Ao rever seu irmão de uma maneira tão terrível, Clare estava sem reação, ela tremia muito e não conseguia sair do lugar.
- Isso...está errado! Não pode...ser real, de jeito nenhum! – Disse Clare, nervosa.
- Foi isso o que pensou também enquanto eu queimava vivo...
Clare ficou perplexa, e ainda mais assustada.
- Era para ter sido você, e não eu... E você sabe bem disso.
- Eu...eu sei! Você não merecia isso! Mas... – Disse Clare, colocando suas mãos contra seu peito.
- Você deixou alguém inocente queimar..., mas lembro que você já fez muitos sofrerem, ao roubar coisas importantes delas.
Ao recordar sua antiga vida de ladra no Reino de Stráuvia, e também do barco dos pescadores nas montanhas, Clare se sentiu muito pior do que ela já estava. Ela começava a recuar devagar, inconscientemente.
- Não...não é isso... Não é desse jeito! – Tentou dizer Clare, nervosa.
- Ao invés de me ajudar, você preferiu seguir aquele homem egoísta e seus amigos... Eles também não fizeram nada por mim, lembra? Você fugiu com eles e esqueceu totalmente de mim.
- NÃO! Eu nunca lhe esqueci, meu irmão! – Retrucou Clare, com os olhos marejados.
- Para mim, que fez tudo por você, tudo isso foi um grande desrespeito. Mas para piorar...você se apaixonou por aquele homem! E decidiu viver junto ao meu assassino! O quanto você pretende pisar em minha memória!?
- Mas...ele não lhe matou! Não foi assim! Eu o amo! E amo você ainda mais Luke! – Disse Clare, confusa. – Se existe algum culpado...sou eu... Eu é que deveria ter morrido, e não você...
- Sim, isso mesmo...
Ao redor de Clare e Luke, parte da neblina azul se transformou em fogo. As chamas ardiam com grande intensidade, e rodeavam a garota, que estava afetada demais pela presença de seu irmão para se incomodar com o fogo.
- Luke...me perdoe! Eu...lhe amo muito! Você me criou e fez tudo por mim, porém eu só lhe causei problemas...e no fim, você morreu de forma tão horrível por minha causa... – Disse Clare, sem mais forças, de cabeça baixa.
- Tudo bem, minha irmã. Eu posso lhe perdoar, se você me acompanhar pelas chamas... Estaremos juntos de novo, para sempre.
Luke se aproximou de Clare e a abraçou. A maga não resistiu e até retribuiu o abraço; a neblina começou a cobrir o corpo da garota, e as chamas chegavam cada vez mais perto dos dois. Clare estava muito aliviada por abraçar seu irmão outra vez, mas estava muito ferida ao ter recordado tantos momentos tristes e dolorosos, a culpa que já carregava consigo ficou ainda maior. Entretanto, no momento em que a névoa se apoderava do corpo de Clare, boas recordações vieram a sua mente no mesmo momento. Do exato momento em que viu Chris pela primeira vez:
“- Por favor...me ajude! Tire-me daqui! – Disse a mulher, ofegante e olhando desesperada para Chris.
- Ah! C-Claro! Por que não!? – Disse Chris, nervoso e ajudando a garota a se levantar.
- Obrigada...mas...não achei que fosse me ajudar logo de primeira. – Disse a mulher, ofegante e surpresa.
- Ora...você estava precisando de ajuda, dava para ver. – Disse Chris, nervoso.”
De quando os dois conversaram pela primeira vez sobre os segredos um do outro:
“- Você é o primeiro homem, além do meu irmão, a me tratar tão bem...mesmo sabendo o que eu sou. – Disse Clare, com um sorriso triste. – Aposto que ele contou sobre mim para você e para seus amigos.
- Ah sim...Eu acho incrível você ser uma maga! Deve saber fazer muitas coisas legais! – Disse Chris.”
Lembrou da carta de despedida de Luke, e de quando Chris, mesmo sofrendo, fez o possível para proteger Clare:
“- Não olhe! Aguente firme! – Disse Chris, com uma voz chorosa, muito irritado.
- Desculpa...Clare... – Disse Chris, desacordado.”
De quando Clare decidiu se juntar ao grupo, e Chris tomou a decisão de acabar com o reinado de Deysmon:
“- Com licença... – Começou Clare, timidamente. – Eu pensei em muitas coisas ontem à noite...Muita coisa aconteceu, mas eu percebi algo muito importante: eu desejo ir junto com vocês.
- Mas, por mais que o mundo seja cruel, eu me recuso a desistir de pensar como criança! Mesmo que eu não consiga salvar todos, ou proteger a todos...eu vou tentar até o final! Agora eu realmente não quero mais continuar apenas pela minha irmã...Eu decidi que quero derrotar o Deysmon! Vou libertar este continente do domínio daquele demônio! – Disse Chris, determinado. – Por isso...eu vou entender se algum de vocês quiser desistir de me seguir, a partir de agora não será mais uma jornada de resgate apenas. Vocês, meus amigos, são pessoas que eu tenho muito apresso...e me dói só de pensar em perdê-los também. A hora de nos separar é agora, eu irei sozinho para lá, mesmo que ninguém me ajude!
- Eu também...Vocês são importantes para mim agora, eu quero viver ao lado de vocês, quero lutar ao lado de vocês, rir e chorar ao lado de vocês! Não tenho medo de um ou dois exércitos de milhões, nem da morte, contanto que eu esteja junto de vocês...Por favor, Chris, deixe-me ajuda-lo também! – Disse Clare, sorrindo e segurando a outra mão de Chris.”
E do momento mais importante, quando Chris a beijou pela primeira vez, e declarou que a amava de verdade:
“- Tá bom! Chega! Estamos juntos agora sim! E eu amo esta mulher! – Disse Chris, suspirando e passando o braço pelo pescoço de Clare, trazendo-a para perto de seu corpo.
- Eu também. Não sei explicar...mas agora tenho a sensação de que quero passar o resto da vida com você. – Disse Chris, olhando para o céu.
- M-mas...como consegue dizer essas coisas tão fácil!? – Disse Clare, muito envergonhada.
- Há há há! Você me conhece...Eu sou bem idiota, acho que até para entender a situação atual. – Disse Chris, rindo. – Mas no meu sonho eu tive certeza de muitas coisas...
- E uma delas é que eu amo muito você Clare! – Disse Chris, sorrindo sinceramente.”
Com tantas boas, e preciosas, lembranças surgindo em seu coração e mente, Clare se deu conta de que não era seu irmão a sua frente, e de que ela possuía muitas coisas preciosas além da neblina. A maga empurrou o ser misterioso e usou sua magia para inibir as chamas a sua volta, afastando a névoa também.
- Sou muito idiota... Eu me lembrei da carta do meu irmão, do verdadeiro! Ele se sacrificou pelo meu bem, ele se importava com todos! Mesmo sofrendo, ele sorriu para mim e me desejou felicidades... Você é um mentiroso! – Disse Clare, nervosa. – Mesmo assim, eu ainda carregarei essa dor e a culpa no meu peito..., mas sei que elas sumirão um dia!
- Por que!? Não há como saber disso!
- Há sim! Por que eu não estou mais sozinha, e nem com medo! Agora eu tenho muitos amigos queridos, e estou ao lado do homem da minha vida, que não é um assassino! Chris é um herói! O meu herói, assim como meu irmão Luke era! – Disse Clare, corajosamente. – Seguirei com eles, e viverei para sempre ao lado de Chris! Encarando tudo o que vier, com coragem!
De repente, o ser misterioso que se parecia com Luke começou a sofrer, e a desaparecer aos poucos. Então, todo o lugar começou a brilhar com muita intensidade; Clare usou sua magia de proteção, para se defender. A névoa azul sumiu e, logo em seguida, a maga também.
Chris tentou lutar contra sua cópia sombria, mas sempre acabava passando por ela, sem efeito nenhum.
- Até quando vai insistir nisso? Já lhe disse que não tem como escapar daqui.
- Cala a boca! Você não sou “eu”! Eu vou sair daqui sim, e salvarei minha irmã! – Disse Chris, ofegante.
- É verdade, “nós” temos vivido assim sempre. Negando tudo que não satisfazia nossos pensamentos... Inclusive a verdade.
- Que “verdade”!? – Disse Chris, irritado.
- A que é inútil ir ao Reino de Inflayster, por exemplo.
- Por que diz isso!? Você não sabe! – Retrucou Chris.
- Por que vamos morrer antes de chegarmos perto do castelo de Deysmon, nossos amigos vão morrer, e tudo por uma pessoa que já está morta até.
- Não! Não vamos morrer, eu não vou deixar! E para de falar “nós” e “nossos”! Não somos a mesma pessoa! – Disse Chris, irritado. – A Teresa não está morta, por isso vou salva-la logo!
- É impossível. Não pode falar que “não vai deixar ninguém morrer”. Nós não estamos em um conto de fadas, aqui é a vida real. E as pessoas morrem.
- CHEGA! Cansei de você! – Disse Chris, avançando na direção de sua cópia e atacando com sua espada.
Nada aconteceu. A espada passou através da cópia, como se ele fosse fumaça. E Chris caiu no chão, irritado, novamente.
- Sabia que temos um lado que não se importa? Eu sou você, e sei que você sabe que Teresa já se foi. No instante em que a perdeu há muitos anos... Na verdade, ficamos até aliviados quando ela se foi, pois cuidar dela dava trabalho até demais.
Ao ouvir isso, Chris ficou muito confuso e irritado. Ele se levantou de novo e tentou outro ataque, com o mesmo resultado falho.
- É MENTIRA! Eu nunca pensei assim! E, pela última vez, você não sou “eu”! – Retrucou Chris, irritado.
- Por favor... Não lembra das surras que levamos por ela? De quanta fome e sede sentimos para que ela ficasse bem? Todas as ofensas e roubos que sofríamos, além disso, ela sempre nos causou muita dor. Mesmo agora, que sabemos que ela está morta, Teresa ainda nos machuca.
- CALA A BOCA! EU NUNCA LIGUEI PARA ISSO! EU AMO A TERESA, E SEMPRE AMEI! – Disse Chris, cansado e irritado.
- Viu? Sempre negando as verdades... Nós falhamos em proteger a Teresa há muito tempo, falhamos com nossos pais, por que prometemos a eles isso. E agora, para não falhar mais uma vez, insiste nesse esforço inútil.
No mesmo instante, surgiram versões dos pais de Chris e de Teresa, pequena. Todos iguais a cópia de Chris, e pareciam bem desapontados com o rapaz.
- Você não cumpriu sua promessa, por que filho!?
- Chris, você disse que viveria seguro com a Teresa...
- Irmãozinho...por que você não me salvou naquele dia?
- Pai, mãe e...Teresa! – Disse Chris, espantado e nervoso. – Eu não traí vocês! Vou manter minha promessa! E vou salvar você Teresa!
- Quando vai assumir que nem tudo o acontece é como queremos? Tivemos muita sorte até aqui, e nos apoiamos em um conto de fadas. Mas, se seguir adiante com isso, só vai se machucar ainda mais. Pare enquanto pode.
- Nunca! Eu não penso assim, eu só quero fazer o que eu puder! Vencerei custe o que custar e vou salvar a Teresa! Não ligo de me machucar! – Disse Chris.
- Não somos ninguém, somos apenas camponeses inúteis. Impossível vencer um demônio e seu exército com apenas cinco pessoas.
- Não é não! Nós vamos conseguir, todos juntos! Seus impostores...sumam daqui e me deixem sair! – Disse Chris, irritado.
- Ah sim, nem sabemos o que nós somos... Talvez nem humanos sejamos mais.
- Você...Cala a boca! Nós não somos iguais! – Retrucou Chris, nervoso.
De repente, Chris começou a escutar a voz de seus amigos chamando seu nome várias vezes. No mesmo instante, o rapaz acordou assustado e viu que seus amigos estavam ao seu redor, todos com lenços em seus rostos. Clare cobriu parte do rosto de Chris com um lenço também, e o rapaz não fazia ideia do que estava acontecendo.
- O que está acontecendo!? – Disse Chris, confuso.
- Precisamos sair daqui agora! – Disse Feanor, preocupado.
- Chris, você ficou desmaiado por muito tempo! Nós acordamos antes de você! – Disse Penny.
Chris percebeu que todos estavam juntos em um lugar só, na mesma floresta morta e cheia de neblina azul de antes. Todos estavam no chão, como se tivessem dormido lá.
- É essa névoa, ela nos fez desmaiar. Precisamos sair! – Disse Eiden.
- Sim, você não acordava então usei minha magia para trazê-lo de volta. – Disse Clare, ajudando Chris a se levantar.
Com todos de pé, os viajantes puderam ver uma saída em meio a neblina. Ao se distanciarem da neblina, todos retiraram seus panos e caíram no chão, exaustos.
- O que foi tudo aquilo!? Todos viram coisas estranhas também? – Disse Chris.
Todos ficaram em silêncio e de cabeça baixa, consentindo que todos foram pegos pela névoa.
- Sou muito estúpido. Só lembrei bem depois... Aquela névoa é mágica, no instante em que entramos em contato com ela, nós desmaiamos e fomos levados ao nosso subconsciente. – Disse Feanor, sério.
- Então tudo que vimos foi ilusão? – Perguntou Eiden.
- Não... Essa névoa “lê” os corações das vítimas. E faz com que encarem suas respectivas “partes ruins”. Só é possível se libertar superando a maldade sozinho, ou com ajuda de alguém que não está enfeitiçado. – Respondeu Feanor. – Se não tivéssemos saído, teríamos morrido lá...
Ao perceberem que tudo o que viram não foi ilusão, e sim parte de cada um, os viajantes ficaram abalados. Principalmente Chris, que negou tudo o que viu na névoa, e não queria aceitar que, aquele ser misterioso, era mesmo ele. Então, superando as dúvidas e desafios ali, Chris e seus amigos seguiram em frente, já tendo experimentado um dos grandes perigos próximos ao Reino de Inflayster.
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