História Problemas De Segurança - Capítulo Único

— Você precisa ter cuidado.

— Eu tive.

Ladybug estava caminhando em círculos no seu quarto, repetindo o mesmo sermão nas maneiras mais distintas possíveis. Ele sabia que ela tinha muito para dizer no momento que ela chegou no quarto dele aquela noite, mas a quantidade de tempo que ela estava tomando era uma surpresa para ele, e ela não parecia estar nem um pouco perto de acabar.

Enquanto isso, Adrien estava sentando no sofá, já muito esgotado para discutir com ela.

— Você estava correndo para o ponto exato do conflito! — Ela o reprimiu novamente.

— Eu não sabia o que estava acontecendo.

— Todo mundo estava correndo na mesma direção e você foi pro lado contrário!

— Eu só estava curioso.

— Eles estavam gritando!

Adrien não argumentou dessa vez, porque ele não podia pensar numa maneira de explicar para sua namorada furiosa que quando ele correra em direção à uma explosão, ao invés de seguir Nathalie para a segurança, ele pretendia ajudá-la a salvar a cidade depois de ter se transformado em Chat Noir, seu alter-ego e protetor de Paris.

Agora, algumas horas depois de ser salvo por Ladybug (e secretamente ter se transformado e a ajudado a derrotar o akuma), ele estava levando uma bronca de uma super-heroína muito furiosa. Ele ficaria com medo se ela não ficasse tão linda quando estava com raiva.

Com raiva e preocupada com ele.

Depois de um instante do olhar silencioso e reprovador de Ladybug ele suspirou.

— Desculpa.

— Desculpa? É só isso que você tem pra dizer? Só 'desculpa'?

— O que você quer que eu diga? — Ele passou uma mão pelo seu cabelo, desconfortável com o ponto que a situação havia chegado.

— Você percebe que você poderia ter se ferido gravemente? — Ela marchou para perto dele, — Ou, Deus me livre, algo ainda pior!

— Você não deixaria.

— Eu não sou invencível! — Ela colocou suas mãos no seu peito, rosto vermelho de frustração, — Eu não sou infalível! E se eu não tivesse te pego a tempo?

— Então eu teria tomado conta da situação, — ele disse com um sorriso, tentando deixar o clima um pouco mais leve.

Ele franziu a testa ainda mais, nem um pouco entretida pela sua tentativa de humor.

— Você pode levar isso à sério? — Ela perguntou em uma voz mais calma e mais fria, que não o acalmou nem um pouquinho.

— Eu levo. — Quando ela fez uma expressão de incredulidade ele pôs mais convicção em sua voz, — É sério, eu levo. Eu só não quero que você fique preocupada toda vez que alguma coisa acontecer comigo. Eu posso tomar conta de mim mesmo. Eu estava me saindo muito bem antes da gente ficar junto, lembra?

— Você me faz imaginar como você conseguiu!

Ele sabia que ela não havia dito isso de maneira brincalhona, mas ele sorriu assim mesmo.

— Não vou revelar meu segredo! Além do mais, não é como se eu fosse o único civil que você precisou salvar. Eu não vejo você passando um sermão pra cada pessoa que você salva…

Ela interrompeu sua defensa se sentado ao seu lado no sofá e pegando uma das mãos dele nas suas.

— Só me prometa que você vai ter cuidado, — a voz dela agora soou cansada e frágil, olhos pedintes e lacrimejantes ao invés de brilharem com raiva.

Ele conhecia essa expressão muito bem.

“Ela é só uma garota”, Adrien se recordou. “Ela é uma adolescente, que nem eu. E por trás das máscaras e dos superpoderes ela é só uma garota carregando o fardo de um herói, carregando os mesmos medos e inseguranças que eu carrego.”

Adrien não trocaria a oportunidade de ser Chat Noir por nada nesse mundo, mas ele não podia negar que a posição era custosa. Cada vida civil era sua responsabilidade, estando ele no seu uniforme ou não; e se alguém se ferisse seria por causa dele, porque ele não era bom o bastante, ele não era nem um pouco perfeito. O coração dele se apertou dentro do peito quando ele se lembrou do dia que ele achou que tinha perdido Ladybug para sempre na luta deles contra Animan.

Ele entendia exatamente como ela se sentia, mas Adrien não tinha nenhum superpoder para assegurá-la, para pedir que ela confiasse que ele poderia tomar conta de si mesmo. Não quando havia prédios entrando em colapso, veículos caindo do alto e explosões enchendo os céus.

Ele suspirou novamente e então virou seu corpo de frente ao dela, soltando as suas mãos para acariciar suas maçãs-do-rosto, os olhos dele fixos nos dela, grandes poças do oceano que faziam ele querer se afogar toda vez que ela olhava para ele.

Ele pôs uma mão no ombro trêmulo dela, tentando dar a ela tanto conforto quanto era possível e ainda assim ter uma conversa que claramente a deixava chateada.

— Você realmente não precisa se preocupar tanto comigo, você sabe disso.

— Eu me pergunto se ele sabe, — ela ignorou o que ele disse, dando voz ao seu pior medo.

— O quê?

— Hawkmoth. — A voz dela tremeu de ansiedade, — Eu me pergunto se ele sabe o quanto você significa pra mim.

— Ele não sabe.

— Tem certeza? Porque ele já chegou bem perto de você antes. Lembra da Volpina? Eu quase desabei. E Jackaddy? Eu estava morrendo de preocupação!

— Essas foram só coincidências. — Ele tinha certeza. Ele passara algumas noites sem dormir tentando encontrar um sentido nesses ataques, mas concordando com Plagg no fim das contas, e classificando todos eles como meros danos colaterais.

— É por isso que eu preciso que você tenha cuidado! — Ela ergueu uma de suas mãos e agarrou um punhado da sua camisa, — Se alguma coisa acontecer com você de novo eu posso não ser capaz de reagir de maneira adequada e ele vai descobrir sobre nós! Hawkmoth vai usar todos que eu amo como alvo.

— É por isso que ele sempre usa Chloé?

— Não tem graça, Adrien, — ela tentou com muita vontade não ficar com raiva de novo, — Eu não pensaria duas vezes em entregar meu miraculous se você estivesse em perigo.

— Você não pode fazer isso! — Ele arquejou, olhos arregalados, mas já sabendo que ela falava a verdade. Ele também entregaria a dele se fosse para salvá-la. Não que ela precisasse saber disso.

— Bem, eu não posso perder você, — ela sussurrou, olhando fixamente para sua mão enluvada repousando sobre seu peito.

Ele trouxe o rosto dela para mais perto do seu, demoradamente beijando sua testa antes de sussurrar.

— Você não vai.

Um dia ela iria saber que ele era, na realidade, seu parceiro super-herói, que conseguia derrotar a polícia parisiense inteira sozinho. Que podia distrair uma horda múmias e um exército hipnotizado por quanto tempo ela precisasse. Que saltava pelos tetos dos edifícios e constantemente escalava a torre Eiffel. Ela iria saber o quão forte e ágil ele era.

Mas ela também iria saber que era ele quem sempre pulava na frente dela para salvá-la. Que não pensava duas vezes antes de por sua vida em risco para protegê-la. Que recebia o ataque e se deixava ser posto sob controle do Akuma para que ela pudesse salvar o dia. Ela iria saber o quão longe ele estaria disposto a ir para mantê-la segura. Um dia ela iria saber que ele era Chat Noir, protetor de Paris, e ele não sabia se ela iria ficar aliviada ou aterrorizada.

Mas, até que esse dia viesse, ele iria continuar a viver como duas pessoas diferentes com ela. E ele iria estar ao seu lado, qualquer seja a maneira que ela precisasse dele. E ele iria fingir não saber que ela e Adrien estavam celebrando seu aniversário de três meses, mesmo que Chat Noir soubesse de coração quando eles tinham ficado juntos. E ele iria rolar os olhos quando ela contasse a ele os trocadilhos ridículos do Chat Noir, mesmo que Adrien soubesse que lá no fundo ela amava as piadas dele.

Mas até que esse dia viesse ele iria se assegurar de que ela não enfrentasse nenhum pesar, nem dificuldades. O bem estar e a felicidade da sua lady eram responsabilidade dele, e ele iria se assegurar de fazer um trabalho bem feito como seu parceiro; tanto na luta contra o crime quanto no amor.