História Provavelmente - Caso 1 - Feliz Aniversário

C A S O  1 - FELIZ ANIVERSÁRIO.

— Sr. Jungkook...? Está atrasado para a cerimônia, o delegado está lhe esperando. — Escuto batidas frenéticas na porta de meu quarto e uma voz fina e baixa. Era um dos empregados, disto eu tenho certeza. Estico meu corpo para o criado mudo e pressiono o botão power de meu celular. 13:56. Merda, o que ela quer essa hora para interromper meu sono? Murmuro algo e vou correndo para o banheiro. Me olho no espelho e me sinto horrível, meu cabelo está bagunçado, estou pálido e com olheiras enormes, passei a noite planejando o trabalho da faculdade. Rapidamente escovo meus dentes, molho meu cabelo e meu rosto na água da torneira e visto um short marrom (já que eu estava apenas de cueca e uma camiseta azul um pouco molhada de baba). Abro a porta do quarto e desço as escadas correndo, dando de cara com um cara vestido com um terno preto e estava com cara de poucos amigos... na verdade, com cara de nenhum amigo.

— Bom dia... digo, tarde. — Coço a minha nuca e olho para o chão, caminhando lentamente para o sofá.

— Jungkook... já lhe avisei sobre horários, sim? — Disse meu “pai” de braços cruzados ao lado do velho que segurava uma montanha de papéis e uma caneta azul e acho que aquele deve ser o tal delegado. Li um dos papéis. “Tomada de Bens e Suas Regras”. Ah sim... feliz aniversário pra mim.

— Descul... — Antes de responder, sou surpreendido por um grande peso em minhas coxas, e me dou conta que haviam papéis em meu colo e uma caneta ... ou melhor dizendo, havia uma bíblia com as páginas multiplicadas por dois e uma caneta do lado. — O que é isso?

— Hoje você completa 18 anos. Preciso lhe contar que antes de morrer, seu pai havia deixado claro que quando viesse a falecer, todo o dinheiro e terras iria para o filho mais velho. Como... seu irmão morreu, a fortuna agora é sua. Meus parabéns. Venho buscar os papéis daqui a dois dias, e me espere às 6:00 horas da manhã... não irei tolerar atrasos. — Disse o delegado dando um falso sorriso, caminhando com um dos empregados até a porta do hall de entrada.

Ah... que droga, como eu pude esquecer?

Naquele dia, depois de nem ao menos almoçar (apenas comer 4 barras de cereal e um pão com queijo), passei a tarde trancado em meu quarto, pensando em o que diabos eu iria fazer com aquela pilha de papéis. Isso não estava em minha agenda... mas, ao menos vou tentar ler. Jogo o celular de lado, me levanto e me sento na cadeira da mesa de estudos. Bebo um pouco da água de minha garrafa e pego tudo aquilo... puta que pariu, como isso pesa.

“Tomada de Bens e Suas Regras”.

[...]

Felizmente, a partir 2007 as coisas ficaram bem mais simples. Agora é possível, embora não obrigatório, que o inventário e a partilha sejam feitos diretamente em um cartório de notas.

São quatro as exigências para se exercer essa opção:

1) que os herdeiros concordem;

2) todos os herdeiros serem “capazes” (não pode haver nenhum menor de idade, deficiente mental ou impossibilitado de expressar a sua vontade)

3) os herdeiros devem estar assessorados por um advogado, que pode ser o mesmo para todos;

4) por fim, não pode existir um testamento.

É tanta coisa para pensar... muita informação em minha mente. Me levanto e olho a hora. 18:30. Pego minha toalha e meu uniforme, caminho até o banheiro e tomo um banho demorado (onde fiquei levando água no cabelo e pensando em absolutamente nada).

****QUEBRA DE TEMPO****

Puxo meu livro, abro na página certa e fico encarando a folha, não leio, não estou prestando a atenção em absolutamente nada do que o professor fala. Porra... tenho apenas até depois de amanhã pra me resolver com aquele assunto. Ainda não cresci (pelo menos, pra mim mesmo), ainda me sinto uma criança de 15 anos pensando no que vai ter pra jantar. Suspiro e coloco o capuz de meu moletom, abaixando a cabeça e pensando no que minha irmã faria (mesmo ela tendo apenas 12 anos, a considero mais madura que eu em assuntos da família). Sou retirado de meus pensamentos quando algum indivíduo me catuca nas costas e diz:

— Feliz aniversário, Jungkook. — Me viro para olhar.