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História Psycho Lunatic - Sober up quick, psycho lunatic


Escrita por: juusynner

Notas do Autor


Oláaa,
Voltei e voltei com um capítulozinho muito muito muito muito especial.

Pelo nome vocês podem ver que esse capítulo é muito importante, com certeza o mais importante. Foi esse capítulo que me deu a ideia para a história toda.

Ele já está pronto desde o início e eu demorei pra postar porque estava lendo e relendo. Eu amo esse capítulo e espero que vocês amem tanto quanto eu.

Preparem os lencinhos e boa leitura!
Ps: recomendo que vocês leiam a segunda parte ouvindo a música que eu indiquei porque... Vocês vão entender.

Capítulo 29 - Sober up quick, psycho lunatic


“Sober up quick, psycho lunatic. Crushing you with hands of fate”

Buried Alive - Avenged Sevenfold

(Fique sóbrio rápido, psicopata lunático. Esmagando você com as mãos do destino

POV: Jenny

Hurricane - 30 Seconds to Mars

“The love we had, the love we had

We had to let it go”

(“O amor que nós tínhamos, o amor que nós tínhamos

Nós tivemos que deixar ir”) 

 

Quando você pensa nas tragédias que podem acontecer, nunca pensam que, de fato, vão acontecer com você.

 

— Brian, eu não acho que você está em condições de… — tentei falar, mas sendo interrompida. 

— Eu estou indo para lá agora, me encontra lá. — A voz de Brian disse do outro lado da linha. As palavras estavam enroladas e eu sabia que ele estava bêbado demais para dirigir, então mesmo não tendo certeza se ele estava escutando ou não, gritei:

— Eu vou te encontrar na sua casa! Não saia de casa, ouviu?! Vou te buscar. 

Mas quando eu parei de falar, escutei a linha apitando do outro lado e fiquei em dúvida se ele teria me ouvido ou não. Como Brian era teimoso e agia muitas vezes por impulso, não esperei nem um segundo para pegar um casaco e sair do apartamento. Talvez, se eu andasse até a casa de Matt, ele me emprestaria o seu próprio carro para eu ir atrás de Brian. 

Quando sai na rua, percebi que logo iria começar uma chuva e apertei o passo, quando já estava quase virando a esquina da casa de Matthew, o meu celular tocou e, por um momento, pensei que seria Brian, mas assim que vi o telefone brilhando na tela parei de andar. 

— Alô? — Perguntei apreensiva. 

— Alô, Jenny?

— Felipe? Está tudo bem? — Perguntei apreensiva, ao mesmo tempo ansiosa por desligar logo a ligação, mas sem me atrever a falar com ele na frente de Matt. Eu não iria misturar aqueles dois lados da minha vida nem que me pagassem. 

Está sim. Sabe Jenny, eu… Eu queria saber se aquela proposta de ir até ai é pra valer mesmo. Eu preciso sair da minha casa, além da minha ex me perseguindo, briguei com a minha mãe e acho que eu poderia usar uma viagem. — Sua voz estava hesitante e eu percebi que ele preferia receber um convite, do que se convidar daquela maneira.

— Claro, Fe. — Respondi, sem pensar muito no assunto — Pode vir, eu… Estou um pouco ocupada agora, mas você é bem-vindo, claro. 

Ótimo! — Ele disse — Vou comprar minha passagem, depois você pode me mandar seu endereço? Ai te mando uma mensagem com o dia que chego. 

— Sim, sim. Depois eu mando. — Eu disse distraída, querendo desligar logo. 

Beleza, Jenny. Até logo. — A voz de Felipe dizia que ele estava sorrindo e eu me senti culpada por não estar prestando atenção nele. 

— Até. — Respondi, finalizando a ligação e jogando o celular na bolsa, depois de digitar o meu endereço rapidamente. 

Depois de bater na porta de Matt, enquanto eu esperava que ele atendesse, percebi que poderia lidar com Felipe depois, porque naquele momento eu precisava me concentrar em encontrar Brian e colocar aquele homem nos eixos. Na pior das hipóteses, ele me diria um monte de merda que ficaria me torturando em minha mente e meu amigo chegaria na cidade para me distrair um pouco. 

— Jenny? — Matt perguntou da porta, com Valary logo atrás. — Aconteceu alguma coisa?

— Você pode me emprestar seu carro? — Perguntei rapidamente, gesticulando para qualquer um dos três veículos estacionados na frente de sua casa. 

— Claro. É… Está tudo bem? — Matt disse, abrindo mais a porta para que eu entrasse. 

— Sim, está, Matt. — Respondi. — Eu preciso ir… O Brian me ligou agora há pouco e pediu para falar comigo, acho que quer falar alguma coisa. Estou com um pressentimento que pode ser sobre a reabilitação. Mas ele pediu para eu encontrar ele na praia e acho que é longe para ir a pé, além disso, vai chover e eu realmente preciso de um carro. 

As palavras saíram vomitadas da minha boca e eu vi o meu vocalista preferido arregalar os olhos diante meu desespero. 

— Tudo bem, claro que eu empresto. — Disse ele, em uma voz bem calma, esticando a chave para mim. — Depois me conte o que ele disse. 

— Obrigada, Matt! — Gritei, correndo para entrar no carro e escapar das gotas de água que já começavam a cair. — Quando eu terminar de falar com ele, eu venho até aqui deixar o carro. 

 

A chuva batia com força no pára-brisas do carro, reduzindo a minha visão para alguns metros na minha frente. Segui o caminho até a casa de Brian preocupada, uma sensação ruim invadia meu peito. Quando não vi o carro dele estacionado na garagem, soube que estava certa em minha aflição. Acelerando, segui para o lugar que combinamos de conversar. Minhas mãos molhavam o volante de couro com suor frio, o limpador de pára-brisas trabalhava com fúria e meu coração batia cada vez mais forte. Segui pela rua, com o farol alto ligado, esperando encontrá-lo parado dentro do seu carro, já que chovia muito para irmos para a praia. 

Eu vi uma luz vermelha mais à frente e suspirei de alivio, quando reconheci seu carro. Estacionei alguns metros atrás e peguei meu guarda chuva, apesar de saber que não adiantaria muito para conter o temporal e o vento. Desci do carro rapidamente e corri alguns metros em direção ao local onde Brian estava estacionado. Parei quando vi uma peça preta no chão. Me aproximei e reconheci um pedaço de lataria amassado. Corri mais rápido, soltando um grito, quando vi como estava o carro.

A sombra preta, com os vidros tão escuros que era impossível ver algo do lado de dentro, estava totalmente amassada contra um poste. A frente do automóvel parecia uma sanfona, espalhando destroços para todo o lado. 

Em algum momento, soltei o guarda chuva no meio da rua e corri em direção à porta do motorista, a abrindo com força. Meu coração batia forte contra meu peito.

— Brian! — Gritei, um som que saiu de dentro de mim, mas que eu não reconheci aos meus ouvidos. 

Sabia que estava chorando, mas as lágrimas se misturavam à chuva torrencial e eu não sabia a diferença. O corpo dele pendia para o lado esquerdo, quase caindo no chão. O airbag fora acionado, mas não parecera adiantar muito. Entrei com a cabeça no carro para ver seu rosto, espalhando água da chuva para todo lado e diluindo o sangue, que também parecia dominar tudo. 

— Brian. — Eu disse, dessa vez mais perto dele. O pára-brisas estava quebrado e alguns pequenos pedaços voaram em seu rosto, deixando sua pele toda machucada. 

Um som horrível, sofrido e grosso soou em meu ouvido. Olhei para Brian e vi seus olhos abertos, me encarando com uma expressão de agonia. O som que eu escutara era da respiração dele, entrecortada, saindo em lufadas forçadas.

— Brian. Eu vou te ajudar, mas você tem que ficar parado. — Não sei como consegui formular uma frase, talvez por medo de que ele se movimentasse e se machucasse mais, mas senti minha voz falhar enquanto falava. 

Percebi que estava sem celular e comecei a vasculhar os bolsos de Brian, tentando achar o dele. 

Minhas mãos tremiam, tudo o que eu ouvia era o meu coração bater em meus ouvidos e o som da chuva caindo no teto do carro. Soltei o cinto de segurança, a fim de procurar melhor e gritei quando vi porque sua respiração estava tão horrível. Um pedaço de vidro enorme e afiado estava enterrado em sua barriga, entre as costelas. 

Encontrei o celular, ao mesmo tempo que Brian olhava suas pernas ensanguentadas e perguntava:

— Esse… Isso é s-san…?

Quando fui responder, vi sua cabeça oscilar e tombar para frente. O cabelo preto, todo coberto de sangue e água, caído no rosto. Minha mão tremia e eu mal conseguia discar o número no telefone, mas finalmente consegui. Disquei 911, esperando que o socorro chegasse o mais rápido possível. 

 

“No matter how many breaths that you took

You still couldn’t breathe”

(“Não importa quanto fôlego você tomou

Você ainda não conseguia respirar”)

 

Me foi informado que a ambulância não demoraria a chegar. Passei todas as informações do acidente que eu sabia, com a voz trêmula e falei sobre o pedaço de vidro enfiado no meio das costelas de Brian. O atendente me instruiu a ficar perto dele o tempo todo e não deixar que se movesse nem um centímetro, também me perguntou se tinha algum sinal de fumaça ou algum líquido escorrendo e, aliviada, eu disse que não. 

Assim que desliguei o telefone, me sentei na lateral do carro destruído e encostei na mão de Brian, sentindo todos os membros do meu corpo tremerem. 

— Vai ficar tudo bem, Brian. — Eu disse, minha voz engasgada com o choro que lutava a começar. — A ambulância está vindo e você vai ficar bem. Depois que você sair do hospital, eu posso passar um tempo na sua casa, a gente pode jogar playstation e matar as saudades… Eu prometo que não vou mais me afastar de você. Vou ficar ao seu lado pra tudo o que você precisar, se quiser, claro…

Brian começou a tossir, me interrompendo e eu senti sua mão apertar a minha levemente. 

— Dói… — foi o que ele disse, sem abrir os olhos e ainda parecendo inconsciente. 

— Os médicos vão chegar e a dor vai passar, meu amor. — Eu disse, me aproximando mais dele, ao mesmo tempo que ouvia uma sirene ao longe. — E eu prometo que vou ficar do seu lado o tempo todo. Eu te amo, Brian. Eu te amo muito e eu gostaria de ter dito isso antes, mas sei que vou poder dizer depois. 

A ambulância parou ao nosso lado e, antes de eu me afastar para que os paramédicos pudessem cuidar de Brian, senti a mão dele pressionar a minha mais uma vez. Eu não sabia se ele estava escutando o que eu dizia, mas eu esperava que sim. Passei os braços ao redor do meu corpo e esperei, a chuva ainda estava muito forte, mas eu não ligava. Nada mais importava, a não ser a saúde do homem que eu amava. 

Quando Brian foi colocado dentro da ambulância, eu comecei a chorar. Me sentei no banco do passageiro, querendo ficar ao lado dele o tempo todo, mas sabendo que eu só atrapalharia ali. Deixei o carro de Matt ali no meio da estrada, na verdade nem ao menos pensava nisso naquele momento, eu só queria que Brian fosse atendido. Peguei o nome do hospital para onde ele seria levado e fiz uma das ligações mais difíceis da minha vida.

Brian? — A voz de Matt soou do outro lado da linha.

— Não, Matt. É a Jenny. — Pelo tom da minha voz, eu sabia que denunciava que havia algo de errado. Prendi a respiração, enquanto a ambulância cortava o trânsito pelo caminho. 

Aconteceu alguma coisa?!

— Na verdade… Sim. Aconteceu. Brian sofreu um acidente, Matt. Ele já está na ambulância e estamos indo para o hospital. É... Eu não quero mentir para você, então... Foi sério. 

Puta merda. Encontro vocês lá. — Foi tudo o que ele disse e eu ouvi a linha apitando logo depois. 

 

“Do you really want me?

Do you really want me dead or alive

To torture for my sins”

(“Você realmente me quer?

Você realmente me quer vivo ou morto

Para torturar pelos meus pecados”) 

 

Brian foi levado para o interior do hospital e eu não pude nem mesmo olhá-lo mais uma vez. Os médicos agiram rápido e o tiraram da ambulância com destreza. Eu fui instruída a ir para a recepção, registrar Brian e fazer as burocracias. Um dos paramédicos me entregou a carteira dele, colocou a mão em meu ombro e me guiou até a entrada do hospital, me dando um abraço antes que eu entrasse.

Fui desorientada até a recepção, deixei todos os documentos de Brian, quase sem dizer uma palavra, enquanto espalhava água de chuva para todos os lados. Fui levada para uma sala de espera, colocaram um copo de água em minha mão e me disseram para esperar.

Eu não queria esperar, eu queria saber se Brian estava bem, eu queria ter alguma notícia e ter certeza de que nada aconteceria com ele. Porém, enquanto eu tomava a água adocicada que me deram, eu não parava de pensar no som que seus pulmões produziram assim que eu o encontrei e sabia que as chances de tudo dar errado eram muito grandes.

Matt entrou em um rompante na sala de espera, acompanhado por Valary e me abraçou assim que me viu. Começou um interrogatório que eu nem ao menos tinha capacidade de responder e agradeci quando Val passou o braço por meus ombros e me pediu para sentar novamente. Eu nem ao menos me lembrava de ter levantado. 

Expliquei os detalhes que eu lembrava, falei algumas palavras desconexas assim que cheguei na parte em que eu o encontrei e comecei a chorar. Matt me abraçou, assim como Valary, e assim estávamos quando Zacky, Meaghan, Lacey, Johnny e até Brooks e Kelly entraram na sala. 

Eu ouvi o burburinho da explicação de Matt, mas não consegui prestar atenção a nenhuma palavra sequer que ele dizia. Apenas quando eu ouvi uma voz que eu não conhecia, que levantei o olhar, apenas para encontrar Brian Haner, McKenna e Suzy com um olhar transtornado, conversando com Matt. Era óbvio que ele teria ligado para o pai de Brian e avisado a família do ocorrido. Abracei minha perna e fiquei observando a movimentação, percebendo que aquilo me ajudava a distrair. Diversas vezes, vi os três me olhando com certa desconfiança e, provavelmente, se perguntando quem eu era.

Logo depois, mais duas pessoas chegaram na sala e eu não pude acreditar quando vi Dan Abell acompanhado de Michelle. Me encolhi na cadeira, querendo me camuflar. Eu estava me sentindo um peixe fora d’água, enquanto toda a família chorava se abraçando e eu chorava sozinha em meu canto. 

Não demorou muito até o médico aparecer na sala. Todos se levantaram e voltaram as atenções para aquele homem que era a fonte de todas as nossas esperanças, quando ele perguntou quem era Jenny. Fiquei paralisada quando todos os olhares se voltaram para mim, inclusive o pai e a madrasta de Brian. O médico pediu gentilmente para que eu explicasse o que acontecera e, em uma voz lenta e arrastada, eu expliquei tudo, desde a ligação dele, até o momento que encontrei seu carro esmagado contra o poste. 

— Você agiu bem, Jenny. — Foi o que o médico disse — Se não fosse pela velocidade em suas ações e pelo cuidado que teve ao não deixar que Brian se mexesse, ele correria um risco muito maior de vida. Você provavelmente foi a principal responsável por salvar a vida dele. O estado de saúde de Brian é muito delicado devido ao impacto que sofreu e ele precisa passar por uma cirurgia complexa e demorada para retirar o fragmento de vidro que entrou em seu corpo, além de tratar diversos ossos quebrados. O objeto é bem grande, perfurou boa parte sua carne e já chegou ao pulmão. Era de extrema importância que o objeto não chegasse a perfurar o órgão, assim como algumas de suas costelas que se quebraram e foi por isso que sua atitude foi de tão grande importância, Jenny. Se aquele vidro entrasse um milímetro a mais, Brian teria minutos de vida. 

Depois, ele conversou com o pai de Brian, para a aprovação da cirurgia, enquanto Matt, Valary, Zacky e Johnny me diziam palavras reconfortantes. Todos estavam com os olhos marejados e preocupados, me davam abraços trêmulos, enquanto eu chorava em silêncio, rezando para todos os deuses que pudessem ouvir. 

Enquanto estava ali, vendo o sofrimento de todas aquelas pessoas. Me peguei pensando se eles estavam lembrando de Jimmy naquele momento, como eu estava. E eu tinha certeza de que sim, principalmente os meninos, que deviam lembrar do que viveram a cada segundo e deviam torcer para não passar por aquilo mais uma vez. 

Distraída, não percebi que encarava Michelle. Sentada do outro lado da sala, ela secava os olhos em um lenço e conversava com Suzy. 

 

“No matter how many deaths that I die, I will never forget

No matter how many lives that I live, I will never regret.”

(“Não importa quantas mortes eu morra, eu nunca vou me esquecer

Não importa quantas vidas eu viva, eu nunca vou me arrepender”) 

 

Fiquei olhando para o teto daquela sala por tanto tempo que eu já contara todas as lâmpadas, encontrara um padrão para a luz, que as vezes piscava, e sabia onde estava cada mancha no forro. Meus olhos estavam pesados, cansados do choro que ainda insistia em vir e eu só desejava poder avançar o tempo. O clima na sala era tenso, algumas pessoas falavam em sussurros, mas ninguém ousava se mexer. Matt, Valary e os outros meninos da banda as vezes vinham conversar comigo. Até Dan se aproximou em algum momento e eu senti o olhar de Michelle em mim. 

Senti meu estômago roncar, apesar de não sentir a menor fome e decidi tomar um café, já que meus olhos pesavam. Andei até o corredor lateral, onde duas máquinas estavam instaladas, uma delas era de bebidas quentes. Estava distraída, olhando o café cair no copo descartável e sentindo o cheiro preencher minhas narinas, quando vi uma movimentação ao meu lado. 

Olhei na direção da pessoa que parara perto de mim e prendi a respiração quando vi Michelle me olhando com atenção. Suas sobrancelhas estavam franzidas, seus olhos inchados e vermelhos, provavelmente parecidos com os meus e suas mãos um pouco trêmulas, carregando um lenço de papel. 

Nos olhamos por alguns segundos, até que eu peguei meu copo, com o café pronto e dei um passo para trás, para que ela pudesse usar a máquina, afinal, eu achava que ela estaria ali para isso. Entretanto, Michelle não se mexeu, continuou me olhando como se procurasse algo em meu rosto. Depois de algum tempo, ela passou o lenço por seu nariz avermelhado e disse, em uma voz fraca:

— Eu sei quem você é. 

A frase soou como uma acusação e eu fiquei em silêncio diante da rigidez de suas palavras. Eu não queria que uma discussão acontecesse e nem esperava ouvir coisas como “você tirou Brian de mim”. Tudo o que eu queria era estar ao lado de Brian e poder dizer que eu o amava. Tudo o que eu mais queria era que ele sobrevivesse. Por isso, esperei ela continuar a conversa, sem querer dar motivos para ela se enfurecer. 

— Eu sei quem você é, Jenny. — Ela repetiu. — Lembro de você de Londres, nos conhecemos lá, não é?

— É… — foi tudo o que eu disse, sentindo minhas pernas tremerem. 

— Não pense que tenho raiva de você. — Michelle disse, me surpreendendo. — A separação era iminente e você não foi mais que um incentivo maior. 

— Eu…

— Não precisa dizer nada, Jenny. — Ela me interrompeu — Eu estou fazendo o papel de megera aqui, eu sou a filha da puta que traiu o marido e foi flagrada. Você é… Você salvou a vida dele. — Michelle respirou fundo e continuou: — Você esteve lá quando eu nunca estaria. Se ele sobreviver a isso e… — Algumas lágrimas escorreram de seus olhos — E eu daria minha vida para que ele ficasse bem, você precisa saber que merece. Merece um homem como Brian em sua vida, merece tudo o que ele tem a oferecer e merece construir uma família com ele. Se ele sobreviver, saiba que eu vou ser eternamente grata a você. 

Michelle não conseguiu segurar o choro e, antes que eu pudesse ter qualquer reação, se jogou em meus braços, me apertando contra o seu peito. Nos abraçamos, trocamos o nosso desespero naquele toque amigável, enquanto Michelle chorava em meus braços e eu percebia que meu próprio rosto estava coberto de lágrimas. 

— Se ele sobreviver e vocês continuarem juntos… — ela disse, com a voz abafada por minha camiseta — Saiba que vocês tem minha benção. 

Depois de um abraço longo e silencioso, Michelle e eu voltamos para a sala de espera e quase corremos, quando vimos o médico em pé na sala e todos prestando atenção ao que ele dizia. 

— … a cirurgia de Brian correu bem. — Foi o que ouvimos assim que nos juntamos aos outros. — Vamos tirar o sedativo aos poucos e ver qual é a reação. 

Suspirei de alívio assim que ouvi aquilo. Apesar de saber que ele ainda corria perigo, pelo menos passara pelo pior. Senti Michelle relaxar um pouco ao meu lado, ao mesmo tempo que ela alcançava minha mão e apertava levemente. 

— Estamos preparando o quarto, mas apenas a família poderá vê-lo por enquanto. — Ele disse, recebendo uma frustração geral como resposta — Eu sei que todos querem vê-lo, mas Brian precisa de muito descanso nesse momento já que passou por uma cirurgia longa e complicada. 

 

Depois daquela breve notícia do médico, foi ainda mais difícil ficar parada naquela sala de espera. Michelle voltara para o lugar onde estava antes, mas sua presença já não me incomodava. Logo depois, Brian, Suzy e McKenna foram autorizados a entrar e eu senti a vontade de correr na frente de todos eles, só para poder ver o rosto dele mais uma vez. Eu só queria poder segurar sua mão e estar ao seu lado quando acordasse.

Tentei me acomodar naquelas cadeiras duras, me preparando para passar a noite naquele lugar, já que eu não iria para casa enquanto não falasse com Brian. Em algum momento, Zacky veio dizer que eu poderia ir embora e que eles dariam notícias assim que algo mudasse, mas eu quase dei um soco em seu rosto assim que ele pronunciou aquelas palavras. Eu só sairia dali quando tivesse certeza de que ele estava bem. 

Em algum momento, eu adormeci, o que contribuiu para que a noite passasse mais rápido. Quando o meu celular marcou seis e quinze da manhã, o sr. Haner apareceu na sala de espera. 

— Ele acordou. — Foram as duas palavras que fizeram todos na sala acordarem e se levantarem em um rompante. 

 

“The promises we made were not enough

The prayers that we had prayed were like a drug

The secrets that we sold were never known”

(“As promessas que fizemos não foram suficientes

As orações que rezamos eram como drogas

E os segredos que vendemos não foram conhecidos”) 

 

POV: Brian

So Far Away - Avenged Sevenfold

“I love you, you were ready

The pain is strong and urges rise 

But I’ll see you”

(“Eu te amo, você estava pronto

A dor é forte e insiste em aumentar

Mas eu verei você”) 

 

A minha mente era uma confusão de lembranças. Parecia que meu cérebro se transformara em um mar agitado e não conseguia concentrar meus pensamentos em apenas uma coisa. 

Eu estava no backstage do show de São Paulo. A garrafa gelada de cerveja esfriava a minha mão e calafrios percorriam meu corpo, mas era uma sensação boa. A menina que aparecia em meus sonhos estava na mesma sala que eu e eu finalmente iria conhecê-la, saber seu nome e talvez entender porque aquilo acontecia comigo sempre que eu pegava no sono… Jenny era seu nome… Em algum momento naquela noite, meus lábios tocaram os dela. 

O hotel de Milão era perto do local do show e não demorou muito para eu levar Jenny até o quarto. Eu estava tremendo com a expectativa. Esperava por um momento com ela desde aquele dia em São Paulo e não podia esperar nem mais um segundo. Resolvi ignorar a afterparty e me juntar a Jenny o quanto antes. Eu queria vê-la, queria conhecê-la melhor e sentir como era estar dentro dela. Em nenhum momento Michelle atrapalhou meus pensamentos, porque eu sabia que o sentimento por ela já estava desgastado, nunca mais seria o mesmo. Eu ainda não sabia, mas o meu sentimento por Jenny iria crescer e se transformar em amor. 

Quando mandei Michelle embora e consegui usar uma desculpa ótima para me separar dela, a esperança me preencheu, pela expectativa de vê-la mais uma vez. A felicidade completa foi o que eu senti naquelas curtas semanas. E então… A frustração. A tristeza de tê-la ao meu alcance, mas não tê-la ao meu lado. E mesmo quando eu a convenci e a seduzi para se juntar a mim, ela me dispensou logo depois e aquilo me destruiu. 

Aquele perfume doce do stripclub, que parecia espalhado por todos os lugares, até na mulher que rebolava em meu colo, aquele cheiro que não saia da minha mente nem se eu tentasse esquecê-lo me dominou por completo. Eu me vi transando com aquela mulher por puro desespero. Por vontade de me libertar daquele desejo que me dominava todas as vezes que eu pensava em Jenny, eu enterrava meu pau naquela mulher que eu nem ao menos sabia o nome e parecia que estava tudo bem. Talvez o álcool e a cocaína tenham facilitado para que eu imaginasse Jenny no lugar daquela mulher desconhecida e era por isso que eu fora ali. 

O medo de perdê-la por completo e nunca mais poder tocá-la, beijá-la e ouvir sua voz me dominou quando eu me dei conta que ela estava ali, que ela vira tudo. E ai eu soube que minha vida já não valia nada.

Eu prometera, ajoelhado no túmulo de Jimmy, que nunca mais iria me viciar e quebrei a promessa que fiz para meu amigo morto. Virei um alcoólatra, voltei com a cocaína, falhei com meu melhor amigo. Depois daquela percepção eu sabia que não valia mais a pena viver. Eu não merecia a vida que levava, não merecia minha família e muito menos merecia Jenny. Nem ao menos merecia me encontrar com Jimmy quando eu fosse embora, mas a necessidade de me desculpar com ele foi o que me impulsionou para colocar aquela arma em minha boca. 

Zacky me ajudou por alguma razão, tudo ficou claro por um segundo e então… Escureceu novamente. 

Jenny… Me salvou. Por alguma razão que eu ainda não entendia, eu sabia que era verdade. Talvez fosse por isso que eu sonhara com ela no começo, porque eu precisaria dela em minha vida, se não tudo acabaria antes que eu pudesse completar minha missão naquele mundo. 

De repente, tive a impressão de que estava acordado. 

A brisa batia em meu rosto e me dava um calafrio bom, as árvores ao meu redor fechavam o céu acima de minha cabeça e  deixavam o chão coberto de sombras diferentes, devido ao sol forte. Reconheci o ambiente antes mesmo de ver a árvore entalhada com meu nome e o de Michelle. Era a clareira onde ficávamos na adolescência, onde tantas ideias surgiram, onde beijei minha ex-esposa pela primeira vez e onde eu ainda ia quando me sentia perdido. 

Ouvi um som na minha esquerda e me virei naquela direção, apenas para ver meu melhor amigo parado a poucos metros de mim. 

 

I have so much to say but you’re so far away

(“Eu tenho tanto a dizer mas você está tão longe”) 

 

Jimmy levantou a mão em um aceno e sorriu. 

— E ai, cara? — Ele disse, sem se mover. 

— J-Jimmy? — Minha voz falhou quando eu disse o nome dele. Percebi que colocara uma mão em minha boca e outra no coração. Eu sabia que aquilo não era normal, não podia ser. Meu melhor amigo estava morto. — É você?

— Sou eu, Syn. — Respondeu, um sorriso se abrindo ainda mais em seu rosto. 

— Eu morri? — Foi a pergunta que me veio à cabeça no instante que percebi que ele estava ali mesmo. Eu podia ter morrido, lembrava de estar em perigo. 

Jimmy riu diante da minha pergunta e se aproximou de mim, colocando um braço em meu ombro. Seu toque era quente, real e tudo o que eu sonhei naqueles sete anos sem ele. Mas ele não respondeu minha pergunta. 

— V-você está aqui mesmo? Ou… Ou eu estou sonhando? — Perguntei, sentindo minha garganta apertar.

— Achei que você estava precisando de uma visita. — Ele disse, batendo em meu ombro de leve. 

Virei meu rosto em sua direção. Olhei o meu amigo parado no tempo, ele ainda se parecia com o moleque que era quando morreu, tinha seu olhar de criança, seu sorriso bobo, enquanto eu aparentava os meus sete anos a mais. Como se lesse meus pensamentos, ele disse:

— Você tá muito gato, Syn. Envelheceu que nem vinho. — O sorriso em seu rosto diminuiu um pouco e, olhando fundo em meus olhos, completou: — Senti saudades, cara. 

Não pensei duas vezes antes de puxá-lo para um abraço apertado. Tudo era o mesmo. Seu abraço era a única coisa que eu sonhara por anos e fiquei tão aliviado quando aquilo aconteceu, que não percebi as lágrimas correndo por meu rosto. Minha garganta estava apertada, meu rosto molhado, mas eu era uma das pessoas mais felizes do mundo por poder abraçar meu melhor amigo mais uma vez. 

— Está tudo bem. — Ele disse, me afastando um pouco do seu corpo e me olhando. — Tudo vai ficar bem. 

— O que é isso? O que está acontecendo? — Perguntei, tentando organizar meus pensamentos — Você não disse se eu morri ou não. 

— Você não morreu, Syn. Não precisa entender tudo agora e acho que você vai chegar a uma conclusão quando pensar nisso depois, mas… Está bem vivo. — Ele sorriu para mim e jogou o braço por cima dos meus ombros, soltando todo o seu peso em mim, do jeito que eu sempre reclamara. Menos naquele dia, porque aquele peso em minhas costas foi uma das melhores sensações que senti na vida. — E bem vivo por causa de uma pessoa muito especial… 

— Jenny? — Perguntei, sem entender. 

— Jenny. — Jimmy afirmou, sem tirar o sorriso do rosto. 

— Conhece ela?

— Ah, conheço sim. — Ele respondeu. 

— Mas… Ela me disse que nunca conheceu você. Ela ficava bem emotiva quanto a isso e…

— Eu disse que eu conheço ela. — Jimmy me interrompeu, me olhando como se você fazer uma piada comigo, ou com minha inteligência — Mas não disse que ela me conhece. Talvez… Eu tenha mexido alguns pauzinhos. 

— O que quer dizer com isso?

— Eu não posso explicar muito, Syn. — Ele disse, agora sem sorrir. — Tudo o que posso dizer é que sempre estive ao seu lado, nesses sete anos inteiros. E eu cuido de todos vocês. De um modo que você não vai entender agora, eu sabia que Jenny teria um papel muito importante em sua vida e te ajudei a perceber isso. 

— Os sonhos? — Perguntei, de repente sentindo um estalo de lucidez. 

— Sim. Fiz isso com ela também. Vocês sabiam, em seus subconscientes, que iriam se relacionar. — Meu amigo disse, me deixando confuso. — Eu não sei se você se lembra, mas você sonhou com ela um dia enquanto estávamos em turnê, lembra? Depois eu percebi que esse sonho era um primeiro indicativo, eu resolvi ajudar. 

— Mas… Não faz o menor sentido. Você morreu e…

— Syn, precisa fazer sentido? — Jimmy disse, sorrindo para mim quando eu não consegui responder — Você sabe que não precisa. Também ajudei Zacky um pouco antes, ajudei ele a perceber que precisaria te ligar. 

— Mas… E o que aconteceu comigo?

— Você sofreu um acidente. — Jimmy me explicou — Infelizmente, existem coisas que eu não posso controlar e essa é uma delas. Eu não posso alterar seu destino. Você vai passar por uma transformação por causa do que aconteceu. Vai deixar de lado alguns vícios e aproveitar mais sua vida. 

— Eu… Preciso me desculpar, Jimmy. Prometi que nunca mais iria usar e… Usei. Foi só no fim, eu juro. Juro que não queria, mas… E-eu não sei, parecia que não era eu quem controlava meu corpo. 

— Tudo bem, Syn. Eu te entendo e sei que não vai acontecer de novo. Nem com a bebida, certo?

— Certo. — Respondi com firmeza — E… Eu vou ficar aqui para sempre?

— Não, não irá. Na verdade, nosso tempo está acabando. — Ele disse, parecendo entristecido. 

— Você vai embora? — Eu sabia que soava como uma criança, mas não pude deixar de sentir meu peito apertar diante da perda do meu amigo. 

— Você vai. — Ele disse, sorrindo e voltando a se apoiar no meu ombro. 

— Mas como eu volto?

— Você não pode voltar. 

— E se… E se eu quiser falar com você de novo? — Perguntei desesperado, achando que ficar ali, de repente seria uma boa ideia. 

— Se quiser falar comigo, sabia que eu sempre estarei aqui. — Ele disse, colocando a mão sobre o lado esquerdo do meu peito, em cima do coração. — E quando quiser me ver, é só fechar os olhos, porque eu sempre estarei aqui. — Colocou o dedo indicador em minha têmpora e sorriu. 

— Eu preciso mesmo ir?

— Sim. — Ele disse, sorrindo mais ainda. — Você tem muito o que fazer do lado de lá. Começando por comprar um anel bem bonito. 

— Um anel?

— Você vai entender. — Disse Jimmy, rindo da minha ignorância. 

Abracei meu melhor amigo mais uma vez e senti as lágrimas caindo novamente. 

— Eu te amo, Jimmy. — Eu disse, sentindo aquilo do fundo do meu coração. 

— Também te amo, Syn. 

 

Will you stay?

Will you stay away forever?

(“Você vai ficar?

Você vai ficar longe para sempre?”) 

 

Pela primeira vez em semanas, meus pensamentos estavam claros como a água. Eu não sentia a oscilação que o álcool me proporcionava ou a euforia da cocaína. Abri os olhos e senti meu corpo pesado. Alguns membros doíam, mas eu parecia boiar em uma piscina, não podia me mover, mas a sensação era boa e algumas partes do meu corpo formigavam. 

O ambiente estava turvo e demorei um pouco para me acostumar com a luz. Onde estava Jimmy?

Consegui distinguir um rosto na minha frente e assim que minha visão focou, vi os olhos do meu pai me observando, molhados de lágrimas. Uma mão quente segurou a minha e eu vi Suzy olhando para mim, do outro lado da maca, Mac estava junto dela. Os três sorriam para mim. 

— Bem vindo de volta, filho. — Meu pai disse para mim, passando as mãos por meus cabelos. 

 

“Sleep tight, I’m not afraid

The ones that we love are here with me

Lay away a place for me, cause as soon as I’m done 

I’ll be on my way, to live eternally”

(Durma bem, eu não estou com medo

Aqueles que amamos estão aqui comigo

Guarde um lugar para mim, porque assim que eu terminar, 

Estarei no meu caminho, para viver eternamente”) 

 


Notas Finais


E ai, o que acharam?

Eu estou emotiva, devo dizer. Acho que vocês estão percebendo que a fic está caminhando pro final e meu coração já está despedaçado. Pelo meu planejamento faltam uns cinco capítulos para o fim D:

Quero muito saber da opinião de vocês e espero que tenham gostado!!

Espero vocês nos comentários.

Beijooos,
Juu <3


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