História Psicótico - O Terror Romântico - Um excêntrico vizinho

- An... – Lynn fez, parada em frente à mulher que chorava.

Ela era loira e fez uma careta quando viu Lynn. Ela fungou uma vez e saiu pisando duro, limpando o rosto com as costas da mão.

Lynn escutou um suspiro vindo do apartamento e se virou para o morador, extremamente sem graça com o que acabar de presenciar.

- Desculpe por ter visto isso – Foi a primeira coisa que o homem alto e loiro lhe disse, aproximando-se e apoiando o braço no batente da porta. – Posso te ajudar com algo?

Nathaniel, Lynn pressupôs que esse era seu nome por causa da coleira de Branca, vestia um suéter azul, que combinava muito com o seu tom de pele e com o cabelo dourado.

- Ah, sim, eu... – Lynn olhou para o chão, procurando a gata fugitiva. Branca passou pelos dois e entrou no apartamento, com o queixo erguido.

Seu vizinho riu e coçou o olho.

- Ah, Branca... – Ele encarou Lynn, com um sorriso de lado. – Desculpe pelo trabalho, essa gata faz isso de vez em quando.

Lynn descartou o pedido de desculpas com um aceno da cabeça.

- Não quer entrar? – Perguntou Nathaniel, olhando-a com expectativa. – Preparei dois sanduíches, mas, como pode ver, não tenho mais companhia.

- Oh, não, imagine. Eu acabei de almoçar – Lynn sorriu.

Nathaniel apertou os olhos, com um sorriso.

- São sanduíches leves. – Ele girou seu corpo, dando espaço para que Lynn entrasse. – Venha, eu insisto.

E Lynn quase entrou naquela hora. Quase. Mas um sensor feminino a fez parar no lugar, encarando seu vizinho com um olhar desconfiado.

- Eu não quero causar problemas entre você e sua namorada.

Lynn se surpreendeu quando Nathaniel riu. Era um som espontâneo e ela não negaria dizendo que não havia achado bonito.

- Namorada? – Ele repetiu como se estivesse falando de uma comida ruim. – Sinto te desapontar, mas ela é minha irmã. – Ele parou de rir e suspirou. – Agora você não tem mais desculpas. Entre, por favor.

Irmã? Bem, se ela tivesse prestado mais atenção, veria a semelhança absurda entre os dois. Lynn suspirou para Nathaniel, embora sorrisse.

- Tudo bem, tudo bem, eu vou.

O homem alto, loiro e aparentemente simpático, fechou a porta atrás de Lynn depois que ela entrou.

A diferença entre o apartamento em que Lynn pisava e o seu próprio eram assombrosas. Tudo bem, o dela não estava tão bem mobiliado porque era novo, mas Lynn não conseguia se imaginar colocando todas aquelas quinquilharias em sua sala de estar. Parecia o interior de uma casa da aristocracia e ela encarou tudo maravilhada.

Nathaniel a conduziu pelo apartamento e pediu que ela esperasse no sofá que ele buscaria os lanches.

Lynn não esperou sentada, exatamente. Não quando viu a “pequena” biblioteca que o vizinho exibia perto de um arranjo floral pouco discreto.

Ela viu de tudo. Livros de ficção, acadêmicos, não ficção, biografias... Tudo mesmo. Lynn se perguntou se ele realmente tinha lido aquilo tudo ou se era apenas uma forma de se exibir.

- Advanced Alchemy, Soul’s Study – Lynn murmurou, passando o dedo sobre a lombada de um livro grosso.

- Ninguém te disse que é feio xeretar? – Perguntou Nathaniel e Lynn deu um pulo, virando-se para trás. Não havia escutado ele chegar.

Lynn deu um sorriso tímido e ambos se sentaram no sofá.

- Desculpe. – Ela falou, enquanto Nathaniel deixava o prato com dois sanduíches na mesinha em frente, – Mas sua biblioteca particular não está exatamente escondida...

Nathaniel a olhou de soslaio, com divertimento, e pegou seu lanche. Lynn repetiu o gesto.

- Diga-me, Lynn. – Ele mordeu e engoliu um pedaço.

- Hum?

- Você gosta de ler?

Lynn pensou um pouco, limpando os lábios com o dedo.

- Ah, não tanto... Gosto mais de ver as histórias, sabe? Filmes.

Nathaniel assentiu levemente. Ele mudou de assunto e perguntou superficialmente sobre a vida de Lynn – o que ela estava fazendo na cidade, de onde veio, esse tipo de coisa. Ela se surpreendeu como Nathaniel parecia realmente escutar o que ela dizia.

Ela já era esperta o suficiente para saber que quando um cara tem uma conversa dessas com uma mulher, ele não está realmente interessado em saber de sua vida.

- E sobre a sua família? – Perguntou Lynn, depois de acabar com o sanduíche.

Nathaniel sorriu.

- Você conheceu a minha irmã. É o suficiente para saber que minha família não é a mais equilibrada de todas.

- Poxa, sinto muito por isso.

- Não sinta. Vivo sem eles e, de vez em quando, Ambre vem aqui deixar as coisas mais dramáticas e divertidas. Não é a vida dos sonhos?

Mas Nathaniel não deixou Lynn responder porque continuou:

- Então, qual seu gênero favorito?

- Perdão? – Lynn riu. – Eu já disse que não gosto tanto de ler.

- Poder ser de filmes.

Lynn pensou um pouco.

- Ah, sei lá... Suspense?

- Isso é uma pergunta? – Nathaniel riu. – Não vai me perguntar qual é o meu?

- Tudo bem. Qual o seu gênero favorito de livros?

- Hum... Pergunta difícil... Terror.

- Terror?

- E romance.

Lynn franziu as sobrancelhas.  

- Terror e romance? Eles... Eles são quase um extremo. Não consigo ver relação entre eles.

Nathaniel sorriu. Lynn já estava se acostumando com aquele sorriso. Era pequeno, quase imperceptível, e não alcançavam os olhos, exatamente. Estes últimos estavam sempre sérios e atentos.

- O romance e o terror juntos... Não chega a ser poético?

Lynn se remexeu no sofá, ao lado de Nathaniel, confusa.

- É, ainda não consigo entender como estão relacionados.

Nathaniel suspirou e se aproximou de Lynn.

- Preste atenção. A reação do corpo em ambas as situações é a mesma. O coração acelera, a pupila dilata, você começa a soar, a respiração acelera...

Lynn abriu levemente os lábios, absorta nas palavras do homem à sua frente.  

- Sabe o mais interessante? O corpo busca formas de escapar porque está em uma situação perigosa. – Nathaniel olhou deliberadamente para as pernas de Lynn. – As pernas mandam você correr. Então existe a decisão final.

Era impressão de Lynn, ou a voz de Nathaniel estava mais baixa?

- Lynn, em uma situação de perigo, você fica ou você foge?

E quando ela ia responder, algo branco e felpudo pulou entre os dois.

- Jesus, que susto! – Exclamou Lynn. Ela havia se atrapalhado com Branca e quase derrubara o prato da mesinha ao tentar se levantar.

Branca subiu no colo de Nathaniel e se deitou em seu colo. Lynn riu amarelo, ainda confusa com tudo que tinha acontecido.

- Er... Eu acho que já vou indo... É, já vou indo... Ai! – Reclamou quando sua canela bateu na quina da mesinha.

Despediu-se mais uma vez de um Nathaniel entretido e foi para a porta, antes que seu vizinho pudesse se levantar – embora, pelo jeito que acariciava sua gata, não demonstrasse que estava disposto a se levantar.

De volta ao seu apartamento, Lynn apoiou sua cabeça na porta e suspirou, começando a rir de como devia estar parecendo patética com Nathaniel.

- A reação do corpo em ambas as situações é a mesma – Lynn repetiu as palavras dele, com uma careta. – É cada um que aparece... Quem ele acha que é? Ele parece tão... Seguro de si. Ugh... Por que estou falando sozinha de novo?

Lynn sorriu, como se admitisse uma derrota.

É, ela fugira afinal.