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História Psicose - Décimo Quinto


Escrita por: Tayh-chan

Capítulo 15 - Décimo Quinto


 

Psicose - 2ª Fase

Décimo Quinto

 

— Como ele está? — indagou quando Suho voltou. Chanyeol fungava, secando as lágrimas.

— Ele teve uma hemorragia nasal, do tipo bem ruim — disse sério, sentando-se e convidando Chanyeol a fazer o mesmo. — Tiverem que cauterizar o nariz e fazer duas transfusões. Ele está melhor agora, estável, mas ainda fraco... Perdeu muito sangue.

— Foi minha culpa. Eu o fiz perder tempo... E-eu. Eu não sabia o que fazer, fiquei com medo — admitiu, escondendo o rosto nas próprias mãos e voltando a chorar.

Suho passou a mão pelas costas de Chanyeol, permitindo-o chorar o quanto desejasse.

— Não foi sua culpa. Eu também já me culpei algumas vezes, mas não existe um manual de instruções. Eu sei que é difícil, mas você tem que aguentar, Chanyeol. Ele está aguentando por nós, você precisa aguentar também.

 

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Chanyeol se aproximou receoso. Ele puxou a cadeira devagar para sentar-se. Baekhyun estava com os olhos vidrados no teto.

— Eu nunca vou ser famoso — falou Chanyeol.

Baekhyun piscou.

— Parece que eu vou viver mais que você, mas acredito que nunca vou ser famoso, não vou ter minha cara estampada em revistas. E talvez nem seja muito rico. Acho que eu também nunca vou fazer uma grande descoberta e ser lembrado por gerações e gerações.

Baekhyun se manteve em silêncio, ele sabia sobre o que o outro estava falando. Tinha lógica, porém pessoas terminais não pensavam assim, elas acabam voltando aos seus sonhos de criança.

— Eram apenas desejos sem importância de uma lista antiga, já disse que não penso mais assim — comentou seco.

— Mas eu sei que talvez você ainda pense. Eu acho difícil falar diretamente sobre isso com você, mas eu acho que eu tenho que falar. Baek, a vida não é o que a gente quer... Ela não é da forma que desejamos.

— Você não precisa me falar tal coisa, eu já tive provas o suficiente disso.

Baekhyun não culpava Chanyeol pelo momento de receio quando pediu ajuda. Já tinha visto até mesmo Junmyeon paralisar antes. Mas estava irritado, estava irritado por ter interrompido aquele momento perfeito. Tinha aceitado a morte, de alguma forma, mas isso não significava que estava preparado para ela, nem para ver as pessoas que amava sofrerem. E só estava se dando conta disso agora.

— Eu... Eu só quero dizer que você não precisa pensar que se tivesse a chance, poderia fazer a diferença para o mundo. Eu nunca vou fazer, eu vou continuar vivendo... — a voz começou a tremer sem querer, e os olhos se encheram d’água. — Eu vou continuar vivendo e não vou fazer nada... Eu nem vou ter você por perto. Isso me destrói por dentro.

Chanyeol começou a chorar alto, jogando parte do seu corpo no colo de Baekhyun.

— Se eu pudesse, eu juro que eu dava a minha vida pra você. Eu juro que...

— Ei... Não me faça chorar também — pediu com a voz trêmula.

 

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Chanyeol queria fazer uma lista também, mas precisaria de um gênio da lâmpada para realizar tais desejos. Estava tudo longe do seu alcance. Ele pediria Baekhyun sempre ao seu lado, mas não podia, porque Baekhyun era um paciente terminal. Baekhyun morreria logo. Pediria também uma mente saudável. Pediria que sua mãe nunca mais chorasse ou se preocupasse tanto. Ah, ele pediria tantas coisas se pudesse.

Baekhyun, por outro lado, só queria ficar ao lado dele, ele não tinha tempo e seus desejos eram simples. Era ficar com ele. Chanyeol era incrivelmente especial para alguém, e para si isso era quase inacreditável. Era uma responsabilidade que estava sendo difícil de encarar, estava sentindo isso na pele. Estava, sem querer, fazendo Baekhyun sentir isso.

— Por que você anda tão frio nos últimos dias?

Chanyeol não poderia responder, pois machucaria demais ao outro. No entanto depois da última recaída de Baekhyun, logo após fazerem amor, Chanyeol sentiu algo próximo à dor que sentiria quando este partisse. Inconscientemente suas atitudes tornaram-se frias, como se para se proteger.

— Eu não estou frio — respondeu.

Também era difícil se controlar com Shun aparecendo ao seu lado, pedindo atenção e debochando de um monte coisas que Baekhyun falava.

“Aiin, por que você anda tão frio? Não me ama mais?” — debochava, e Chanyeol tinha vontade de lhe dar uma bofetada se pudesse.

— Você está sim, esta agindo estranho — falou sério, quase bravo.

“Ui, ele tá brabinho, cuidado ein” — Sehun novamente.

— Cala a boca — pediu em voz alta, sem querer.

— O que você disse? — Baekhyun indagou perplexo.

Sehun começou a rir do outro lado do quarto.

— Não, não é isso. Eu não quis dizer isso.

 Moveu a cabeça para os lados. Que merda estava fazendo?

— Eu não acredito que me mandou calar a boca.

— Não foi pra você — defendeu-se.

“Fala pra ele que eu estou aqui” — pediu Sehun.

— Não mesmo — respondeu em voz alta mais uma vez.

— Ei! Para com isso. Mas que droga.

Baekhyun estava impaciente, tão intolerante quanto Chanyeol poderia ser em dias como aquele. Estava difícil para si, pois hoje pegaria os resultados de um exame importante, mais ou menos algum documento correspondente a sua “expectativa de vida”.

— Pare de agir assim. Você está fazendo tudo errado. —Baekhyun passou a mão pela cabeça, puxando alguns fios de cabelo.

— Tudo errado? Como eu deveria agir, então? Você nunca me disse como eu deveria agir.

Os braços de Baekhyun tremeram e seus olhos marejaram. Estava se sentindo tão frágil, aquele não era seu jeito, não era para ser assim, emocional demais.

— Deveria me apoiar, você disse que iria me apoiar.

“Você disse mesmo. Ah, sinceramente, é feio prometer algo e não cumprir. Ainda mais para pessoas com prazo de validade.” Disse seu ‘amigo imaginário’ em tom de deboche.

Sehun estava passando dos limites e Baekhyun agindo diferente. Chanyeol poderia explodir a qualquer momento.

— Eu não estou aqui? Não estou te apoiando?

— Está me fazendo mal — murmurou, quase sem coragem.

— Que ótimo! Eu vou sair então.

— Ah, não.

Chanyeol deu às costas, indo em direção à porta e abrindo a mesma, Baekhyun chegou a tempo de segurar sua manga, mas o mais alto não lhe olhou e se livrou de si, indo embora. Chanyeol sabia que se ficasse ali o machucaria ainda mais.

Já Baekhyun não entendeu nada. Culpou-se até o último instante pelas palavras proferidas e se jogou no chão assim que Chanyeol sumiu descendo as escadas. Seu choro era tão alto que qualquer um na casa poderia ouvir. Poderia suportar muitas coisas, mas não podia suportar ficar longe de Chanyeol.

Escondeu a cabeça entre os joelhos e quase se afogou com o choro. Ele nem mesmo ouviu a porta rangendo ao ser aberta, mas logo ele sentiu braços quentes lhe envolvendo.

— Sinto muito, eu sou um idiota — Chanyeol murmurou.

Baekhyun chorou mais alto.

Não era justo.

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Chanyeol continuou agindo como um idiota, embora fosse só uma maneira de se proteger emocionalmente.

— Eu não quero ouvir — proferiu Chanyeol pela terceira vez, interrompendo o médico que aos poucos ficava impaciente.

— Só um momento — Baekhyun pediu ao doutor.

Ouviria as notícias de seus exames agora, precisava de Chanyeol ao seu lado, pelo menos para lhe dar a mão. Poderia ter escolhido Suho, mas o amigo já tinha participado o suficiente.

— Eu preciso de você aqui — disse olhando em seus olhos.

— Eu não posso ouvir — súplicou.

Baekhyun tirou o smartphone da sua mochila, destravou o mesmo e abriu um aplicativo de músicas.

— Coloque os fones.

Chanyeol aceitou, endireitando-os nas orelhas e aumentando o volume até o máximo. Não soltou a mão de Baekhyun, mas não estava lá de fato.

— Eu não tenho boas notícias — começou o doutor.

— Nunca tem... — deixou escapar.

— O câncer se espalhou, eu sinto muito.

— Quanto tempo?

— Não sei. Não posso dizer um tempo exato, eu posso errar.

— Você sabe, eu sei que sabe. E eu não vou estar aqui para te processar caso esteja errado.

O médico deu um sorriso tímido para seu paciente, cuidava de Baekhyun há anos, e tinha um filho da sua idade. Realmente não era fácil.

— Não muito. Seu corpo não vai aguentar até a troca de estação.

Baekhyun sentiu o ar escapar de seus pulmões. A primavera acabaria em três semanas. Tentou relaxar mais na cadeira, afrouxando o aperto de mão de Chanyeol.

— Como vai ser? — perguntou com a voz fraca. — Vai doer?

— A morfina não deixará que sinta nenhuma dor.

— Isso é bom — disse baixinho, se esforçando para dar um sorriso leve e não deixar que seus olhos transbordassem. — O que mais?

— Em alguns dias você sentirá muito sono, terá febre... Não sentirá muita fome, mas terá muita sede. Mas eu prometo que não terá dor nenhuma.

❦❦❦❦❦❦

Chanyeol ainda estava com os fones de ouvido quando desceram até a garagem, estava alheio ao seu redor e mal podia perceber o quão mal Baekhyun estava. O pequeno era bom no teatro, mas Suho o conhecia melhor do que imaginava, e também conhecia seu paciente.

Quando viu o menor vir na frente, com a cara fechada, e Chanyeol atrás usando fones de ouvidos. Aquilo o irritou. Sabia que ambos estavam mal, sabia que não era fácil, mas não conseguiu se controlar.

Esperou Baekhyun entrar no carro e não deixou que Chanyeol fizesse o mesmo, o segurou e puxou os fones pelos fios. Seu paciente lhe olhou espantado, e tentou recuperar seus fones.

— Não! — puxou novamente. — Você entrou nessa, agora tem que ficar até o final. Não pode deixa-lo aguentar tudo sozinho.

Os ombros de Chanyeol tremeram, seus olhos transbordaram em um segundo, e ele teve que se controlar para não começar a chorar.

— Eu acho que não consigo — confessou.

— Você consegue sim — a voz de Baekhyun se fez presente. — Se eu consigo você também consegue.

Baekhyun parecia o mais forte ali, teatro puro. Pegou a mão de Chanyeol e o puxou para o carro, não antes de olhar para seu amigo e proferir palavras frias.

— Ele não precisa de nenhum psiquiatra dizendo como ele deve reagir às coisas. Você não está trabalhando agora.

Os três entraram no carro, Suho no banco do motorista, Baekhyun ao seu lado e Chanyeol atrás.

Baekhyun pediu desculpas ao amigo no meio do trajeto.

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Ao chegar à casa de Suho, Baekhyun subiu as escadas na frente de todo mundo. Chanyeol olhou o psiquiatra fechar a porta atrás de si, lembrando-se de suas palavras. Precisava agir com coragem! Precisava ser forte!

Ele subiu as escadas atrás de Baekhyun, seguiu-o pelo barulho alto de coisas chocando-se na parede. No quarto, ele destruía tudo ao seu alcance, até mesmo alguns materiais de desenhos.

— Para com isso — Chanyeol pediu, tentando segurá-lo, com medo que ele pudesse se machucar. Baekhyun estava agressivo, não permitiu e se afastou chutando e socando o ar.

— Eu odeio odeio odeio odeio tudo isso. Eu odeio odeio odeio! — começou a soluçar alto, colocando a mão sobre o peito, tentando inutilmente diminuir a dor ali. — É muito injusto! Eu não quero morrer agora. — Soluçou mais alto. — Eu ainda quero ficar com você. Quero comemorar aniversários... Datas especiais... Trocar presentes. Eu quero pintar!

Chanyeol conseguiu prendê-lo em seus braços, abraçando-o com todas as forças. Eles foram parar no chão, e Chanyeol se comoveu, deixando que algumas lágrimas também escapassem. Não estava fazendo porra nenhuma para ajudar.

Por um momento Baekhyun estava tirando sua máscara, expressando sua raiva, mostrando que na verdade não era forte coisa nenhuma. Que estava cansado, triste, se sentindo injustiçado. E algo que ele pensou que nunca fosse admitir, ele falou em voz alta.

— Eu estou com muito medo, Channie.

CONTINUA...



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