?- Ela perguntou. Daniel respondi mentalmente e quis me matar, ela sorriu de lado. -Acho que consigo imaginar.
-E você?- Perguntei mudando de assunto, ela sorriu de um jeito bobo e depois respirou fundo voltando a ficar seria.
-Sei lá. Acho que tô pensando que pareço ter doze anos de novo.- Ela disse, eu ri.
-Por que?
-Porque foi a última vez que eu senti o que estou sentindo por Scott.
-Você não se apaixona desde os doze?
-Não. Eu não tenho tempo. Enquanto eu estava no Brasil minha vida era cuidar dos meus irmãos e ajudar meu pai é minha mãe na condição financeira e... Sei lá. Tenho medo das crianças não gostarem do Scott. Ou então ele não gostar das crianças, aí eu surto. 
-Você consegue pensar em você mesma em algum segundo? Ele não te faz feliz?
-Faz. Mas minha vida é dedicado a quem está lá no Brasil contando os dias para me ver.- Fiquei em silêncio. Mel tinha uma família que a amava muito. Acho que todos aqui tem um monte de dinheiro e só ela tem o que todo mundo queria: Amor. Sem querer acho que me deixei parecer abatida por isso. -Está tudo bem, Lis?
-Acho que tá.- Respondi baixo, seguida por um silêncio enorme. Acho que ainda no efeito do álcool eu comecei a chorar. -Não tá tudo bem.
Ela saiu da cama dela e veio para minha me abraçar.
-Eu disse algo que...
-Não.- Cortei ela tentando respirar fundo. -Meu pai era tremendamente apaixonado pela minha mãe. Muito. Tudo na vida dele era em torno da minha mãe. Certa vez ela decidiu que queria ter um filho, como tudo que ela pedia ele concordava depois de um tempo ela engravidou. Essa infeliz pessoa era eu, dentro da barriga dela. Ela estava radiante de felicidade, mas meu pai nunca gostou do fato de eu ser uma menina. Minha mãe teve uma rara complicação no parto e a enfermeira perguntou se ela preferia se salvar ou me salvar. Sem pensar duas vezes minha mãe me salvou, me deixando no mundo apenas com o meu pai, que me odeia com todas as forças e me culpava todos os dias da minha vida até meus sete anos pela morte da minha mãe. Foi então que ele me mandou para cá. Pois eu estava começando a parecer com ela. Tia Debora que sempre vem me buscar no aeroporto e é no sítio dela que fico nas férias, ela me adora como uma filha mas mesmo assim sinto que realmente ninguém me ama como um pai ou uma mãe me amariam se tudo fosse normal. Até porque agora eu me tornei o que eu sou. E eu fico pensando que se eu aos sete anos conhecesse a pessoa que sou hoje, eu não iria gostar.
-Claro que iria...- Ela tentou dizer e eu balancei a cabeça.
-Eu sou uma decepção para eu mesma.- Ela me abraçou sem ter mais o que falar. 

                                  [...] 

-Você tá melhor? -Mel me perguntou assim que acordei
-Sim, agora você faz parte da minha vida é não pode mais sair -Eu disse e ela sorriu
-Que fofa -Ela disse e eu dei um dedo do meio, ela gargalhou. E só então notei em quão amigas eu e aquela menina com cara de arrogante iramos ficar.
-Lis.- Ouvi a voz de Thomas na porta. -Aula de educação física. Você vem ou não?
-Estou indo.- Falei suspirando, Mel e Alice entraram em um assunto que não consegui acompanhar e eu fui para fora do quarto até a quadra.
-Não vejo a hora de sair daqui e ir para a malharia.- Thomas suspirou, automaticamente lembrei de Daniel. Fiquei com raiva de mim mesma, afinal, tia Rita e tia Lucia me adotaram como uma filha. Mas só consigo lembrar dele quando falam em ir pra malharia.
-Nem fala.- Respondi depois de um tempo.
As aulas passaram se arrastando, finalmente bateu o sinal. Peguei minha bolsa e corri para a malharia, Melissa, Thom e Alice já estavam lá. Sorri.
-Bom dia tia Rita, bom dia tia Lucia.
-Bom dia? Dia maravilhoso! Você não tem noção do que o Harry fez.- alice disse apaixonada.
-Pegou a varinha e foi para Hogwarts.- Thomas disse, Alice olhou pra ele com raiva e nós rimos.
-Para Thomas!- Falei empurrando ele que ainda ria, olhei para ela esperando ela falar o que ele fez de tão bom.
-Ele me deu uma flor. Do nada. Eu tava passeando e de repente ele aparece do meu lado, me gira e põe a flor no meu cabelo.
-Agora fala o que ele falou!- Tia Rita pilhou.
-"Uma flor para uma flor"- Ela disse, me segurei pra não rir. Acho que todo mundo fez isso. Alice estava tão feliz, abracei ela.
-Você merece várias flores. E Harry é um gato.- Falei, ela sorriu. Alice era a nossa bebê. 
-Mas e você e o Scott?- Thomas perguntou, Melissa sorriu bobo e todo mundo riu.
-Aí, odeio essa melação.- Ela disse revirando os olhos.
-Ah! Óbvio!- Alice disse. -Odeia mas está toda boba quando ouve o nome dele.
-Da pra notar?- Ela disse corando um pouco, nós rimos e ela corou mais ainda. -Gente para! A gente ficou uma vez. E foi por conta de toda aquela situação chata...
-Vocês são lindos juntos!- Tia Lucia disse, ela suspirou.
-Vinicius iria surtar.- Ela disse, bufei.
-Quem vai surtar sou eu se você tocar nesse nome de novo aqui dentro.- Falei, ela ficou em silencio, fiquei imaginando onde estaria Daniel. Não aguentei a curiosidade e arrisquei perguntar. -Onde está Daniel?
-Sentiu saudades?- Ouvi a voz dele por trás de mim, meu sangue gelou, disfarcei.
-No caso você trabalha aqui, normalmente você estaria aqui, certo?- Falei, ele sorriu de lado.
-Você nunca sai da defensiva?- Ele perguntou.
-Nunca.- Thomas respondeu por mim, ouvimos o som de mensagem chegando, Melissa pegou o celularzinho dela e arregalou os olhos.
-Gente, tenho que ir. Esqueci meu casaco com o Vini. Vejo vocês mais tarde.