Na volta, eu dirijo, enquanto JJ digita em seu celular. Chegamos e ela vai ao banheiro, enquanto eu subo para o escritório. Chegando lá, vejo Hotch encostado na mesa. Quando percebe minha presença, cruza os braços.
- Não fazemos promessas!
- Eu sei.
- Então, por quê?
- Ela acabou de perder os pais...
- Já passamos por isso antes.
- ...e a irmã está desaparecida...
- Por isso também.
- ..., e ela parecia tão sozinha.
- Não é o nosso primeiro caso assim. Não sei o que te fez fazer aquela promessa, e parece que você também não.
- Eu sei, só não entendo.
- O que é?
- Quando a vi daquele jeito, senti um impulso, me deu uma vontade de protegê-la...como se precisasse fazer isso.
- Protegê-la?
- Sim.
- Reid, foi sua primeira vez com parentes de vítimas. Ela estava vulnerável, e você se precipitou, dizendo que ela seria protegida. Isso eu entendo. É nosso instinto e nosso trabalho proteger os indefesos. O problema é que, segundo JJ, disse que ela seria protegida como se fosse por você, como se esse fosse o seu trabalho. Mas não é! Seu trabalho é descobrir quem matou as vítimas e porquê fez isso, e só! Você entendeu?
- Sim.
- Ótimo.
Ele senta no sofá e os outros, chegando aos poucos, se sentam em cadeiras, poltronas e sofá, junto ao chefe. Morgan liga o computador e Garcia se conecta quase imediatamente. Ela abre a boca pra falar conosco, mas é interrompida por um barulho do seu lado da tela.
- Desculpe.
- Os Sanders era uma família problemática. Ao que parecia, o homem era um bêbado que batia na esposa.
- E onde ela está?
- No cemitério. Morreu a quatro anos, atropelada. Enfim, Emily era uma universitária que não dispensava sexo e álcool. No facebook, as fotos delas são todas em festas da universidade com caras diferentes.
- Universidade local?
- Interessante. A filha dos Williams...
- Nicole
- ...Nicole. Ela estava na universidade local, cursando medicina.
- Onde e o quê Emily estudava?
- Design de moda, mesma universidade.
- Conversei com uma amiga dela, que disse que os Williams eram muito conservadores, e que Nicole ia apresentar o namorado a eles, mas há uma semana, ela descobriu que o cara a traía com uma garota da mesma faculdade que ele. O nome dele é Adam Cooper, 22 anos, cursa advocacia na mesma universidade. O cara é branco, loiro, 1,80.
- Bate com a descrição da Natalie.
- Ele tem tatuagem?
- Só de henna.
- Como sabe?
- Ele tem uma tatuagem diferente a cada foto.
- Hum... Quantos anos Nicole tem?
- 21, por quê?
- Sanders tem 22.
- Tem razão. As vítimas estão na mesma faixa de idade e na mesma universidade.
- Ah, vocês vão gostar disso. Enquanto conversavam, pesquisei sobre Cooper, e adivinha o que apareceu aqui? Uma foto dele com Emily, publicada no instagram há uma semana, por ela.
- O tempo bate com o término do namoro com a Nicole.
- Então Cooper mata Emily por revelar o caso deles, e mata os pais de Nicole por terminar com ele. Mas por que matou o pai de Emily?
De repente, o celular de JJ começa a tocar. Ela se levanta e vai atender. Quando volta, sua expressão não é nada boa. Hotch é o primeiro a dizer alguma coisa:
- O que houve?
- Encontraram um corpo - anuncia, e em seguida olha pra mim - Sinto muito, Reid, acham que é a Nicole Williams - fecho meus olhos e ela continua - Foi esfaqueada. Querem que Natalie confirmem.
- Não pode pedir a outra pessoa?
- Infelizmente, não. Ela foi esfaqueada no rosto. - responde e aperto meus olhos o mais forte que consigo.
- Reid - meu chefe me chama -, leve a garota até a cena do crime. - fala e assinto, sabendo que esse é o meu castigo por uma das promessas
- JJ, posso pegar seu carro? - pergunto e vejo concordar com a cabeça - Obrigado.
Sem saber como darei à Natalie essa notícia, me levanto e pego as chaves do carro. Saio da sala, me encaminhando para o elevador. Ouço passos apressados atrás de mim e me viro.
- Hotch te deixou vir?
- Ele sabe que é sua primeira vez em contato com parentes de vítimas. Vamos?
- Você dirige. - digo e ele sorri
Morgan gosta de dirigir; eu, nem tanto. Às vezes, penso em tantas coisas ao mesmo tempo, que fica difícil dirigir, e isso requer uma enorme concentração. Por isso, sempre que posso, evito.
A distância entre o escritório e a delegacia já não é grande, aí Morgan decide dirigir rápido. Assim que chegamos, saio do carro. Morgan fica, pra estacionar. Entro na delegacia, e me apresento a um dos policiais, que permite minha entrada. Fico mais ansioso a cada passo que dou. Ainda não sei como dizer à Natalie que talvez tenhamos encontrado sua irmã, e que se for mesmo ela, "sinto muito, você está sozinha".
Chego ao fim do corredor e paro em frente a janela que dá pra sala de interrogatório e a vejo sentada na cadeira, debruçada sobre a mesa, dormindo sobre o braço, com o cabelo sobre o rosto virado pra janela. Estranhamente, sinto meu coração se aquecer com essa imagem, e entro na sala, fazendo o mínimo de barulho possível, tentando não acordá-la. Fecho a porta e me aproximo dela, com as mãos no bolso. Paro perto de sua cadeira e, sem querer, suspiro. Pego a outra cadeira e a coloca perto da de Natalie, sentando nela logo em seguida. Coloco minha mão na sua, que está espalmada na mesa, a cobrindo parcialmente. Suspiro novamente, fazendo carinho em sua mão. Ela sorri e abre os olhos devagar, os fixando em mim. Quando me reconhece, os arregala e parecendo constrangida, puxa sua mão de debaixo da minha e rapidamente senta ereta.
- Dr. Reid, o que faz aqui? - pergunta, me tirando de meu breve devaneio
- Sinto muito, eu só - balanço a cabeça, e com os olhos vidrados na parede atrás dela, digo com tom profissional - Parece que encontramos sua irmã
- Sério? Ela... ela tá bem? - pergunta esperançosa, se levantando, mas o brilho em seus olhos se apaga quando se encontram com os meus. Ela entende rápido e sua tristeza parte meu coração
- Se for ela, Natalie, eu realmente sinto muito. Mas preciso que identifique o corpo - digo e seus olhos voltam a brilhar, mas não como antes
- Então ela tem uma chance, não tem? Mesmo que pequena? - pergunta, se debruçando na mesa
- Sim, mas bem pequena. - respondo receoso. Não quero machucá-la
- Uma chance pequena ainda é uma chance. - ela se recusa a perder a esperança. Sorrio de lado e ela olha pra mim - Vamos! - diz, me puxando
Quando ela abriu a porta, deu de cara com Morgan e, assustada, foi pra trás de mim. A pego pela mão, entrelaçando-a a minha, e a puxo pra fora da sala. Ela sacode a cabeça e me segue:
- Desculpa, eu levei um susto - diz ao meu parceiro
- Depois do que aconteceu, não te culpo. - responde olhando para as nossas mãos entrelaçadas e me olha com a sobrancelha erguida, antes de nos dar as costas e começar a andar - Agora entendo a preocupação de Hotch. - com isso, largo a mão da garota, mas mantendo-a perto de mim enquanto caminhamos até o carro.
Morgan dirige, comigo no carona. Natalie parece que vai entrar em pânico por estar do lado de fora da delegacia. Me viro e pego novamente em sua mão, fazendo um carinho rápido antes de soltá-la.
Quando chegamos, saímos do carro e nos dirigimos para a cena do crime. Ao ver um grande saco preto, onde com certeza estaria o corpo, Natalie segura minha mão, nervosa. Se Hotch ver isso, me mata, penso. Mesmo assim, não a impeço.
Quanto mais perto chegamos do corpo, mais ansiosa ela fica, e eu também. Descobrem o rosto da vítima e Natalie, agora oficialmente só, me abraça pela cintura e começa a chorar. Mas, pro meu alívio e também angústia, ela me olha nos olhos, sorri e diz:
- Não é ela, Dr. Reid. Não é a minha irmã.
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