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História Psycho Lunatic - Don't put your life in the hands of a rock 'n' roll band


Escrita por: juusynner

Notas do Autor


Ooooooi!
Voltei com mais um capítulo!

Depois das tretas da última semana, trouxe um capítulo mais leve. Espero que gostem <3

Boa leitura!

Capítulo 21 - Don't put your life in the hands of a rock 'n' roll band


“Don’t put your life in the hands of a rock ’n’ roll band”

Don’t Look Back in Anger - Oasis

(Não coloque sua vida nas mãos de uma banda de rock) 

POV: Brian

Misery - The Maine

“Looking for misery, but she found me 

Lying naked on the floor”

(“Procurando por sofrimento, mas ela me achou

Deitado nu no chão”) 

 

Tirei o esparadrapo do meu rosto, sentindo a pele ser puxada junto com a cola. Vi o meu rosto, refletido no espelho, se contrair de dor, enquanto a fita descolava na minha sobrancelha. Os fios pretos dos pontos marcavam uma linha fina no supercílio e fechavam a minha pele onde abrira. O lado direito do meu rosto estava todo inchado, apesar de ter batido apenas onde cortara. Parecia que eu tinha recebido um chute de um lutador e não apenas batido a cabeça no chão. 

Joguei água no rosto, sentindo o ferimento arder. A água da pia do banheiro impecável molhou meu corpo despido e metade do chão. Passei minha própria toalha em toda a água que eu espalhara e tentei ao máximo manter o banheiro limpo. 

Vesti a minha roupa lentamente e, quando passei a camiseta por minha cabeça, ouvi três batidas fracas na porta. 

— Sim? — Perguntei, terminando de me vestir e abrindo a porta.

— O almoço está pronto. — Era Lacey quem batera. Um sorriso triste se formava em seus lábios, a mesma expressão de pena que sempre fazia quando se dirigia a mim desde que eu começara a dormir lá. 

Eu assenti para a esposa do meu amigo e disse:

— Vou refazer o curativo e já me junto à vocês. 

— Quer ajuda? — Ela perguntou. Segurava uma luva térmica de forno, parecendo apressada para voltar à cozinha. 

— Não precisa. — Eu respondi, a dispensando. 

Voltei para o banheiro, colocando uma fita no rosto e sentindo a culpa que me preenchia toda vez que eu via o modo como as pessoas me olhavam. Fazia uma semana desde que eu encontrara Michelle e James na cama, uma semana que eu caíra de cabeça no chão de tanto beber e abrira um corte profundo na testa, uma semana que ninguém me deixava sozinho, ou na presença de uma garrafa de bebida.

Uma semana que minha garganta ardia, como se estivesse pegando fogo. 

Naquele dia, Michelle me levara ao hospital e, quando meus amigos chegaram para saber o que tinha acontecido, ela fora embora. Valary contara que a irmã estava no México, renovando as energias e descansando de tudo o que acontecera. Se ela me perguntasse, eu diria que Michelle estava transando. Afinal, minha ex-esposa não era a única que sumira da cidade: James também estava desaparecido. E eu poderia apostar que estavam juntos. 

Era claro que eu não estava nem ao menos me preocupando com aquilo. Por trás da vontade de beber, que me corroía por dentro, eu ainda sentia falta de Jenny e me ocupava tentando encontrar uma maneira de vê-la novamente. Por cima de tudo ainda existia o incômodo que eu sentia sobre eu mesmo. 

Depois que eu me machucara, Michelle pedira para que Matt ficasse comigo e me recebesse em casa, mas eu me recusara a ir. Quando ela foi embora e meu amigo apareceu para me levar, eu ligara para Johnny e pedira para ficar com ele, sob o pretexto de que ele era o único que não tinha filhos ainda e o único que eu não atrapalharia tanto. Porém, tanto eu quanto Matt sabíamos que era porque eu o estava evitando, mas ele não fez nada sobre isso e não nos falamos depois que passei a dormir na casa de Johnny. 

Por sorte, a banda estava em hiato e eu não era obrigado a conviver com ele. Passava a maioria do tempo na casa deles, dentro do quarto de hóspedes, assistindo programas ruins na televisão. O tédio e o desespero por beber era tão grande, que as vezes eu fechava os olhos e relembrava os momentos com Jenny, apenas para distrair a mente. 

Johnny chegou a conversar comigo e tentou me levar para um bar. Afinal, Michelle não hesitara em enviar os documentos por seu advogado e eu já poderia me considerar um homem solteiro. Recusei o convite do meu amigo, dizendo que estava muito velho para aquilo, mas pude ver que ele sabia o real motivo para a minha recusa. 

Depois que fiz o curativo, fui para a cozinha almoçar. Johnny e Lacey já estavam sentados à mesa e ambos me olharam com preocupação, quando adentrei o ambiente. Contive a minha raiva quando aquilo aconteceu e peguei o prato, me servindo rapidamente. Uma semana que eu dormia ali e eles continuavam me olhando como se eu fosse uma bola de cristal, prestes a se quebrar. O que mais me irritava era que era exatamente como eu me sentia. 

— Zacky vem aqui hoje. — Comentou Johnny, olhando para mim. 

— Ah, é? — Perguntei, fingindo desinteresse, mas ao mesmo tempo querendo saber porque. Com exceção do dia em que eu me “mudara” para a casa de Johnny e Zacky fora me visitar, ele não voltara mais. 

— Sim. — Meu amigo respondeu — Achamos que você precisa de uma noite de amigos. 

Eu assenti, sentindo pouca animação, mas mesmo assim disse:

— Que bom. Acho que estou precisando mesmo.

 

“I was headed insane

The devil told me his name

But he’s not welcome here anymore”

(“Eu estava ficando louco

O diabo me disse seu nome

Mas ele não é mais bem-vindo aqui”) 

 

Mais tarde naquele dia, a campainha tocou e Johnny foi atender, enquanto eu me levantava do sofá, onde estivera deitado, olhando o teto. Zacky chegou, trazendo uma caixa que parecia pesada e me cumprimentou, olhando longamente para meu rosto machucado. 

— Lutou contra o Batman, Brian? — Perguntou ele, com um sorriso no rosto. 

— Quase isso. — Respondi. Quando ele me vira meu rosto ainda não inchara e não estava roxo como agora. Parecia que o tempo deixara a aparência do machucado muito pior. — O que trouxe ai?

Apontei para a caixa que ele carregava, curioso e sabendo que não era bebida. Zacky riu e depositou o objeto no chão. Quando abriu, eu pude ver diversas caixas menores, que pareciam de DVDs. 

— Achamos que precisava de uma distração. — Disse Johnny. 

— Filmes pornôs? — Perguntei, sem olhar o conteúdo. 

— Claro que não, seu bosta! — Zacky disse rindo e puxando um dos DVDs. — Jogos de Playstation. Não tem maior distração que essa, quando se está em casa sem nada para fazer. 

— Eu comprei o aparelho faz um tempo. — Disse Johnny — Mas não tinha muitos jogos. Acho que devíamos fazer uma competição. 

— Eu nunca joguei isso. — Eu disse, olhando os diversos nomes de jogos que eu nunca ouvira falar na vida. — Matt que deu a ideia? 

Meus amigos se entreolharam, Zacky começou a ligar o playstation e colocar um CD dentro, enquanto Johnny respondia:

— Ele entende dessas coisas. 

— Por falar nisso… — disse Zacky, me entregando um controle preto, cheio de botões que eu não fazia ideia de para que serviam. — Você e Matt precisam conversar. 

— Não estou no humor de ouvir um sermão. — Respondi. 

— Talvez ele não queira te dar um sermão. — Disse Johnny. — Acho que ele só quer fazer as pazes. 

— Ou talvez você precise de um. — Disse Zacky. 

Olhei para ele com as sobrancelhas franzidas, tudo o que eu não queria era alguém me dizendo o que eu devia fazer. Eu vira minha ex-esposa com outro homem na cama e isso devia me absolver de qualquer traição que eu mesmo tenha cometido. Pelo menos ela nunca vira uma cena igual. 

— O que você precisa agora é de uma distração. — Disse Johnny, apontando para a televisão onde uma mulher de biquini aparecia. 

Por minha visão periférica, pude ver Johnny olhar Zacky em uma advertência silenciosa e o meu amigo dar de ombros. Resolvi ignorar e perguntei:

— Tem certeza que esse jogo não é pornô? 

— Quase. — Respondeu Johnny, enquanto uma cena de sexo passava na tela. 

Quando eu já me perguntava onde estava a parte do jogo, percebi que podia controlar um homem careca, usando uma camiseta branca e suja. 

— Esse jogo é o GTA. — Explicou Zacky — O objetivo é completar as missões que estão espalhadas pelo mapa, você pode explorar a cidade e fazer o que quiser. 

Ele continuou me explicando conforme eu jogava e, em pouco tempo, fiquei viciado. Jogamos por muitas horas e eu me diverti de verdade, como não fazia faz tempo. Quando meus dedos doíam de tanto jogar e eu morrera pela décima vez seguida, preso na mesma missão, pedi ajuda para meus amigos. Alternamos o controle e jogamos por muito mais tempo, até que o celular de Zacky tocou. 

— Meaghan está procurando por mim. — Disse ele, depois que desligou. — Preciso ir para casa. 

— Foi muito bom, cara. — Eu disse, chacoalhando a mão do meu amigo — Obrigado. 

— Volto amanhã se você quiser. — Ele disse. 

— Eu ia gostar. — Respondi com sinceridade. 

Quando Johnny se levantou para levar Zacky até a porta, eu os acompanhei. Porém, antes que chegássemos ao hall de entrada, eu disse:

— Zacky… Você pode ficar só mais um pouco? Acho que preciso contar umas coisas para vocês dois. 

Eu não soube de onde aquela vontade viera, mas sabia que tinha relação com aquela tarde que passamos juntos. Tínhamos nos divertido, ambos cederam grande parte do seu tempo com a família, que era curto quando estávamos em casa, apenas para me dar uma força. Por isso, pensei que eles mereciam toda a verdade. 

Nos sentamos na mesa da cozinha e eu contei tudo o que aconteceu. Contei sobre Jenny, desde o que aconteceu em São Paulo, até Milão. Contei sobre Michelle e todas as pequenas brigas que tivemos durante esse período. Contei até sobre Matt e como briguei com ele. 

— Matt não pareceu entender o que se passava. — Eu disse, finalizando — Ainda estou me culpando por ter empurrado ele daquele jeito. E estou com vergonha de conversar. As vezes, eu me sinto um bosta. 

 

“Tell me what do you see

When you’re looking at me”

(“Me diga o que você vê

Quando está olhando para mim”) 

 

— Você não é, Brian. — Disse Zacky, sério. — Você é uma boa pessoa, que está passando por um momento muito difícil e, nessas horas, nada melhor que um bom grupo de amigos para conversar. Tenho certeza que Matt vai te perdoar. 

— Não sei se estou pronto para falar com ele. — Eu disse. — Ultimamente, só tenho pensado em como posso trazer Jenny para Huntington Beach. 

— Você quer trazer Jenny pra cá? — Perguntou Zacky, com um tom de indignação na voz. — Isso pode enfurecer não só Matt, mas Valary também! 

— Zacky… — eu disse, começando a ficar impaciente. — Michelle não está aqui agora… Acho que é o melhor momento. 

— Mas o que os dois vão pensar sobre isso? — Ele contestou. 

Johnny fez um sinal para que ele se acalmasse e, como sempre, agiu como um apaziguador: 

— Matt e Valary não tem qualquer relação com a vida amorosa de Brian. Se eles estão tentando proteger Michelle, eles estão errados, porque a própria já entrou com o pedido de divórcio e Brian não tem qualquer compromisso com ela.

— Ela pediu…? — Perguntou Zacky, aparentemente ele ainda não sabia. 

— Sim. — Eu respondi, com uma pontada de um sentimento que eu não pude identificar. Saudades? Mas seria de Michelle ou Jenny? — Acho que posso me considerar um homem solteiro. 

— Mesmo assim… Não sei se seria a melhor opção para melhorar sua relação com Matt. — Disse Zacky — É muito ruim para a banda que vocês estejam brigados. 

— Somos profissionais, Zacky. — Respondi — Se isso se estender por mais tempo e formos obrigados e sair em turnê assim, somos adultos e podemos lidar com isso.

— Você ao menos tem algum modo de se comunicar com ela? — Perguntou Johnny — Com Jenny?

Alcancei meu celular e mostrei o número do Brasil, registrado com o nome dela. Os dois ficaram olhando para o aparelho como se fosse um alienígena e depois olharam para mim, ambos com uma expressão indagadora no rosto. 

— Esses dias andei pensando e tive uma ideia… — eu disse cauteloso, finalmente revelando um plano que cozinhava lentamente na minha cabeça. — Seria um modo de colocar as coisas um pouco por baixo dos panos, até que Matt se acostumasse com a ideia. 

— E qual é esse plano? — Perguntou Johnny. 

Eu suspirei, antes de contar tudo para os meus amigos. Por um momento, fiquei com medo de que tudo desse errado. O fato de finalmente ter falado o plano em voz alta o tornara realidade.

 

“I’ll say this once again

You people, you are my friends”

(“Eu vou dizer isso mais uma vez

Vocês, vocês são meus amigos”) 

 

Depois de contar tudo para meus amigos e ter certeza de que me ajudariam a lidar com Matt, peguei meu celular com cautela. Como se o aparelho fosse explodir e desaparecer a qualquer momento, o segurei como se fosse uma bola de cristal e achei o telefone de Jenny. 

Sem pensar duas vezes, antes que qualquer pensamento ou culpa me impedissem de fazer aquilo, apertei em cima do telefone na tela. Esperei tocar, sentindo o nervosismo revirar as minhas entranhas.

 

“Stay away sweet misery”

(“Fique longe, doce sofrimento”) 

 

POV: Jenny

Youth - Glass Animals

“You were clearly meant for more

Than a life lost in the war”

(“Você foi claramente destinado para mais

Do que uma vida perdida na guerra”) 

 

Respirei fundo três vezes antes de sair de casa naquele dia. Luis me contatara alguns dias antes e pedira para me encontrar, pois queria conversar. Enquanto andava em direção ao café, onde nos encontrávamos sempre quando estávamos namorando, desejei não ter respondido sua mensagem. 

O fato de termos nos visto pela última vez em uma briga no hall do meu apartamento, mais de um ano atrás e não nos falado desde então, deixava tudo pior. Eu não tinha qualquer ideia do que Luis iria querer comigo, mas não imaginava que seria algo bom. Eu apenas não queria lidar com meu ex-namorado, babaca, inconformado e ciumento, mas não tinha outra escolha, já que disse que iria. Talvez ele quisesse conversar sobre o meu ano em Milão, ou contar alguma coisa ou até, perguntar sobre as fotos minhas com Brian que saíram durante a turnê e agora nem eram mais um assunto tão interessante. 

Pensar em Brian naquele momento, enquanto esperava o farol de pedestres abrir, me fez desejar não só não ter respondido aquela mensagem, como também não ser eu mesma. Por um momento, eu queria poder estar ao lado dele, queria poder estar no lugar de Michelle. 

Essa era a mais pura verdade, mas algo que eu nunca revelaria à ninguém: eu queria ser a esposa daquele homem e poder viver todos os dias ao seu lado. Eu queria poder dizer que o amava, mais que tudo naquele mundo e que queria ser feliz ao seu lado. 

Depois daqueles dias em Milão, eu percebi que nunca havia me sentido tão feliz quanto naqueles momentos com ele. Talvez eu fosse apenas uma fã deslumbrada, mas não deixava de pensar em todas as sensações que ele me proporcionou. 

Sim, Brian dissera aquilo sobre mim para Matt e me magoara profundamente, mas eu tinha grande culpa naquilo. Era claro que eu era apenas um objeto. Ele me dispensara como um pedaço de carne e voltara para sua querida esposa e à mim, restara apenas a esperança de que, um dia, ele lembrasse que salvou meu número em seu celular.  

Encarei o café do outro lado da rua, querendo dar um tapa em meu próprio rosto ali mesmo. Era claro que ele não se lembraria. Eu não significava nada para ele. 

Antes de entrar no ambiente acolhedor, respirei fundo: eu não estava preparada para encontrar meu ex-namorado. Mesmo depois de tanto tempo.

 

“‘Cause I know you feel the ghost

Of some memories so warm”

(“Porque eu sei que você sente o fantasma

De algumas memorias tão quentes”) 

 

Ele estava sentado em uma mesa reservada, mais afastada das outras, em um dos cantos do salão. Assim que me viu, acenou, com um sorriso tão largo no rosto que me fez desconfiar. Andei relutante em sua direção. No caminho, pude ver que ele comprara dois copos de café, usava uma camisa azul clara, que contrastava com seus olhos e sua pele morena. Estranhei o tom de pele, assim que o vi: ele andara tomando sol. Imediatamente, tirei aquele pensamento da cabeça. Por que eu sempre tinha que ser tão observadora? 

Assim que me aproximei, ele se levantou e me cumprimentou com um beijo no rosto. Eu me sentei, querendo acabar com aquilo o mais rápido possível. 

— E ai, Jenny? — Ele perguntou, se sentando em frente à mim, ainda com aquele sorriso no rosto. 

— Luis… — eu disse, começando a me sentir impaciente. 

— Como foi em Milão? Aproveitou bastante? 

— Sim. Foi… Divertido. — Eu respondi, bebericando o café quente e, imediatamente, pensando em Brian. 

— Olha, Jenny… — Começou a dizer ele — Eu peço desculpas. Sei que estou mais de um ano atrasado, mas aquele dia fiz algo estúpido. Na verdade, eu gostaria de te dizer coisas que nunca disse… — Fiquei em silêncio, esperando que ele continuasse, enquanto sentia o calor do copo de café esquentar minhas mãos — Eu peço desculpas. Por tudo. Por todas as minhas atitudes durante o nosso relacionamento, por cada vez que brigamos porque você ia sair sozinha com suas amigas, por cada vez que fiz você trocar uma saia curta por uma calça. Principalmente, por, depois que você terminou comigo, voltar e te importunar mais um pouco. Me desculpa. Hoje sei que isso tudo é errado e que eu era um babaca. 

Fechei os olhos, querendo esquecer todas as lembranças que Luis fez voltar para minha mente. Respirei fundo e abri de novo, apenas para ver o meu ex-namorado, com um olhar perturbado em minha direção. 

— Tudo bem. — Eu respondi. Mesmo sem ter mais qualquer resquício de sentimento por ele, aquelas antigas atitudes ainda me incomodavam profundamente, mas eu mantive aquilo para mim. Pelo menos ele percebera que estava errado. Querendo desesperadamente mudar de assunto, eu perguntei: — E Vinicius? Como ele está?

— Não estamos nos falando. — Disse Luis, apoiando os cotovelos na mesa e mexendo no lábio inferior. O sinal claro de que estava nervoso. — Brigamos há um tempo e… Não quero falar sobre isso agora. 

De repente, quando ele movimentou a mão, vi um brilho no seu dedo anelar. Luis percebeu que eu observava e deu um sorriso sem graça, escondendo a mão embaixo da mesa, como se tentasse esconder de mim. 

— Tem outro motivo por eu ter te chamado aqui. — Disse ele lentamente, como se me estudasse — E eu espero que você fique bem com isso. Eu estou namorando e… Vou me casar. Queria que soubesse de mim, antes que alguém te contasse. 

Olhei para o rosto do meu ex-namorado e tentei processar aquelas palavras que ele me dizia. Eu não possuia qualquer sentimento por ele e, na verdade, ficava feliz, principalmente porque agora, seja lá com quem ele estivesse, ele não agiria de maneira abusiva com a garota. Pois percebera que aquela atitude era ridícula. 

— Parabéns, Luis. — Eu disse, tentando trazer um pouco de animação em minha voz. — Estou muito feliz por você. De verdade. 

Ele deu um sorriso sem graça e eu disfarcei o momento estranho, tomando mais um gole de café. Enquanto nos olhávamos, sem muito mais o que falar, pensei que talvez eu terminaria minha vida solteira, com cinco cachorros em casa. Olhei meu celular rapidamente e vi as dezenas de mensagens enviadas por Felipe e que ficaram sem resposta. A última fora há dois meses. Senti raiva de mim mesma por ser tão idiota: eu não queria falar com ele, o cara mais legal que eu já conhecera, pois não conseguira superar Brian e ficaria assim a minha vida inteira. O meu futuro se resumiria a frustração e saudade de um amor platônico. 

— Me conte mais sobre Milão… O que fez por lá? — Perguntou meu ex-namorado, agora noivo de outra mulher. Enquanto eu contava roboticamente sobre o meu dia-a-dia no curso de design de interiores, pensava que talvez Felipe também teria conseguido outra pessoa e me esquecera, assim como Luis. 

Enquanto contava alguns detalhes para ele, senti o meu celular vibrar em cima da mesa. Fiquei paralisada, enquanto tanto eu quanto Luis encarávamos o número enorme, com um prefixo estranho, piscar na tela do meu celular. 

— Não vai atender? — Perguntou ele, me tirando do devaneio.

 

“Boy, when I left you you were young

I was gone, but not my love”

(“Garoto, quando eu te deixei, você era jovem

Eu tinha ido embora, mas não o meu amor”) 

 

— Alô? — Perguntei, atendendo a ligação, sob o olhar de Luis. 

Jenny? — Perguntou uma voz do outro lado da linha, algum tempo depois, com aquele atraso engraçado de ligações que são de muito longe. Por um segundo, pensei ter reconhecido a voz. Meu coração acelerou, mas meu cérebro me disse para não me iludir. O problema, é que a voz disse novamente, em inglês: — É você, Jenny?

Quando tive certeza de quem seria o dono daquela voz aveludada, fiz um rápido sinal com as mãos para Luis e me levantei. Me afastei um pouco e respondi: 

— Sim, sou eu. 

Oi. 

— Oi, Brian — Eu disse, com convicção. Ouvi uma risada baixa do outro lado da linha, que logo foi interrompida, pois ele perguntou:

Fui informado de que você é uma arquiteta, certo? 

— Sim? — Eu disse, meio afirmando, meio perguntando, sem ter certeza do que Brian pretendia com aquele questionário, já que ele sabia daquela informação. 

Ótimo! A banda Avenged Sevenfold está procurando uma arquiteta para fazer o novo estúdio da banda e eles gostariam de saber se a senhora estaria disponível nos próximos meses. Todas as despesas de estadia e alimentação serão cobertas por eles. 

Senhora?! 

O chão do café, de repente, pareceu muito longe dos meus pés. A voz dele ecoava por minha cabeça. Eu não sabia como reagir diante do que Brian me falava e também não entendia porque ele falava daquela maneira. Finalmente, consegui reunir palavras o suficiente no meu cérebro para formar a frase:

— Brian? O que é isso?

Só quero saber se quer ser nossa arquiteta no projeto. — Ele disse, parando de fazer aquela voz engraçada e voltando ao normal — Precisamos de um novo estúdio e imediatamente pensei em você. 

— É sério?

Claro que é. 

— Mas… 

Podemos conversar sobre todos os detalhes quando você chegar. — Ele me interrompeu, provavelmente sabendo que eu estava com milhares de perguntas na cabeça — Você quer esse projeto? Conhecemos outros arquitetos se não quiser… 

Brian disse o quanto a banda estava pensando em pagar pelo projeto e eu perdi o fôlego: era o triplo do quanto eu cobraria.

— Sim! — Eu disse rapidamente. Apesar de achar que aquela seria a pior merda que eu iria me meter, me intrometendo na vida deles, principalmente sendo uma fã, mas também sabia que um projeto daquele poderia me render não só dinheiro, como uma boa carteira de clientes. Eu não podia negar. — É claro que aceito! 

Que bom. — Disse ele. Pude imaginar seu rosto se curvando em um sorriso infantil, suas maçãs do rosto saltadas e redondas. — Quando está disponível? Seus documentos estão em dia? Preciso comprar a passagem. 

Não deixei de notar o singular na sua última frase. Será que os outros sabiam disso? Apesar de todos os obstáculos pipocando em minha mente, como Matt e Michelle, resolvi responder:

— Tenho visto de turista, mas acho que preciso conseguir o de trabalho… — Respondi, de repente bastante preocupada. Os Estados Unidos eram complicados naquele quesito. 

Pode deixar que resolvo isso. — Disse Brian.

— Então estou disponível. 

Maravilhoso! — Disse ele, voltando à voz pomposa — Em alguns minutos te enviarei uma mensagem com as informações de vôo e estadia. Muito bom fazer negócio com você, Jenny!

— Igualmente… Brian. — Respondi, um pouco desnorteada pelo diálogo que eu acabara de ter. E, antes que pudesse ter mais qualquer reação, ou perguntar qualquer outra coisa, a linha ficou muda. 

 

“You’ll be happy all the time

I know you can make it right”

(“Você será feliz o tempo todo

Eu sei que você pode fazer o certo”) 

 

Voltei para a mesa, sentindo minhas pernas bambearem. Assim que me sentei e dei um grande gole do café, que já esfriara, Luis perguntou:

— Está tudo bem?

— Tudo ótimo. — Eu respondi, quase sem acreditar que acabara de falar no telefone com Synyster Gates. Depois de fazer tantas coisas com ele, eu não deveria mais me impressionar com uma mísera ligação, mas, mesmo assim, não consegui agir normalmente. — Eu acabei de conseguir um projeto enorme.

Luis abriu um amplo sorriso e disse:

— Eu sabia! Milão deve ter aberto grandes oportunidades para você, Jenny! 

Eu assenti, apesar de não ser verdade, pois não conseguira nenhum emprego depois que voltara. Mas, agora, eu estava, não só empregada, como também com um projeto que poderia me sustentar pelo ano todo. 

— Eu nem estou acreditando. — Disse em voz alta, sem querer. 

— Isso é incrível! É só o começo. — Disse ele, segurando minha mão. Eu me afastei de seu toque e ele recolheu o braço rapidamente, parecendo envergonhado por ter feito aquilo. 

Um momento estranho se passou entre nós e Luis se recostou novamente na cadeira, depois disse, mudando de assunto e com o sorriso de volta no rosto:

— Espero que ainda esteja com aquele cara que me bateu aquele dia… Ele parecia bem legal. Como ele está?

— Ahn… Bem. — Menti, sentindo o celular tremer em minha mão. 

Ao mesmo tempo que Felipe, com quem eu não conversava há um ano, voltava para a minha mente, uma mensagem piscava em minha tela. 

 

18/06/17 Vôo AA234 GRU 10am para MIA 5:35pm Primeira Classe

19/06/17 Vôo AA69 MIA 7:30pm para LAX 10:35pm Primeira Classe

Para visto de trabalho, comparecer amanhã no consulado americano de São Paulo. Vou te enviar os documentos completos.

Brian. 

 

Fiquei alguns minutos olhando a tela, com o coração palpitando e as palmas das mãos suadas. Respondi um “ok” sucinto e mandei uma mensagem para minha mãe, dizendo que passaria lá na hora do almoço. Fiz o mesmo com minhas amigas da faculdade: eu precisava contar o que acabara de acontecer. 

Depois daquilo, não consegui mais me concentrar em Luis e ele pareceu perceber, pois disse que precisava ir para o trabalho e se despediu de mim com outro beijo na bochecha. 

 Fui dirigindo até a casa da minha mãe, com as pernas tremendo. Eu não via a hora de contar para alguém, principalmente para as minhas amigas. 

Dali uma semana eu iria para Huntington Beach? Aquilo era verdade mesmo, ou era só um sonho?

 

“I want you to be happy

Free to run, get dizzy on caffeine

Funny friend that make you laugh”

(“Eu quero que você seja feliz

Livre para correr, ficar tonto de cafeína

Amigos engraçados que fazem você rir”) 


Notas Finais


E ai o que acharam??????

Brian é, ou não é, um homão da porra? Fala sério. Queria isso pra mim. Synyster Gates me ligando e comprando umas passagens de primeira classe pra Los Angeles fazer uma visitinha hahaha. E agora? O que acham que vai acontecer?? Façam suas apostas! Espero vocês nos comentários <3

Até semana que vem!

Beijoos,
Juu


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