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História Puer Magi Makoto Mágico - Eu jurei te proteger - parte IV


Escrita por: vccotrim

Notas do Autor


É isso aí.

Capítulo 7 - Eu jurei te proteger - parte IV


Os tiros dos mosquetes ajudaram a afastar a garota de Nagisa, dando tempo para que Mami a resgatasse com suas fitas. 

Nagisa já não tinha mais condições de lutar, assim fora amparada nos braços da loira, sua magia se desfez, voltando ao costumeiro uniforme escolar do fundamental. 

- Uma caiu. Agora só falta você – zombou a agressora se aproximando de Mami com as correntes em mãos. 

- Não sei o que você quer com Makoto, mas jamais permitirei que chegue perto dele – Mami disse em resposta. 

Ao final da sentença outra fileira de mosquetes se formou atrás da loira tendo como único alvo Sayuri, que corria feroz com suas correntes prontas para serem lançadas. Apesar de lutar usando duas correntes com espinhos na pronta, Sayuri mostrava uma habilidade tremenda com a arma, suas mãos dançavam várias vezes criando uma cadeia de ricochetes que supriam suas deficiências, atacando em botes como uma serpente e criando uma barreira entre ela e os projéteis. Porém não era o suficiente para parar Mami, sua vontade de lutar só aumentava, seu lado protetor só ganhou forças, se já tinha sido ruim ver Nagisa não ter chances na luta, seria ainda pior saber que Makoto foi morto sendo caçado como um animal. 

Com ambas na sua melhor forma, o embate não podia ser mais acirrado, os espinhos e balas atacavam por todos os lados, criando cicatrizes pelo ambiente, se moviam com leveza e precisão na tentativa de ganharem terreno e avançar para o golpe final, mas pareciam que não chegariam a lugar nenhum. Não havia limites para o exército de armas de Mami e nem para o contorcionismo das correntes de Sayuri. 

Sayuri atacou como se portasse uma lança, segurando a seta na ponta lançou com toda sua força na direção da veterana, um ataque rápido e certeiro, contudo não contava com o reflexo dela. Mami interceptou a tempo o ataque, seus dedos arderam ao parar o espinho por conta do impacto, mas não era hora para se preocupar, sua mão agilmente puxou o corpo da corrente e a enrolou em seu antebraço, tencionando a liga. E então puxou com tudo, trazendo Sayuri em sua direção como um foguete e a derrubou com um chute na boca do estômago. 

“Isso encerra com tudo” – pensou Mami vendo a oponente caída, não haveriam mais truques e a lição teria sido aprendida. 

Mas Mami não podia estar preparada para o que veio em seguida. 

Ainda derrubada no chão uma nuvem de partículas negras saiu do corpo de Sayuri, dando origem a uma cópia idêntica à original em pé. Uma terceira surgiu, em seguida outra, outra e mais outra. Quando Mami percebeu já estava cercada por dez cópias da garota. Sayuri se levantou e encarou uma Mami Tomoe assustada e falou com um sorriso afiado estampado: 

- Vamos ver se você também lida com isso! 

As onze Sayuri atacaram simultaneamente. Mami tentou reagir, mas desta vez suas habilidades não foram o suficiente, era uma confusão que não conseguia acompanhar, um clone passava por cima, outros esbarravam pelos lados, tirando o senso de direção dela, até que a corrente fria a capturou e lançou girando contra um carro. A loira afundou no veículo e ficou presa no metal. Precisou de um segundo para recuperar os sentidos, ao abrir os olhos só pode ver cinco Sayuri prontas para o ataque final, o brilho nos espinhos das correntes era tão real e afiado que foi inevitável o frio percorrendo sua espinha. Era o fim. 

De repente a salvação chegou. Em um piscar de olhos todos os clones foram desintegrados e atrás de Sayuri estava Makoto, ela nem percebeu a presença do doutro, somente quando ele bateu com a parte lisa do punhal da lança na nuca dela, a mandando em direção ao asfalto da calçada. Mokoto pousou atrás e encarou a figura desmaiada, não demoraria para ela recuperar a consciência, mas era tempo suficiente para ajudar Mami a se soltar do carro. 

- Obrigada – a veterana agradeceu assim que se viu livre. 

Sua forma de garoto mágica desapareceu, a Joia da Alma voltou ao formato de anel no seu dedo anelar. 

- Acho que gastei energia demais – ela comentou mais consigo mesma. 

Makoto procurou mexeu no bolso da calça do uniforme sacando uma Semente do Rancor e a entregou. 

- Obrigado – ele disse antes de sair na direção de Nagisa Momoe. 

A garotinha de longos cabelos prata ainda estava desacordada no lugar seguro que Mami a deixara, a respiração ritmada indicava que ela só estava se recompondo com uma soneca pesada, também teve um longo trabalho o ajudando. Sem acordá-la, pegou no colo e se aproximou de Mami que deu uma risada abafada se divertindo. 

- Droga... – ouviram uma voz pouco grogue reclamando. 

Sayuri tinha acordado e encarava o trio com fúria. Mami ficou em alerta e Makoto lançou o olhar mais duro que podia, mas não a abalou. Incrivelmente, a garota recolheu as armas. 

- Podem levar ela – ela falou olhando na direção de Nagisa. – Não ataco uma criança indefesa. Depois resolvo minhas diferenças com vocês. 

E assim a agressora partiu diplomática. 

Os ombros de Makoto relaxaram, o perigo passou e podiam descansar um pouco. 

- Makoto – Mami o chamou. – Precisamos conversar. 

 

A lua já estava no alto quando puderam sentar em uma praça para poderem conversar. Era o melhor lugar para falarem em paz, o local estava vazio e Kyubey não iria interferir, fora que tinham a certeza de que Sayuri não voltaria mais por aquele dia. 

- Então, o que quer conversar? – perguntou Makoto ainda esperando que Mami se pronunciasse, mas até então ela não tinha falado nada, parecia um pouco indecisa sobre o que deveria dizer, mas já que não dava para evitar decidiu começar. 

Soltando um suspiro para tirar a tensão, Mami começou. 

- Queria pedir desculpas por ter falado com você daquele jeito. 

- Não tem nenhum problema – ele respondeu de antemão. – Você não estava errada. Eu agi errado. 

Mami balançou a cabeça discordando e continuou com seu sorriso maternal. 

- Diria que você exagerou, mas não fez nada de errado, sempre deixou claro que nunca gostou de Kiyubey e entendo que deve ter suas razões para tal. Mas entendi o que a razão. É ele, não é? 

Makoto não respondeu, desviou o olhar melancólico e apertou o banco de madeira. Esta era a resposta. 

- Também teria feito o mesmo se fosse a pessoa que amo – Mami prosseguiu. – Nunca vou esquecer do dia que você bateu no apartamento desesperado para que eu o treinasse. Fiquei assustada porque nunca o tinha te visto, não tinha a mínima ideia de como soube onde eu morava e meu nome, na época pensei que fosse por causa de Kyubey, que ele tinha falado, mas com o tempo percebi que não, você sabia de bastante coisa, coisas que não deveria saber antes de te contarem. Enfim – ela suspirou. – Eu o treinei, você foi um bom aluno, e também foi minha esperança. 

- Makoto-san – ela o chamou de novo e voltou seus olhos lacrimejados para a lua cheia no alto do céu noturno –, você foi meu primeiro amigo, o primeiro companheiro de luta... Sei que tento parecer forte, mas eu estava assustada, toda noite só podia chorar sozinha porque não tinha com quem me abrir, parecia que eu estava perdida no mundo. Mesmo andando pelas mesmas ruas, estudando na mesma classe, as pessoas eram estranhas... eu era a estranha. Perdida entre as duas realidades. Aí você apareceu e nunca saiu do meu lado, lutamos juntos, uma dupla imbatível, eu tinha com quem me abrir e que me entendia por completo. Então veio Nagisa, uma garotinha maravilhosa que sempre deixa o jeito despreocupado e comilão mais leve. Fu fu fu. 

- O que quero dizer, é que você me ajudou muito e seu desejo é o que queima dentro de você, sua força vital. Impedir Kyubey de introduzir Rei nesta vida de luta, esperança e desespero não seria justo, seria jogar seus esforços no lixo. E também não é uma vida que eu deseje para os outros. Por mim, não haveria mais isso, todos nós teríamos uma vida normal de estudantes. Sem bruxas, sem garotas mágicas... Que o mundo fosse como pensávamos que era antes do contrato. 

- Mas gostaria de saber porquê de tanta desavença com Kyubey. O que aconteceu? 

Makoto voltou seu olhar novamente para a veterana, em seu rosto um sorriso de gratidão e o olhar melancólico mostrava um brilho de esperança, de felicidade. Estava grato com as palavras de Mami, se sentiu reconfortado, acolhido, e compartilhava dos mesmos sentimos. Antes de bater na porta dela, estava completamente sozinho, Rei ainda não tinha chegado na cidade – nem mesmo sabia quem ele era, também. Todo o tempo que os dois passaram juntos comendo bolo e lutando, brincando ao lado de Nagisa e comemorando com bolos o salvou, manteve seu espírito e corpo preparado para a verdadeira missão. E com Rei agora, estava tudo completo. Precisava ser honesto com ela. 

- Mami, você nunca achou estranho ser só isso? – ele perguntou sentindo o coração pesar. Não podia falar demais, mas também não podia mais esconder as coisas. 

Mami o olhou confusa. 

- O que seria estranho, Masaki-san? 

- Kyubey vem e oferece um milagre com um preço muito baixo – Makoto explicou, queria que ela entendesse de alguma forma, precisava ser cuidado com suas palavras. – Nós lutamos contra as Bruxas e temos todos esses poderes. Não que enfrentar elas seja algo fácil, sei quase perdemos nossos pescoços várias vezes, mas ainda assim, eliminando as bruxas protegemos todos e podemos viver em segurança também. 

- Não tinha pensado por esse lado – a loira respondeu. – Entendo o que quer dizer. Mas não é só isso, né? 

- Ele vai atrás de Rei não importa o que aconteça – Makoto falava sentindo uma mão invisível brincar com seu coração a cada palavra. – Mesmo que eu tenha tirado a memória dele, Rei... 

- Tem um talento natural – ela completou. – Deu para sentir depois que saímos do labirinto, ele emana uma aura poderosa, um dom grande que ainda pode vir a crescer, e se lapidado pode ser um dos garotos mágicos mais fortes de todos. Você continua sendo o segundo – ela finalizou brincando dando uma risadinha divertida. 

- Sim... – ele concordou com um suspiro triste. – Kyubey não é uma pessoa confiável e este mundo de magia não é um sonho, é praticamente um pesadelo quando lutamos, não quero ele dentro disso, preciso proteger ele o máximo possível. 

Mami se aproximou do aprendiz e pousou a mão no ombro caído do ruivo, afagando em um gesto de acolhimento e consolo. 

- Pode parecer idiota o que vou dizer, mas... – Mami começou tentando escolher as melhores palavras. – Makoto, não seria mais fácil de proteger Rei o trazendo por nosso mundo? 

Makoto olhou com espanto para ela, mas antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, Mami continuou: 

- Não estou falando para ele fazer o contrato, seria a coisa mais idiota de se fazer, ainda mais sem um motivo real – explicou se perdendo nas últimas palavras, mas logo voltou a realidade em fração de segundos. – O que quero dizer é: devolva as memórias dele e o apresente nosso mundo, mostre a realidade, explique suas razões para não confiar no Kyubey, tente o convencer ao máximo para não assinar apresentando os dois lados da moeda, e estando ciente do que pode acontecer ele estará mais preparado para os perigos que podem surgir e você, estará mais preparado na hora de o salvar. Não quer que o que aconteça no shopping ocorra de novo, né? Se Kyubey não tivesse feito o elo entre vocês naquele momento, você não teria percebido que ele e Yumiko acabaram em um Labirinto. Poderia ter sido tarde demais. 

Apesar do tom sério, era mais um conselho. 

Makoto ficou em silêncio por alguns segundos pensando nas palavras dela. Talvez... 

- Não precisa me dar uma resposta agora – ela falou com seu costumeiro tom maternal. – Preciso ir, ainda tenho que fazer a lição de casa. Enquanto você, Masaki-san, descanse bem e pense direito no que te falei. Respeitarei qualquer que seja a decisão. Lembre-se, você não está sozinho, Nagisa e eu estamos aqui para te ajudar, como você nos ajudou. Adeus. 

Após um curto aceno, a loira partiu deixando Makoto sozinho com seus pensamentos. Era uma decisão difícil de tomar, precisava tomar suas decisões com cuidado, não podia se permitir nenhum erro. 

“Desta vez!” – pensou decidido. – “Desta vez eu o salvarei e garantirei que tenha uma vida feliz!” 

 

Rei Toujou caminhava de volta para casa após o término das aulas. Tinha sido convidado pelos garotos da turma pra irem a uma lanchonete e depois jogar boliche, mas deixara passar a oportunidade. Era sexta, precisava deixar tudo pronto para sábado, iria impressionar Makoto de um jeito que ele nunca poderia esperar, se já estava apaixonado, agora então iria cair aos seus pés implorando para ficarem juntos por toda eternidade. No entanto, talvez este encontro não fosse acontecer. 

 

Durante o almoço, Makoto o chamara para conversarem no terraço – pelo tom e expressão não deu para ignorar, parecia algo realmente muito sério. E era. 

- Rei, você não tolera mentiras, não? – foi a primeira pergunta assim que tinham chegado. 

Makoto estava diferente do usual quando estavam juntos. Ele ficava tímido, mal conseguia formar uma frase sem gaguejar uma vez ou outra e se segurando ao máximo para não falar nada que o desagradasse de alguma forma. Desta vez estava sendo direto e reto, havia amargura e tristeza na voz e sua expressão corporal era a de alguém encurralado, que tinha medo e estava sem opção do que fazer. Nem mesmo o estava olhando, estava encostado na grade encarando os edifícios abaixo. 

- Eu sei que não – Makoto respondeu a si mesmo como se tivesse perguntado algo idiota e constatando o óbvio. – Se tem uma coisa que você nunca gostou foi que te enganassem e escondessem alguma coisa, sempre teve o péssimo hábito de querer tudo para ter controle sobre a situação, mas... às vezes se frustrava por causa disso. 

Rei não estava gostando do rumo da conversa, contudo, não podia dizer que Makoto estava errado, foi um hábito que adquiriu conforme tomou consciência da realidade, quanto mais claras as coisas forem, mais fácil era de se lidar com a dor e a decepção que podiam vir, odiava ser pego de surpresa, nunca sabia como reagir na hora. 

- Onde está querendo chegar? – perguntou após o silêncio esmagador tomar conta, que mesmo tendo durado míseros segundos ficou tão denso quanto uma neblina. 

Makoto voltou-se para ele, finalmente o encarando nos olhos, e pode notar a coragem que estava reunindo para ter aquela conversa, estava decidido a não voltar atrás e ser totalmente verdadeiro. 

- Hoje, antes do jantar, eu vou passar na sua casa para termos uma conversa franca, assim poderá decidir se quer mesmo sair comigo ou não. 

“Se sou uma pessoa desprezível ou não...” 

Não foi um pedido, foi um ultimato. Antes das oito horas Rei ainda estaria sozinho em casa, tornando o ambiente propício para se falar o que precisava sem medo de interferência. Bem, ignorar a decisão de Makoto seria grosseria da sua parte e estava curioso para saber o que ele tinha para lhe falar de tão importante. 

- E porque não pode ser na sua casa? – Rei rebateu imediatamente. Até onde sabia, Makoto  morava sozinho. 

- Meu apartamento está uma zona, ainda tenho que tirar muita coisa das caixas e organizar tudo – Makoto explicou um pouco envergonhado. 

- Então tudo bem – Rei concordou sem mais perguntas, não seria bom já começar duvidando antes de ouvir o que o outro tinha a dizer. – Vou te esperar entre sete e oito horas. Se chegar atrasado, não vou ouvir nada do que tem para me falar e nosso encontro estará cancelado, sem mais, nem menos. Mas se chegar adiantado, ganhará pontos comigo – brincou, mas deixando a mensagem clara, assim o ruivo teria mais motivos para resolver esta questão de uma vez. 

 

Em suma, foi uma conversa estranha na sua opinião, não sabia o que poderia haver de tão urgente que pudesse estragar o encontro dos dois, mas se Makoto estava dizendo, quem era ele para negar? 

“Ele é meio doidinho mesmo” – pensou rindo. 

Era isso que lhe chamava a atenção nele, entretanto. Makoto era diferente dos outros, quando estavam juntos era como se pra ele o mundo se acendesse e a vida ganhasse sentindo, seu jeito tímido é encantador e cômico. E tinha essa aura misteriosa o rondando, um grande segredo que viraria seu mundo de cabeça pra baixo caso descobrisse, um segredo que punha em risco a vida de todos. Um pensamento engraçado, se observar, pois que tipo de confidência importante um estudante do último ano poderia carregar? 

- ... 

Rei parou quando algo lhe chamou a atenção pela visão periférica, mas quando voltou-se para a direção do que seria o responsável por atiçar sua curiosidade, não estava mais lá. Decidiu por deixar de lado, devia ser só imaginação sua, nada demais, e seguiu com a caminhada. Mas de novo algo lhe chamou a atenção pelo canto de olho, desta vez conseguiu se virar a tempo. Era o reflexo de uma garota, na melhor explicação, não tinha ninguém atrás dele, mas a imagem se mostrava clara na vitrine da perfumaria. Com um sorriso ameaçador e afiado, passou o polegar pela garganta de uma ponta a outra. “Você está morto”, era o recado. 

Imediatamente Rei virou-se mais uma vez para trás, não era possível que não tivesse ninguém atrás dele, não era assim que a lógica trabalhava, e quando olhou de novo para a vitrine, a garota tinha desaparecido. 

Seus pés se mexeram involuntariamente, agora apressados, seu corpo sentia a urgência de sair de lá. Mesmo que fosse uma brincadeira tinha ficado assustado – o responsável estava de parabéns. Não fazia sentido o que acabara de ver, e era melhor prevenir do que remediar. Se alguém conseguia se comunicar assim mesmo oculto dos outros, o que não poderia fazer? Os olhos inquietos procuravam o rosto da garota pela multidão de pedestres, mas nada! 

“Onde? Onde? Onde?” 

A pergunta ficava se repetindo. Não importava o caminho, precisava chegar em casa o mais rápido possível, quanto mais tempo passava na a céu aberto, mais a sensação de urgência aumentava. Os segundos se tornavam minutos e os minutos, segundos. A distância até sua casa parecia ter dobrado de tamanho, suas pernas tremiam e os músculos já doíam, o suor lhe escorria pela testa e tudo gritava “corra!” 

“Calma, vai passar.” 

Uma voz falou ao longe. 

“Não tem com o que se assustar, tudo vai ficar bem agora.” 

Vai ficar tudo bem, Rei começou a repetir. 

“Isso mesmo, vai ficar tudo bem, eu posso te ajudar.” 

Ajudar? Como que poderia ajudar? 

“É só pular.” 

Pular? 

Não soube dizer quando percebeu, mas começou a notar que o caminho a sua volta não era o mesmo. Em meio a corrida, cego pela adrenalina, Rei acabou entrando em uma viela tentando chegar ao outro lado o mais rápido possível, não queria ser alcançado pela garota fantasma. Porém, em meio ao turbilhão, acabou se deparando com um Labirinto e sendo tragado pra dentro dele, agora estava preso em um cenário saído de uma mente caótica. 

“Nós vamos te ajudar. Você só vai ter que pular, ha ha ha.” 

Disse a voz outra vez. Apesar da risada e do tom querendo soar acolhedor, pode sentir a espinha congelando e o coração saltando pela boca. 

- Mas você é um ímã de Bruxa por acaso?! 

A fala enfurecida pertencia a garota fantasma que o ameaçou. Era uma garota mediana com os longos cabelos negros preso em um coque. Sua roupa tinha como base um maiô com duas caudas que iam até os pés nas laterais, os braços cobertor por duas mangas longas com abertura, na cabeça um enfeite de flor branca com o miolo rosado. 

Rei recuou com pressa para longe dela acabando por tropeçar no próprio pé. 

- Te assustei mesmo – ela riu diante da reação de Rei. 

A conversa foi interrompida pelo badalar de um relógio. Não, não era um relógio, era o alarme da escola avisando o fim da aula. O chão sob seus pés tremeu, mesmo a garota pareceu assustada por uns segundos até nota a escola que brotava do solo. 

“Mas que merda é essa?! 

Os alunos saíram apressados, eram carteiras ambulantes com caderno aberto em pé, minhocas de bolinha de plástico com chifres de lápis de cor e rabiscos estranhos que cantavam em uma língua estranha. Todos tinham uma única direção, a garota mágica e o humano assustado. O coro ganhava intensidade, as outras criaturas ganharam o poder de fala, os rostos ganharam expressões bizarras e distorcidas conforme se aproximavam. 

- Essa vai ser difícil – a garota reclamou sacando sua arma. 

Estava pronta para lutar. Seria difícil, a sorte jogava contra ela, os Familiares cercavam o caminho até a Bruxa, além do fato de serem muitos concentrados em um único lugar, não tinha tempo para vacilar, precisava estar atenta a cada movimento. 

“Não vai se deixar assustar por uma Bruxa do prézinho, né?!” – se repreendeu em pensamento. 

Apesar do corpo não mostrar os sinais, por dentro seu coração batia rápido como de um rato, a hesitação e instinto de correr gritava para fugir com Rei dali o mais rápido possível, mas não podia desmanchar a imagem de durona que pregou, precisava manter a farsa. E o quer que fosse acontecer, seria um castigo merecido, não? 

Todavia, antes que pudesse se mexer finalmente decidida a dar um fim naquilo, o chão foi cortado por uma cicatriz que se estendeu até o interior da Bruxa, que gritou em dor, e os Familiares foram jogados no ar sem saber o que os atingiu. A garota não sabia o que fazer, estava em choque, pois tudo aconteceu em um piscar de olhos, literalmente. Uma hora estava sozinha, de repente havia o dano de um ataque poderoso. 

A Bruxa continuava gritando, os Familiares se compuseram o mais rápido que podiam e voltaram em estado de alerta para dentro da progenitora. 

- ... 

Houve o som de um estouro, então outro e outro e finalmente, também em um piscar de olhos, a figura saiu de dentro da Bruxa abrindo caminho pelo que seria o terraço da escola, fazendo jorrar um estranho líquido que parecia rabiscos aleatórios de giz de cera. Pousando na frente deles estava o responsável, um garoto de cabelos ruivos raspados nas laterais e roupa de ídol com acessórios de um cavalheiro. 

- Makoto... – Rei sussurrou anestesiado pela presença do colega de classe. 

- Como eu queria que tivesse sido de outro jeito – ele lamentou com um sorriso desapontado. – Isso era uma das coisas que precisava te contar antes do encontro. 

Rei não conseguiu formular uma resposta, as palavras travavam na garganta e da boca somente gaguejos. 

Makoto desviou a atenção momentaneamente para a garota. O olhar para ela, no entanto, era mais duro, repreensivo. 

- Pelo visto Não mudou muito, Sayuri – ele comentou dando as costas para a garota mágica e se virando pra Bruxa. 

- Como você... 

Não era assunto pro momento. Makoto concentrou energia na sua lança, o metal brilhava e disparava estáticas, então ela se dividiu em duas, três, quatro, cinco...! E o tamanho dobrou. O seu golpe final. 

- Ultimo a Fare Clic! 

E as cinco lanças energizadas foram lançadas como boomerangs na direção da Bruxa. As lâminas cortavam toda estrutura e queimando onde seus raios atingiam. Não havia saída para o monstro. Seu último lamentar se encerrou com o domo que criou se despedaçando, devolvendo a realidade e se perdendo em uma pequena joia negra presa no arrojo de prata. 

Sayuri e Rei não conseguiam falar nada, estavam surpresos, admirados – principalmente assustados  

 

De novo o mesmo truque. Não se pode perceber seu movimento ou chegada. Rei, que estava sob a retaguarda de Sayuri de repente estava atrás do ruivo que o escondia com o próprio corpo. 

- Você é algum velocista? – Sayuri falou. Desta vez não conseguiu esconder o temor, sua voz saiu rouca e furiosa. Então uma lembrança piscou em sua cabeça. – Você... Foi você quem me nocauteou ontem usando o mesmo truque. O que é? Fala! 

- Vamos fazer como ontem e deixar a luta encerrada por hoje – foi i que obteve como resposta, a deixando ainda mais irritada. 

- Como é?! Eu não tenho medo de você! Não sei sua magia, mas posso vencê-lo! 

Seu coração quase parou. Sentiu o puxão no cabelo e a perda do peso do coque, seus longos cabelos negros se soltaram na costumeira cortina sedosa. Ela encarou Makoto com olhos arregalados. Como ele tinha feito isso?! Como seguiu se aproximar e pegar sua Joia da Alma sem ela perceber?! 

- Quer tentar? 

Sayuri trincou os dentes sentindo o amargo gosto da derrota. Não queria recuar, mas sabia seus limites. Enquanto o garoto fizesse seu truque barato sem ela o entender, não tinha como criar uma contra resposta. A melhor opção era se retirar. 

-Já entendi. Eu perdi. Ok, ok, estou indo. 

Apanhou a Joia da Alma quando Makoto a jogou de volta e começou a se afastar, voltando as roupas do cotidiano – um uniforme escolar. Antes de sair da viela, deixou sua ameaça. 

- Não pense que vai acabar assim. 

E se foi saltando pelas paredes e desaparecendo nos terraços. 

Sentindo que estavam seguros, Makoto desfez a transformação, trocando o uniforme de garoto mágico pelo colegial, então se voltou para Rei que ainda estava caído no chão e lhe ofereceu a mão. Rei, ainda atônito, aceitou sem tirar os olhos arregalados de surpresa do ruivo. 



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