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História Psycho Lunatic - A song to say goodbye


Escrita por: juusynner

Notas do Autor


Oooooii, volteiii com mais um capítulo!

Antes de tudo! Esses dias a fic ganhou algumas leitoras novas, então sejam bem-vindas, sintam-se em casa <3

É isso, não vou me alongar mais. Espero que gostem desse.

Boa leitura!

Capítulo 17 - A song to say goodbye


“A song to say goodbye”

Song to Say Goodbye - Placebo

(Uma música para dizer adeus)

POV: Jenny

Master of Disaster - Seether

“Fill my mind with foreign words

To keep me wanting”

(“Preencha minha mente com palavras estrangeiras 

Para me manter querendo”) 

 

Eu acordei confusa, pensei ter escutado algo, mas não sabia se o som viera do meu sonho, ou do mundo real. O quarto estava totalmente escuro e eu imaginei que fosse de madrugada. Me virei na cama, procurando por Brian, mas não o senti. Me sentei, imaginando que ele poderia estar no banheiro, mas percebi que não, já que a porta estava aberta e a luz apagada.

Me levantei cambaleando, vestindo um roupão, que estava pendurado em um gancho na porta do banheiro, quando ouvi uma discussão. O som estava abafado, mas pareciam gritos e, com certeza, uma das vozes era de Brian. Eu desci devagar, tentando não fazer barulho para não revelar minha localização. Quando cheguei no último degrau da escada, ouvi uma voz tão conhecida, que não precisava olhar para o lado de fora, para saber que Matt e Brian discutiam na área da piscina. 

Coloquei as costas contra a parede, ficando ao lado da porta de vidro. Graças ao material fino, eu conseguia ouvir com clareza o que acontecia do lado de fora. 

— Brian, você não pode fazer isso com seu casamento. — Ouvi a voz de Matt dizer, ao mesmo tempo que me sentia culpada por ouvir a discussão alheia. — Não tem o direito de fazer isso com Michelle.

— PORRA, MAS QUE HIPOCRISIA, MATTHEW! — Brian gritou, ouvi o tom de nervosismo em sua voz e soube o quão furioso ele estava — Você por acaso se esqueceu que há dois anos também ficava com um monte de fã? Você esqueceu que fazia sexo aos montes? 

— Sexo sem significado é diferente. — Matt disse, um pouco mais calmo — Eu vi o modo como você olha para ela. É diferente. 

Decidi que não escutaria mais a conversa. Era óbvio o que acontecia: Matt estava brigando com Brian por ter passado o dia comigo e traído Michelle. Eu também não estava confortável com a situação e entendia o vocalista. Estava com o pé no primeiro degrau da escada, quando ouvi a voz de Brian dizer, quase em um sussurro:

— Jenny não significa nada para mim, porra. Ela é gostosa pra cacete e eu comi ela, só isso. Vou voltar para casa e continuar minha vidinha medíocre com Michelle, pode ficar tranquilo.

Um apito agudo soou em meu ouvido, de repente eu parei de escutar todos os sons ao meu redor. Processei as palavras algumas vezes em minha mente, repetindo-as. Minha mão apertava o corrimão com força e eu sabia que tinha que sair dali, se não eles me veriam e saberiam que eu escutara tudo. Com calma, coloquei um pé na frente do outro para subir os degraus. Minhas pernas tremiam, meus olhos ameaçavam se derrubar em lágrimas, mas eu ainda não tinha entendido completamente o significado daquelas palavras. 

Pára, de ser idiota, Jenny.” Uma voz disse em minha cabeça “Você entendeu o que ele disse. Você é só mais uma. Tudo aquilo que ele disse antes, foi só um modo de te convencer a transar com ele.”

Subi os últimos degraus correndo, as lágrimas quentes se formavam em meus olhos e eu sentia uma raiva crescer dentro do meu peito. Não raiva de Brian, já que eu sabia, desde o começo, que seria só mais uma, que não significaria nada para ele. Minhas mãos tremiam enquanto eu arrumava minhas roupas. Coloquei o vestido preto com que eu assistira o show, com vontade de rasgar aquele pedaço de pano. 

Jenny não significa nada para mim, porra. Ela é gostosa pra cacete e eu comi ela, só isso.

Em alguns segundos, tinha recolhido todos os meus pertences. Apenas deixara para fora a camiseta que Brian me dera, eu não tinha certeza se a queria. Continuei sem conseguir controlar as lágrimas, apesar de sentir raiva de mim mesma até por isso: porque eu estava chorando, se já sabia que aquilo iria acontecer?

Desde o primeiro momento que ele colocou os olhos em mim e pareceu minimamente interessado, eu sabia que ele estava atraído por meu corpo, pela ideia de transar comigo e não precisar nunca mais me ver. Se tudo tivesse acontecido em São Paulo, eu tinha certeza de que Brian nem ao menos me procuraria em Milão. 

Ela é gostosa pra cacete e eu comi ela, só isso.”

Estava tão absorta em pensamentos, que não ouvi o barulho de passos na escada e fui surpreendida quando ouvi um som na porta. Me virei, com os olhos marejados de lágrimas, apenas para ver um Brian completamente irreconhecível com uma das mãos apoiando seu peso contra o batente.

Ele estava com os cabelos bagunçados, os olhos cansados, olheiras fundas e escuras e me olhou com tristeza. Uma ruga de preocupação marcava o meio das suas sobrancelhas, quando perguntou:

— O que aconteceu? — Sua voz estava grossa, carregada de dor. — Você está chorando?

“Jenny não significa nada para mim, porra.”

 

“Leave me to heal on my own

With those empty cool promises”

(“Me deixe curar sozinho

Com todas essas promessas vazias”) 

 

— Nada. Eu… — comecei a dizer, sem saber exatamente o que falar, sentindo algumas lágrimas escaparem e secando-as imediatamente. — Acho que fiquei tempo demais aqui. Está na hora de ir embora.

Ouvi Brian se aproximar e imediatamente meu corpo sentiu sua presença. Pensei que sentiria seu toque, mas nada aconteceu. Quando me virei em sua direção, ele nem ao menos estava perto de mim, tinha se afastado e estava abaixado, com a cabeça quase dentro do frigobar. Ele não me respondeu, ficou olhando dentro da geladeira e xingando baixinho. Encontrou uma garrafa pequena e tirou o lacre, mesmo de longe pude ver suas mãos tremendo enquanto o fazia.

— Vamos para a Noruega cedo. — Disse ele, seco, como nunca falara comigo antes. — Acho melhor ir mesmo. 

Me perguntei o que Matt teria falado para ele mudar tanto ou o que teria acontecido para ele ter deixado todo o teatro de lado: agora estava mais claro que água que eu era só mais uma. Observei enquanto Brian virava a garrafa pequena de bebida em um só gole e largava o frasco vazio em cima da pequena geladeira, com um baque surdo.

— Jenny… Eu… — ele disse, fechando os olhos e balançando a cabeça, parecia que estava pensando no que falar.

— Não precisa dizer mais nada. — Eu interrompi — Eu já entendi. Chegou a hora de eu ir embora, isso aqui é só uma diversão. Eu não sou parte da sua vida e não significo nada para você. 

— Jenny… — ele tentou dizer, se aproximando. 

— E você também não significa nada para mim, Brian. Estamos só se divertindo. — Eu disse, sentindo meu peito apertar com uma dor sufocante. 

Eu peguei minha bolsa e fui em direção à porta, pronta para ir embora dali o mais rápido que eu pudesse. Quando passei por ele, Brian segurou meu pulso com uma das suas mãos. 

— Jenny, você ouviu algo da conversa? — Ele perguntou, enquanto engolia em seco, olhava meu rosto que já estava molhado de lágrimas.

— Não, Brian. Não sei do que está falando. — Menti — Mas já entendi que não me quer mais aqui. 

Então olhei para a sua mão, que apertava meu pulso com força e soltei seu aperto, com a minha própria mão. Ele não resistiu e, quando viu a marca vermelha que deixara, murmurou:

— Me desculpa…

Ficou parado no meio do quarto, enquanto eu descia as escadas quase correndo e passava pela porta do quarto, que guardara um dos melhores e piores momentos da minha vida. Quando cheguei ao corredor, deixei as lágrimas fluírem com força. Eu precisava deixar toda a dor sair.

 

“All these promises 

Born of a shameless mind”

(“Todas essas promessas

Nascidas de uma mente sem vergonha”) 

 

Não sei como cheguei ao meu hotel naquele dia, mas consegui. Me joguei na cama e chorei até adormecer, sem nem ao menos me trocar. 

Ainda carregava todas as mágoas do dia anterior, na forma de olheiras fundas e olhos inchados, enquanto andava no ar frio da manhã, a caminho do curso. Na noite anterior, pensara em como iria sobreviver depois de tudo o que acontecera. Os dois últimos dias se trataram de uma confusão tão grande de emoções que eu não sabia nem o que sentir. 

De algum modo, eu estava feliz, pois tivera aquele momento com um dos meus maiores ídolos e o conhecera mais, o que poucas pessoas tiveram chance. Por outro lado, estava com raiva de mim mesma, por me deixar enganar e pensar que Brian, de fato, sentia algo por mim. Até mesmo de pensar que aquilo aconteceria novamente, afinal, como poderia, se morávamos à milhares de quilômetros de distância?

E também, estava triste. Aquela tristeza que, silenciosa, consumia meu corpo por dentro e me deixava cada vez pior. Talvez alguma parte de mim tenha realmente achado que Brian seria aquela pessoa que eu conhecera. 

Cheguei ao prédio do curso e não vi um carro preto estacionado na calçada, bem na frente da entrada. Apenas fui prestar atenção, quando o vidro do automóvel abaixou e ouvi uma voz, aquela voz, dizer:

— Jenny.

Girei meus calcanhares, sem pressa de encarar aqueles olhos novamente. Eu não queria sentir tudo aquilo de novo, ser enganada de novo e destruída por dentro mais uma vez. 

“Ela é gostosa pra cacete e eu comi ela, só isso.”

— Brian. — Suspirei, sem emoção nenhuma em minha voz, apesar de sentir todos os meus órgãos revirarem por dentro: ele havia conseguido ficar ainda mais bonito.

Usava uma camiseta branca e um par de óculos escuros, seus lábios se curvaram em um fantasma de um sorriso, quando eu olhei em sua direção. Ele saiu do carro e esperou de pé, com a porta aberta.

— Você não tinha que ir para a Noruega? — Perguntei, fria.

— Sim. — Foi tudo o que ele disse.

— Então vai embora. 

— Por favor, entra no carro comigo. — Brian disse, todo e qualquer vestígio de sorriso havia desaparecido — Por favor. Preciso falar com você antes de ir embora. Não posso deixar que aconteça a mesma coisa de novo. 

Senti vontade de dar um soco naquele rosto bonito. O modo como ele falava, como seu rosto se contraia, como se estivesse realmente sofrendo, quase me enganava. 

“Jenny não significa nada para mim, porra.”

— Eu não quero ocupar seu tempo mais do que já ocupei, Brian. — Eu disse, ainda longe do carro, sem me atrever a mover um milímetro. 

— Por favor… — ele murmurou, com a cabeça abaixada, segurando a porta do carro com as duas mãos. — Tudo o que eu peço é alguns minutos. Só isso… 

Eu suspirei, sem ser capaz de dizer não para uma figura tão miserável. Era quase engraçado como uma pessoa que parecia estar em pedaços como ele, conseguia mudar de destruído para absurdamente maravilhoso em apenas alguns segundos e vice-versa. Passei por ele decidida, entrando no carro, ele me seguiu assim que eu deslizei pelo banco de couro. 

A divisória que nos separava do motorista estava fechada e eu não conseguia ver quem dirigia. Brian se sentou ao meu lado e tirou os óculos. Ao olhá-lo mais de perto pude ver que seus olhos estavam vermelhos, inchados, com olheiras como se não tivesse dormido e suas mãos tremiam.

— Por que está assim? Aconteceu alguma coisa? — Perguntei, de repente sentindo preocupação de verdade. E se algo tivesse acontecido com Michelle, ou alguém da família?

— Eu não posso voltar para casa, Jenny. — Ele disse, contraindo o rosto em uma expressão de dor — Se você soubesse o que é minha vida quando estou em casa, me entenderia. E também tem outros problemas… Não dormi e bebi a noite inteira.

De fato, eu conseguia sentir o cheiro de álcool me atingir toda vez que ele falava e, pelo seu olhar perdido eu poderia afirmar que ele ainda estava sob o efeito da bebida.

— Por que fez isso?

— Porque não quero ficar longe de você. — Ele disse, me fazendo ter vontade de bater nele novamente. Não importava o que ele dissesse, seria difícil acreditar nele depois do que eu escutara. — Porque você me deixa bem. Eu já te disse isso antes. Você faz tudo ir embora…

— Pensei que eu não significasse nada para você. — Retruquei, apertando ambas as minhas mãos em punho e me recusando a olhar para ele. 

— Me desculpa por ontem. — Brian disse, depois de suspirar. — Eu sei que ouviu parte da conversa com Matt, eu não sei o quanto ouviu, mas sei que provavelmente foi a parte que não devia… A verdade é que minha vida é uma merda e eu não quero arrastar você pra essa bagunça. Tenho muito a resolver, muito a pensar antes de me permitir trazer você pra isso tudo. É quase egoísta da minha parte, porque quero que você fique comigo apenas porque você me faz bem, mas não sei nem qual é a sua opinião. 

Brian murmurou tudo aquilo para si mesmo, com a cabeça abaixada e, quando acabou, esticou a mão para alcançar a minha. 

— O que te faz pensar que eu não iria querer? — Eu disse, contrariada, mas aceitando o toque de sua mão fria — Eu acho que sou idiota o bastante pra ir atrás de você, mesmo depois do que eu ouvi. 

Brian se virou em minha direção e pegou meu rosto entre ambas as suas mãos. Então, secou uma lágrima que rolava por minha bochecha com o polegar.

— Nunca diga isso. — Ele disse, sério — Você ouviu eu dizer algo que não é verdade. Sei que vai ser difícil de acreditar. Mas se fosse verdade, você acha que eu estaria aqui pedindo desculpas? Deixando todos os meus amigos mais putos comigo do que já estão? Eu só… Espero que a gente possa se ver de novo. 

Ele se aproximou mais de mim e disse, quase sussurrando:

— Eu me odeio tanto por não poder ficar com você agora. 

— Você tem sua vida. Eu tenho a minha. — Foi o que eu respondi, tentando não cair em suas palavras novamente. 

Ele se aproximou mais e, quando nossos lábios estavam quase se encostando, eu coloquei a mão em seu tórax, para que ele não se aproximasse mais. Ele respeitou meu espaço e ficamos daquela maneira: com os lábios separados apenas por alguns milímetros, sua respiração com cheiro de álcool tocando a minha naquele espaço apertado.

— Me dê o seu número de celular, pelo menos. — Brian disse, depois de suspirar e se afastar — Preciso ter um meio de me comunicar com você. 

Ele pegou o seu próprio aparelho e me entregou, já na página para que eu digitasse o número, meu nome já estava escrito no contato. Eu escrevi rapidamente e devolvi o celular para ele. 

— Me desculpa por ter terminado assim. — Ele disse, me puxando pela nuca antes que eu pusesse impedir, mas plantando um beijo em minha testa, ao invés de minha boca. — Esses dois dias foram os melhores da minha vida. Eu juro.

— Não sei se está falando a verdade… Mas foram os melhores da minha. — Respondi, alcançando a maçaneta do carro, para depois sair, antes que aquelas palavras me atingissem. 

Dei a volta no automóvel, voltando para a calçada. Brian abriu o vidro novamente e me deu um aceno com uma das mãos, percebi que segurava uma garrafa de vidro pela metade na outra.

“Jenny não significa nada para mim, porra. Ela é gostosa pra cacete e eu comi ela, só isso.”

 

“You stole my dreams

Now all I believe is dead inside”

(“Você roubou meus sonhos

Agora tudo o que eu acredito está morto por dentro”) 

 

POV: Brian

Is This Ship Sinks (I Give In) - Birds of Tokyo

“I never thought I’d say these things to you

And it’s killing me”

(“Eu nunca pensei que te diria essas coisas

E isso está me matando”) 

 

Me recusei a olhar para Jenny enquanto o carro se afastava. Meu medo era que eu não fosse capaz de partir, então me concertei em tirar o rótulo da garrafa de whisky com as unhas. Era uma boa distração e eu não via enquanto as ruas passavam pela minha visão periférica.

— Vamos ao aeroporto. — Eu disse para o motorista, descendo apenas alguns centímetros a divisória e, logo depois, subindo de novo. 

Enquanto o papel dourado entrava embaixo das minhas unhas, pensei que eu apenas tinha uma escolha ao voltar pra casa: eu precisava colocar minha vida nos eixos. Talvez ela nunca tenha estado no eixo certo, naquele eixo que todos os seres humanos “deveriam” seguir, ou que a sociedade queria que seguíssemos. Eu nascera em uma família de músicos e sabia que nunca estudaria nada além da música, que era uma das razões de minha felicidade. Portanto, nunca pensara em ser médico, advogado, nenhuma das porcarias que todos os estudantes aprendem a valorizar. Eu valorizava um bom conjunto de cordas como presente de Natal. 

O mesmo aconteceu com meu relacionamento com Michelle. Não falávamos sobre traição, mas praticávamos mais do que era saudável para um casamento e nem eu, nem ela, estávamos dispostos à encarar aquilo. Porém, agora mais do que nunca, eu precisava falar com ela sobre aquilo. Não era mais sobre sexo sem significado, era algo diferente, mas eu ainda não sabia o que. Eu precisava contar a ela sobre Jenny, precisava dizer a verdade de uma vez por todas, já que nosso casamento estava completamente morto.  

Depois, eu teria que lidar com meus amigos, que se oporiam àquela minha atitude, principalmente Matt. A grande verdade é que cada um deles carregaria um medo dentro de si, a partir do momento que eu resolvesse assumir que meu lugar era com Jenny e não com Michelle. Medo, porque eles, assim como eu anteriormente, amavam suas esposas e eventualmente aproveitavam uma situação ou outra para se “divertir”, mas nunca tinham pensado que aquilo poderia levar à um sentimento e ao fato de que pudessem destruir todo o casamento. 

E é claro, eu teria de me redimir com Jenny. O que eu dissera para Matt, mesmo não sabendo que ela ouvia, era imperdoável. E nem ao menos era verdade aquilo tudo que eu falara, era só um modo de despistar o meu amigo e fazer com que ele parasse de me pressionar, enquanto eu tentava sair daquela situação. Porém, a partir do momento que soube que ela escutara, me arrependi amargamente. Imaginei como ela estaria naquele momento, provavelmente magoada e com vontade de me bater. Eu a entendia e até apoiava, talvez fosse bom se ela me desse um soco bem no meio do rosto. Eu merecia.

Bebi um pouco de whisky, aliviado por afogar algumas das minhas preocupações naquela garrafa milagrosa e observei o caminho todo até o aeroporto, torcendo para a bebida durar. 

 

“I’m feeling like a dead weight long gone

If I could make it all right I would”

(“Estou me sentindo como um peso morto faz tempo

E se eu pudesse fazer tudo certo eu faria”) 

 

Entrei no saguão do aeroporto, torcendo para que meus amigos já tivessem embarcado, mas infelizmente estavam os três lá, esperando por mim. Brooks e a equipe técnica já tinham entrado e os outros estavam apenas me esperando. Andei até eles, feliz por ter lembrado de colocar óculos escuros, não queria que eles vissem o estado do meu rosto. Carreguei minha mala em uma mão, enquanto a outra levava a garrafa quase no fim. Não me preocupei com o que meus amigos iriam pensar, na verdade eu não estava me preocupando com mais porra nenhuma.

— Brian, você não pode entrar com líquido no avião. — Disse Matt, assim que eu passei por ele. 

Nem me incomodei em lhe dirigir um olhar irritado, eu não o daria aquela satisfação. Andei até a lata de lixo mais próxima, mas ao invés de jogar a garrafa, tirei a tampa e virei todo o conteúdo em minha garganta para, só depois, me livrar do objeto vazio. 

— O que está acontecendo com você? — Johnny perguntou, quando me aproximei deles novamente. 

Continuei andando, sem vontade de dizer uma palavra para eles, mas ao mesmo tempo me sentindo muito mais leve por sentir a explosão de álcool em minha corrente sanguínea. Senti um movimento atrás de mim e alguém agarrou meu braço, quando me virei para ver quem era, vi Matt. 

— Me solta. — Ameacei, esperando que ele obedecesse.

Não sei se por causa da minha expressão, ou tom de voz, ele soltou imediatamente, me deixando andar até o portão de embarque. O whisky ajudava minha mente a se organizar, mas ao mesmo tempo estava começando a me trazer pensamentos errados. Pensei que, de repente, se eu conseguisse me ver livre de Michelle, mas não conseguisse Jenny, poderia passar uma temporada em Las Vegas. Nada como umas prostitutas de luxo para me animar. 

Uma voz no fundo da minha mente me disse que eu provavelmente não iria querer mais nenhuma mulher, mas resolvi ignorar. Era muito assustador pensar naquilo. 

Por isso, resolvi estabelecer um plano de fácil execução: eu iria sentir como Michelle estava, se tinha uma mínima chance de tudo voltar ao normal, afinal, não queria que Matt fosse responsável por plantar a semente da dúvida em minha mente. Depois, eu terminaria tudo se não visse futuro e investiria todas as minhas forças em Jenny. Se isso não desse certo… Eu pensaria nisso quando chegasse a hora.

Como estava distraído, não vi algo no chão quando estava andando e acabei tropeçando, caindo com as duas mãos espalmadas no chão. Me levantei rapidamente, fingindo que nada tinha acontecido, enquanto limpava as mãos na calça. Olhei para trás para ver o que tinha me derrubado, mas não tinha nada. Eu tropeçara nos meus próprios pés. 

Zacky e Johnny olhavam para mim com expressões esquisitas e desfiguradas, parecia que estavam segurando o riso. Já Matt, estava sério e com as sobrancelhas franzidas. 

 

“I’m trying to get my head straight, I’m playing in game that I can’t win

I started in the wrong place, a slap to the cold face of love

I wanna stop this god damn beating heart, it’s killing me”

(“Estou tentando arrumar minha cabeça, estou jogando um jogo que não posso vencer

Eu comecei no lugar errado, um tapa no rosto frio do amor 

Eu quero parar esse maldito coração batendo, está me matando”) 

 

POV: Jenny

SEIS MESES DEPOIS…

Dots and Dashes (Enough Already) - Silversun Pickups

“But If I don’t like what I see, and my grip starts loosening

The edge of the big reveal, could be the end of the story”

(“Mas se eu não gostar do que ver e minha coragem afrouxar

No limite de uma grande revelação, pode haver o fim da história”) 

 

Eu encarava o relógio, esperando que o ponteiro indicasse seis da tarde. O professor não parava de falar e eu não aguentava mais ficar dentro daquela sala. Durante o curso, eu conhecera uma menina que se chamava Giordana, que também esperava impaciente, sentada na ponta da cadeira. Era uma sexta feira e nós ansiávamos por começar o fim de semana. 

Giordana e eu nos tornamos amigas rapidamente, ela em seu sotaque inglês engraçado, puxado para o italiano e eu com meu sotaque brasileiro. Faziam alguns meses que nos conhecíamos e desde aquele primeiro dia, quase seis meses antes, nós ficávamos todos os fim de semana juntas. O que aconteceu foi que Giordana entrou em minha vida bem quando eu estava mais vulnerável.

Naquele dia, que parecia ter acontecido há anos atrás, eu estava sentada nas escadarias da faculdade, fumando um cigarro, o que eu nunca fazia. Três dias haviam se passado desde que Brian partira e eu ainda não conseguira me recuperar. Eu imaginei que ficaria naquela situação até poder voltar para casa e, por um momento, tudo o que eu mais queria era estar de volta ao Brasil. Eu queria ver minhas amigas, queria ficar com minha família, queria até ver Felipe, Luis e Vini, mas, acima de tudo, eu queria tirar aquelas lembranças dolorosas da minha cabeça. Sim, eu me sentira verdadeiramente feliz naqueles dois dias com Brian, mas tudo não passou de um conto de fadas, uma história muito bem contada. E depois do “felizes para sempre” o príncipe revelava que só estava com a princesa porque ela era muito gostosa. 

Toda aquela conversa no carro para mim era só um modo de Brian não ter sua imagem manchada. Afinal, muitas fãs dele sabiam quem eu era e se, de repente, eu começasse a falar o que ele dissera de mim pelas costas, talvez isso o prejudicasse. Apesar de não acreditar em uma única palavra do que ele dissera, não pretendia contar para mais ninguém o que acontecera, apenas quatro pessoas sabiam.

Só de lembrar de tudo aquilo, senti meu estômago se contrair, mas felizmente, o professor liberou a turma e eu consegui distrair minha mente. Giordana me acompanhou para o meu apartamento, onde nós iríamos nos arrumar para aproveitar a noite de Milão. Morei em um quarto de hotel por três meses durante o intercâmbio e, apesar de ser simples, era muito caro, então tive que me mudar para um pequeno apartamento. Depois que eu conheci Giordana, o ambiente com sala, quarto e cozinha se tornou o lugar onde ficávamos a maior parte do tempo, com exceção de quando estávamos em bares e baladas.

— Hoje eu recebi mais dez mensagens no instagram. — Eu disse irritada, ao entrar no meu apartamento, olhando a rede social, distraída.

— Essas mulheres não cansam? — Giordana perguntou, revirando os olhos. 

— Aparentemente, o tamanho do pau do Brian é uma das dúvidas mais frequentes. — Eu disse, rindo, apesar de me sentir irritada, depois jogando o celular na cama. — Faz seis meses desde que aconteceu, será que algum dia elas vão parar?

— Eu duvido. 

Resolvi tomar banho para clarear a mente e começar a me arrumar para sair. Deixei a água quente escorrer por meu corpo, com os olhos fechados e a dolorosa lembrança do momento na piscina com Brian voltou para minha mente. Depois que nos falamos no carro naquele dia, eu voltei para o meu hotel. Não derramei mais nem uma lágrima por ele e nem derrubaria. Resolvi encarar como algo que eu já previa que ia acontecer. 

No dia seguinte, reuni coragem o bastante para ligar para Sophia. Contei tudo o que aconteceu para ela, esperando que ela também contasse para Lya e Carina. Minha amiga disse que desconfiou, já que saíram tantas fotos nossas juntos. Eu disse que, apesar de ter gostado e de lembrar daquilo para sempre, ainda doía um pouco pensar em tudo. Sophia me animou, dizendo que eu me sentiria daquela maneira de qualquer jeito, porque é como eu sempre ficava depois dos shows: com aquela tristeza profunda e saudades. O maior problema era que eu não sentia saudades, eu não queria vê-lo ou ter que olhar naqueles olhos de novo. Por um bom tempo.

Também conversei com minha amiga sobre o estado de Brian quando foi embora. Aquilo realmente tinha me preocupado e Sophia sugeriu que, talvez, ele tivesse bebido naquele dia, porque ficou chateado que eu ouvira o que dissera. Apesar de não ter continuado no assunto, lembrei daquele vídeo que tinha vazado pouco antes do show no Brasil, em que ele passava mal e brigava com Michelle. Me perguntei o quão frequente eram aqueles episódios de bebedeira.

Pensei nisso por todos aqueles dias, até que conheci Giordana. Não contei nada para ela imediatamente, mas ela logo descobriu, porque também gostava da banda e me vira em uma foto. Ela até tinha ido ao show, mas ficara na pista normal. Expliquei toda a história para ela em um bar, bebendo cerveja e dando risada, aquilo me ajudou e eu consegui parar de pensar em tudo o que eu vivera. A partir daquele momento, ficamos muito amigas e começamos a sair. Giordana aproveitou para me apresentar vários de seus amigos italianos e eu, aos poucos, fui deixando Brian de lado. 

Digo deixar de lado porque é realmente impossível esquecê-lo. Eu não conseguiria apagar da minha mente tudo aquilo que passamos, mas, pelo menos, pude parar de pensar por algum tempo.

 

“So you wanna mess with me?

Caught me in a silent scream”

(“Então você quer mexer comigo?

Me pegou em um grito silencioso”) 

 

Saímos do apartamento algumas horas depois. Eu estava com roupas totalmente pretas, como sempre, e usava um salto baixo. Giordana estava com uma blusa branca e uma saia preta, os cabelos ruivos soltos e caídos nos ombros. Eu ainda me impressionava com a sua beleza e no quanto ela atraía homens. 

Chegamos no bar lotado e, logo, fomos abordadas por dois italianos. Normalmente, eu costumava conversar com os homens que conhecíamos e não me importava que eles puxassem assunto, mas não estava com vontade naquele dia. Em menos de cinco minutos de um diálogo maçante, em que eles perguntaram nosso nome e o que fazíamos da vida, Giordana e um dos amigos se atracaram. O outro homem se aproximou um pouco mais de mim, seu nome era Lucca. Ele era muito bonito, alto, loiro, com a barba clara por fazer.

— Jenny, esse é seu nome, não é? — Perguntou ele, em inglês — Eu te conheço de algum lugar?

— Acho que não. — Respondi — Como tinha falado, sou brasileira, estou aqui há quase um ano, mas não me lembro de ter conhecido você. 

Ele pareceu pensar por algum tempo, enquanto eu acabava com a minha cerveja e já pedia outra para o garçom que passava. Lucca olhou seu celular, com as sobrancelhas franzidas, parecendo concentrado, até que disse:

— Eu sabia! Já sei de onde conheço você. Você é a garota do Syn.  

Então ele virou a tela do celular e me mostro a foto em que eu aparecia com Brian no fundo. 

— Ah, isso. — Eu disse, desanimada, gravando as palavras “garota do Syn” em minha mente. Eu não estava nem um pouco preparada para olhar aquela imagem novamente. — Você é fã da banda?

— Sou! — Respondeu ele animado — Fui no show e tudo, mas fiquei chateado porque não consegui comprar o ingresso VIP. Como conseguiu?

— Ah… — comecei a dizer, tentando elaborar a melhor maneira de responder — Eu ganhei. 

Lucca se aproximou mais, colocando a mão em uma das minhas coxas. Eu fiquei um pouco desconfortável, já que não demonstrara nenhum interesse nele. Era um homem bonito, mas depois de todas aquelas lembranças e a coincidência de ele saber quem eu era, fiquei desanimada. 

— Então, me diga, é verdade? — Perguntou ele, abaixando o tom de voz e segurando minha nuca com uma das mãos. — Você e o Gates…?

— Não quero falar sobre isso. — Eu disse, irritada — Quer saber de fofoca, vai procurar uma revista. Eu não vim aqui fazer isso. 

Ele não se abalou e continuou próximo de mim, agora segurando minha cabeça com mais força. Quando ele estava com os lábios quase encostados no meu, virei meu rosto e o empurrei pelo peito. 

— Achei que queria mostrar a que veio. — Ele reclamou, se aproximando de novo.

— Me deixa, cara. — Respondi, com o rosto virado — Também não vim pegar homem nenhum. 

— Ah. — Ele exclamou, estreitando os olhos, com um sorriso irritante do rosto — Vai me dizer que não quer me pegar. 

— Não quero. 

— Você deu para o Gates. Achei que topava tudo! — Ele disse, ainda em um tom de falsa brincadeira, se aproximando novamente e pegando meu cabelo, agora realmente com força. — Vamos, Jenny. Pára de ser chata! 

Com a outra mão, ele alcançou minha bunda e apertou, antes que eu pudesse impedi-lo.

— Vai se foder. — Eu disse, pegando o braço dele que puxava meu cabelo, me machucando, e o empurrando para longe. 

Quando me afastei, várias pessoas ao nosso redor nos olhavam com curiosidade e algumas até se afastavam. Vi várias mulheres olhando feio para Lucca, mas também vi olhares de censura em minha direção. Como não encontrei Giordana em lugar algum, sai do bar às pressas, querendo apenas deitar em minha cama. 

Cheguei no apartamento ofegante e me livrei dos sapatos assim que passei pela porta. Tirei toda a minha roupa e entrei embaixo do chuveiro. Meus membros todos tremiam, enquanto eu me ensaboava. Passei o sabonete por meu corpo várias vezes, ainda me sentindo suja, mesmo sem quase não ter sido tocada por Lucca. 

Eu não percebi quando a água em meu rosto começou a se misturar com as lágrimas, mas sei que terminei o banho aos prantos. Percebi que o meu pânico não era só em relação à atitude abusiva do italiano, mas também porque aquela era a primeira vez que alguém me tocava mais intimamente desde Brian. Eu havia beijado vários caras depois daquilo, mas nada mais, portanto, quando senti o toque de Lucca em minha bunda, fiquei irritada não só porque ele invadiu meu espaço, mas também porque percebera que eu ainda não superara Brian o suficiente, para me permitir ficar com outro homem. Fechei a torneira, desejando, do fundo do meu coração, que aquele mês acabasse o mais rápido possível e eu pudesse voltar para casa. Talvez sair daquela cidade, onde tudo acontecera, me ajudasse a superar.

Pela primeira vez em seis meses, desde que vira Brian se afastar naquele carro preto, chorei por ele e por relembrar exatamente cada palavra do que ele dissera: “Jenny não significa nada para mim, porra. Ela é gostosa pra cacete e eu comi ela, só isso.” 

 

“I’m already wondering what am I

I’ve already learned a bit of sin

Enough already, let me in”

(“Já estou me perguntando o que eu sou

Já aprendi um pouco de pecado

Já chega, me deixe entrar”) 


Notas Finais


E aii? O que acharam?

Poxa, depois de um capítulo tão amorzinho esse aqui é um pouco triste demais... Mas enfim, sugiro que se preparem pro que vai vir, porque os próximos dois capítulos prometem.

E é isso, não tenho muito o que falar hoje, comentem para eu saber o que acharam desse capítulo e se estão gostando do andamento da história!

Vejo vocês no próximo! <3

Beijoos,
Juu


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