História Psycho Love II. - O coração quer o que quer.

Autora Point Of View.

 Alice não dormia muito bem sem sua mãe por perto. E mesmo que as vezes não fosse dormir com ela na mesma cama, Alice sabia que sua mãe estaria no cômodo ao lado.

 Mas dessa vez era diferente. Sua mamãe nem sequer estava na mesma casa que ela. Não estava dormindo consigo e nem nada parecido.

 Então, em meio a madrugada, Alice acordou, sentindo saudades de Lily. Ela olhou ao redor, procurando-a meio desnorteada. Mas a única pessoa que encontrou dormindo ao seu lado era Selena.

 Não era tão ruim assim, ela pensou.

 Ao menos Selena era legal com ela. No entanto, ainda assim, não conseguia não sentir saudades de sua mamãe.

 Ela se levantou da cama com cuidado e sem fazer barulho, pegando seu leãozinho de pelúcia no colo e o abraçando. Havia perdido o sono por um momento, e a única pessoa que a fazia se sentir mais próxima de sua mamãe era Justin, então iria procurar por ele.

 Justin estava dormindo no quarto ao lado. Ou ao menos, tentando dormir.

 O problema era que ele nem sempre conseguia. Depois de todas as coisas que teve que fazer na vida, todos os assassinatos, tudo o que passou com Alice, seu melhor amigo Gregg, Selena, sua mãe e seu pai… Suas noites de sono nunca mais voltaram a ser a mesma.

 Ele chegava a soar enquanto dormia. Os pesadelos, imagens de sangue e terror sempre o atormentavam. Ele não gritava, no entanto. Não emitia nenhum som alto. As vezes, raramente, soltava alguns ruídos ou suspiros de dor. Já ocorreu de ele murmurar o nome de Gregg também. Ele tinha tanta dor dentro de si, mas preferia manter assim. Trancada, fechada, como se fosse mais saudável. Ele não queria falar sobre o assunto. Não queria pensar sobre o assunto. Então, quando dormia e sua mente estava mais vulnerável durante o sono, tudo vinha a tona. As imagens, os sentimentos, a saudade ou a culpa. Tudo aparecia.

 Nos tempos em que ele dormia com Selena na cama, ela nunca percebia. Não tinha como notar. Ela tinha seus próprios demônios a enfrentar, tinha seus próprios problemas. E os pesadelos de Justin não estavam tão fortes como agora.

 Quando ele ainda dormia ao lado dela, ainda tinha algo a se segurar. Ainda tinha ela para acalmá-lo, mesmo que inconscientemente. A presença dela já era o suficiente para fazer seus próprios demônios se calarem.

 Agora, com ela longe dele, os demônios gritavam e riam dentro de sua mente, fazendo a festa pelo seu sofrimento silencioso.

 Alice estranhou quando viu seu papai soando na cama e sussurrando coisas inaudíveis. Ela se aproximou aos poucos, então ficou super preocupada, porque ninguém dormia tranquilamente daquele jeito. Ele parecia realmente perturbado com algo.

– Papai? - sussurrou ela, tocando no ombo dele. Não obteve resposta, e ele continua sussurrando alguma coisa. Alice aproximou o rostinho dos lábios do pai com muito cuidado, então conseguiu captar um nome.

 Não foi o nome de Gregg, nessa noite.

 Nessa noite Justin sussurrava o nome de Selena. Bem, assim em como todas as noites desde que ela terminou com ele e deixou claro de que não o queria mais.

 Alice afastou seu rostinho e então tocou no braço do pai novamente. Dessa vez, o chacoalhou um pouco enquanto dizia em um tom mais alto.

– Papai, papai. Acorde. Papai!

 Justin levou alguns segundos para fechar seus lábios e abrir seus olhos devagar. Quando ele percebeu que a pessoa que o chamava era sua filha, seus olhos se arregalaram um pouco.

– Alice… Filha, o que está fazendo aqui? - perguntou ele em baixo tom, se sentando na cama.

– Não estava conseguindo dormir direito. Você estava tendo um pesadelo? - perguntou ela, visivelmente preocupada.

– Não, eu… - Justin respirou funo e tirou uma toalha de rosto de dentro da gaveta da cômoda ao seu lado. – Eu estou bem. - ele forçou um fraco sorriso nos lábios enquanto passava a toalha em seu rosto. Já sabia que devia ter tido um pesadelo daqueles novamente. E o pior de tudo era que Alice presenciou. Ele só esperava não ter dito besteiras ou ter parecido um completo maluco.

– Você está bem mesmo? - Ela não podia deixar de ficar preocupada.

– Claro. - Justin sorriu novamente para tranquilizá-la. Então a pegou no colo, e a sentou na cama ao lado dele. – O que acha de dormir comigo? Acha que vai conseguir?

 Alice estava pronta para concordar, afinal, era esse o seu plano o tempo todo. Mas então se lembrou de que Justin murmurava o nome de Selena enquanto dormia, e pensou que, assim como ela sentia saudades da mamãe, ele deveria sentir saudades de Selena.

– Você não quer vir dormir comigo e a titia Lena?

 Justin pensou em negar. Selena não gostaria de acordar ao lado dele, não quando estava tentando manter distância. Mas era Alice quem estava pedindo. Ele faria isso pela filha sem pensar duas vezes.

– Ela está dormindo. Nem vai sentir. - continuou a menina. – A gente chega bem devagarzinho e deita na cama sem fazer barulho, ok?

 Ele sorriu antes de assentir.

– Ok.

 Então Justin se levantou da cama e esperou que Alice fizesse o mesmo. Eles sairam do quarto de mãos dadas e quando chegaram no quarto ao lado, Justin não pode deixar de sentir um alívio só de pensar em dormir na mesma cama que Selena novamente.

 Alice foi a primeira a subir. Ela foi devagar, engatinhando na cama até finalmente se deitar ao lado de Selena.

 Justin se deitou ao lado de Alice, deixando-a no meio dos dois.

 A menina também tomou a liberdade de mexer no braço de Selena e fazer a mesma abraçá-la. E então olhou para Justin e pediu:

– Me abraça também.

 Justin sorriu, e passou seu braço pelo pequeno corpo da filha. Seu braço encostava com o de Selena, mas ele nem se importou. Ficou até feliz por isso.

 E só para completar o momento, e para que Alex, seu leãozinho de pelúcia não se sentisse excluído, Alice o abraçou também.

– Boa noite, papai. - sussurrou ela, fechando seus olhos.

– Boa noite, filha. - ele sussurrou de volta, e dessa vez, Justin se rendeu a um sono sem pesadelos.

 (…)

 Quando Selena acordou na manhã seguinte mais cedo que todos, ela se viu deitada na mesma cama que Alice e Justin.

 Ela tirou um momento para observar a cena em que se encontrava. Eles dormiam profundamente ao seu lado, serenos e calmos. Selena por algum motivo estava abraçando Alice, e Justin fazia o mesmo. Ela reparou que, apesar de ele fazer a mesma coisa, o braço dele estava por cima do dela, como se estivesse abraçando-a também. Apenas sentir aquele toque, a pele dele contra a sua, a fez se arrepiar involuntariamente. Por um momento, sentiu saudades do modo como Justin a tocava. Quando ele segurava em sua mão, quando acariciava seu rosto, os seus abraços, seus beijos…

 Ela suspirou baixo enquanto pensava sobre o assunto. Sentia falta dele. Era impossível negar quando seu coração sempre batia tão aceleradamente com ele por perto de si, ou quando ela ouvia a sua voz e sentia aquelas borboletas brincarem em seu estômago.

 Ela se levantou da cama com cuidado. Não poderia ficar por aí sentindo saudades dele, não quando queria continuar brava.

 Após uma rápida ida ao banheiro, ela se encaminhou até a cozinha e ficou pensando no que poderia fazer para o café da manhã. Não conhecia o gosto da filha, mas imaginou que ela tivesse gostos em comum com ela ou Justin. Por isso, fez algo que ambos gostavam de comer no café: panquecas.

 Enquanto cozinhava, ela se pegou imaginando como seria ficar com Alice durante o resto da sua vida, e com Justin ao seu lado também, afinal ele era o pai, e fazia tão parte da família quanto ela.

 Selena sorriu, mesmo que por alguns segundos, imaginando o cenário da família perfeita. Dos três juntos, convivendo em paz, sem sofrimento e dores… Apenas sendo felizes.

 Mas claro que, para tudo ficar perfeito, ela teria que se resolver com Justin. Sabia disso. Só não se sentia preparada ainda e nem sabia como ficaria. Ainda lhe doía muito saber que ele esteve com outras mulheres, traindo-a quando tudo o que ela queria era ser a única mulher na vida dele.

– Panquecas, huh?

 Ela teve um sobressalto quando ouviu a voz de Justin soar na cozinha. Já estava virando a última panqueca e olhou rapidamente.

– Ah, sim. Achei que Alice pudesse gostar… - comentou ela, baixinho e desviou o olhar. Ele estava sem camisa, usando apenas uma bermuda, daquele jeito em que mostra a barra de sua box da Calvin Klain. Ela odiava quando ele fazia isso. Odiava porque amava, e ele sempre ficava irresistível assim. Ainda mais com aquele tom de voz rouco de quem acordara a pouco tempo.

– Pensou que ela pudesse ter os mesmos gostos que nós, não é? - Justin não pode evitar sorrir. – É, foi uma boa opção de café da manhã.

 Selena continuou trabalhando nas panquecas, mas quando tirou a última do fogo sabia que não teria mais com o que se ocupar.

– Hum, suco? Posso fazer. - disse ela, se dirigindo para a geladeira e abrindo a mesma enquanto tirava uma jarra de água dali.

 Ela colocou a jarra na pia, segundos antes de Justin tocá-la. O que provavelmente foi uma boa escolha, já que o seu toque a pegou desprevenida e a fez tremer as pernas.

– Está tudo bem? - perguntou ele, notando o comportamento meio evasivo dela. Selena o encarou. E ela também odiava quando ele a olhava assim com tanta preocupação. Fazia seu coração se aquecer e ela querer apenas selar os lábios dele em forma de mostrar que estava tudo bem, só para que ele não se preocupasse mais.

– Estou bem. - Selena forçou um sorriso e voltou a olhar para a jarra de água em sua frente.

– Não, não está… Qual o problema? - Ele ainda tocava em seu braço. Ainda estava perto demais de si. – Selena? - Ele fez com ela olhasse para ele, quando percebeu que ela não estava fazendo isso.

 Por um segundo ou dois, ela se perdeu naqueles olhos castanhos. Antes de se recompor e despejar:

– O problema é você. Você e esse seu olhar idiota, o modo como me toca e fala comigo. Até o seu tom de voz é o problema.

 Justin conteve um sorriso. Ele queria sorrir, mas isso só deixaria ela ainda mais frustrada, ele sabia disso. Então apenas se aproximou mais de si, com cautela.

– O problema é que eu ainda mexo com você, não é? O problema é que você ainda me ama.

 Selena nem sentiu vontade de negar. Estava óbvio que sim, e ela estava tão cansada de tentar provar o contrário. Alice estava aqui, estava viva. E nem ao menos sabia que ela era sua verdadeira mãe. Morava com Lily e ainda teria um longo caminho a percorrer para aprender a amar ela. Isso já era todo o necessário para esgotar suas energias.

 Ela precisava reconstruir sua família. Precisava lidar com Alice e sabia muito bem que não conseguiria fazer isso sozinha. Não conseguiria sem apoio. Não conseguia aguentar tudo sem ter alguém a quem recorrer.

 Ela suspirou baixo enquanto olhava para Justin.

– Eu preciso de você. - murmurou ela. – Eu realmente, realmente preciso de você.

 Ela pensou em seguir a parte mais racionar de seu cérebro, e não a sentimental. Mas as imagens dos três dormindo juntos na cama insistia em aparecer em sua mente. Insistia em tentar lhe mostrar que eles poderiam ser uma família. Que poderiam se acertar. Todos eles.

 Ela queria dar uma chance a esse novo recomeço. Precisava dar.

 Mas sabia que se outra decepção ocorresse, ela não seria mais capaz de aguentar em pé. Desabaria, ficaria destruída, sem chances de reparo.

 Justin se surpreendeu ao ouvir tais palavras saírem dos lábios de Selena. Ele com certeza não esperava ouvir isso, mas não podia ser descrito o quanto essas palavras o aliviaram profundamente e fizeram aquela chama de esperança crescer novamente em seu coração.

 Ele não queria ser apressado. Não queria assustá-la ou afastá-la novamente. Mas a emoção dentro de si era tanta que ele não pode segurar. Murmurou um pedido de desculpas antes de simplesmente agarrá-la pela cintura e beijá-la.

 Ela estava querendo dar outra chance para ele. Outra chance para que ele pudesse amá-la. Por isso, Justin a beijou profundamente, com toda a paixão que sentia no momento.

 E Selena retribuiu. Ela não tinha forças para recusar, de qualquer forma. Precisava ao menos tentar fazer isso dar certo, tanto por ela quanto por Alice.

 Então, apenas abraçou o pescoço dele e o beijou como quisera fazer desde que voltara para Chicago.

"Você me fez experimentar algo

Que não posso comparar a nada
E tenho esperança
Que depois dessa febre eu sobreviverei
Sei que estou agindo feito louca
Estou presa, tudo meio nebuloso
Com a mão no coração, estou rezando
Para sobreviver a isso tudo".

The heart wants what it wans - Selena Gomez