História Puppets Of Destruction - Conselhos do Melhor Amigo

Na manhã daquela terça-feira - exatamente como Taehyung fazia em toda terça-feira - o rapaz levantou cedo. Sua pressa em sair da cama era mais motivada por não aguentar mais rolar nela envolto em pensamentos demais que o fizera ter diversos pesadelos e uma noite de sono conturbada do que por realmente se sentir disposto, logo levantando-se do leito quando o despertador de seus pais tocou e esperou até que eles saíssem para trabalhar e os funcionários da casa começarem a se ocupar com seus afazeres para rapidamente ir ao seu carro organizar seus produtos para o restante da semana.

Era sempre assim que fazia. Sempre que se via sozinho, desmontava o painel da sua pick-up, pegava o dinheiro e subia para o seu quarto escondendo-o em seu closet junto com a maconha que deixava ali para venda em quantias fracionadas e só pegava-o aos domingos que era quando pagava Jaesang, para em seguida, retirar alguns papelotes do fundo falso e colocá-los no compartimento oculto do painel.

Assim que terminou de arrumar suas coisas no closet e trancou-o, desceu à cozinha encontrando o café da manhã já servido e não demorou em se alimentar. Ao concluir a refeição rapidamente, subiu ao seu quarto outra vez para se vestir apropriadamente e em poucos minutos já dirigia para aquela mesma casa que fazia questão de visitar cedo em todos os seus dias de folga apenas para poder apreciar a imagem fofa e infantil do primo bravo consigo por lhe tirar da cama cedo demais.

Contudo, sentiu-se frustrado ao chegar na casa dos Park.

Logo que tocou a campainha e fora atendido pela governanta da casa, lhe foi informado que Jimin havia dormido fora, mas que não haveria problema algum quanto ao rapaz espera-lo em seu quarto e rapidamente sua passagem fora liberada, sendo percorrida a passos calmos pelos corredores e escadaria até o recanto pessoal de Jimin. Ao entrar no cômodo como se fosse de casa, logo de cara o Kim deparou-se com a gaveta do armário ainda aberta, o perfume dele abandonado sobre a escrivaninha e várias peças de roupas espalhadas pela cama, tudo indicando que, onde quer que o dono do espaço tivesse ido, teria sido às pressas e foi inevitável tal pensamento deixar Taehyung ressabiado, desconfiado.

Vagando sem um rumo exato ali, o Kim lembrou-se de Jimin lhe telefonando e enchendo de mensagens no dia anterior, solicitando veemente que fosse falar consigo, alegando em letras de caixa alta que precisava conversar e que era urgente e agora que estava ali, o moreno não só não estava, como havia dormido fora. Era tudo muito estranho e fora do que ele era acostumado a ver do mais velho que raramente dormia fora ou lhe solicitava como se a própria vida dependendo disso.

Por fim, jogando-se desleixadamente sobre o leito e ignorando completamente a bagunça de roupas sobre ele, o Kim resolveu relaxar enquanto esperava, deixando sua mente vagar.

Ele não havia dormido nada bem naquela noite, sua cabeça refazia sua estadia na faculdade, a infeliz coincidência que foi reencontrar JungKook lá e durante quase toda a madrugada sonhava com o moreno lhe chantageando, ameaçando contar tudo para o primo e destruir a sua vida.

Taehyung sabia que já teria problemas o suficiente por conta de ter que achar um jeito de calar JiHoon, e essa, até fazia ideia de como faria para dobrar, mas quanto ao JungKook, uma ideia lhe surgiu.

“Se eu mesmo contar para o Jimin, JungKook não terá mais trunfo nenhum contra mim. Vai ser o fim da brincadeira dele! ”

Aquela ideia era assustadora, não negaria isso nunca, mas - infelizmente- ou dava um voto de confiança ao Park que o Kim sabia bem do que era capaz já que conhecia o coração bom do primo, ou ficava a mercê dos possíveis mandos e desmandos do Jeon, e o último ainda lhe era imprevisível aos olhos.

Por diversas vezes naquelas poucas horas Taehyung quebrava a cabeça tentando imaginar o que Jungkook poderia fazer com a informação que tinha em mãos e era amedrontador pensar que, como não o conhecia perfeitamente, toda e qualquer possibilidade de ação por parte do vocalista era válida.

As ideias vagavam desde pedidos de quantias monetárias exacerbadamente altas, exigências quanto a fornecer droga gratuitamente, passando por pequenos favores e até a possibilidade de favores “menos convencionais” lhe veio à mente. Esse último fora afastado com o pensamento de que pagaria o dinheiro que fosse, mas não tocaria no Jeon e nem o deixaria lhe tocar.

“Se ele é viado, o problema é dele, eu que não vou deixar aquela bichinha inescrupulosa mandar em mim!”

Todas as ideias que Taehyung tinha lhe assustavam um bocado e o deixava com medo da ação do vocalista independente de qual fosse, por isso foi fácil até optar por contar tudo para Jimin. Com um pouco de sorte talvez ele até o ajudasse e era ansioso pela chegada do primo que o Kim observava a porta do quarto aberta, aguardando o moreno passar por ela e já imaginando que estivesse em uma bela de uma ressaca, querendo dormir logo e era bom pensar nisso já que se ele estivesse nesse estado, mal daria ouvidos para o que falasse ou lhe julgaria.

Contudo, Jimin estava demorando muito. Taehyung não fazia ideia de há quanto tempo o esperava mas sabia que fazia bastante quando sentiu sua bexiga cheia, obrigando-o a levantar-se e ir ao banheiro do quarto do rapaz para urinar. Por saber que estava sozinho no andar superior da residência, não se incomodou em fechar a porta, principalmente por não se ter visão da privada quando se entrava no quarto.

O rapaz aliviou-se com tranquilidade, alongou o pescoço enquanto observava o líquido amarelo atingir a porcelana e já estava vestindo as calças quando ouviu passos corridos pelo quarto, o som de um baque na cama. Presumiu que tais sons fossem de Jimin que finalmente havia chegado e assim decidiu que lhe daria um susto, trancando a própria respiração enquanto andava pé ante pé até chegar à porta e quando chegou, ficou completamente confuso com as ações do primo.

Jimin chafurdava-se entre os tecidos do leito. Estava de bruços, remexendo-se de forma descontrolada com a cara afundada no travesseiro, aparentemente gritando palavras que eram ininteligíveis para o Kim, visivelmente irritado ou frustrado com algo que só deixou o rapaz mais novo ainda mais confuso. Logo viu-o se pondo de joelhos ainda sobre a cama de costas para onde Taehyung estava, levantando as mãos e o olhar para cima e falando como se estivesse conversando com alguma entidade divina.

- Por que, meu Deus? Por que eu fui idiota e fraco o suficiente pra deixar Min YoonGi me beijar? Por que eu não me afastei daquele diabo loiro? Por que eu não consigo parar de pensar naquele capeta? AAAAA!!!! - O grito frustrado fugiu da garganta do rapaz baixinho que logo se pôs a socar o colchão, totalmente alheio à presença do primo no cômodo. - FILHO DUMA PUTA SEJA ELE E O HOSEOK TAMBÉM! QUASE ATRAPALHARAM MINHA FODA! - Um suspiro sôfrego fora ouvido e o tom de voz que havia subido algumas oitavas passou a ser quase um sussurro, fazendo Taehyung se aproximar um pouco, ainda incrédulo do que escutava. - NÃO JIMIN, o problema não foi ter beijado o YoonGi ou ter assistido ele e o Hoseok se pegando, o problema foi você ter gostado disso! DEUS, POR QUE FAZ ISSO COMIGO?

O primo mais novo poderia ter aproveitado a brecha para lhe zoar ou só fazer de conta que nunca esteve ali e livrar Jimin de qualquer constrangimento adicional, e realmente o teria feito se quando estivesse rumando em direção a saída do quarto não tivesse esbarrado na quina da escrivaninha, provocando um estrondo que fora prontamente escutado pelo anfitrião.

- O que você tá fazendo aqui, Kim Taehyung? - O Pânico era evidente na voz de timbre agudo do moreno, visivelmente trêmulo e a beira de um colapso.

- Terça-feira, esqueceu? - Questionou o mais alto, se aproximando do leito enquanto mantinha  os olhos atentos sobre as reações do Park.

A verdade é que, apesar da cena um tanto cômica do surto do primo, quando Taehyung viu a face de Jimin vermelha e molhada pelo choro copioso, soube que no fim, aquilo não era nada engraçado. Era nítido para si o sofrimento do mais velho e por alguns segundos, apesar de não ter clareza do que ele queria dizer com todas as orações que jogara ao vento, imaginou que se tratava de algo envolvendo a banda por, em meio as palavras que lhe pareciam tão desconexas, ter escutado o nome dos guitarristas e logo presumiu que possivelmente fora isso que o fez lhe procurar com tanto afinco no dia anterior. Vendo que o dono do quarto não estava fugindo de si ou se escondendo propriamente, Taehyung sentou-se na beira da cama, secou as lágrimas do outro e tentou passar calma e doçura pelo olhar, a fim de incentivá-lo a desabafar ou fazer o que achasse melhor para se sentir bem e seu sorriso se ampliou quando sentiu os braços fortes e musculosos de Jimin contra seu tronco em um abraço desengonçado.

“Pode até parecer um troglodita com esses músculos todos, mas não passa de um gatinho medroso.” Ria internamente observando os soluços do Park diminuindo até ouvir uma fungada profunda e assisti-lo se levantando novamente, sentando-se ao meio da cama com as pernas dobradas em forma de borboleta e lhe convidando para lhe imitar.

- Tae,  eu preciso desabafar uma coisa com você, eu preciso pôr pra fora umas coisas que têm me incomodado. Eu sinto que vou explodir se não contar pra ninguém! - O mais novo assentiu com a cabeça atento ao menor, indicando que prosseguisse e outro suspiro se fez antes da nova crise de choro que fora assistida e acalentada imediatamente pelo Kim. - Mas tem uma coisa que eu quero te pedir antes. - O tom de voz sério deixou Taehyung temeroso, se perguntando que merda poderia ter acontecido para Jimin estar tão preocupado assim. - Promete pra mim que independente do que eu disser, você não vai ter nojo de mim ou se afastar? Promete que vai continuar sendo meu amigo, mesmo que seja bizarro demais o que eu vou dizer? - O tom de súplica comovia o Kim de forma imensurável, fazia seu coração doer ver alguém que tinha em tão alta estima mal daquele jeito.

- Jimin, eu sou seu primo! Claro que não vou me afastar, independente da merda que você tenha feito! - As palmas de Taehyung voltaram ao rosto do mais velho outra vez secando as lágrimas, observando os lábios se franzindo em uma linha reta que evidenciava o desconforto e a escolha de palavras certas. Mais uma vez Jimin suspirou dolorido e voltou a lhe encarar.

- Eu não sei se você percebeu algo ou se o Jungkook te contou, mas o Jeon não é o único cara que pega caras naquela banda… - A pausa irritante para o Kim o deixou apreensivo, tentando encaixar as peças sobre o que naquilo tudo afetava o primo, mas ainda sem conseguir entender nada. Por fim, apertou as mãos de Jimin entre as suas, tentando lhe passar alguma confiança ou tranquilidade para que prosseguisse. - Sábado antes da festa, depois que o Hoseok tomou banho ele pediu pra eu pegar as coisas dele e quando eu voltei pra entregar, eu vi ele e o YoonGi se pegando no quarto. - Dessa vez foi difícil para o mais novo conter a cara embasbacada e a surpresa, e tais expressões só dificultavam ainda mais a tarefa de Jimin de continuar contando o que aconteceu, mas precisava. Exatamente como havia dito, sentia que se não contasse pra alguém, desabafasse, acabaria morrendo sufocado naquilo tudo. - O problema foi no domingo. Durante todo o ensaio em algum momento tanto o Hoseok como o YoonGi soltavam essas piadinhas sujas pra mim sabe? Ficavam me encarando, me cercando, e como você não foi no ensaio, eu tive que voltar pra casa de carona com o YoonGi pra trazer minhas coisas. - Àquela altura, juntando os berros que escutou minutos atrás com aquelas informações, Taehyung sentia um arrepio lhe cortar o corpo, já imaginando o que mais ouviria. - Quando a gente chegou aqui em frente de casa, aquele desgraçado do YoonGi me beij… - A fala fora interrompida por uma sessão de soluços, fungadas e choro alto. O Kim notou que o mais velho não conseguiria falar estando tão nervoso assim e com isso levantou-se rapidamente e foi ao corredor do andar de baixo onde sem demora capturou um copo e encheu de água em um filtro que ficava no acesso para a edícula, logo voltando ao quarto e entregando ao outro, assistindo-o beber o líquido com pressa em meio a mais fungadas e soluços.

- Ok, YoonGi e Hoseok são gays também? - Questionou manso assistindo Jimin acenar verticalmente com a cabeça. - E o YoonGi te atacou e beijou você? - Outra vez a imagem do Park acenando se repetiu e Taehyung procurava palavras para acalmar o moreno, tentando camuflar o certo desconforto que a imaginação de tal cena lhe causava. - Não fica assim Jimin! As vezes ele pode ter te interpretado mal. Não acho que seja motivo pra você se desesperar. Talvez ele tenha confundido as coisas, Você só precisa conversar com ele e falar que você não quer em hipótese alguma que isso aconteça de novo. - Dizia o mais novo afagando as costas do baixinho e finalmente escutando suspiro que lhe pareceu um sinal de que estava tendo êxito em seu intento. Vendo a respiração de Jimin já mais próximo do normal, achou que era só isso que incomodava o primo e tentando recuperar o clima divertido que sempre tomava a atmosfera entre eles, resolveu encerrar o assunto com uma brincadeira. - Tu não tem que se preocupar, afinal foi ele que te beijou. Tu teria que ficar preocupado se tivesse gostado, isso sim! - Após tais palavras, a única coisa que Taehyung conseguiu pensar foi um belo e sonoro “merda” piscando como se fosse um sinal de neon gigantesco em sua mente.

O choro de Jimin, que nem havia cessado por completo voltou com ainda mais força. O rapaz se jogou novamente na cama se estapeando, socando o colchão e gritando contra o travesseiro de forma ainda mais nervosa que antes. Aquela reação só podia significar uma coisa, e foi exatamente ali que Taehyung entendeu o porquê do primo ter lhe pedido pra não se afastar e não ter nojo de si.

A reação de Jimin fora um choque para o primo. Dentre todas as pessoas do mundo, o primo era quem o Kim considerava o mais perto do que chamava de “macho alfa”. O Park sempre viveu rodeado de garotas, tinha a vida sexual que pedia a Deus e esse era um aspecto da vida do mais velho que Taehyung sempre invejara, principalmente quando olhava para si mesmo e via-se virgem aos 20 anos. Se tinha entendido certo, Jimin estava naquela situação por ter gostado de ser beijado por um garoto e isso deixava Taehyung se sentindo estranho. Não chegava a ser nojo ou alguma espécie de rejeição ou repúdio, era mais como a impressão de que não conhecia o Park tão bem quanto julgava e tal pensamento o fez ponderar sobre o que o havia levado ali.

Enquanto assistia Jimin quase arrancando todos os fios de cabelo da cabeça, Taehyung pensava sobre realmente não saber exatamente tudo a respeito de como funcionava a mente do mais velho. Pra ele que sempre vira o Park como uma referência de heterossexualidade muito bem resolvida, assisti-lo em dúvida sobre si mesmo o fez pensar que talvez ele não fosse exatamente como se mostrava em outros aspectos, inclusive a própria língua.

Decidiu por fim não falar nada sobre seu ofício por enquanto, preferiu apenas ser um ombro amigo para o moreno naquele momento de confusão e guardar os próprios problemas pra si mesmo, pelo menos até que tivesse cem por cento de certeza de que realmente poderia contar tudo ao primo sem riscos de vê-lo abrindo a boca e ainda foi envolto em tais pensamentos que assistiu-o se sentando novamente, com a cara mais debochada do mundo e Taehyung estranhou tal expressão, achando por uma fração de segundos que tudo não passara de uma mera brincadeira, mas ao ouvir o tom de escárnio na voz dele, soube que a piada estava sendo dirigida mais para quem falava do que para fora. Ele odiava aquela mania que Jimin tinha de zombar a si mesmo.

- E o pior nem foi isso, Tae! Se ele tivesse só me beijado e eu tivesse gostado do beijo, seria só um beijo, acabaria ali. Beijo é só troca de saliva, não tem nada demais nisso. O problema é que… - A risada sádica que entrecortava as palavras voltou a ser o choro copioso e dessa vez sim o Kim não se conteve em sua surpresa ao imaginar o que aquela quebra de interlocução significava.

- TU NÃO TÁ QUERENDO ME DIZER QUE TRANSOU COM ELE NÃO, NÉ JIMIN? - A voz saiu algumas oitavas acima do que o mais novo desejava, mas fora inevitável, automático, e em resposta à sua reação exagerada, acompanhada de um levantar da cama que deixou Taehyung ao lado da porta, quase como se tivesse se afastado de uma tomada após um choque elétrico, Jimin também se levantou, desferiu um tapa forte em sua cabeça e apressou-se em fechar a porta do cômodo que ainda estava aberta sob pedido de que o Kim falasse mais baixo antes de voltar a sentar-se na cama novamente.

- Tu tá ficando louco? Para de berrar assim, vai que alguém escuta, imbecil! - Ralhou novamente, suspirando profundamente.

Para Jimin aquilo era muito difícil de falar. Sabia que precisava contar para se sentir mais leve, precisava de alguém para ser um amigo confidente a ponto de lhe aconselhar e para que tal pessoa fosse realmente apta a isso, ela teria que saber de absolutamente tudo, mas como faria para contar sobre ter tido sonhos eróticos com dois caras? Aquilo seria assustador por si só se fosse apenas um, mas dois? Contudo, não era como se tivesse a opção de tocar o Kim e lhe passar as memórias por telepatia, telecinese ou coisa parecida. Precisava confiar nele e verbalizar para só assim poder obter os conselhos que lhe pareciam óbvios quanto a se afastar daqueles dois guitarristas, mas que algo em si dizia para pedir confirmação.

- Não, idiota! ÓBVIO que não transei com ele e nem com nenhum outro cara.

- Então por que do desespero? Você por um acaso gostaria de ter transado com ele? - Interrompeu o primo e outra vez a hesitação do Park respondeu por si só.

- Eu não sei. Eu realmente não sei! - Um grito de frustração escapou pelo cômodo acompanhado de um puxar de cabelos que fora assistido por um Taehyung ainda mais boquiaberto e incrédulo. - Eu sonhei que a gente se pegou “forte”, digamos assim. - Os olhos do acastanhado, que já estavam arregalados pareciam que iam fugir da órbita com tal afirmação e sabendo que se continuasse a prestar atenção no mais novo, não conseguiria falar, o Park fechou os próprios olhos e tentou se focar no que lhe incomodava para poder verbalizar tudo sem assistir previamente o julgamento de Taehyung sobre si. Já havia começado a falar afinal, se fosse para ser odiado, já o seria de qualquer forma. - Foi assustador acordar no meio da tarde com o pau duro e saber que tava assim porque tinha sonhado com o YoonGi e o Hoseok me tocando. No sonho eles me beijavam e tiraram a minha roupa e ficavam me tocando e o pior de tudo é que era tudo muito bom. O Hoseok ficava mordendo o meu pescoço e me beijando e, puta que o pariu, o YoonGi chupava bem demais! - Dizia tentando esconder o deleite que tais memórias lhe traziam mas logo fora interrompido pelo Kim.

- O YOONGI O QUE? - A engasgada seguida da frase solta por Taehyung fez com que Jimin abrisse os olhos e encarasse-o, deixando claro que não, ele não havia ouvido errado. - Meu Deus Jimin! Tu sonhou com um cara pagando um boquete pra você? - Questionou e assistiu as bochechas que já estavam rosadas pelo choro, tomando um tom intenso de vermelho.

- A gente não controla o que sonha não, tá? - Disse irritado, e tentando entender melhor, o Kim voltou a questionar.

- Pera! Tu sonhou duas vezes com eles numa tarde? - A negativa veio em um aceno de cabeça e só ali a cabeça do mais novo fez um “click” juntando as peças. - Isso é muito errado, Jimin! Caralho! Tu sonhou que tava se pegando com DOIS caras ao mesmo tempo? - Exclamou alto demais outra vez e dessa vez, o Park se sentiu mais irritado que desesperado. Qual era o problema de Taehyung em só não berrar?

- Sim Tae, eu sonhei com dois caras me pegando. Sim, eu sei que é errado mas como eu já disse EU NÃO CONTROLO O QUE EU SONHO, IDIOTA! - Concluiu desferindo outro tapa na cabeça dele. - Enfim, esse primeiro sonho acabou nisso. Depois que eu acordei, eu fiquei mofando em casa e de noitinha eu resolvi dar uma volta e encontrei com a Thifanny. - O Mais novo franziu o cenho tentando lembrar de onde conhecia o nome e escutou a palavra “academia”, logo se recordando da professora de pole dance que sabia ter sido um dos casos de Jimin. - Então, ela me chamou pra ir jantar na casa dela e bem… Você sabe bem o que significa um convite desse pra jantar vindo dela né? - O Olhar que o Park lançara era sugestivo o suficiente para Taehyung interpretar e logo ele continuou. - Eu fui la, a gente jantou, demos uma foda rapidinha na sala, tipo aperitivo sabe? Aí na hora que a gente foi pro quarto pro “prato principal”, bem na hora que ela veio me chupar, EU ME LEMBRO DA PORRA DA CARA DO YOONGI ME CHUPANDO! MEU DEUS TAEHYUNG ME DÁ UM TIRO NA CABEÇA SENÃO EU MESMO DOU! - Dessa vez, foi inevitável para o visitante rir alto e largado. Tudo o que ele conseguia era imaginar a cena de Jimin se afastando da mulher enquanto chorava por ter visto um cara no lugar dela e ao observar a expressão de tédio do Park, percebeu que era o único que via graça naquilo, logo pedindo desculpa e acenando que continuasse. - Pode rir, trouxa! Vai rindo! Tu ainda vai pagar por isso! - Dizia bravo e emburrado, observando o Kim voltando a rir já mais moderado.

- Desculpa cara, mas nunca, em vinte anos que a gente se conhece, eu imaginei que fosse chegar o dia que você, Park Jimin, iria brochar, muito menos por causa de dois caras! - Outra vez a risada se fez alta antes de um tapa muito mais forte que os anteriores lhe atingir a cabeça.

- Tu não me conhece mesmo, hein Tae… - Dessa vez Jimin respondeu sorrindo, e por mais que tudo fosse assustadoramente estranho e novo para Taehyung, ver o outro sorrindo o fez bem. Não era uma boa hora para julgar, ele só precisava de ânimo, de se entender quanto ao que estava sentindo e era isso que o Kim queria, por isso apenas ergueu as sobrancelhas como se desafiasse o outro a prosseguir. - É claro que eu não brochei, babaca! Tu tá falando com Park Jimin! Não existe a possibilidade de eu negar uma foda pra alguém! Só foi extremamente estranho porque mesmo que eu tivesse conseguido não estragar tudo quando eu vi o YoonGi no lugar dela, no final das contas eu acabava mais pensando em como seria comer o YoonGi do que aproveitando que tava comendo uma coisa maravilhosa como é a Thifanny. - O bufar que se fez fora até tristonho mas não deixava de ser divertido de se assistir para Taehyung.

- Sério que tu comeu ela pensando neles dois? Meu Deus, Jimin! Tua situação é pior do que eu imaginava! - Ralhou rindo e notando outra vez o semblante irritado do baixinho.

- Foi! Foi isso mesmo! Que droga! - Outro bufar irritado e mais alguns puxões de cabelo antes de voltar a falar. - Nem adianta eu ficar negando porque foi bem isso que aconteceu! Eu transei com uma das mulheres mais gostosas que eu já conheci na vida pensando em outros dois caras. - A gargalhada alta de Taehyung se fez novamente, sendo logo interrompida por um tapa ao passo que o Kim lhe devolveu a agressão mandando-o perder a mania de lhe bater. - E se não bastasse isso, eu tive que dormir la porque tava muito tarde, e advinha? - Questionou e antes de responder, Taehyung já rolava pela cama rindo outra vez.

- Aí tu sonhou com eles de novo e ela ouviu você gemendo... - Vendo a cara que o Park fazia, vermelho de vergonha, decidiu que zombaria mais um pouco com a cara do mais velho. - AH! Hoseok! Isso! Bem aí! Ah! Vamos, YoonGi! Mais forte! Ah! - Dizia o mais alto imitando gemidos que só serviram para provocar a ira de Jimin que não tardou em avançar contra seu pescoço tentando lhe sufocar.

- PARA COM ISSO, SEU DEMÔNIO! - Dizia estrangulando-o

- Fala aí, Jimin. Tu foi o passivo deles, né? Tu tem muita cara de passivo! - A paciência do Park terminou de se esvair e as agressões ficaram muito mais graves, machucando verdadeiramente Taehyung que logo levantou-se da cama ajeitando a roupa amarrotada enquanto assistia Jimin de joelhos sobre os lençóis.

- Não, cara. Eu não fui passivo de ninguém e nunca vou ser, idiota! - Uma pausa se fez enquanto as imagens do segundo sonho lhe vinham conturbadas na cabeça até que por fim resolveu continuar. - Essa é uma parte que eu só lembro do YoonGi. Era como se o Hoseok não estivesse la. - Taehyung continuava atento ao que dizia e isso lhe enchia de vergonha, mas não tinha como mentir de qualquer forma. - Vou ser bem sincero: Se ele realmente cavalgar como cavalgava no sonho, eu acho que quero experimentar essa coisa de comer caras, porque era muito bom mesmo, de verdade! - Mais uma vez o queixo do Kim caiu, os olhos se arregalaram com o que ouvia e no automático, sentou-se à beira da cama, procurando contato visual com Jimin para lhe questionar e ter certeza de que seria a verdade que ouviria.

- Sério isso? - O silêncio permaneceu enquanto o Park virava o rosto para o lado contrário em que o mais novo estava, obrigando-o a puxar sua face para lhe encarar novamente. - Jimin, é sério que você sonhou que comeu um cara e agora tá querendo isso de verdade?

Aquela, com certeza, era a resposta mais difícil que Jimin poderia formular a sua vida toda. O anfitrião bufou esfregando as mãos pelos cabelos assim que teve seu rosto liberto dos dedos do primo e levantou-se da cama, vagando pelo quarto aleatoriamente. Sua cabeça borbulhava sobre como poderia dizer a verdade para Taehyung sem que ela fosse tão assustadora como o próprio Park sabia ser, pensava sobre como a vontade de tocar os dois amigos não fora algo que aconteceu só após o sonho, se lembrando dos momentos de tensão que dividira com Hoseok no estúdio e a vontade que sentia de marcar o Min desde que viu-o seminu. Mas não podia mentir, não agora depois de já ter lhe falado tanto. Contudo sabia perfeitamente o que significaria a resposta, sabia o título que lhe acompanharia e com certeza não queria-o para si. Ele não era gay, certo? Querer transar com um cara uma vez na vida não o faria homossexual de fato, não é? Era tudo tão dúbio e confuso que Jimin não sabia como falar ou que palavras usar e por fim, resolveu deitar-se outra vez em sua cama, fechar os olhos e reponderar suas vontades.

- Olha… Eu não sei exatamente o que eu quero. Eu, obviamente, não namoraria um cara, mas eu não vou mentir dizendo que não tenho vontade transar com um, não agora que eu sei a diferença de como é beijar um garoto e beijar uma garota. É tudo muito confuso! Minha cabeça diz que é errado o tempo todo, mas meu corpo quer, sabe? Tae, só de lembrar do beijo e do sonho eu já me desestruturo inteiro! - O suspiro pesado que saiu dos pulmões de Jimin desmotivou completamente a vontade de lhe zombar que subia à garganta de Taehyung. Logo o mais novo se deitou na cama também, mantendo os pés ainda no chão e o olhar perdido no teto antes de tentar questionar algo coerente. A intenção do Kim, naquela hora, já não era mais se divertir às custas do Park. O mais alto já havia compreendido bem como o outro se sentia dividido e confuso e a partir dali, decidiu que talvez fosse melhor ajudar o outro a se encontrar, afinal, já não havia mais tanta graça assim na desgraça alheia naquele momento.

- Eu imagino como você deve estar se sentido e deve ser horrível… - Um murmúrio de concordância fora a resposta de Jimin e logo Taehyung voltou-se para si, observando outra vez a face perturbada dele. - Óbvio que a gente sabe que isso é errado, isso é um pecado enorme. Provavelmente você vai queimar no inferno por isso, mas convenhamos que não só você, como eu também, já fizemos tanta merda nessa vida que um pecadinho a mais pra te tacar no colo do capeta não tem problema, certo? - Um risinho fraco fora ouvido e logo ambos sorriam um para o outro.

- O que você faria no meu lugar, Tae? - Questionou o dono do quarto e fora naquele momento que a cabeça do Kim tiltou.

Para Taehyung, era fácil olhar a situação do mais velho e até ver graça naquilo. A ironia no fato do seu “primo garanhão” estar interessado em saber como era se relacionar com um rapaz o fazia achar que o mundo era a coisa mais bizarra e sem sentido que existia e o pensamento humano era ainda pior que aquilo tudo. Era até divertido assistir quando o problema não era consigo, mas quando foi indagado sobre o que faria dentro de tal contexto, imediatamente a mente de Taehyung deu uma guinada de cento e oitenta graus, fazendo-o se sentir em queda livre, sem saber exatamente o que responder.

- O que eu faria? - A pergunta era praticamente retórica, feita mais à própria mente do que à quem ouvia e logo uma série de ponderações passaram a se fazer.

Taehyung, em todos os seus vinte e poucos anos, havia beijado poucas garotas e sabia perfeitamente da frustração que sempre sentia nesses atos porque sempre beijos lhes eram descritos como algo mágico, como algo que faria seu peito palpitar, suas mãos suarem e seu corpo se aquecer, mas a verdade era que nunca sentira absolutamente nada daquilo. Ele não conseguia imaginar a diferença em termos biológicos sobre como seria transar com um homem ou uma mulher já que a única coisa que seu pênis conhecia era a própria destra, mas certeza quanto as diferenciações era algo que não tinha, então a única coisa que o faria optar por um lado ou outro daquela encruzilhada era a questão social ou moral, e ali sim sabia perfeitamente o que opinar.

- Sinceramente? Eu me afastaria dos dois. É mais seguro. Pelo menos até você ter certeza de que não vai mais querer ficar com eles e sair desse turbilhão todo. - O Kim assistiu Jimin pondo-se sentado e lhe olhando com uma ponta de esperança no olhar e aquilo lhe motivou a continuar seu discurso. - Sabe o que eu acho? Eu acho que isso tudo tá acontecendo com você porque ele te beijou mesmo e isso tá pesando sua consciência porque você sabe que isso é errado. Sei la, talvez tua cabeça tenha ficado perturbada por um cara ter beijado você e no fim das contas, você só tá confuso por ser algo novo. - Um menear lento da cabeça de Jimin fora a resposta em confirmação de que o baixinho realmente ponderava sobre o que ouvia e logo o Kim concluiu. - Eu acho que seria bom você dar uma distanciada deles. Você não conhece eles direito, não sabe bem como vai ser daqui pra frente. Talvez, pro YoonGi, o beijo não tenha sido nada demais e quem sabe ele nem toque mais no assunto. Se ele tocar, você afasta ele e manda ele parar, fala que vai fazer um escândalo, sei la! Você sabe dar um jeito nessas coisas. Se achar melhor, saia da banda, enfim, evite ficar sozinho com eles que eu aposto que em questão de dias toda essa tormenta aí vai passar!

Jimin não sabia se era porque tudo que Taehyung disse era extremamente óbvio ou se realmente sua mente persistia na vontade que as memórias,  o beijo e os sonhos lhe causavam ou se era por ver a possibilidade de ter que sair da banda sendo cogitada, mas as palavras do mais novo lhe incomodaram um pouco, porém não o suficiente para discordar dele ou negar sua idéia de pelo menos manter uma distância segura dos guitarristas. Além dessa idéia não ser de um todo ruim, havia o fato de ser visível o intento do Kim de lhe ajudar mesmo sem ter obrigação nenhuma quanto a isso e por conta de tal ciência, sentia-se imensamente grato.

Após afirmar que realmente faria o que o maior aconselhava, Jimin disse estar saturado do assunto. Disse que não tinha mais que ficar pensando naquilo e que precisava relaxar e esfriar a cabeça já que o próximo ensaio seria só no sábado mesmo e sofrer por antecipação quanto a algo que nem sabia como seria, era no mínimo idiotice.

Ambos concordaram sobre o fato de, possivelmente, YoonGi estar alcoolizado já que durante todo o ensaio várias garrafas de cerveja foram consumidas. Jimin falou sobre o relacionamento do loiro com Hoseok e ouviu o Kim reforçando a ideia de afastamento, não só para que o Park evitasse cair em tentação, mas também pra não atrapalhar o que quer que houvesse entre os dois guitarristas.

Já se sentindo mais calmo e relaxado, menos perturbado com tudo e de fato mais leve por conta do desabafo e da reação amistosa de Taehyung, o anfitrião alegou que precisava de um banho e pediu para o mais novo montar o videogame enquanto fazia sua higiene.

Quando Jimin voltou ao quarto, viu a televisão fixa na parede em frente à cama ligada e o menu de um jogo de luta qualquer aguardando para a escolha dos personagens enquanto Taehyung estava jogado sobre o leito com o seu celular em mãos.

- Péssima notícia pra você, amado Park Jimin.

Rapidamente o baixinho capturou o aparelho das mãos do primo vendo uma mensagem aberta.

“Bom dia, Jimin!

O Namjoon pediu pra te avisar que amanhã a tarde nós iremos ensaiar novamente. Como temos pouco tempo, teremos que aproveitar qualquer espaço na agenda de todo mundo. O Jeon e Hobi não tem aula amanhã a tarde, o Nam vai fechar o posto e eu vou dispensar o que surgir de trabalho aqui pra gente ensaiar.

Perto das 13 horas alguém vai aí te buscar, então esteja pronto.

Tenha uma boa tarde/noite/manhã de amanhã e até logo \,,/”