Lynn percebeu que ficar entediada quando se mora sozinha é uma coisa que acontece com bastante frequência, para seu desespero. Depois de comer o café da manhã delicioso preparado por Kentin e limpar a louça, ela ficou vários minutos pensando no que faria a seguir para se distrair.
Ela nunca quis tanto que as aulas começassem. Já estava ansiosa por ser o primeiro dia de aula na faculdade; era diferente daquela ansiedade colegial, claro. Queria saber quem seriam seus colegas, se eles também moravam sozinhos e conversar sobre o amor que todos compartilhariam: a arquitetura.
Pensar em amizades a fez lembrar com um aperto em Rosalya. Sua melhor amiga estava se divertindo horrores no Havaí com seu namorado enquanto ela estava enfurnada dentro de um apartamento.
Então ela decidiu ligar para ela – nada mais justo.
Pegou seu celular e se jogou no sofá. A ligação completou e ficou chamando durante poucos segundos até alguém atender.
- Alô? – Disse a voz no outro lado da linha.
- Leigh? – Lynn perguntou quando foi surpreendida por uma voz masculina. – É a Lynn.
- Ah, oi Lynn. Quer falar com a Rosalya?
Deve ser por isso que eu liguei para o celular dela, pensou, de mau humor. Depois balançou a cabeça, devia parar de ser chata.
- Sim, ela está aí perto?
- Na verdade, não. Ela foi para a sessão de massagens do resort e deixou o celular aqui.
- Ah...
- Quer que eu fale que você ligou?
- Não, não precisa. Eu só liguei para jogar conversa de qualquer forma. Divirtam-se aí.
- Obrigado! Você também.
Despediram-se e ela encarou o celular, pensativa. Então fez sua decisão.
- Oi? – Disse a voz.
- Oi, mamãe.
- Querida, é você? – Ela perguntou. – Tudo bem? Aconteceu alguma coisa?
Sorriu com a preocupação maternal e desnecessária dela.
- Não, não aconteceu nada. Só fiquei com saudades.
Lynn percebeu que ela estava em um lugar barulhento.
- Mãe? Que barulho é esse? Onde você está?
- Venha pra cá, Lucia! – Escutou seu pai e a risada da sua mãe.
Eles estavam em uma festa?
- Oh, querida, você se lembra do Viktor? Então, ele voltou para a cidade e os pais dele organizaram uma festinha, nada demais, sabe?
- Viktor voltou para a cidade? – Perguntou surpresa.
A última vez que Lynn ouviu falar dele, ele tinha ido viajar pelo mundo para se preparar para suceder os negócios do pai dele, um homem super rico. Ela realmente não esperava que ele fosse voltar – não depois de ter prometido para ela que não voltaria.
Será que ele me esperava encontrar lá?
- Sim, ele está uma graça de rapaz, que pena que vocês se desencontraram! – Exclamou sua mãe. Dava pra escutar uma certa impaciência na voz dela, era óbvio que ela gostaria de voltar a festejar.
- É, uma pena mesmo. Não vou mais te atrapalhar, divirta-se aí.
- Te amo, meu bem. Vou dizer a Viktor que mandou lembranças. Ei, Vik...
- Não precisa, mãe... – Mas ela já havia desligado o celular.
Essa informação lhe pegou de surpresa. Mas não fazia diferença, ela estava em um lugar bem longe deles.
Então todo mundo que ela poderia contatar estavam se divertindo e Lynn estava ali, ainda sentindo vergonha por ter suspeitado de Kentin e achar que ele tivesse tirado proveito dela, quando na verdade a culpa era totalmente de Lynn, que havia bebido mais que deveria.
Ela bufou – precisava sair de casa, espairecer, encontrar outros seres humanos. Na sua antiga casa, era apenas ela e seus pais, então lá não era muito barulhento para que ela estivesse tão ávida assim, mas ela conseguia passar horas no telefone com a Rosalya. Quando era mais nova, estava sempre conversando com Viktor.
Em resumo, estava a maior parte das vezes acompanhada. Gostara, por exemplo, do barman bonitinho e da conversa curta que tivera com ele. Alexy era um cara educado, ela queria conhecer mais pessoas assim.
- O que fazer, o que fazer... – murmurou para si mesma.
Lynn olhou para os próprios pés. Hum... Não era uma entusiasta de corridas e caminhadas, mas... Ela gastaria energia de alguma forma.
- Não acredito que realmente vou fazer isso.
Ela se levantou e foi para o quarto, procurando uma roupa boa para fazer caminhada. Depois de vestida e calçada com seus tênis esportivos quase novos de tão pouco usados, Lynn foi para a sala, pegou as chaves e se preparou para sair.
Uma rápida volta no quarteirão não mataria ninguém né? E ela voltaria com tempo para o almoço.
O caminho até o térreo foi tranquilo; ironicamente isso não era o normal. Lynn se sentia um pouco incomodada que o legging estivesse marcando coisas que não deveria, mas não podia fazer nada.
Não havia muitas pessoas na rua, não como se fosse um dia da semana normal, mas nada que pudesse ser perigoso. Mas ela pensou a mesma coisa na noite anterior quando encontrou Lysandre.
Lynn resolveu fazer uma caminhada em volta do quarteirão apenas para espairecer. Também levara seu celular e um fone. Sua mãe com certeza ficaria louca se a visse sair assim.
“Você só pode estar querendo ser roubada para andar com o celular assim!”, ela diria e Lynn riu com a lembrança.
Depois de alguns vários minutos – mais do que Lynn teria aceitado se soubesse quanto demoraria – ela estava quase de volta ao seu prédio quando parou porque tinha visto Castiel, aquele vizinho ruivo falso, saindo do prédio em frente.
Ela se sentiu idiota por isso, mas tratou de ficar meio escondida atrás do poste. Como da última vez, ele estava vestindo um terno, embora não parecesse tão caro quanto o último e parecia esperar alguém.
- Se ele está esperando alguém que vive nesse prédio por que não se encontraram no apartamento dele? – Lynn perguntou a si mesma.
Passaram-se uns dois minutos e ela pensou em sair de seu semi esconderijo e voltar para seu apartamento, fingindo nem ver Castiel, embora sua curiosidade e o fato de não ter nada melhor para fazer a impeliram a ficar um pouco mais.
De qualquer forma, o jeito como Castiel olhava impaciente para o relógio já a indicava algo.
Dito e feito (ou seria pensado e feito?), não demorou muito para um sedã Chrysler chegar e estacionar rente ao meio fio.
Para não total surpresa de Lynn, uma mulher muito bonita, com a pele negra igual chocolate, saiu do banco de motorista, indo em direção a Castiel e ambos se cumprimentaram com um sorriso no rosto.
A mulher também vestia algo formal – uma espécie de terninho para ser exata. Castiel estendeu a mão para a porta do prédio e os dois entraram. Não sem antes, claro, ele colocar a mão “amigavelmente” nas costas dela, como se fosse guia-la.
Lynn saiu de trás do poste. Mistério resolvido. Provavelmente mais algum caso de seu vizinho. Só conversaram uma vez, mas ela já sabia como classificar o tipo nenhum pouco incomum de Castiel. Na sua cidade estava cheio daquilo, embora não fossem tão bonitos e... Bem, abastados com dinheiro, como ele parecia ser.
Ela suspirou – não tinha mais nada a fazer ali. Garantiu que Castiel e sua nova conquista não a pudessem ver desde dentro do prédio (não queria ter que explicar por que ficou tanto tempo parada lá) e voltou para seu apartamento ao som de Midnight Rambler, de Rolling Stones.
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