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História Psycho Lunatic - She's the drug that I need, tell me why should I leave


Escrita por: juusynner

Notas do Autor


Oláaaaa, voltei!
E não, não estou atrasada, talvez um pouco já que tecnicamente já é quinta. Seguinte, aviso rapidão antes de vocês lerem: vou começar a postar PL todas as quartas e CB todas as sextas para quem me acompanha lá também (ao invés de terças e quintas). Percebi que consigo escrever melhor se for dividido assim e, talvez volte ao normal com o fim do semestre, talvez continue assim se eu me adaptar bem. Mas aviso vocês!

Bom, é isso. Espero que gostem desse <3
Boa leitura!!

Capítulo 25 - She's the drug that I need, tell me why should I leave


 

She’s the drug that I need, tell me why should I leave

Dirty Little Girl - Burn Halo

(“Ela é a droga que eu preciso, me diga porque eu deveria ir embora”) 

 

POV: Jenny 

Let me Out - Future Leaders of the World

“I’m a liar and a cheat in prison

Accused of telling the truth”

(“Eu sou um mentiroso e um traidor na prisão

Acusado de falar a verdade”) 

 

Voltei para a cama com as pernas tremendo. Brian estivera bebendo o que parecia ter sido a noite toda e, se antes eu não estava querendo acreditar em Matt, agora eu tinha provas de que ele falava a verdade. Peguei meu celular, abri uma conversa com Matthew e mandei uma mensagem apressada, dizendo que precisaríamos nos encontrar. Ouvi um barulho no andar de baixo e me apressei a fingir que dormia, não sem antes lembrar de silenciar a conversa de Matt, para que Brian não visse se ele me mandasse uma mensagem. 

Me cobri novamente e fechei os olhos, apenas ouvindo a movimentação. Passos pesados soaram na escada e pouco depois ouvi o barulho da porta se abrindo. Em poucos segundos, senti o calor do corpo quente de Brian deitar ao meu lado e me abraçar. Torcendo para não parecer suspeito, me virei em sua direção, fingindo sonolência e lhe beijei os lábios. O gosto de álcool foi inconfundível quando ele retribuiu o beijo. 

Ficamos deitados naquela posição por algumas horas. Eu praticamente nem dormi, com todos aqueles pensamentos ocupando minha mente. Tudo o que eu queria saber era porque Brian estava bebendo e o que estava acontecendo para que ele quisesse fazê-lo. 

Sem acordar Brian, consegui olhar o celular quando já passavam das 10 da manhã e vi uma mensagem de Matt brilhar na tela: dizia para eu ir até lá o mais rápido que pudesse. 

Cansada de olhar para o teto, sem ter o que fazer e ansiosa com a resposta de Matt, me levantei. Assim que tirei o meu peso da cama e sai do lado de Brian, ele se virou e perguntou, com a voz sonolenta:

— Onde vai?

— Eu… — a verdade era que eu precisava encontrar uma desculpa para me encontrar com Matt, ainda naquele dia, e talvez a melhor oportunidade fosse naquele momento — Minha amiga que mora aqui perto me mandou uma mensagem para eu passar lá, já que ainda estava dormindo… Pensei em ir agora. 

— Claro, baby. — ele respondeu, sorrindo fraco. — É perto para ir a pé? Se não posso te levar. 

— Não. — Respondi, talvez rápido demais — É perto, posso ir andando.

— Me dá um beijo antes de ir. — Ele disse, com os olhos quase fechando. 

Andei até ele e encostei os meus lábios nos de Brian levemente, para depois ele esconder o rosto embaixo do lençol, voltando para o estado de inconsciência. Eu me troquei o mais rápido que pude e sai. Matt brincava com os filhos na sala quando cheguei e se levantou quando eu passei pela porta, que a esposa tinha aberto para mim. Ele me deu um abraço rápido, como se já fossemos íntimos e indicou o sofá para que eu sentasse. Valary, diferente da primeira vez, em que nos deixara a sós, falou para as crianças brincarem no quarto e se sentou ao lado do marido, pronta para ouvir o que eu tinha a dizer. 

Fiquei um pouco apreensiva quando olhei para aquela mulher loira, tão parecida com Michelle. Eu admirava Valary, a achava uma mulher incrível e maravilhosa, mas ela não deixava de ser irmã gêmea da ex-mulher do homem que eu estava… Namorando? O que quer que fosse nosso relacionamento. 

— Não sei se fomos apresentadas formalmente, Jenny. — Disse ela, como se lesse meus pensamentos. — Acho que você sabe que sou a Val. 

— Ahn… Sim. — Eu disse, sentindo meu rosto corar. “E eu sou a mulher que roubou o marido da sua irmã” Pensei, sem dizer qualquer coisa em voz alta. 

— Nos conhecemos em São Paulo. — Disse ela, dando um sorriso sem graça. “E eu também sou a mulher que estava no elevador com o marido da sua irmã, quando eles ainda eram casados” Minha mente ecoou, sem que eu conseguisse impedir. 

— Eu me lembro. — Eu disse, com a voz baixa. 

— Jenny, acho que pode começar nos contando o que aconteceu… — disse Matt, eu sentia que ele já estava impaciente. Ele provavelmente não gostava daquele papo de traição que estava nas entrelinhas de nossa conversa. 

— Eu pensei no que você disse Matt. — Respondi, olhando para as minhas próprias mãos frias. — E hoje de madrugada, quando acordei e não encontrei Brian em lugar algum… — de maneira proposital omiti que ele deveria estar ao meu lado na cama — Fui procurá-lo e o encontrei dormindo no terraço, com uma garrafa de whisky pela metade próximo a ele. Tenho que admitir que achei que estava exagerando quando me contou… Mas vi que não. E, não sei se parece, mas eu apenas quero o bem de Brian e… vê-lo assim acaba comigo. 

— Acaba com a gente também, Jenny. — Disse Matt, enquanto Valary assentia, concordando com o marido. — Eu não estava exagerando. 

— Agora sei que não. — Eu disse, carregando certa tristeza na voz. — E precisamos resolver isso, Matt. Querendo Brian ou não, nós temos que fazer ele se tratar. 

— Se a Jenny conversar com ele sobre o assunto, será que ele não vai aceitar melhor? Sei que vai ser difícil convencê-lo de se afastar, mas talvez ele a escute com mais paciência. — Sugeriu Val. 

— Talvez… — respondi, pensativa. — O que não podemos fazer é esperar que ele me conte algo. Ele pode demorar dias, meses ou sei lá quando tempo para dizer e ele não pode continuar assim, se é tão ruim quanto você diz. 

— É bem ruim. — Disse Matt, de cabeça baixa.

— Eu tenho uma ideia. — Eu disse, de repente, sabendo que aquele estalo em minha mente talvez fizesse com que eu me arrependesse depois. Eu não sabia se queria realmente confrontar Brian, pois não sabia qual seria sua reação. 

 

Quando sai da casa de Matt uma hora depois, nós combinamos que ele iria arranjar alguma desculpa para que eu e Brian fossemos até a casa dele no dia seguinte e, lá, conversaríamos.  Enquanto isso, eu deveria agir normalmente e tentar, à todo custo, deixar Brian longe da bebida. Assim que entrei na casa dele, chamei seu nome, ouvindo uma resposta da cozinha. Segui o som até lá e tentei parecer relaxada, eu não queria deixar transparecer qualquer um dos sentimentos que revirava meu estômago naquele momento. 

— Oi. — Eu disse simplesmente, olhando para Brian, que estava de costas para mim, com os braços apoiados na pia. 

Me aproximei dele e o abracei por trás, encostando a cabeça em seu corpo. Ele sentiu meu toque e se virou. Brian carregava um olhar cansado, de quem dormira pouco, tinha olheiras escuras embaixo dos olhos avermelhados. Levou seus lábios aos meus e, como em um pesadelo, o mesmo sabor estava ali, em sua boca como um veneno. 

— Oi, baby. — Disse ele, mais uma vez me chamando daquela maneira 

— Você… Estava bebendo? — Perguntei com cautela, fingindo inocência. 

— Eu achei uma garrafa quase acabando e fiquei com vontade de tomar. — Disse ele, mostrando a garrafa de whisky vazia na pia, que até então eu não vira, pois ele cobria com o corpo. 

— Bebeu sem mim? — Perguntei, em tom de brincadeira, tentando disfarçar o tom trêmulo em minha voz. 

Brian riu, mas era um riso sem vida, ele pareceu ter mudando tanto em apenas algumas horas, que, de repente, eu me perguntei se ele estava se arrependendo de ter oficializado o divórcio. 

— Está tudo bem? — Perguntei novamente, apoiando uma das mãos em seu tórax e, com a outra, puxando o seu rosto para me olhar nos olhos. 

Ele me encarou e seus lábios se abriram em um sorriso um pouco mais sincero, mas que não chegou aos olhos. 

— Você esqueceu o celular. — Brian disse, lentamente. 

“Puta que pariu” Foi o que pensei, no momento que meu cérebro processou o que ele falou. Segurei a respiração, senti meu coração acelerar, mas tentei não demonstrar reação nenhuma, apesar de que ter ficado tanto tempo paralisada já indicava que havia algo errado. Ele sabia. Ele vira as mensagens que eu mandara para Matthew e sabia que eu me encontrara com o amigo dele. 

Comecei a me sentir uma traidora, apesar de saber que estava certa, mas resolvi fingir que tudo estava bem: 

— Ah, é? — Perguntei, me afastando dele e indo até a sala à passos lentos. — Nem percebi. 

Brian me acompanhava, apesar de não vê-lo, conseguia sentir sua presença em minhas costas. 

— Eu não sei sua senha, Jenny. E nem se soubesse iria olhar. — Disse ele, parecendo se divertir, até certo ponto — Tem algo que você está escondendo pra ficar tão estranha assim?

— Claro que não. — Eu respondi, me sentando no sofá e voltando a olhá-lo. 

Brian se sentou ao meu lado e passou os braços por meu ombro, ele sorria e parecia ter abandonado a personalidade que assumira na cozinha. 

— Mas aconteceu uma coisa estranha, sim. — Disse ele, com o rosto enterrado em meus cabelos e a voz levemente abafada. — Sua mãe ligou. 

— Minha mãe? — Perguntei, lentamente. 

— E eu tomei a liberdade de atender, já que vi escrito que era sua mãe e não achei que ela ficaria feliz de não saber noticias suas. 

— Você falou com minha mãe?! — Eu disse, um pouco em choque, sem conseguir conceber um diálogo entre aqueles dois. Minha mãe e Brian pertenciam a universos totalmente diferentes, nunca imaginei nenhuma interação entre eles. 

— Falei. O inglês dela é muito bom, por sinal. — Disse ele sorrindo. — Ela queria saber com quem ela falava e onde você estava hospedada, já que dissera a ela que não sabia onde iria ficar, quando saiu do Brasil. Eu disse que acabou esquecendo o celular aqui na noite anterior, mas que logo viria buscar e que estava em um hotel. 

— Ah, que bom. — Eu suspirei, aliviada — Minha mãe… Eu não contei nada para a minha família ainda, sabe? Nem eu sabia direito o que estava acontecendo antes de vir para cá…

— Eu entendo. — Disse ele, pegando meu rosto entre as mãos e plantando um beijo rápido em minha boca — Ela adorou falar comigo. Até contou umas coisas sobre você que eu não sabia, por exemplo que tem um pôster meu no quarto. 

— É claro que tenho, Brian. E são três. — Eu disse, rindo. Querendo esquecer aquela confusão e poder viver com ele sem preocupações. 

— Mas ela disse outra coisa que eu não entendi. — Ele comentou, parando de rir — Disse que estava preocupada com você, porque você não conhecia mais ninguém aqui em Huntington Beach, apenas a banda e queria saber como estava se adaptando. E aquela sua amiga que você foi visitar hoje? 

— Ela… — eu disse, tentando pensar em uma resposta. Ficara tão aliviada que ele não tinha visto nada de Matt, que não pensara que ele pudesse ter falado algo como aquilo com minha mãe. — Ela não gosta dessa minha amiga, então não contei que ela morava aqui. 

Ele riu baixinho, depois assentiu, aparentemente aceitando minha resposta. Ficamos mais algum tempo em silêncio, abraçados no sofá, até que um barulho alto, parecido com um rugido de um dragão foi ouvido e eu demorei um tempo para perceber que o som vinha do meu estômago. Eu não comera nada até aquele momento.

Brian começou a gargalhar, olhando para a minha expressão atônita. Depois se levantou e esticou a mão, para me levantar também, depois me puxando até a cozinha.

— Baby, eu tenho quase certeza que usamos camisinha todas as vezes. — Disse ele sério, se virando para mim assim que paramos em frente à pia — E eu não conseguiria engravidar você de um dragão. Acho melhor você me contar com quem andou transando. 

Eu comecei a rir da brincadeira, revirando os olhos, enquanto Brian pegava algumas panelas nos armários. 

— Pensei que ia gostar de cozinhar comigo hoje. — Disse ele, sorrindo para mim. Todo e qualquer resquício daquela pessoa que estava naquela mesma cozinha quando eu cheguei tinha sumido. Brian agora era a pessoa que eu conhecera e que eu, de certo modo, amava. Até as olheiras pareceram ter clareado e, daquele modo, era quase difícil de acreditar que ele passava por um problema tão sério quanto o alcoolismo. Talvez Matt estivesse mesmo exagerando e eu ficara impressionada com o que ele dissera, enxergando coisas onde não devia. 

— Eu adoraria. — Respondi, pegando uma faca e começando a descascar uma cebola. 

 

Cozinhamos e almoçamos razoavelmente rápido. Ver Brian cozinhar era não só divertido, como também de certo modo excitante. Ele se movimentava com agilidade e misturava os temperos com maestria, a ponto de eu perguntar se ele era ruim em alguma coisa.

— Em organizar minha vida amorosa. — Respondeu ele, um meio sorriso dançando nos lábios finos — Mas talvez eu esteja conseguindo fazer isso agora. 

Aquela foi o mais próximo de uma declaração de sentimento que Brian chegou em todas as semanas que estávamos juntos e fez meu estômago se revirar de felicidade. Todas as preocupações com o problema dele pareceram diminuir, apesar de ainda sentir certa tristeza por Brian não ter me contado nada. Aquelas poucas horas me deixaram tão felizes e relaxadas, que tive certa dificuldade para entender a mensagem de Matt que chegara em meu celular. 

 

“Flames of pain stained paint my eyes

Child I’ve lost, this face won’t lie”

(“Chamas de dor mancharam meus olhos

Criança eu perdi, essa face não mente”) 

 

“Mudança de planos. Precisamos fazer hoje. Venha até aqui antes e te falo o que aconteceu, diga que vai até sua amiga de novo.”

 

Fiquei paralisada alguns segundos olhando a tela do celular, pensando no que poderia ter acontecido para que Matt quisesse resolver tudo hoje mesmo. Eu não estava preparada para aquilo, eu esperava ter pelo menos mais um dia com Brian, já que eu iria me afastar dele, se ele fosse para a reabilitação ou não, era disso que consistia o plano. 

— Está tudo bem? — Perguntou ele, estava deitado no sofá da sala de televisão, enquanto eu checava meu celular, que carregava perto da porta. 

— Eu… esqueci meu casaco na minha amiga. — Inventei rapidamente. — Preciso voltar lá para pegar. 

— Depois você pega, baby. Não precisa ir agora. — Disse ele, batendo no sofá ao seu lado, para que eu sentasse ali. 

Andei até lá e me aconcheguei em seus braços, aquela poderia ser a última vez que eu faria isso em muito tempo e não queria desperdiçar a oportunidade. 

— O casaco… Minha vó me deu e eu preciso realmente buscar. — Eu disse, tentando pensar em algum modo de pegar um a peça de roupa qualquer no andar de cima antes de sair e sem que Brian visse, para manter minha história. Ou talvez não importasse mais, já que provavelmente voltaria com Matt para que conversássemos. 

— Quer que eu te leve? — Ele perguntou mais uma vez.

— Não precisa. — Respondi, mais naturalmente dessa vez. — É aqui do lado. 

Brian assentiu e se virou em minha direção, depositando um beijo em meus lábios. 

— Vou te esperar aqui. — Ele disse, fechando os olhos. 

Me levantei, tentando conter as lágrimas que já enchiam meus olhos. Eu não sabia o que ia acontecer quando confrontássemos Brian e aquilo me assustava. Eu não queria que ele me odiasse, já que tudo o que eu estava fazendo era para seu bem e se eu pudesse ficar ao lado dele durante todo o processo, eu ficaria. 

Enxuguei as lágrimas que rolavam em minha bochecha quando fechei a porta da casa. Estava andando em direção à casa de Matt, quando algo na garagem me chamou a atenção. Na verdade, foi a falta de algo que eu estranhei: por algum motivo, Brian estacionara o carro na rua, mas deixara o portão da garagem meio aberto. Pensei em voltar e avisá-lo, para que fechasse, mas eu conseguia ver um amontoado de caixas no lado de dentro e resolvi me aproximar para olhar o que era. Por um momento tive medo que fossem pertences de Michelle que ele estava escondendo de mim, mas parei assim que vi a marca de whisky escrita nas laterais. Aquilo eram caixas de bebida?

Decidi não me aproximar mais e acelerar o passo até a casa de Matt, aquela minha descoberta afirmava a urgência do amigo dele de ter aquela conversa o quanto antes. Comecei a sentir meu coração se apertar a cada passo que dava para longe de Brian e mais perto de Matt e já sentia como se o órgão estivesse em minha garganta quando toquei a campainha. 

Matt e Valary me receberam juntos dessa vez e me guiaram até a cozinha. A loira cozinhava o jantar para os filhos, que brincavam na sala, assim que me viram entrar correram até mim para me abraçar. Já era a terceira vez que eu ia lá em um intervalo pequeno e naquele dia mais cedo eu brincara um pouco com eles, então já ganhara a amizade das duas crianças. Matt disse para os filhos voltarem, porque precisávamos conversar e eles obedeceram como dois anjinhos. 

— Matt, sua mensagem me assustou. — Eu disse, um pouco ofegante por conta da caminhada apressada. 

— Hoje mais cedo fui ao mercado aqui perto… — explicou ele, fazendo com que eu me perguntasse qual era a relevância daquela informação — E me encontrei com o dono da loja de bebidas que frequentamos. Ele perguntou se a festa que iríamos fazer era algum aniversário grande, já que Brian passara lá alguns dias atrás e comprara dez caixas de whisky, com seis garrafas cada. 

— Ele comprou dez caixas. — Eu afirmei, me lembrando do que eu vira na garagem — Assim que sai da casa dele vi todas elas empilhadas na garagem. Estariam escondidas se ele não tivesse esquecido de fechar o portão. 

— Então é verdade. — Disse Valary, tirando os olhos das panelas e alternando um olhar triste entre eu e o marido. 

— Eu sabia que era. — Comentou Matt, se sentando no balcão da cozinha. — Cheguei a ligar para Johnny e Zacky para saber se ele contara alguma coisa. Como não estamos nos falando, eu não saberia se ele estivesse planejando uma festa para você, ou sei lá. Mas eles não sabiam de nada.

Eu me apoiei nos armários do outro lado, como se não conseguisse suportar meu próprio peso. Depois daquela tarde tão alegre, era difícil acreditar que as coisas mudariam tão rápido. 

— Precisamos falar com ele, Matt. — Eu disse, com luto em minha voz. 

— Vou mandar uma mensagem pedindo para ele passar aqui. — Comentou ele, tirando o aparelho do bolso — Como ele vai achar que você está na amiga, ele provavelmente vai concordar em vir. 

Porém, antes que ele conseguisse digitar a mensagem, a campainha tocou. Valary olhou o marido com dúvida no rosto e foi até a porta atender. Ouvi certa movimentação na entrada e paralisei quando ouvi aquela voz dizer:

— É claro que Matt está aqui. O carro dele está aqui. Ele está me evitando? 

— Ele foi no mercado, Brian. — Disse Valary, pelo tom em sua voz parecia que ela estava do lado de fora, o impedindo de entrar. 

Enquanto isso, Matt alternava o olhar entre eu e a cozinha toda. Ele parecia estar procurando um lugar para me esconder, mas era impossível: a entrada ficava ao lado do ambiente e para sair dali, eu teria que passar pela porta. Apesar de que iríamos chamar ele alguns minutos depois, iríamos nos preparar e combinar o que falaríamos antes que ele chegasse. Daquela maneira, sem pensar em nada, a chance de tudo dar errado era muito maior. 

Mais uma movimentação se deu ali perto e eu vi Matt enrijecer no lugar. Seu olhar se dirigia ao corredor do lado de fora da cozinha e ele levantou à mão em um cumprimento sem graça, assim que Brian disse:

— Por que está me evitando, Matthew? Você não quer conversar comigo? — Eu não conseguia vê-lo, já que estava do outro lado da cozinha, escondida pela parede, mas pelo tom em sua voz, consegui visualizar seu rosto sério, os lábios formando uma única linha fina. 

— Não estou te evitando. — Disse ele — Na verdade, estava te mandando uma mensagem agora. 

O olhar de Matt desviou apenas um segundo para a minha direção e, logo, voltou para Brian, mas foi o suficiente para que ele notasse algo estranho. 

— Michelle está aqui? — Ele perguntou, a voz um pouco mais suave, em um tom que não me agradou nem um pouco. 

Matt se levantou, ao mesmo tempo que Brian entrava na cozinha e, consequentemente em meu campo de visão. Pude ver Valary atrás dele, assim que ele virou o rosto na minha direção, com a sobrancelha franzida. 

— Que porra é essa? — Foi tudo o que ele disse, o olhar fulminante.

 

“Swallow all my pain and selfish pride

I use to hide behind”

(“Engoli toda a minha dor e meu orgulho egoísta 

Que eu uso para me esconder”) 

 

— Brian, nós… — começou a dizer Matt, mas eu o interrompi:

— Deixa que eu falo, Matt. — Eu disse, apertando meus dedos, para tentar aliviar a tensão. O olhar de Brian alternava entre nós dois e eu quase podia ver seus pensamentos: ele com certeza estava se perguntando de onde vinha aquela intimidade. Valary, ainda atrás de Brian, parecia extremamente preocupada. Abaixei o olhar para as minhas mãos, eu não seria capaz de olhá-lo enquanto falava, e continuei: — Matt me chamou aqui ontem para me contar uma coisas… Ele disse que estava preocupado com você. Me contou porque você está com essa cicatriz na cabeça, me disse que andou bebendo demais e…

— Jenny… — ele disse, ouvi o tom de decepção em sua voz e não me atrevi a olhar. Era eu quem deveria estar decepcionada, não Brian. — Olhe para mim. 

Relutei em fazer o que ele pedia. Eu não queria encarar aqueles olhos escuros e ver uma expressão totalmente diferente do modo que ele me olhava desde que eu chegara lá. Senti a sua aproximação e, antes que eu pudesse impedir, sua mão levantou meu queixo com delicadeza. Olhei fundo naquelas íris redondas e quis me perder dentro daquele olhar. Eu não queria ter que encarar aquele problema, mas era necessário e agora eu sabia porque: apesar de não ter admitido ainda, eu o amava e queria o seu bem, mais do que qualquer coisa naquele momento. 

Muito mais do que ficar feliz e confortável com aquela minha nova vida que, mesmo durando apenas alguns meses, me deixava feliz, eu queria vê-lo bem e feliz comigo. Eu queria que ele me convidasse para sua vida permanentemente, eu queria viver com ele, eu queria beijá-lo todos os dias até o último dia da minha vida. O meu amor de fã para com meu ídolo crescera e se transformara, agora era muito mais que isso: era o amor de um amante para outro. 

Ao contrário do que eu pensava, ele carregava uma expressão serena, sua mão ainda apoiando meu queixo. Ele fez um carinho em minha bochecha e se virou para Matt, ficando ao meu lado, como se me defendesse, depois disse:

— Que merda você falou para ela, Matthew?

Porém, antes que Matt pudesse responder, segurei o ombro de Brian e interrompi o que provavelmente se tornaria uma briga:

— Brian. — Eu disse, séria. — Ele fez o que precisava fazer, para o seu bem. Matt quer que você seja feliz. 

— Não parece. — Vi suas mãos se fecharem em punho e, de repente, fiquei preocupada que ele partisse para cima de Matt. Me coloquei entre os dois, com o objetivo, não só de ficar no caminho caso ele decidisse fazê-lo, mas também para olhar seu rosto. 

— Jenny, por que não vai lá para a sala e eu resolvo isso sozinho? — Disse ele, sem nem olhar para mim.

— Não, Brian! — Eu respondi, firme. — Não vou sair daqui até você se explicar. Se você quer que eu participe da sua vida, então eu vou participar de tudo. Até das discussões, porque, como eu já disse, estou morando sob o mesmo teto que você e tenho direito de saber. 

— Deixa ela ouvir, Brian. — Disse Matt. 

— Você não precisa participar de algo que é só um mau entendido. — Brian respondeu, sua voz estava um pouco mais calma, mas suas narinas estavam infladas de raiva. 

— Mau entendido, Brian?! — Dessa vez eu gritei, me recusando a aceitar aquilo. Caminhei até perto dele e apontei o dedo para o meio de seu peito — Vai chamar de mau entendido o que eu vi ontem de madrugada? Você desmaiado no terraço com uma garrafa de whisky pela metade? Depois no dia seguinte terminou a garrafa e mentiu para mim. Que tipo de confiança você quer passar para mim? Eu estou morando com você, isso não é o suficiente? Ou, por acaso, eu não significo tudo isso para você mesmo e sou só o seu brinquedo, por isso nem vai se incomodar de me contar que está com um problema de uma porra de alcoolismo?! 

Ele ficou paralisado por alguns segundos, tentando processar minhas palavras. Me arrependi imediatamente de ter perdido o controle daquela maneira, mas não queria que ele me jogasse para escanteio, como estava tentando fazer. Valary se mexeu inquieta na soleira da porta da cozinha. 

— Jenny… — disse ele, o olhar derrotado e a expressão triste me revelou que a minha explosão tivera o efeito desejado — Eu nunca… Jenny, você é a pessoa mais importante na minha vida atualmente. 

— Então por que não me contou? — Perguntei, sentindo as lágrimas se acumularem em seus olhos. Eu não ia chorar na frente dos três de maneira alguma, então engoli o choro e esperei por uma resposta. 

Brian pareceu pensar antes de dizer: 

— Eu… Senti vergonha. 

— Você sabe que tem um problema, não sabe? — Perguntou Matt, mas Brian não respondeu. Seu olhar derrotado dizia tudo. 

— Você precisa ir para a reabilitação, Brian. Precisa de ajuda e tratamento. — Eu disse. 

 

“I don’t care if you’re right or if I’m always wrong”

(“Eu não ligo se você está certa ou se eu estou sempre errada”) 

 

— Eu não vou me afastar de você. — Respondeu ele, olhando diretamente em meus olhos e assumindo novamente a postura defensiva — Eu, finalmente, me sinto feliz mais uma vez e vocês vão me obrigar a ir embora? Vão me obrigar a ir para um lugar que eu não pertenço?

— Brian… — foi Matt quem falou, atrás de mim. Eu me girei o corpo para olhá-lo, mas logo me voltei para Brian novamente — Quando vi Jenny aqui, achei que ela iria te ajudar e que você não beberia enquanto ela estivesse aqui, mas quando ela me contou que viu você com uma garrafa no meio da madrugada…

— Foi um episódio isolado. — Disse ele. — Eu tive um sonho e… Senti a necessidade de…

— Esse é o problema. — Matt interrompeu — Você sentiu a necessidade. Isso é um vício, Brian. 

Ele ficou em silêncio, o que me encorajou a me aproximar. Segurei seu rosto entre minhas mãos pequenas, sua barba por fazer raspava em meus dedos levemente e eu tive vontade de pedir para eles esquecerem tudo aquilo, para que eu pudesse beijá-lo ali mesmo e poder dormir ao lado dele mais uma noite. 

— Brian, eu… — comecei a dizer, mas me interrompi. Talvez aquele não fosse o momento de dizer o que eu sentia ainda. Pelo menos não aquelas três palavras — Gosto muito de você. Não quero ver você assim. Não vou ver você se afogar em bebida, se colocar em uma espiral descendente e só assistir de fora, sem ajudar. Talvez você não entenda a dimensão do meu sentimento por você, porque esquece que fui sua fã por anos antes de nos conhecermos e continuo sendo. Eu quero que você esteja saudável e bem, não só para eu poder continuar com você aqui, mas para eu poder continuar sendo sua fã. 

— Tudo bem. — Ele disse, de certo modo descartando tudo o que eu acabara de dizer, o que me magoou e fez com que eu me recuasse alguns passos. — Mas eu posso fazer isso aqui. Não preciso me afastar de você, Jenny. 

— Eu acho que você precisa. — Eu disse, mordendo os lábios com a tensão que se instalara entre nós. — Por que comprou dez caixas de bebidas, Brian?

Ele abaixou a cabeça e esfregou os olhos com os dedos, parecia querer organizar os pensamentos com aquele gesto. 

— Fez Jenny me vigiar também, Matthew? — Perguntou ele, sua voz saiu em um tom sério, cruel e que chegou a me assustar, nunca ouvira Brian daquela maneira. 

— A culpa não é dele. — Eu disse, antes que aquilo evoluísse para algo pior — Matt me contou a verdade e eu concordei que precisávamos investigar. Eu só fiquei mais atenta, Brian. E você que esqueceu a garagem aberta. 

— Essa porra não importa. — Ele levantou a voz, desviando o olhar do meu — O que importa é que estou bem. Não vou beber mais e, principalmente, não vou pra lugar nenhum. 

— Brian, não pense que estou feliz com isso. — Eu disse — Eu quero ficar com você, tanto quanto você quer ficar comigo, talvez até mais. Mas você precisa de tratamento e, infelizmente, eu não posso te dar isso. 

— Eu não vou para lugar nenhum. — Ele disse, agora olhando fundo em meus olhos. — Você entendeu ou eu preciso repetir?

Me ofendi com a maneira que ele falou comigo e virei o rosto, olhando na direção de Matt. Ele assentiu e eu soube que chegara a hora que eu mais temia. Durante todo aquele tempo, eu estivera torcendo para que a discussão acabasse antes que as coisas alcançassem aquele ponto, o que não acontecera. 

— Brian, não precisa repetir e também não precisa me tratar assim, eu não fiz nada para você… — comecei a dizer, mas fui interrompida por ele, que murmurou, se aproximando de mim:

— Me desculpa, eu… 

Ele foi encostar em meu rosto, mas eu me afastei, demonstrando que estava realmente muito magoada. 

— Eu não fiz nada para você e, apesar de querer ficar ao seu lado mais do que tudo, não posso viver com você enquanto você se recusar a ir para a reabilitação. Eu peço que pense um pouco na minha posição. Como percebeu, não existe nenhuma amiga minha que mora nessa cidade, o que significa que eu estou sozinha em um país totalmente diferente e as únicas pessoas que tenho como amigos são vocês. Se qualquer coisa acontecer à você, eu não tenho ninguém. — Expliquei, me recusando a desviar o olhar dos seus olhos que demonstravam uma tristeza profunda — Eu preciso de alguma garantia aqui, Brian. E, claro, quero que você esteja saudável para poder ficar comigo também. 

— Eu não vou para lugar nenhum. — Ele disse, tinha recolhido a mão que tentara encostar em mim e estava tenso em minha frente. 

— Então eu vou. — Eu disse — Vou me mudar para um hotel e não volto até você aceitar se tratar.

Brian olhou para mim e eu vi a decisão estampada em seu rosto. Quase não consegui controlar o soluço que ficou entalado em minha garganta. Seus lábios unidos em uma linha só, sua expressão séria, seus braços postos rígidos ao lado do corpo diziam tudo o que eu precisava saber e ele só confirmou quando disse:

— Então vai embora. 

Enquanto as palavras atingiam minha mente e se afundavam dentro de mim como uma espada, ele deu as costas e se retirou. Foi apenas quando ouvi a porta bater que as lágrimas vieram e eu não fiz qualquer esforço para impedi-las. Senti braços finos me abraçando e sabia que era Valary que me confortava, apesar de não enxergar nada por trás da cortina de lágrimas que cobriam meus olhos. 

 

“Swallowing tears, lien’ in my stomach 

I’m getting free-er every second” 

(“Engolindo lágrimas, borbulhando em meu estômago

Estou ficando livre a cada segundo”) 

 

POV: Brian

Youth - Daughter

“One day we’ll reveal the truth

That one will die before he gets there”

(“Um dia revelaremos a verdade

Que aquele irá morrer antes de chegar lá”) 

 

Assim que sai da casa de Matthew, me arrependi, mas me recusei a voltar. Andei à passos largos até minha casa, sentindo raiva de mim mesmo pelas palavras ditas à Jenny. Minhas mãos tremiam enquanto abria a porta e quase não consegui girar a maçaneta. Quando finalmente consegui entrar, fui até a garagem pela entrada lateral e abri uma das caixas com pressa. Eu precisava daquele alívio apenas naquele momento e depois pararia, seria a minha última. 

Levei o recipiente de vidro em minhas mãos trêmulas e peguei o carro. Estacionei perto da entrada do parque, pulei o portão, já que escurecera e o espaço estava fechado e cheguei na clareira. Sentado no gramado sob a luz do luar, fiquei pensando em tudo o que acontecera naquela conversa e, apesar de estar arrependido de ter mandado Jenny embora, sabia que eu tinha razão: tudo o que eu menos queria era me afastar. Mas eu sabia que ela não conseguiria encontrar nenhum hotel para ficar naquele dia mesmo, então voltaria para casa e conversaria com ela, assim que eu me livrasse daquele desejo que me corroía por dentro. 

Bem naquele momento em que eu me sentia verdadeiramente feliz, sabendo que eu seria capaz de envolver Jenny em minha vida de uma vez por todas, a própria estava dizendo que não podíamos ficar juntos. Eu sabia que seriam apenas algum tempo, mas e se não adiantasse nada?

Enquanto emborcava o conteúdo da garrafa na minha boca, sentado no chão e encostando em uma árvore grande e alta, me perguntei se eu não queria ir porque tinha medo que nada mudasse. Antes, eu pensava que a solução seria conviver com Jenny e, por duas semanas, realmente deu certo. Mas na noite anterior, eu acordara de um pesadelo e não consegui cair no sono novamente, até que o álcool fez o serviço para mim. 

O sonho envolvia muito sangue e eu cheguei a sentir uma dor física de verdade, a ponto de acordar assustado. Não contei nada para Jenny, pois não queria que ela pensasse que eu era um idiota que se impressionava com sonhos. Porém, parecera tão real que, só de pensar, já me arrepiava.

Não sei exatamente quanto tempo passou até que eu me desse por satisfeito, mas a garrafa chegara na metade. Me levantei, percebendo que até aquele momento eu estivera sentada na árvore em que eu e Michelle fizemos uma gravação na casca. Que grande ironia. 

 

“Setting fire to our insides for fun

Collecting names of the lovers that went wrong”

(“Incendiando nossos interiores por diversão

Colecionando nomes dos amantes que deram errado.”) 

 

Assim que entrei em casa e ouvi o silêncio absoluto, soube que havia algo errado. Chamei o nome de Jenny, mas não obtive resposta. Fui na escuridão, sem me importar em acender a luz, até o andar de cima e entrei no quarto. Ofeguei quando não vi nenhum dos pertences de Jenny espalhados por lá. A característica bagunça que ela deixava no ambiente e que eu tanto amava não estava mais lá, nenhuma roupa amassada em cima da cama, nenhum lenço embolado no chão, nenhum perfume no ar. 

Abri o armário apenas para encontrar um espaço vazio, onde antes abrigara as roupas de Michelle, depois de Jenny e agora, estava às moscas. Sem perceber, apertei o gargalo da garrafa forte em minha mão. Ela não estava brincando e, com algum lugar para ir ou não, ela simplesmente partira. 

Nenhum bilhete, nenhum aviso, nada, apenas o vazio. 

 

"My eyes are damp from the word you left 

Ringing in my head when you broke my chest”

(“Meus olhos estão marejados pelas palavras que você deixou

Ecoando na minha cabeça, quando você arrebentou meu peito”) 


Notas Finais


AAAAA, não me matem hahahah
Capítulozinho tenso hein? E comprido também haha mas assim que é bom.

Quero muito saber o que vocês acharam, então comentem ai! <3

Só pra lembrar então que vou postar PL toda QUARTA agora ok?
Espero vocês nos comentários e semana que vem com o próximo!

Beijooos,
Juu


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