História Projeto: Homophobic. - Unburden

Estamos todos sentados a mesa e comendo uma pizza que fora esquentada no microondas empoeirado e descuidado da família de um dos integrantes daquele pequeno grupo. Os olhos curiosos estavam me incomodando, mas eu não contei nada ao moreno, que agora, parecia despreocupado e feliz. Pelo menos, um pouco mais aliviado do que nas ultimas semanas.

Estávamos em oito pessoas, sendo apenas Sakura e Hinata as garotas e o restante jovens e energéticos garotos curiosos e animados. Jugo e Yahiko são irmãos e provavelmente são os proprietários dessa casa. Mordo a fatia de pizza que Sasuke havia deixado separada para que eu pudesse comer. Kiba se divertia com as garotas e vez ou outra me olhava com o canto de seus olhos e eu não consigo saber se ele está com raiva ou medo do moreno sentado a meu lado.

Numa das pontas da mesa está o garoto mais, como posso dizer, mais interessante. Eu sei que já o vi em algum lugar e tenho certeza que ele me reconheceu, pois todas as vezes que nossos olhos se encontram ele tenta desviar e buscar entrar em alguma conversa para não ter que falar comigo. Foi assim, desde que Jugo nos apresentou, pois nem mesmo Sasuke sabia quem ele era.

As poucas informações que eu consegui é que ele se mudou a alguns anos, mas continuou trocando mensagens com os velhos amigos e resolveu passar as férias, assim como todos os outros, ali, na casa de campo de um amigo.

Jugo, um dos irmãos, é forte e alto, ele consegue transmitir segurança ou medo, dependendo de seu humor. Apenas de olhar para seu perfil eu consigo saber que ele era um dos veteranos mais famosos da universidade, mesmo que eu nunca tenha falado com nenhum. Seus cabelos ruivos eram elegantes e acho que Sasuke ficou um pouco irritado por eu ter passado tanto tempo admirando suas belas pernas grossas.

Já o outro irmão, Yahiko, tinha o corpo parecido com o de Sasuke, tinha um corpo malhado e bem torneado, ele era mais sério e um pouco fechado, por isso não fiquei encarando ele por muito tempo, acho que ele ainda está tentando não lutar contra seus instintos de Veterano.

-- Algo de errado? – Ouço a voz de Sasuke e me distraio enquanto estou apertando o tubo com Ketchup. Acabo por derrubar um pouco em minha mão. – Parabéns... – Não contestei. A culpa foi dele, mas não abri a boca para dizer qualquer coisa.

Antes que eu pudesse limpar em algum guardanapo que estava espalhado pela mesa o moreno segurou minha mão e levou-a até sua boca e começou a sugar o molho de minha pele. Foi um gesto simples e afirmo que eu não me surpreendi. Entretanto, assim que virei novamente meu rosto pude ver as expressões de estranheza, aquilo realmente me deixou desconfortável e eu sei que foi besteira, mas não consegui continuar sentado ali.

Eu não esperava outra reação, principalmente dos garotos que eu acabei de conhecer, mas de Hinata ou Kiba, eu fiquei um pouco abismado. Se eles fizeram aquela expressão de nojo com aquele simples gesto, imagina se vissem um beijo ou outro toque. Eu sou mais forte e nunca abaixei minha cabeça para pessoas assim, mas eu estou tão cansado de ter que passar por isso todas as vezes que estou bem, estou tão cansado disso.

Mordo meu lábio inferior enquanto saia da casa e seguia caminhando pelo caminho de pedras bem alinhadas e belas que tinha ali, segui elas e fui até uma horta que estava do outro lado da casa, mas não parei ali e continuei a caminhar, eu precisava me afastar desse tipo de pessoa.

Mais alguns passos e eu enfim cheguei ao campo aberto que eu tinha visto logo quando estava chegando, ouço um barulho e viro meu rosto rápido demais e sinto uma tontura leve, viro novamente meu rosto e vejo... Gaara... Ele estava entre as arvores, mas logo some. Finalmente me dou conta do que estava acontecendo, eu estava sozinho, numa floresta, durante a noite.

Meu coração bate mais rápido quando eu não consigo mais ver as luzes da casa, eu sei a direção que eu vim, mas eu estava tão perdido em pensamentos que não tinha reparado na distancia que percorri. Eu passei por toda aquelas arvores distorcidas e assombrosas que nem me dei conta do quão perigoso isso é.

Ouço novamente o barulho e dou passos para trás de onde o som estava vindo. Finalmente posso ver um rosto e reconheço Sasuke, ele caminha lentamente e eu continuo a dar passos para trás.

-- Por favor... – Eu não estava pensando direito, eu fiquei irritado novamente, sem motivos. – Eu quero ficar sozinho.

Meus olhos se enchem de lagrimas e as limpo antes que ele possa vê-las, mas foi em vão. Não consigo mais me mover e cubro meu rosto com minhas mãos, tentando me esconder de seu olhar, tentando não ter que absorver sua repreensão. Seus amigos não tinham me feito nada, eu apenas não soube lidar com seus olhares, mesmo sendo forte e lutando contra isso, eu nunca fui obrigado a me sentar a mesa com pessoas assim, nunca fiquei na mesma sala passando por isso durante horas e agora eu não podia nem ao menor ignorá-los.

-- Pare de fugir. – A voz rouca de Sasuke me faz cambalear um pouco, eu já não sabia mais o real motivo pelo qual eu estava chorando, não sabia mais. – Eu já te disse, eu estou disposto a mudar e me moldar a você, eu quero que você se sinta bem e não fique se preocupando com tudo que acontece a sua volta.

-- É difícil... – Eu já estava gaguejando, finalmente me dou conta de que nas ultimas semanas eu havia me afastado de todas as coisas que eu gostava e ter visto Gaara não me abalou, essa não havia sido a primeira vez. Eu estava sobrecarregado, eu estava prestes a desabar. – Sasuke, como é difícil!

-- Eu sei... – Ele cochichou quando seus braços entrelaçaram minha cintura e eu deitei minha cabeça em seu peito. – Mas eu estou aqui, Naruto... – Ele ainda cochichava. – Eu estou aqui para você, acha que essa viagem foi para que eu me divertisse com meus amigos? Eu estou tentando te fazer voltar a ser feliz, voltar a sorrir como antes.

Eu ainda soluçava e escondia meu rosto em seu peito. Ele me dizia coisas bonitas e tentava me distrair. Acho que eu ainda não tinha parado para conversar sobre tudo que aconteceu até agora. Eu estava tão cheio, tão frustrado por ter deixado aquilo acontecer, eu estava vendo Gaara e conversando com ele nas noites em que Sasuke saia para as festas das fraternidades. Eu dizia para todos que estava bem, eu sorria e criei uma aura envolta para afastar todas as perguntas.

-- Quero poder te ajudar, eu sei o que você vem passando e eu não sabia como fazer isso. Eu te ouvia chorando algumas das noites e eu não sabia como tocar no assunto, eu nem sabia se você queria conversar sobre isso ou apenas esquecer. Desculpe-me. – Seus braços me apertão e nós dois sentamos na grama fria da noite. Ele continua abraçado ao meu corpo e eu chorando sem conseguir falar tudo que eu precisava.

-- Eu não consigo esquecer aquele dia, Sasuke. – O momento da morte de Gaara foi revivido varias e varias vezes em minha mente... Eu queria esquecer o grito das pessoas, queria esquecer o barulho ecoado dentro do grande salão quando a arma disparou. Queria esquecer até mesmo a cor vermelha, mas era só eu fechar meus olhos e aquilo tudo voltava. – Eu o vejo, eu sempre o vejo sorrindo e me pedindo desculpas. Eu não entendo...

Ele beija minha testa e eu sei que eu posso continuar falando, Sasuke está ali para me ouvir desabafar e ele vai me compreender, ele não irá me chamar de louco ou qualquer outro tipo de coisa. Ele vai entender o que eu estou passando.

-- Eu não consigo sair sem me sentir culpado, todas as vezes que nós dois íamos ao parque ou em qualquer outro passeio bobo, eu me sentia culpado por saber que ele nunca mais poderia fazer isso. Sasuke, eu posso ouvi-lo cochichar enquanto estou sozinho... – Minha mão começa a tremer e eu sinto que tirei um enorme peso de meus ombros.

-- Desculpe-me pequeno. – Sua mão acaricia meu rosto e tenta me puxar para que eu possa ver seu rosto. – Eu devia ter prestado mais atenção, eu devia ter me preocupado mais com você. – Sasuke não viu Gaara morrer, ele já havia desmaiado e por isso ele só sabe o que as outras pessoas contaram, mas tenho certeza que ele ficou tão abalado quanto qualquer outro. – Mas eu estou aqui e não irei a lugar algum...

Limpo as lagrimas e depois de largar o corpo de Sasuke, eu pude reparar que os amigos de Sasuke estavam ali, nos encarando, sem saber o que dizer ou reagir a tudo aquilo. Acredito que eles estão se sentindo culpados e antes de me esconder novamente em Sasuke eu lhes dei um sorriso de canto.