Mas eu vi o cômodo se mover, o tempo retroceder, vi as fotos do celular evaporarem e as cenas todas acontecerem de trás para frente. Em segundos lá estava eu, esperando o trem, sem rumo ou objetivo, apenas observando o céu cinzento.
Nada, exatamente nada se repetiu, as entrelinhas, os mínimos detalhes foram no máximo parecidos, eu percorri todos os lugares onde passamos naqueles dias, a estação, peguei o mesmo trem - quase o perdendo -, a praia, corri aquelas ruas vazias com tanto desespero sem aproveitar a brisa fria em meu rosto como eu normalmente faria.
Nem ao menos choveu quando cheguei em frente ao café e quando entrei, o relógio do local marcavam exatos segundos de quando a vi. Isso me deixou perplexo e irritado, triste, olhei ao redor procurando por um sequer vestígio do passado. Pegando meu celular, vi a última foto dela sumir e a bateria pedir por um carregador.
Me aproximei do balcão ainda pasmo com o esforço jogado no lixo e disse ao recepcionista:
- Olá… Você pode me ajudar a carregar meu celular 5 minutos?
Neste momento, uma menina morena com seu casaco rosado e um vestido branco com a bolsa atravessada no peito, apareceu e fez o mesmo pedido:
- Você pode me ajudar a carregar meu celular por 5 minutos?
Incrédulo, a encarei, sutilmente ela me olhou e sorriu, a chuva então começou a cair e mais uma vez, sem pensar, as palavras apenas saíram de minha boca:
- É melhor beber chá de mafumeira quando chove… - esperando que ela soubesse do que estou falando – Certo?
Com certa surpresa e confusão, ela sorriu, e ficamos então, rindo como bobos da mesma forma que bons amigos fazem.
Nós conversamos, eu a dei o livro e ela recebeu aquela ligação, antes de sair às pressas do café, ela me abraçou, em um profundo e triste choro que saiu sem explicação, meu coração apertou dolorosamente e em um sussurro ela disse em meu ouvido: “eu te amo”.
Agora, com você...
Eu ainda consigo sentir o calor do nosso amor.
O amor precisa de tempo para ser provado e eu, sinceramente, acredito que não tivemos tempo o suficiente, por isso, eu gritei quando acordei, novamente chorando incontrolavelmente. Eu nem ao menos sabia o seu nome mas conseguia ouvir a sua voz chamando o meu.
Em um vago momento, antes de acordar daquele sonho, recordei de ver informações, um hospital, um leito de hospital, uma linda jovem, deitada inconsciente. Eu recolhi o maior número de informações que pude achar em minha mente, sobre onde ela estava.
Decidi então que não era tarde demais para salvar tudo.
A encontrei, em estado grave na UTI de Pequim. Uma semana arrastada se passou, eu a visitei durante todos os dias. Ela havia sofrido um acidente. Ficou inconsciente e não havia acordado até que um belo milagre aconteceu.
Quando entrei no seu quarto, em uma tarde de sol fraco, ela estava com os olhos abertos, conversando com sua mãe, ao abrir a porta e me deparar com a cena, cai impactando os joelhos no chão e tapando o rosto com as mãos, eu estava tão grato por ela estar viva ao menos que não pude conter a emoção.
Assim, eu ouvi:
- Mamãe, quem é ele? – sua voz fraca demonstrou curiosidade no tom – Meu irmão?
Sorrindo a mulher respondeu: “Não, minha filha, ele é alguém que vai te amar pelo resto da vida”
A menina dos meus sonhos, habitante dos meus pensamentos perdera a memória, nem ao menos lembrava da família.
Ainda neste estado, não desisti, eu refiz toda a nossa semana, descobri que ela costumava seguir aquele mesmo caminho todos os dias para ver o dono do café, amigo de seu falecido avô, descobri também que uma moto havia a atingido enquanto ela atravessava a rua para ir me encontrar.
Depois de se recuperar, minha missão agora era a reconquistar.
Ela brincou comigo na praia, feliz.
Vendo-a girar tão leve quanto as ondas, sorri espontâneo e deixei cair de minha mão o relógio de bolso construído, que logo seria engolido pela água e areia.
- O nosso futuro ficará tão claro - a prometi e prometi a mim mesmo – Você pode ter fé em mim?
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