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História P.s: Matei um cara. - Arquivo 1- parte 5


Escrita por: Celinn

Notas do Autor


Oi gente, mal ai na demora. É só a falta de tempo e a dedicação maior na faculdade. Mesmo assim, estou tentando continuar escrevendo. Não quero desistir das minhas histórias :´(
espero que gostem :**

Capítulo 6 - Arquivo 1- parte 5


Apesar de já ter presenciado diversos tipos de mortes, nunca vi realmente alguém ter um aneurisma antes. Mas, se fosse para dar um palpite, era exatamente isso o que o tenente Fox estava prestes a ter.  

A maioria das pessoas para quem eu conto esse tipo de notícia geralmente costumam ficar pálidas e estagnadas; exatamente como Elliot ficou quando eu terminei de falar. Porém, o Tenente foi completamente diferente. Ele ficou cor de rosa. E depois as veias de seu pescoço e testa começaram a pulsar.

— O que... — Careca Fox pigarreou. —O que foi que disse, senhor Johnson?

Comecei a me sentir verdadeiramente inquieto. Apoiei minhas mãos algemadas sobre as costelas e deixei meus ombros caírem. Certo, aquilo ia ser difícil.  Eu já estava irritado com toda aquela perda de tempo, mas ainda assim, mantive o mínimo de paciência para explicar:

— Você me ouviu. Uma equipe de policiais. Não sei quantos. Não sei como. Só sei de uma coisa: Mortos até o final dessa noite. — Pelo canto dos olhos olhei para um Elliot ainda estacado. — Atitudes imprudentes, consequências devastadoras. É assim que funciona a vida. Eu sinto muito.

Elliot não parecia estar escutando uma única palavra, mesmo que a indireta tenha sido para ele. Eu diria que minha sentença fez com que ele entrasse na dimensão fantasmagórica da culpa e não saísse mais dali. 

Mas o tenente Fox, por outro lado, estava totalmente em alerta.

— Como ousa dizer uma coisa dessas? — Ele pareceu extremamente ofendido. Ou enojado, não sei dizer. — Você ao menos tem ideia das coisas que diz?

Ah, eu tinha, sim!

Tanto tinha, que depois de presenciar esse tipo de atitude sobre mim tantas vezes, parei de me incomodar com os olhares de desgosto e reprovação que as pessoas me davam.

De modo que apenas dei de ombros para ele.

— Acreditar em mim ou não, isso cabe a você, tenente. Vocês queriam que eu colaborasse, eu estou colaborando. Simples assim.

A expressão do Tenente Fox não mudou. Mas ele começou a me examinar de cima a baixo com a testa franzida. E pode apostar que eu sabia muito bem o que ele estava olhando: cabelos azuis, olhos vermelhos, olheiras pesadas, um moletom do exército da salvação... aposto que tudo nele estava gritando: Adolescente viciado em drogas com surto psicótico a vista!

Porém, é claro, não foi isso que ele disse.

Com um sorriso nem um pouco simpático, o tenente apontou para mim.

— Você gosta de bancar o esperto. — Ele acusou simplesmente. — Eu já vi esse tipo de atitude várias vezes. É o que as pessoas fazem quando estão com medo.

Levantei uma sobrancelha.

— Eu não estou com medo de você.

Ele deu a volta na mesa e parou ao meu lado.

— Mas deveria. Afinal, você sabe por que ninguém colocou você atrás das grades ainda, senhor Johnson? — Ele mesmo respondeu à pergunta: — Porque você sempre tem uma resposta para tudo.

Tenente Fox não parecia uma pessoa irritada. Muito pelo contrário. Seu tom de voz soava como se ele ainda tentasse ser cortês. Mesmo que todo o resto de sua expressão mostrasse o quanto ele me queria bem longe.

Minha cabeça pendeu para um lado, e sei que não era o melhor momento, mas eu comecei a rir. Quer dizer, achei muito engraçado o fato dele fazer aquilo parecer ruim. Como se o fato de eu conseguir desbanca-los com minhas “teorias” fizesse apenas com que eu me metesse ainda mais em problemas.

Respondi na mesma moeda:

— Ah, então é por isso? Graças a Deus que me explicou. Eu já estava ficando preocupado com a falta de cumprimento da lei nessa cidade.

O tenente Fox não se abalou pelo meu sarcasmo.

— Mas sabe qual o problema de sempre ter essas respostas, Johnson? —Ele continuou. — É porque a maioria das pessoas não as tem.  Elas geralmente não se metem em problemas para saber exatamente como funciona os procedimentos em uma delegacia ou um tribunal. Mas, você... Você sabe perfeitamente, não é? Está acostumado e sabe como jogar o jogo. Por isso aposta em seus blefes surreais.

 De alguma forma, eu sabia exatamente o que ele queria dizer. Mas eu estava mais acostumado com pessoas subestimando a minha inteligência, do que a colocando num pedestal só para me fazer parecer um gênio do crime.

 E não ligava muito para o que ele achava de mim ou não. Em pouco tempo aquilo não valeria mais nada.

E fiz questão de dizer isso ao tenente:

— Eu não me importo com o que você pensa e nem com o que escreverá no seu relatório. — Falei.—  Eu apenas digo o que vejo. E o que eu vejo são mortes violentas, repentinas e desnecessárias. E é isso que irá acontecer hoje a noite.

Ele balançou a cabeça, determinado a não me escutar.

— Realmente não sei como não te prenderam ainda. Se não em uma cadeia, pelo menos em um hospício...

Com toda certeza o tenente Fox não estava disposto a entrar para o meu fã-clube. Sorte minha estar tão acostumado com esse tipo de coisa, ou realmente teria deixado aquilo me magoar.

— Honestamente, não entendo vocês. — Me referi a todos da delegacia. — Me trazem aqui e me mandam dizer o que eu sei. Então eu digo, e aí vocês me tratam como um doente mental ou mentiroso? E depois eu que sou problemático...

Acho que o tenente já estava pronto para me estapear, quando alguém entrou na frente.

Elliot. Que finalmente havia voltado a realidade.

Não satisfeito comigo, para variar.

— Por que você está insistindo em uma ideia tão...— Ele parecia estar procurando por palavras, antes de cuspir — ... Tão medíocre?

Elliot piscou esperando minha resposta. Piscou lentamente, com um rosto paralisado e olhos vazios sem expressão. Acho que ele estava torcendo para que eu estivesse apenas fazendo outra das minhas piadas de mal gosto. E, para falar a verdade, eu queria que fosse o caso.

De repente, mais do que qualquer coisa que o tenente me disse, eu realmente comecei a me sentir culpado por aquilo.

— Eu sinto muito. — Falei com sinceridade. — Eu não pretendia dar a notícia desse jeito... Mas não acho que tem como ser sutil sobre isso. E você merecia saber.

— Por quê, Nicholas? — Ele me perguntou.

Eu o encarei e Elliot cruzou os braços. Uma vez eu li, em um site qualquer de psicologia barata, que quando cruzamos os braços sobre o peito, quer dizer que assumimos uma postura defensiva. Acho que Elliot estava sempre na defensiva quando estava comigo. Mesmo que eu não estivesse realmente atacando.

 Minha voz ficou tão fria quanto à dele:

— Porque é a verdade.

Elliot ainda continuou me encarando. Era como se ele não conseguisse encontrar qualquer tipo de emoção correta para demonstrar naquele momento. E aquilo começou a se tornar desconfortável.

Conclui que aquilo não ia nos levar a lugar nenhum, então fui o primeiro a desviar o olhar, me voltando ao Tenente fox:

— Quando vão tirar essas algemas e me deixar ir, por falar nisso? — Balancei os braços para ele. — Eu já respondi todas as suas perguntas. E você sabe muito bem que não tentei matar aquela garota. Não existe razão para que eu fizesse isso. O problema é que vocês não gostam de mim, mas, pra infelicidade geral da nação, ainda não podem me prender só por causa disso.

Aquilo desconcertou o tenente Fox.  Na verdade, suas veias voltaram a pulsar piores do que antes. Ele precisou respirar fundo e fechar os olhos para poder se concentrar.

— Bennacci — Ele se virou para Elliot — Tire esse garoto da minha frente o mais rápido possível, antes que eu realmente perca a paciência e tranque ele lá dentro!

“ La dentro”, eu sabia muito bem, significava as celas.  E Elliot não estava em condições de me levar a lugar algum daquele jeito.

— Não precisa. — Eu me levantei. — Eu posso ir sozinho. Eu já sei como isso funciona. Só preciso que tirem as drogas das algemas. O resto eu posso resolver. — Encarei o tenente. — Eu não vou fugir. Você sabe onde me procurar, não é?

 E algo me dizia que, mais cedo do que tarde, com toda certeza ele ia me procurar.

 

Depois dessa pouco animadora conversa, saí sozinho da sala do tenente Fox sem esperar que mais alguém falasse algo. Até porque ninguém queria ou precisava falar comigo realmente. Mesmo assim eu tinha a certeza absoluta de que não demoraria muito tempo para que eu voltasse para lá.

Mas pelo menos eles tiraram as algemas.

E depois ligaram para os meus pais.

 Segundo eles, eu ia precisar que alguém assinasse os termos de responsabilidade por mim para poder ir para casa. O que não significava, é claro, que aquilo tinha acabado. Na verdade, eu já até podia ver o que aconteceria em seguida: Eles distorceriam todas as minhas palavras, e então encontrariam alguma coisa — Qualquer coisa — que pudessem usar contra mim para arrumar um mandado e me arrastar de volta para a delegacia. E depois de tudo, restaria apenas eu e a minha famigerada imagem de um mentiroso delinquente juvenil.

Sei disso porque já tinha estado naquela situação várias vezes antes. Mas, por sorte, a parte em que eu era condenado pelo tribunal e logo em seguida mandado a um centro de detenção para menores, nunca tinha chegado. E eu esperava que não fosse dessa vez.

A questão é que, eles nunca conseguiram fazer isso porque eu sempre estive certo. E o fato de sempre estar certo era o que fazia com que eles sempre ficassem no meu pé.

E dessa vez, infelizmente, não foi diferente. Sobre eu estar certo, quero dizer. No entanto, demorou algum tempo para que tudo acontecesse. Tempo o suficiente, por exemplo, para eu me acomodar nos bancos frios da delegacia e esperar algum dos meus pais aparecer para me tirar dali.

Porém, não foi o rosto deveras chateado da minha mãe que passou por aquela porta causando tanto barulho e deixando cada parte do meu corpo arrepiado.

Essa, na verdade, ainda era a parte mais difícil. A pior parte, para ser exato. Normalmente, quando minhas visões se tornavam reais era a prova clara de que mais uma vez eu tinha acertado e que, ao contrário do que todo mundo achava, eu não tinha enlouquecido de vez. E, atualmente, isso já não me afetava tanto quanto antes. Porém o fato de que dessa vez não tinha sido uma visão, e sim um palpite, foi o que mais me intrigou quando percebi que cheguei tão perto da realidade ainda acordado.

Helen, a secretária atrás do balcão de entrada, foi quem recebeu a notícia. No momento em que ela levou a mão a boca, arquejando, e seus olhos marejaram por trás dos óculos, eu já sabia que aquela seria uma longa noite para todos daquela delegacia.

Então me sentei e esperei o caos tomar conta do lugar para, enfim, saber o que tinha acontecido.

— Era apenas um procedimento normal! Patrulha. Como sempre. — Um policial estava dizendo. Não para mim, mas para Helen — Não sei como as coisas saíram do controle daquela forma!

Prestei o máximo de atenção na conversa que eu pude. Não era fácil, considerando o tumulto que aquilo virou. Helen chorava, policiais falavam agitados no rádio, e eu podia ouvir a voz exaltada do tenente Fox a quase quatro paredes de distância gritando coisas inapropriadas para o horário nobre...

Até que por fim, eu entendi.

E o que eu entendi foi que tudo foi uma grande confusão. Não uma armadilha, não falta de preparo e nem mesmo um acidente. Apenas um erro. Um erro totalmente amador. Algo que as pessoas comuns chamariam de azar ou fatalidade.

Embora eu chame apenas de consequência.

De fato, eles estavam apenas fazendo uma ronda, até se depararem com uma grande movimentação em uma fábrica abandonada. No começo, eles acharam que se tratava apenas de alguma guerra ridícula entre gangues. O que tinha sentido, considerando o quanto esse tipo de coisa é frequente por aqui. E, de qualquer forma, quase sempre acabam em mortes também. Mas foi pior que isso. E eles teriam visto isso se tivessem averiguado antes de entrar. Porque não eram gangues.

Eram traficantes.

Ao contrário do que todo mundo nessa cidade pensa, eu não sei muito sobre tráfico ou sobre narcóticos; mas sou inteligente o suficiente para saber que aquilo não era o tipo de coisa que você deve enfrentar sem estar devidamente preparado. E acho que os policiais de plantão concordavam com isso.

Então chamaram reforços, mas a coisa só ficou pior. Já era tarde demais para recuar e ficar lá significava “banho de sangue”, mas foi exatamente o que fizeram.

 Em resumo de tudo: Hora errada, local errado e, certamente, pessoas erradas com apenas um destino certo. E, no final, foi a chacina que eu imaginava que seria.

Eles trocaram tiros e o resultado já era esperado: nove policiais alvejados, sete traficantes alvejados, cinco civis alvejados. Total de vítimas: vinte e uma. Total de baixas: treze. Os que sobraram deram entrada no hospital. Três estão estáveis, mas os outros ainda correm risco de morte.

Seis, dos treze que morreram, eram policiais. Quatro deles estava no caso de Lindsay Wilson.

— Hei — Eu me aproximei do policial que conversava com Helen. — Elliot já sabe sobre isso?

Ele se virou para mim como se eu fosse um espirito maligno repentinamente encarnado.

— De onde você veio? — Espinafrou, com a mão sobre o peito.

— É o garoto do Elliot. — Helen explicou por mim, com uma voz embargada. — Está esperando os pais para assinar um termo de liberação.

Honestamente, gostava dela. Helen tinha pouco mais de quarenta anos e era provavelmente uma das poucas pessoas daquela cidade que não me detestava ou me achava uma aberração da natureza.

Mas eu odiava quando ela me chamava de “ garoto do Elliot”.

— Não sou do Elliot. — Corrigi. — Apenas temos uma...— Deus, eu nem tinha resposta para isso! — Enfim, não somos nada.

— Então por que quer saber sobre ele? — O policial me questionou.

— Ah, Marvin, não está vendo que ele está preocupado? — Helen disse amável. — Acho que Elliot não está, querido. O turno dele acabou há horas. Ele só ficou por sua causa. Depois disso, não sei sobre ele.

— Eu sei. — O policial, por quem Helen havia se referido como “Marvin”, falou. — E, respondendo a sua pergunta, ele sabe sobre o que aconteceu.

Eu já esperava por isso...

Pigarreei.

— E...Como ele está?

— Como você acha que ele está? — Marvin apelou, realmente chateado. — Aqueles... Aqueles caras eram amigos dele também! Trabalhamos juntos por anos! Como você acha que todos nós estamos?

Vi Helen secar uma lagrima e Marvin segurar as dele. Porem eu estaria mentindo se dissesse que entendia o que eles estavam sentindo. Há muito tempo eu já não sentia nada pela morte. Estava tão acostumado com aquele tipo de notícia que era difícil produzir uma reação normal diante esse tipo de coisa. Mas isso não significa, é claro, que eu não me sentia desconfortável. Afinal, mesmo que eu soubesse que aquelas mortes não eram realmente minha culpa, não me sentia nada bem em relação a elas.

— Eu sinto muito. — Falei mesmo assim.

Antes que eu pudesse prosseguir com a conversa e saber mais sobre a coisa toda, senti um par de olhos, frios e rigorosos, em minha direção seguida por um toque nada gentil no meu ombro.

Me virei, imaginando que encontraria o tenente Fox, ou o agente Cooper e talvez, quem sabe, o próprio Elliot...

Mas era só o meu pai.

Não fiz nenhuma questão de esconder a cara de decepção ao vê-lo. E o meu pai tampouco.

— De novo, Nicholas? — Foi o “boa noite” dele para mim.

Minha mãe estava ao lado dele e, pela forma como encolheu os ombros quando me viu, eu já sabia exatamente o que ele tinha dito a ela: “Não corra até o Nicholas e o abrace como se ele tivesse ganhado o prêmio Nobel de química, Meg. Ele é assim por que você nunca impõe limites! ”.

— Hum, é. Oi. — Foi o que eu disse de maneira idiota. — Por que está aqui?

— Por que eu estou aqui? — Ele rugiu para mim. — Estou aqui para tirar o meu filho idiota da cadeia. Agora, por que você está aqui?

— Acredito que eu seja o filho idiota que você veio tirar da cadeia. — Conclui sem mais detalhes. — Como vai?

A expressão do meu pai foi muito parecida com a do tenente fox mais cedo. Quero dizer, as veias no pescoço pulsando e tudo mais. Vi os olhos azuis dele brilhando em fúria.

— Você não consegue ficar um dia sem causar problemas? — Ele apontou pra mim. — Primeiro, você começa a frequentar delegacias por invasão de propriedade privada. Depois, é detido por atrapalhar uma investigação policial. E, agora, você é suspeito de uma tentativa de homicídio? Eu não posso nem dizer que você deveria estar em um centro de detenção porque você mesmo já está se encaminhando pra isso!

— Já ouvi essa ladainha antes... — Comentei. Elliot tinha dito algo muito parecido.

— Nick — Mamãe interrompeu. Ela estava tão feliz quanto o meu pai. — A promotora nos ligou.

Isso foi tudo o que ela disse. E foi mais do que o bastante para que eu entendesse porque eles estavam tão furiosos dessa vez. Na verdade, eu deveria ter percebido que as coisas não estavam boas no momento em que meu pai foi pessoalmente me prestigiar. Geralmente, quem fazia as ligações era Helen, e ela sempre dava um jeito de amenizar a situação de forma que a minha mãe não aparecesse lá soltando os cachorros. Ou com meu pai do lado.

 Mas aparentemente a promotora não tinha feito o mesmo. Na verdade, só pela expressão deles, eu diria que ela tinha me ferrado.

Mesmo assim, coloquei uma expressão surpresa no rosto.

— É mesmo? — Perguntei. — E o que ela disse?

— Que as coisas não serão fáceis dessa vez. — Mamãe deu a notícia de forma ríspida. — As coisas foram muito além do limite, Nick. E isso não vai se resolver com uma multa e as nossas assinaturas.

Não consegui evitar a minha cara incrédula. O que diabos eles tinham dito aos meus pais? Que eu era um ameaça a sociedade? Do jeito que as coisas estavam, eu não duvidava disso.

— Eles vão prosseguir com os processos, então? — Perguntei.

De certa forma, isso não me parecia tão ruim quanto deveria! Quem sabe pelo menos na cadeia eu consiga dormir em paz. E também não precisaria me preocupar com ninguém me chamando de drogado ou coisa assim.

Parando pra pensar, o negócio realmente não era tão ruim assim!

— Não se preocupe, Nick, você não vai para a prisão. — Mamãe respondeu meus pensamentos, provavelmente entendendo errado minha expressão. — Eles querem que você pague pelo seu comportamento... Mas não na detenção.

— Mas deveria. — Meu pai contrapôs. — Pelo menos na detenção esse tumulto pararia de acontecer.

— E eu só poderia vê-lo em fins de semana! — Minha mãe cruzou os braços se virando pra ele. — Eu já não tenho um marido presente. Não vou ficar sem o meu filho também.

— Se não vai ser na detenção — Eu interrompi a discussão. Até porque não tinha nada de interessante em vê-los brigando. — O que vai ser?

Mamãe suspirou.

— Não sabemos, Nick. Disseram que entrarão em contato. Mas até lá teremos que esperar.

Depois disso, fizemos todo o resto como um ritual. Não que isso seja algo para se orgulhar, mas todos nós já estávamos tão acostumados com aquele tipo de cena que lidávamos relativamente bem com tudo. Acredito até que a minha mãe já tinha colocada aquilo em sua rotina. Algo como: Acordar, tomar café, trabalhar, ir ao mercado, tirar o Nick da cadeia... Esse tipo de coisa.

Não ficamos para ver o fim da confusão com a patrulha policial e eu não voltei a ver Elliot depois daquilo. Mas não vou negar que eu estava... Bem, no mínimo preocupado. Quer dizer, eu não sabia dizer como Elliot ficaria depois de tudo aquilo e, principalmente, queria saber se ele estava muito chateado comigo.

Acho que essa última era meio impossível de não estar, já que depois disso não vi ou ouvi sobre Elliot por mais de uma semana. O maior tempo nos últimos anos que ficávamos sem nos falar, aliás. Foi quando comecei a me questionar se ele foi a coisa mais próxima que eu já tive de um amigo. E a resposta era provavelmente “sim”. Mas, como sempre, eu assustava as pessoas demais para que elas ficassem perto de mim por muito tempo. Meus pais, por exemplo, não tinham muita opção, então apenas faziam o que davam.

 E para falar a verdade, não foi apenas Elliot que não deu notícia. Também não recebemos nenhum telefonema nem da promotora de justiça e nem de ninguém da delegacia. Coisa que, para a maioria das pessoas podia até significar bom sinal, mas para mim significava a chegada de mais problemas.

E como se a coisa toda não fosse absurda o suficiente, eles chegaram no meio de uma aula de geografia.

 Honestamente, eu odiava a aula de geografia, mas nunca pensei que uma boa maneira de escapar dela era com a intervenção da polícia.

— Será que podemos conversar com o Nicholas Johnson por alguns minutos? — Foi o que um, dos dois policiais parados na porta, disse ao meu professor, que apenas me olhou torto e concordou. Sempre achei engraçado a forma com faziam ordem parecerem pedido educados.

Sem ter qualquer outra opção, comecei a recolher minhas coisas e coloca-las na mochila. Se eu bem conhecia aquele tipo de coisa, não acabaria em apenas “ alguns minutos”.

Meus colegas de sala observaram a coisa toda, parecendo que sempre estiveram esperando o momento em que a polícia apareceria para me prender. É por isso que assim que passei pela porta, os gritos de fofocas e comemoração explodiram ao ponto de serem audíveis até do lado do corredor.

Mas eles estavam errados em um ponto. Eu não estava sendo preso. Estava sendo escoltado.

A primeira coisa que os policiais fizeram foi arrancar minha mochila das minhas mãos para revista-la. Não encontraram é nada, obviamente. Depois saíram me arrastando até o pátio.

Não muito surpreso, encontrei tenente Fox e dois carros de polícia me esperando.

— Há quanto tempo, Johnson. — Me cumprimentou.

Abri um sorriso cínico para ele.

— Pensei que tivessem esquecido de mim. — O sarcasmo saiu antes que eu tivesse tempo de pará-lo, mas, assim como da última vez, o tenente nem se abalou.

— Estivemos ocupados ultimamente. — Ele contou de maneira rude. — Com funerais, esposas e filhos desolados, Processos judiciais. Esse tipo de coisa.

— Sim, esse tipo de coisa. — Eu cortei, porque sabia aonde ele queria chegar. — E eu avisei. Está aqui por isso? Ou algo mais?

— Honestamente, garoto, eu não estou nem aí se você é realmente o drogado da cidade ou se é algum médium com pactos demoníacos. Mas o que acontece é que a polícia não acredita em coincidência o suficiente para achar que você é normal.

— Não sou normal, tenente. Pensei que tinha deixado isso claro desde o início. — Comentei.

— É por isso que não podemos deixar você ir livremente. — Ele disse. — E a partir de hoje você está sob completa responsabilidade da minha delegacia.

Arqueei as sobrancelhas.

— Isso não me parece muito uma ordem de prisão. — Comentei.

Tenente Fox balançou a cabeça.

— E não é. Graças a algumas interferências você não recebeu nenhum tipo de punição que geralmente receberia. Mas por outro lado, não teria a menor possibilidade de você se livrar das suas acusações com apenas uma multa e a assinatura dos seus pais. — Ele ergueu o queixo em minha direção em uma pose um tanto quanto arrogante. Eu não conseguia dizer se ele estava me subestimando ou me testando. — Você diz ser inocente, Johnson. Então terá que provar isso. Você estará responsável pelo seu próprio destino a partir de agora. Pegue o verdadeiro culpado e retire as acusações contra você, ou falhe de maneira medíocre e vá para a prisão. Eu te dou um mês para resolver isso.

Senti meus lábios se abrindo em um sorriso.

— É sério? Eu posso investigar? De verdade?

— Com uma condição. — Ele contrapôs, e eu nem me dei o trabalho de ficar surpreso. Afinal, sempre soube que quando a esmola é muita o santo desconfia. — Você não pode fazer nada sem antes consultar o seu supervisor. E ele terá toda e qualquer autoridade sobre você. Entendeu?

Concordei.

Investigar aquele caso, sem a polícia me dando voz de prisão o tempo todo? E tudo o que eu tinha que fazer era ter um supervisor? Aquilo era fácil!

— Quem será o supervisor?

O tenente Fox me deu outro sorriso contido.

— A única pessoa que é louca o suficiente para querer ficar do seu lado. Elliot Bennacci.



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