História Puer Magi Makoto Mágico - Prólogo

- Então você tem certeza do que está pedindo? – lhe perguntou com a costumeira voz impassível. Era estranho ele não mostrar nenhum sentimento ou emoção, mas o tempo convivido com ele mostrou que naquele pequeno corpo não habita nada além de um monstro que se alimenta da vida dos outros, é uma aranha que prende as vítimas em sua teia e aos poucos as vai desfazendo até não restar nada além de uma casca vazia e seca. 

O garoto que era observado passivamente pela criatura estava atordoado, ele não sentia mais o ar em seus pulmões e o coração estava prestes a explodir, sua cabeça doía, a visão estava ficando embaçada. Não conseguia pensar em nada, só conseguia chorar pela vida perdida que abraçava com força contra seu corpo, o menino de cabelos pretos e olhos verdes, uma pessoa inocente que acabou envolvido na trama do ser de pelos brancos e olhos vermelhos, morto enquanto tentava ajudar as pessoas. 

O mundo estava mergulhado em um grande caos. Não era normal uma bruxa conseguir aquilo, não se manter dentro do labirinto, mas agora havia uma solta pela cidade sobrevoando os prédios e espalhando seu ódio. Nascida da solidão seguia destruindo tudo pela frente, deixando devastação e morte, seu riso podia ser facilmente confundido com um choro desesperado e solitário, seus familiares seguiam a linha, nunca em grupo, sempre separados e escondidos atacando das sombras, os rostos chorosos e distorcidos em pura tristeza enquanto repetiam “Fique, seja meu amigo! Não me abandone!” 

“Por quê...?” – o garoto se perguntava. – “Por quê isso foi acontecer?! Por favor, acorde! Rei, eu imploro, precisamos ajudar os outros. Precisamos ajudar as outras garotas!” 

- Como vai ser? – perguntou a criatura de novo. 

“Ainda... Ainda há esperança! As outras estão lutando, eu sei que vão conseguir! Rei, acorde, não me deixe sozinho aqui...” 

- So,zinho... 

- Ele te abandonou. 

- Nunca mais vai voltar. 

- Fique com a gente. A gente não vai te abandonar. 

- Seja meu amigo. 

- Não vá embora. 

- Sozinho... 

O choro da bruxa foi mais forte neste momento, um grito de pura dor, seus familiares se mostravam de seus esconderijos encarando a cena atraídos pelo choro do garoto, observavam enquanto lançavam as palavras amaldiçoadas sobre a vítima, esperando ele se render para finalmente atacarem. Ele estava sozinho, tinha sido abandonado, podiam ser amigos dele. 

- Saiam! – o garoto berrou pras criaturas, porém elas não se sentiram desafiadas, e sim encorajadas. 

- Não posso esperar para sempre. 

“Onde estão, garotas?” 

Como resposta a sua pergunta uma delas foi jogada contra um edifício e despencou dezesseis andares até cair no chão. Pelo seu estado não podia mais ser chamada de humana, era uma massa de carne exposta com um olho pendurado no globo ocular e alguns resquícios de pele. Ela gemia, sentia a dor, algo que ela não sabia mais o que era 

- Aju... da... – ela balbuciou tentando se levantar, contudo já sem forças para isso. 

Os familiares que observavam o garoto chorão voltaram suas atenções para ela e avançaram como animais selvagens atrás de uma presa moribunda. Ela não pode se defender, as criaturas pularam em cima dela sem piedade, a morderam, arranharam, a devoraram, arrancavam seus músculos e nervos enquanto ela ainda respirava, não deram um golpe para finalizar o sofrimento dela antes, somente tornaram seus últimos momentos em um terror pior ainda. 

O garoto encarou tudo assustado, não podia fazer nada, não tinha nenhum poder como elas. E se todas foram derrotas, não havia mais esperança. Rei era o único fio que ainda o prendia na terra, que o fazia querer seguir em frente mesmo com todas as adversidades, mas ele se fora também. Ninguém podia fazer mais nada, seria questão de tempo da bruxa consumir a cidade e avançar por todo o mundo, ele seria largado sozinho para ser devorado pelos familiares, o mesmo destino que algum sobrevivente infeliz teria. 

Outra pontada de dor no peito, um dos pulmões estourou, a dor era alucinante. Não demoraria para desmaiar pela falta de oxigênio, seu coração estava se esforçando ainda tentando bombear mais sangue misturado a adrenalina para que ele não desmaiasse, mas era questão de tempo. 

- Decidiu? 

Em seus últimos momentos ele encontrou forças para conseguir falar, soltando o corpo do garoto que amava e se pondo de pé cambaleante mesmo com seu corpo se negando, encarou a criatura horrenda e falou: 

- Sim, eu quero mudar tudo isso. Eu não vou permitir que o machuquem de novo. 

- O contrato está fechado. 

Naquele instante suas esperanças estavam depositadas em um acordo feito com o diabo.