- Se eu soubesse que o estacionamento estaria tão cheio, eu teria vindo de ônibus – reclamou Lynn no carro.
Esse pequeno imprevisto não serviu para atrapalhar a animação na qual se encontrava com o primeiro dia da faculdade. Havia tido uma boa noite de sono e nenhum infortúnio no decorrer do dia anterior. Não podia estar melhor.
O campus pequeno da faculdade era lindo. Viu inúmeros estandes de clubes (até um que se chamava Cultura Pop Intergaláctica) e vários veteranos recebendo os calouros. Conseguia visualizar os dormitórios e os sorrisos dos alunos a fez ficar muito feliz.
Ela não estava sabendo muito bem para onde deveria ir, então se dirigiu a um grupo de pessoas que pareciam confortáveis demais para serem novatos, talvez pudessem ajuda-la.
- Com licença... – Lynn cutucou um rapaz encapuzado com a mão que não segurava sua lista de horários. – Você poderia me indicar onde fica a sala do professor... Alexy? – Ela perguntou quando o rapaz se virou para ela e tirou o capuz da cabeça, revelando um inconfundível cabelo azul.
- A cliente! – Ele exclamou, sorrindo.
- Isso. Lynn, na verdade – respondeu, feliz por encontrar um rosto mais ou menos conhecido.
- Eu não sabia que você era universitária. Do jeito que te vi lá, parecia toda elegante, até mesmo mais velha.
Lynn fez uma careta.
- Obrigada... Eu acho. Você também é calouro?
- Eu? Não, graças a Deus, passei dessa fase há um tempo.
Alexy girou o corpo e chamou uma morena esbelta com a mão. Ela atendeu o amigo e se aproximou dos dois.
- Esta é minha amiga Priya – ele apresentou. – Ela veio de intercâmbio da Índia.
Isso explicava o enfeite vermelho que ela usava no meio da testa e suas roupas um pouco exóticas, embora ainda muito bonitas.
- E esta é Lynn, eu a conheci no trabalho, ela parece legal – foi o que Alexy falou, meneando a cabeça para a citada.
Embora Alexy como bartender seja despojado e alegre, ele parecia ser dez vezes mais assim fora do trabalho. Lynn adorou.
- Hailo, mera naam Priya hai – Priya disse, com um sorriso. Lynn franziu a testa e deu um sorriso amarelo.
- Desculpa, eu não entendo... – Lynn hesitou.
- Híndi – Alexy completou. – Sabe como é, ela ainda não sabe falar inglês. E ela sabia que você não ia entender, então te chamou de nativa burra.
Lynn abriu a boca, chocada, sem saber como reagir. Até Priya começar a bater no amigo.
- Cala a boca, Alexy! – Ela disse, rindo, e depois se dirigiu a Lynn. – Estamos só brincando com você. Eu sei falar inglês. E, claro, eu não te chamei de burra, eu só disse “olá, meu nome é Priya”.
Alexy e Priya tinham um senso de humor bem estranho, concluiu Lynn.
- Eu vim aqui para estudar Medicina – ela se explicou. – E você, Lynn?
- Arquitetura – Lynn respondeu, com um sorriso orgulhoso.
- Puxa, isso é legal. Boa sorte com seu curso – Priya disse. – E não se preocupe, faculdade é como colégio. Só que com apenas incríveis aulas de biologia!
Alexy fez uma careta.
- Você tá tentando fazer ela se desmatricular?
- O que foi? Aulas de biologia são demais!
- Para uma futura médica, sim, claro, mas não para arquitetos, sua louca.
Priya estava prestes a refutar o amigo, quando Lynn interviu:
- Olha, eu... Eu acho que eu realmente devia ir pra aula agora, eu odiaria chegar atrasada, então...
- Ah, claro. – Alexy se aproximou dela para ver o horário. – É bem ali! – Ele apontou para um prédio não muito longe de onde se encontravam. – Primeira porta à direita, sem engano.
- Obrigada.
Lynn se despediu dos dois e não conseguiu parar de sorriu enquanto seguia para sua primeira aula.
. . .
No final do dia, Lynn voltava para seu carro, quando escutou alguém a chamando à distância. Riu ao notar um cabelo azul trotando em sua direção.
- Ei, Lynn!
- Oi, Alexy, tudo bem?
- Claro. O carro é seu?
Lynn assentiu com a cabeça.
- Uau. Se importa de me dar uma carona? Eu acho que perdi o ônibus...
- Claro que não, entra aí.
Ela destrancou o veículo e ambos entraram. Alexy parecia realmente impressionado.
- Você é uma caloura que frequenta barzinhos sofisticados e que tem um carro... – Ele comentou enquanto Lynn dava a partida.
- É, meus pais me deram... – Lynn falou meio sem graça.
- Deixa eu adivinhar. Eles não queriam que você andasse em ônibus numa cidade grande porque isso poderia ser super perigoso?
Lynn riu.
- Mais ou menos isso, eu acho.
- Puts, se eu dependesse do dinheiro dos meus pais... Eu com certeza não estaria nesta faculdade.
- Você é bolsista?
Ele assentiu, orgulhoso.
- Eu também sou – Lynn disse, sorrindo.
- Eu imaginei, sabe. Se não você estaria numa faculdade melhor, provavelmente. E mais perto de casa – Alexy suspirou. – Mas é bom, não é? Sair do ninho, quero dizer. Ok, lá na minha cidade eu tinha uma vida melhor e aqui eu tenho que estudar durante o dia e trabalhar até tarde da noite... Mas dá uma sensação boa de liberdade.
- É – foi apenas isso que Lynn respondeu.
- Mas então, o que achou das aulas?
- Excelente! Um dos meus professores foi pupilo de Daniel Libeskind, isso é incrível!
Alexy deu de ombros.
- Não faço a mínima ideia de quem seja esse Daniel Lambepai.
- Libeskind – corrigiu Lynn, sorrindo. – É um arquiteto americano famoso. Ele-
- Não, não. Nem precisa, eu realmente não quero saber.
Lynn riu da franqueza de Alexy. Ele era extremamente divertido. Seria bom se dali há uns tempos o pudesse chamar de amigo.
Ela freou o carro quando viu o sinal vermelho e se virou para Alexy.
- Onde é pra te deixar?
- Pode ser lá no barzinho.
Lynn assentiu e continuou a dirigir. A conversa fluiu muito bem e ela perdeu a quantidade de vezes que começou a rir.
- Ali, ó – Alexy apontou um lugar onde Lynn pudesse parar o carro para ele saltar.
Ele saiu do carro e fechou a porta.
- Obrigado pela carona.
- Imagina. Te vejo amanhã, então?
- Pode apostar.
Os dois se despediram e Alexy seguiu seu rumo a pé. Aproveitando que o carro estava encostado, Lynn pegou seu celular e mandou uma mensagem para Rosalya e para sua mãe dizendo que o primeiro dia da faculdade fora ótimo. Quando ia guardar o aparelho na bolsa, acabou se atrapalhando e o deixou cair. Foi quando ela percebeu uma carteira esquecida debaixo do banco do carona.
Lynn a abriu só para ter certeza que era de Alexy mesmo (não era como se ela sempre saísse por aí dando carona pra todo mundo). Ela pegou a carteira e abriu a janela, tentando localizar Alexy. Ele já estava relativamente distante, então Lynn saiu do carro e foi atrás dele.
- Alexy! Você deixou sua carteira aqui! – Ela chamou, mas ele nem pareceu tê-la escutado. Fones de ouvido. Alexy estava usando fones de ouvido.
Lynn suspirou e apressou o passo para tentar alcança-lo. Foi uma pequena corrida até ela conseguir chegar a uma distância considerável para que ele pudesse ouvi-la.
- Ah, finalmente! – Exclamou Lynn, quando Alexy se virou para ela, tirando os fones e o capuz.
- O que aconteceu?
- Você esqueceu sua carteira no meu carro!
- Puxa! Nossa, valeu mesmo. Eu sou um desastrado.
- Ah, que isso, imagina.
Lynn entregou a carteira para um Alexy bem aliviado.
- Fica parada, você tá com uma sujeira aqui – ele disse, apertando os olhos para o cabelo de Lynn. – Ai, eu acho que é um bicho.
- O quê? Tira! Tira! Tira! Tira! – Ela começou a exclamar, fechando os olhos com força e ficando paralisada no mesmo lugar.
- Não se mexe!
Lynn sentiu Alexy deslizar a mão sobre uma mecha de seu cabelo e fez o possível para não gritar. Ela odiava insetos, odiava.
- Pronto. Não era um bicho, era um pedaço de folha.
- Não acredito! Eu quase tive um ataq-
- O que você pensa que está fazendo?! – Os dois escutaram uma voz masculina dizer e não deu tempo de ninguém reagir antes do dono da voz empurrar Alexy para longe com força.
Lynn não podia acreditar no que estava vendo.
- Nathaniel?
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