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História Psycho Lunatic - Just in time, in the right place


Escrita por: juusynner

Notas do Autor


Volteeeeeeei! Sim sim, dessa vez demorei um pouco mais porque sabe como é: a loucura do fim do semestre da começando e, apesar de ter o capítulo pronto, gosto sempre de revisar de novo antes de postar. Então adivinha: só consegui revisar hoje.
Gostei muito de escrever esse capítulo porque a gente entra de vez na cabeça do Brian e da Jesse e eu adoro escrever assim. Acho que depois de ler isso vocês vão entender o quanto "psycho lunatic" sr. Haner está! hahaha
Continuem comentando (to amando demais) e divulguem para os amiguinhos <3
Espero que gostem desse!

Capítulo 4 - Just in time, in the right place


“And just in time, in the right place, suddenly I will play my ace.”

Eyes On Fire - Blue Foundation

(E bem na hora, no lugar certo, de repente jogarei meu Ás) 

 

POV: Brian

 

Buried Alive - Avenged Sevenfold

“I feel I’m walking a fine line 

Tell me only if it’s real

Still I’m on my way”

(“Eu sinto que estou andando em uma corda bamba

Apenas me diga se isso é real

Ainda estou a caminho”) 

 

Encontrei os meninos e parte da equipe técnica já no portão de embarque. O avião já estava no local e não demoraria muito para que o portão abrisse. Me aproximei deles, ainda de óculos escuros e imediatamente Matt me avistou. Ele acenou calmamente para mim e eu percebi que ele desconfiava de algo. Provavelmente Michelle ligara para Valary. 

A esposa do meu amigo segurava Cash no colo, com River entre suas pernas e conversava com os irmãos Berry, os três estavam um pouco afastados dos meus amigos e pude ver que ela me dirigiu um olhar desconfiado por cima do ombro. Matt, Zacky, Johnny, Brooks e Dan conversavam animadamente, parando quando eu me aproximei.

— E ai cara, tudo bem? — Perguntou Zacky sorrindo levemente.

Eu assenti, sem dizer nada, me sentando em uma das cadeiras livres. De repente, Brooks se levantou e disse, com um uma expressão um pouco contida:

— Vou procurar um banheiro, antes que o portão abra. 

Então ele se afastou, sem olhar para trás. Naquele momento, eu percebi exatamente o que tinha feito: ele devia desconfiar de toda a bagunça que estava minha vida e me deu privacidade para conversar com meus amigos. A relação da banda era muito próxima, nós confiávamos tudo uns aos outros, o que me fazia imaginar como deveria ser desconfortável para Brooks se envolver em tudo aquilo, depois de tudo o que passamos juntos, como uma família.

— Michelle ligou para Valary. — Disse Matt, se sentando ao meu lado, com a mão em meu joelho. — Está tudo bem com você?

— Não sei o que ela falou para Val… — eu disse lentamente, olhando nos olhos dos meus amigos ao tomar uma decisão. — Mas eu vi aquela merda de vídeo.

— É… — suspirou Zacky — Entende porque não queríamos te contar?

— Entendo. — Eu disse — Mas não façam isso de novo, por favor. O que eu fiz é ridículo, eu preciso saber e aguentar as consequências. Vocês não podem me proteger de mim mesmo.

Johnny colocou a mão em meu ombro, me dando tapinhas amigáveis e Dan se agachou em minha frente.

— Cara, eu imagino o quanto deve estar sendo difícil para você, mas você e Michelle se amam e não podem deixar que isso destrua o que existe entre vocês. 

“Se ainda existe alguma coisa”, pensei, mas não me atrevi a dizer em voz alta.

— Eu a amo. — Eu disse com sinceridade. — Vai demorar um tempo para eu superar tudo isso, principalmente porque ainda não entendo seus motivos, mas vou conseguir. O que mais me deixa… Puto, nervoso e com vontade de socar a mim mesmo é o que eu disse sobre ela… Eu sou um merda, um filho da puta e não posso nunca mais tratar ela assim. Além de tudo, eu esfreguei a verdade na frente dela, praticamente peguei cada garota que eu já transei e joguei em cima da minha própria esposa. Eu sou um filho da puta. 

Um silêncio de cumplicidade se instalou entre nós e eu continuei, muito sério:

— Se por acaso vocês me virem xingando minha mulher novamente, por favor, me deem um soco. — Eu não disse nada sobre as traições. Velhos hábitos são mais difíceis de mudar e, sinceramente, eu ainda achava que era aquilo que mantinha nosso casamento de pé. Mesmo que aleijado e com dificuldade de caminhar. Afinal, pelo menos eu não passava vontade, não sofria nenhum ressentimento e eu não me contentava com pouco.

— Pode deixar. — Johnny foi o primeiro a concordar.

Eu comecei a rir, enquanto ouvia os meus amigos concordando.

— Eu amo vocês pra caralho. — Eu disse tirando os óculos de sol e me sentindo um pouco mais leve.

Dizer que aquela turnê foi uma tortura para mim é pouco. Em meio aos shows, aos deslocamentos entre as cidades e às festas, era difícil pensar em qualquer coisa que não tivesse relação com a banda. De qualquer maneira, sair de casa brigado com Michelle deixava tudo errado: meus solos de guitarra não soavam bons aos meus ouvidos, embora eu continuasse ouvindo a aclamação dos fãs, a bebida tinha um gosto amargo, literalmente e figurativamente, e só tinha a função de me entorpecer para que eu pudesse aguentar todas as obrigações e, por fim, eu estava traindo mais do que o normal. Ou mais do que pessoas normais achariam saudável.

É de se pensar que brigar com Michelle me deixaria mais sedento, que eu exagerasse bem mais e a traísse, mas esse era o único problema que eu enfrentava que não tinha qualquer relação com a briga com minha esposa. Aquela garota era a razão de eu querer todas as mulheres que eu achava minimamente gostosas. Não só porque desejá-la daquele jeito me deixava de pau duro o dia inteiro, como também, eu trepava com todas elas só para poder ter a satisfação de fechar os olhos e imaginar que eu estava com quem eu verdadeiramente queria.

Não saber quem ela era me deixava louco: eu precisava de um nome e de um rosto. E sonhar toda noite não me ajudava, apenas piorava minha obsessão. Por várias vezes, quase parei garotas na rua achando serem ela, embora eu soubesse que ela provavelmente nem existia. E, mesmo sabendo disso, eu continuava a procurá-la e continuava a vê-la em todo lugar. 

Uma dúvida que martelava em minha cabeça, que me tirava o sono e me fazia beber ainda mais era: o que ela tinha de especial para me afetar tanto? Qual era a razão para aquela garota, que eu nem conhecia, não sair da minha mente? 

Eram muitas perguntas e nenhuma resposta, mas eu sabia de algo: eu a desejava. Mais que qualquer coisa. 

 

“This is now your life

(What you feel like?)

Die buried alive

(Let me dig taking your soul).”

(“Agora esta é sua vida

Como você se sente?

Morra enterrado vivo

Deixe-me cavar tomando sua alma”) 

 

Quando eu era invadido por esse tipo de pensamento, automaticamente procurava algo para beber. Não que a bebida fosse afastá-la da minha mente, mas pelo menos afastava a dor. Tentei ao máximo me controlar, agir normalmente com meus amigos e fingir que estava tudo bem, além de tentar esconder o quanto eu estava alterado quando bebia. Apesar de eles saberem que minha vida estava uma merda, eu queria mostrar que estava superando , estava tudo normal e nada mudara.

A melhor solução que encontrei para resolver isso era escolher alguma garota qualquer durante os shows, como era meu costume, levar ela para a festa, dançar, flertar e fingir que era exatamente aquilo que eu queria fazer, então subir para o quarto e, sem qualquer enrolação, fazer o que tinha que ser feito. Afinal, os boatos correm e não seria nada normal se eles ouvissem que, de repente, Synyster Gates perdeu a vontade de transar. E eu realmente não perdera a vontade, porque eu não queria fazer aquilo, pelo menos não com quem eu fazia, mas transava e, no fim de tudo, gostava. O que me dava maior prazer era imaginar que eu estava com aquela garota, sem rosto e sem nome, enquanto transava com uma fã qualquer. E, quando eu conseguia fechar os olhos e ver aquele corpo em cima do meu, eu rapidamente chegava ao clímax. 

Eu era um maldito filho da puta, um marido de merda, um guitarrista viciado em álcool e sexo, um doente fodido, um merda que deixava garotas loucas, um perfeito estereótipo de rockeiro. Um psicopata lunático.

Como Val e Matt estavam o tempo todo juntos, eles quase nunca iam para as festas após os shows, então eu também não tinha que me preocupar com Michelle. Embora eu, com certeza, também estivesse sendo traído e nem queria saber com quem: seja ginecologista, encanador, bombeiro, vizinho. Ao ter esse tipo de pensamento, eu refletia sobre o quanto o nosso casamento era errado.

Depois de fazer o que tinha que ser feito, eu chamava um táxi para as meninas, inventando alguma história sobre o ciúmes de Michelle e as mandava embora, então ficava a noite toda bebendo até adormecer. E era quando eu era invadido pelos sonhos. Quando eu não fechava os olhos no ato com uma garota qualquer e imaginava que estava com ela. E era exatamente por isso que eu precisava de um rosto. Eu queria imaginar seu rosto, seus lábios beijando os meus, seus olhos me observando durante o sexo e sua boca chupando… “Vai se foder, pára de pensar nisso, Brian!” 

Isso tudo era absolutamente doentio. 

Ainda assim, o vídeo que vazara martelava a minha mente e, eventualmente, meus amigos se mostravam preocupados comigo, mas eu continuava a fingir que estava tudo bem. E, se por acaso algum deles entrasse em meu quarto, eu rapidamente escondia todas as bebidas, então eles não tinham ideia do quanto eu estava bebendo.

 

“Followed dreams reaching higher 

Couldn’t survive the fall”

(“Segui meus sonhos alcançando o auge

Não pude sobreviver à queda”)

 

Certo dia, em um dos meus sonhos, ela estava longe, por algum motivo eu não podia ver seu corpo todo, mas podia ver alguns detalhes: ela usava uma camiseta preta estampada e bem curta, deixando um pedaço da pele de sua barriga a mostra e usava uma calça, também preta, seu braço esquerdo era coberto por uma tatuagem — diversas rosas azuis que iam do seu ombro, levemente descoberto, até o meio de seu braço. 

Percebi que eu segurava algo e, quando olhei pra baixo, vi que era minha guitarra. Um desespero pontual passou por meus pensamentos, já que eu não lembrava de ter chegado ali. Será que estava tão bêbado assim?

Eu tocava o solo de Buried Alive, ao som dos fãs gritando ‘Gates, Gates’ à plenos pulmões. A sensação de estar no palco me invadiu e, ainda tocando, eu a procurei novamente na multidão. A encontrei com facilidade pela roupa, mas desta vez, quando a olhei, havia algo diferente: eu conseguia ver seu rosto. 

Olhei diretamente em seus olhos e acordei suando.

 

“Take the time just to listen

When the voices screaming are much too loud

Take a look in the distance

Try and see it all”

(“Dedique um tempo apenas para ouvir

Quando as vozes gritando estiverem muito altas

Dê uma olhada na distância

Tente e verá tudo.”)

 

Aquele sonho me destruiu. Eu finalmente tinha um rosto, mas vê-la em minha cabeça só aumentou minha obsessão. Eu sabia que estava ficando louco e que, grande parte, era porque eu bebia a todo momento. No meio dos shows, eu me surpreendia encarando cada garota na plateia, mesmo sabendo que ela poderia estar em qualquer lugar, poderia ser qualquer pessoa. Poderia não existir! Poderia ser uma freira e eu nunca poderia transar…

“Vai se foder, pára de pensar nisso, Brian!” Aquele virara o meu bordão para o meu eu obcecado, funcionava como um tapa na cara.

Seus traços simplesmente não saiam da minha cabeça e eu me surpreendia pensando neles a todo momento: seu rosto levemente alongado, um nariz pequeno e fino, olhos grandes, com um olhar penetrante, seus cabelos castanhos não muito longos, caindo em ondas sobre seus ombros, com pontas levemente acinzentadas e seu lábios irregulares, com o inferior um pouco mais grosso que o superior e uma cor avermelhada que parecia que havia passado batom.

Certo dia, no penúltimo show da turnê, em Porto Alegre, uma das garotas que tinha participado da “afterparty” com a banda se mostrou interessada por mim. Não esperei para me aproximar dela e puxar assunto. Depois que a conversa fluiu por alguns minutos, perguntei se ela gostaria de ir para um lugar mais privado comigo, jogando todo o charme que eu podia. Ela, é claro, concordou, assim, entramos em uma das salas de conferência do hotel, que estavam vazias. Eu a puxei até a sala de projeção e, afastando os objetos de cima da mesa, a mandei sentar ali. Nos beijamos por algum tempo enquanto eu, de olhos fechados, imaginava a garota em minha mente, pensava em seus lábios me beijando, seu braço tatuado abraçando meu pescoço, me puxando em sua direção. Quando eu senti que ela estava sem calcinha, cheguei em meu limite e a virei para comê-la de costas, enquanto seu corpo apoiava na mesa. Enquanto meu pau entrava e saía de dentro dela, a única coisa que eu conseguia imaginar era o rosto da minha garota se contorcendo de prazer, enquanto mordia seu lábio inferior.

Eu tentava resistir, mas minha mente não me permitia e, quando minha guarda abaixava, eu pensava nela. Em seu corpo, eu seu rosto, em seus lábios, cabelos, peitos… Eu estava ficando completamente maluco. Quando chegamos ao Brasil tudo piorou, em parte porque eu queria desesperadamente conhecê-la naquela turnê, apesar de saber que as chances eram mínimas, em parte porque eu queria que ela fosse brasileira. Eu sempre tive um fascínio por elas.

Com a minha falta de concentração, errava várias notas durante os shows e já virara alvo de piada, não só dos caras, mas também dos fãs. Embora ninguém tivesse a mínima ideia do que acontecia comigo: se eu sabia ser bom em algo, era em esconder meus sentimentos. Apesar disso, a turnê foi um sucesso e, mesmo exausto, maluco, sem fazer as pazes com Michelle e sem encontrar a garota, eu estava animado para o último show.

Era hora de ir à São Paulo. 

 

“Sober up quick 

Psycho lunatic”

(“Fique sóbrio rapidamente

Psicopata lunático”)

 

POV: Jenny 

 

Afterlife - Avenged Sevenfold

“Like walking into a dream, 

So unlike what you’ve seen.”

(“Como andar em um sonho,

Tão diferente do que você já viu”)

 

Cliquei no vídeo do Youtube, aumentando o volume rapidamente. Enquanto isso, minhas amigas se trocavam e começaram a cantar, enquanto “Afterlife” tocava por todo o quarto, saindo das caixas de som do computador. Comecei a me maquiar, passando um pouco de sombra e lápis nos olhos, enquanto assistia ao clipe.

— Acho engraçado como você sempre pára o que está fazendo, pra ver as partes que gosta do clipe. — Comentou Sofia, enquanto puxava os shorts apertados pelas pernas.  

— Sempre fiz isso. — Comentei, ainda sem desviar o olhar do computador, enquanto Synyster Gates, de moletom sem mangas, delineador, piercing no nariz e cabelos espetados, passava pela tela.

Lembrei, de repente, que aquele clipe era o maior motivo para Luis brigar comigo: ele se irritava porque eu fazia uma cara de boba enquanto assistia. Me lembrei da conversa com Vini e, por um momento, a urgência de me livrar daquelas lembranças cresceu. Aquele era um dos principais motivos para que eu quisesse ir para o intercâmbio, o mais rápido possível. Automaticamente, balancei a cabeça, varrendo aqueles pensamentos da minha mente, pensando que, agora que eu decidira sair com Felipe, eu devia parar de pensar nos dois. 

A sensação que eu tinha era que aquelas duas semanas até a viagem demorariam anos. Eu sempre quisera conhecer a Itália, principalmente por estudar arquitetura e querer conhecer as construções antigas, mas, mais do que tudo, eu queria fugir dali e da minha antiga vida, de todas aquelas lembranças, porque Luis pertencera a cinco anos da minha vida, que sempre voltariam para me atormentar e que eu nunca teria de volta.

 

“So out of place don’t wanna stay, 

I feel wrong and that’s my sign.

I’ve made up my mind”

(“Tão deslocado não quero ficar,

Eu me sinto errado e esse é meu sinal.

Eu cheguei à uma conclusão.”)

 

Finalizei minha maquiagem rapidamente. Eu não queria perder muito tempo com aquilo se, dali a algumas horas, eu estaria em meio à uma multidão e ao calor, com a maquiagem escorrendo junto com o suor. Escolhi passar um batom vinho, que eu amava, porém, antes que eu encostasse em meus lábios, Synyster Gates começou o solo na tela do computador e eu, imediatamente, me virei para assistir.

Ouvi uma gargalhada sonora de umas amigas quando o solo acabou e, relutante, tirei os olhos da tela. 

— Que foi? — Perguntei, voltando para a frente do espelho para passar o batom.

— A sua cara quando assiste essa parte… — disse Carina em meio a gargalhadas — Parece que você tá tendo orgasmos.

— Não parece. Porque eu estou mesmo. — Eu disse, rindo e causando mais risadas das minhas amigas. — Vocês por acaso já viram as expressões que esse homem faz? Parece que ele tá comendo alguém e eu não sou obrigada a me controlar. 

As três, como se fossem gêmeas, reviraram os olhos. Nós quatro gostávamos da banda, mas, elas apenas ouviam a música, enquanto eu era bem mais obcecada que elas: pela banda, pelas músicas, por tudo. Uma sensação estranha percorreu meu corpo e eu lembrei que dali algumas horas os veria ao vivo novamente. Fiquei lembrando da sensação, enquanto passava o batom no lábio superior. 

— Acho que ainda não caiu a ficha, que os verei de novo. Dessa vez o mais perto possível. — Eu disse, virando para olhar minhas amigas e causando mais gargalhadas ainda, quando elas viram minha boca com apenas um lábio pintado.

Comecei a rir também. A crise de riso durou diversos minutos, enquanto tentávamos nos recuperar. Aquele momento era um dos que eu sentiria falta, eu agradecia todo dia por ter minhas amigas à minha volta e ficar sem aquilo em minha rotina seria doloroso, mas suportável. Quando conseguimos parar de rir, o clipe já havia acabado. Eu corri para apertar o botão para ver novamente. A música reiniciou enquanto eu, finalmente, conseguia terminar de passar o batom. 

 

“Fallen into this place, just giving you a small taste

Of your afterlife here so stay, you’ll be back here soon anyway.”

(“Caído neste lugar, apenas dando a você uma pequena amostra

Da sua pós-vida então fique aqui, você voltará em breve de qualquer maneira.”)

 

Me olhei no espelho depois de colocar o sapato e fiquei satisfeita com o resultado: os shorts de couro preto e cintura alta eram meus preferidos, eu tinha sorte que aquele dia estava um tempo ameno, nem frio nem calor e a regata preta larga, que deixava quase todas as minhas tatuagens a mostra, inclusive a mais recente, no antebraço direito. A minha bota de cano curto, sem salto e tão confortável que parecia que eu estava descalça, completava meu conjunto perfeitamente. 

Sorri quando me lembrei da história daquela regata. Eu tinha um hábito engraçado de comprar todas as camisetas de bandas que eu gostava em modelo masculino, e cortá-las para dar uma aparência mais feminina e despojada. Aquela camiseta em questão, era uma caveira, cercada de chamas azuis e encimada por “Avenged Sevenfold” escrito na fonte tradicional. Eu cortara sua gola, tirando o elástico que me sufocava, suas mangas, abrindo a costura para formar uma regata com as cavas bem grandes, que deixavam toda a lateral do meu corpo a mostra, inclusive meu sutiã e minha tatuagem. Além de também diminuir o comprimento da camiseta deixando ela mais curta na frente e mais comprida atrás.

Lembrei da minha avó que me ajudava quando o assunto era costura e uma saudade inexplicável me dominou. Eu contara a ela que iria passar alguns meses longe e lembro de ver as lágrimas crescendo em seus olhos claros, mesmo que ela tivesse ficado feliz por mim. Era muito difícil ficar longe de alguém, mesmo que só por alguns meses, que ajudara a me criar por tanto tempo. 

 

“Please understand I have to leave and carry on my own life”

(“Por favor entenda eu tenho que partir e seguir com minha própria vida.”)

 

Existiam muitas pessoas que eu amava no Brasil, principalmente da minha família, mas eu precisava ir embora, mesmo que fosse doloroso para mim e para eles. Minha mãe e meu pai foram compreensivos e comemoraram quando eu recebi a notícia de que conseguira a vaga, assim como toda a minha família, apesar de que eu percebera um brilho em seus olhos, uma vontade de dizer que iriam comigo. 

No fundo, eu sabia que provavelmente não seriam só alguns meses, que eu poderia conseguir um bom emprego, talvez até conhecer alguém e eu nunca mais voltaria. Por um lado, eu não desejava isso, porque queria voltar para a minha família, por outro era o que eu mais queria. 

Lembro até hoje do dia que minha mãe me ligou para dar a notícia de que eu havia conseguido a vaga. Por alguma razão, a faculdade italiana não me enviara um e-mail. Na verdade, eu recebera uma carta da minha faculdade do Brasil na casa da minha mãe, já que não havia mudado o endereço para o apartamento onde eu morava. Eu nunca mudara nada nos meus cadastros, porque sabia que não moraria muito tempo ali.

A história daquele apartamento era bem dolorosa e eu nunca gostava de pensar muito nela, principalmente agora que, eventualmente, um homem ou outro poderia passar a noite comigo lá. Luís e eu estávamos certos que demoraríamos a casar, mas queríamos morar juntos mesmo assim e ter uma vida a dois, mesmo que sem um casamento. Então, no meu penúltimo ano da faculdade, compramos um apartamento pequeno em um bairro bem localizado de São Paulo e apenas uma semana antes de mudarmos, o namoro acabou.

Como eu tinha uma renda mais estável e algum dinheiro guardado, eu quem dera a entrada no apartamento, por isso, depois do rompimento, fiquei com o imóvel. Aquele cubículo apertado, com uma sala minúscula e um quarto igualmente pequeno era tudo, menos um lar para mim. Cada objeto de decoração me lembrava de uma parte horrível da minha vida, mas mesmo assim eu não queria me livrar de nada. Mas eu havia feito um acordo com minha mãe e daria aquele apartamento para a minha avó, para ela montar uma oficina de costura, e ela venderia todos os meus objetos, resolvendo esse problema.

Infelizmente, a parte que ninguém conta sobre um relacionamento de colégio, é que não só ele não vai durar, como também, quando acabar, tudo ao seu redor vai te lembrar dele, por mais que tenha sido um relacionamento horrível, principalmente no final. O carro que você aprendeu a dirigir, quando ele estava presente te ajudando, quando você entrou na faculdade, a cama que ficaram juntos a primeira vez, o filme que assistiam durante o primeiro beijo, a escola que estudaram, o professor que torcia por vocês, todas as pessoas que você conheceu e perdeu a amizade quando o amor acabou, e até aquele vaso que fica bem na entrada do seu apartamento, o primeiro objeto de decoração que vocês compraram juntos, para a casa, que nunca seria um lar de verdade.

 

“I don’t belong here, we gotta move on dear, escape from this afterlife.

‘Cause this time I’m right to move on and on, far away from here.”

(“Eu não pertenço a esse lugar, nós precisamos se mudar, querida, escapar desse pós-vida.

Porque agora estou certo de seguir em frente e em frente, longe daqui.”) 

 

Balancei a cabeça, tentando afastar todos os pensamentos ruins para longe e comecei a cantar “Afterlife”, acompanhando minhas amigas. Tentei esquecer todas as minhas aflições e angústias enquanto pensava no que eu ia viver dali algumas horas, sentindo todos os pêlos do meu corpo arrepiarem quando lembrei que logo os veria ao vivo. Senti novamente tudo aquilo que vivi durante o Rock in Rio.

— Vocês viram o vídeo que estava circulando por ai? — Perguntou Sofia, enquanto examinava os cílios pelo espelho.

— O que o Synyster passa mal? — Perguntou Carina, logo recebendo uma confirmação da amiga.

Eu fiquei quieta, enquanto ouvia as minhas amigas conversarem.

— Tem um fórum na internet pra discutir se Michelle fez o aborto ou se ela realmente não queria ter filhos. Tem umas discussões gigantescas sobre isso. — Disse Sofia.

— Pensei que você só ouvisse a música. — Eu disse, intrigada.

— Sim, eu só ouço a música dele, mas você, que sempre conta as história para a gente, não quis nem saber o que estava acontecendo. Você nem viu o vídeo!

— Eu não vi. E não vou ver. — Respondi irritada, saindo dos meus devaneios. — Aquele cara que gravou é um babaca, só queria chamar a atenção. 

O assunto, que mal começara, se deu por encerrado, então continuamos a conversar sobre o show.

 

“Loved ones back home all crying ‘cause they’re already missing me.

I pray by the grace of God that there’s somebody listening.

Give me a chance to be that person I wanna be.”

(“Entes queridos em casa chorando porque eles já sentem minha falta.

Eu rezo pela graça de Deus que tenha alguém ouvindo.

Me dê uma chance de ser a pessoa que eu quero ser.”)


Notas Finais


E ai, o que acharam? Esse foi um capítulo bem introspectivo e acho que momentos assim são super importantes pra gente entender os personagens, principalmente a Jesse.
E o Brian tá completamente maluco né? Gosto assim hahaha
ENFIM, show se aproximando, FINALMENTE, será que Jesse e Brian vão finalmente se conhecer? hahaha
Espero que tenham gostado e até mais!!
Beijos,
Juuu


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