Angely
-Ah, mas eu mato aquele Elmo desgraçado!
Eram quase três horas da manhã e eu ainda estava redigitando aqueles relatórios.
Baguncei meus cabelos, rosnando.
“Com certeza agora ele deve de estar traçando uma qualquer enquanto eu estou aqui, fazendo esta merda.”- pensei, bufando.
-Só mais três páginas apenas. Aí eu termino.- falei, tentando ser positiva.
Tomando um gole de café, voltei a digitar.
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Estou completamente acabada!
Meus pés doem, minha cabeça dói; tudo dói!
Carreguei aquelas pastas até o 56º andar e quando vi aquela mesa, quase dei graças a Deus.
-Vejo que chegou, querida. - a voz doce e calma de Arlette ecoou pelos meus ouvidos.
-Bom dia Arlette.- falei com um sorriso fraco, colocando minha bolsa e aquelas pastas sobre a mesa.
-Bom di...- ela se interrompeu, olhando para mim. -Você não dormiu?
-O quê? Como você...- ela me interrompeu, passando os dedos sob meus olhos.
-Excesso de corretivo para apagar olheiras. - corei, envergonhada.
-Desculpe...- falei.
-Foi por causa desses relatórios?- ela olhou para as pastas.
-Sim...- assenti.
-Eu vou castrar aquele moleque!- exalava raiva.
-Acalme-se, Arlette.- pedi. -Não é a primeira noite em claro que eu passo.
-Que eu não encontre com ele, ou ele é um homem morto.- ri fraco.
-Só você mesmo...- neguei com a cabeça.
-Tem um pouco de café na copa, se quiser.- ela disse. -Castiel já, já irá chegar. Você se lembra do café dele?
-Sim, sim. - fiz sinal positivo com o polegar.
-Ótimo.- ela pegou a bolsa. - Eu vi que você acabou com os documentos da terceira seção. Pode ir para a quinta. A quarta eu mesma já organizei.- deu uma piscadela. -Até mais, querida.- se despediu um beijo em minha bochecha.
Fui até a copa e preparei um café para mim e deixei o do meu querido chefinho num copo térmico em cima de minha mesa.
Peguei alguns documentos da quinta seção e comecei a analisá-los.
Tomei um gole de café, olhando o relógio. “Ainda é cedo”- pensei.
Eu via aqueles relatórios de compra de armas, lucros de boates e boites, todos misturados.
Lembrei-me da conversa que tive com minha avó.
"Meu telefone tocou. Notei que era aquele celular que minha avó havia me dado. Vasculhei a bolsa e o achei, atendendo rapidamente.
-Alô?- falei.
-Angely? Você está bem?- ouvi a voz dela e suspirei aliviada.
-Uhum, vovó.- respondi. -Novidades?
-Acredite ou não, seu pai está procurando por você feito um louco.- ela disse.
-Realmente? Para quem não estava “nem aí”, ele está se esforçando demais.- revirei os olhos.
-Não queria te dizer isso, mas você deve saber...- o tom de voz dela estava preocupado. Franzi o cenho. -O seu pai... Ele queimou todas as coisas que pertenciam à sua mãe.
-Ele não fez isso.- eu disse, não acreditando.
-Mas ele o fez. Inclusive, ele queimou e demoliu o prédio que ela comprara para fazer aquela escola que ela tanto queria.- Arregalei meus olhos.
-Aquele desgraçado!- bati o pé no chão com uma força extrema. Senti as bochechas coradas de raiva. -Ele a amava! Por que faria isso?
-Ele quer fazer de tudo para chamar a sua atenção e fazê-la sair de seu esconderijo.- minha avó conhecia muito bem o próprio filho.
-Ah, então é isso.- sorri de escárnio. -Me faça um favor. Diga a ele que quando eu o encontrar, vou arrancar aquilo que ele chama de pau e vou fazê-lo engolir!- exclamei.
-Ora, Angely! Modos! Ele é seu pai!- ela pediu.
-Ele deixou de ser isso há três anos. Tudo o que vivíamos era uma mentira.- neguei com a cabeça.
-Céus... Que vocês não se encontrem novamente. - eu sabia que ela negava com a cabeça. -Querida, tenho de desligar. Se seu pai desconfiar, sabe-se lá o que ele pode fazer. Beijos, minha neta. Te amo.
-Ok. Também te amo. Tchau.- encerrei a ligação e joguei o telefone dentro da bolsa."
Meu pai está completamente pirado. Para ele ter destruído as coisas da mamãe, algo o possuiu.
O tilintar do elevador chamou a minha atenção. “Meu chefinho chegou.”- pensei.
Ouvi seus passos e deu uma rápida olhada para ele. Ele estava com o corpo tenso. “Alguém não teve uma boa noite...” Percebi que ele me analisava.
-Bom dia.- falei.
-Hm.- respondeu, seco. Bingo! A puta não deu direito. Dei uma risada. - Do que ri?
-Por que o mau humor?- Virei-me para ele. - Sei que isso é algo de praxe, mas hoje você está mais exaltado. - arqueei a sobrancelha levemente. -A vadia com quem você se atracou não deu conta do recado?
-Ora, cale-se!- ele ficou nervoso. Sorri convencida.
-É, eu tinha razão.- dei de ombros, me virando.
-Onde está o meu...- não deixei ele terminar e coloquei o copo de café sobre a mão dele. -E os rel...- assim como as pastas.
-Mais algo?-cruzei os braços.
-Arlette?- ainda meio estático, ele me perguntou.
-Ela saiu fazem...- olhei no relógio. - Exatos vinte e três minutos. Ainda resolvendo a situação da aposentadoria. - peguei a agenda dele em mãos. -Você não acha que deveria fazer algo pela despedida dela?- eu virava as folhas rapidamente, analisando os conteúdos. -Ela esteve aqui por muito tempo. Merece algo especial, não acha?- encarei-o.
-Providencie tudo.- ele disse. -E não deixe que ela saiba. Uma surpresa será melhor.
-Certamente.- sorri, assentindo. Ele começou a andar em direção à sua sala. -Oh, senhor Collins?- percebi que ele travou no lugar.
-Sim?- perguntou.
-O senhor tem uma reunião com o senhor Dzerjínsky em quarenta e sete minutos.- falei. -Os papéis sobre a reunião estão na terceira pasta em cima de sua mesa.
-Ok.- e saiu dali rapidamente.
Neguei com a cabeça, voltando a me concentrar no trabalho.
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E não importa quem você diz que é
Cantando da janela do seu carro
Encontre outra garota no bar
Porque A-M-O-R não é o que isso era.
Cantarolei, sorrindo. Essa música me faz lembrar dos meus ex- noivos. Principalmente o décimo quinto. Ele achava que só porque estava noivo de mim, tinha o direito de falar que eu pertencia a ele.
-Com licença.- escutei um pigarro. Tomei um leve susto, quase derrubando as folhas em minhas mãos. -Perdão. Eu a assustei?
-Não tem problema.- coloquei as folhas em cima da mesa. -Em que posso aju...- me virei e paralisei.
Era um homem alto, com alguns fios grisalhos surgindo por entre as madeixas ruivas, com aparência de uns 60 anos - apesar de parecer muito mais jovem (se bem que eu não duvido de mais nada nesse mundo). Ele era um tanto forte e sua expressão, logo de cara, me lembrava o meu chefe, assim como seus olhos acinzentados.
-Onde está Arlette?- ele indagou. Ele tinha um sotaque meio russo, percebi isso.
-Ela foi resolver os negócios sobre a sua aposentadoria.- respondi, ainda meio aérea.
-E você, quem seria?- ele me analisou por completo.
-Debby Williams.- estendi a mão para cumprimentá-lo. Ele correspondeu ao gesto.
-Muito prazer, senhorita Williams. Sou Alexander Dzerjínsky.- falou e eu arregalei levemente os olhos. -Meu neto já chegou?
“Neto?”- pensei, um tanto surpresa.
-Ele já está na sala dele.- engoli em seco. -Vou informá-lo de sua chegada.- o homem apenas assentiu.
Peguei o telefone e telefonei para sala de Castiel. Tocava, mas ele não atendia.
-Ele não atende?- indagou.
-Ele não deve de estar ouvindo...- sorri, nervosa. -Vou tentar mais uma vez.- disquei o número novamente e, dessa vez, ouvi o barulho do telefone tocando na sala dele. Rangi os dentes, sentindo as bochechas corarem de raiva. Eu sabia que se eu esperasse mais um pouco cairia na secretária eletrônica.
-Tem certeza de que ele está lá?- ouvi a pergunta do homem. Percebi que a ligação caiu na secretária eletrônica. Sorri com isso.
-Por mais que você tente, eu não vou desistir. - falei ao telefone. -Pode me ignorar à vontade. Eu sei que está aí.- cruzei os braços, apoiando o telefone no ombro. -O senhor Dzerjínsky chegou. Acho melhor você parar de traçar a Keytlyn da recepção, e vir atendê-lo. - encerrei a ligação, colocando o telefone no gancho novamente. Virei-me na direção do senhor Dzerjínsky. - Ele está vindo.- sorri para ele, que estava um tanto surpreso.
Não demorou muito e o barulho de passos foi ouvido. A mulher morena passou reto e entrou no elevador e meu chefe parou ao lado de minha mesa. Sua expressão não era das melhores. Arqueei a sobrancelha, em sinal de desafio.
-Você me paga.- ele sussurrou. Não esbocei nenhuma reação e continuei a organizar aquelas pastas. Os dois se retiraram rapidamente e eu pude, finalmente, respirar.
“De onde eu conheço aquele homem?”- pensei, franzindo o cenho.
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-Foi um prazer conhecê-la, senhorita Williams- o senhor Dzerjínsky se despedia.
-Igualmente.- sorri falsamente.
O homem pegou o elevador e sumiu. Virei-me e encontrei meu chefe me encarando mortalmente. Ignorei-o e voltei à minha mesa, arrumando a minha bolsa.
-Vai me ignorar agora?- ele indagou.
-Quem me dera...- murmurei. -Precisamos conversar.
-Sobre as suas atitudes dentro desse lugar?- foi irônico.
-Não...- revirei os olhos. - Você me pediu para organizar uma festa para Arlette. - falei. -Então, precisamos discutir os detalhes.
-Por quê?- arqueou a sobrancelha.
-Tudo deve sair nos conformes.- coloquei a bolsa pendurada no antebraço. -E você a conhece a mais tempo do que eu.- arrumei meu cabelo. -Nada melhor do que uma discussão sobre o assunto num almoço.
-E quem não te garante que eu não tenho nenhum encontro marcado para agora, no almoço?- ele cruzou os braços.
-Porque qualquer chance de você ter um encontro, eu destruí três horas atrás, interrompendo seu “momento”.- dei uma piscadela e ele pareceu surpreso. -Vamos, então?- não esperei ele e saí andando.
Sorri quando ouvi seus passos atrás de mim.
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